A revista musical dos Estados Unidos, SPIN, divulgou no último dia 21 a sua review sobre o novo álbum de Lady Gaga, Joanne.

Confira a review completa traduzida:

NOTA: 60

"O novo personagem de Lady Gaga é uma rainha do Dive Bar chamada Joanne.

Como um vestido de carne destinado a se tornar seco (para que não estrague), já tem sido claro que uma mudança em forma era inevitável para Lady Gaga e sua estética. Ela estourou na estratosfera pop em 2008 com uma força, sua carreira precoce, um dilúvio de looks, ganchos e vídeos espetaculares que eram um processo tanto exaustivo quanto impressionante de ver. Quando o maravilhoso show de moda Bad Romance carregado de referências do McQueen saiu em outubro de 2009, parecia que a coisa mais radical que Lady Gaga poderia fazer era se despir.

No final das contas, nós alcançamos um momento e isso é… normal? Gaga mudou roupas para algo que é mais convencionalmente 'pés no chão' - jeans e uma camiseta, basicamente - e a instrumentação de seu quinto álbum, Joanne, é mais suscetível de ser conduzido por guitarras e baterias ao vivo do que sua máquina engendrada de antes. É tudo parte da campanha de respeitabilidade que Gaga lançou depois da decepção artística e comercial que foi seu último álbum solo de 2013, ARTPOP. Desde aquele fiasco, ela destruiu o palco do Oscar com um medley de Sound Of Music de tirar o fôlego, além de ganhar um Grammy pelo álbum de jazz com Tony Bennett, e promoveu sua carreira de atriz com o papel principal de American Horror Story: Hotel (o qual terminou a rendendo um Globo de Ouro). É claro que Gaga tem se dirigido para arredores mais conscientemente sérios de Joanne, deixando para trás os hinos antigos de festa.

Mark Ronson, que co-produziu tudo em Joanne junto com Gaga e BloodPop, chamou o álbum de 'um tipo de álbum muito honesto, autêntico'. É um outro registro para 'autenticidade' na Nova Gaga que parece transparente, especialmente quando transmitido na moda tipicamente rockista que iguala instrumentos 'reais' com musicalidade e rebaixa os eletrônicos. Apenas porque Joanne tem poucos sintetizadores não significa que é menos sintetizado, e se 'despir' é uma afeição por si só. Para os fãs, levará um tempo para ver se os ethos do álbum é um passo positivo e proposital na nova direção da carreira musical de Gaga ou se é meramente um trabalho mais minimalista - uma coleção de músicas que não são para balada como eram as que vinham apimentando seus álbuns por anos (Teeth de The Fame Monster, Yoü and I de Born This Way, Dope de ARTPOP, por exemplo).

Ainda assim, a pretensão de Joanne é muito mais tolerável que de ARTPOP, um álbum que se atolou com seu próprio rótulo. Joanne parece mais investido em sombrear distinções que desenhá-las com uma pompa. Com o ritmo deliberado e uma fala incoerente e um gancho de chamada e resposta, John Wayne soa como se tivesse nascido como uma casa tropical e foi encaixado mais tarde em um estilo rock-country. A assistência de masturbação de Beck panegírica em Dancin' in Circles é tanto um reggae de aspirações de uma garota branca como em So Happy I Could Die de Gaga, ou até mesmo Alejandro. O desempenho abaixo do esperado do primeiro single de Joanne, Perfect Illusion, carrega um molde da balada poderoso de Bad Romance, mudando a dinâmica (menos casa e mais poder) e adicionando um acervo de estridência para que quando tudo estivesse se construindo para o fim, a música esteja praticamente gritando com você.

Perfect Illusion é o raro exemplo de Joanne das piores tendências das músicas de Gaga, que no Born This Way e ARTPOP se tornaram tão comprimidas que cada música era entregue como um tijolo musical. Joanne, em contraste, oferece um lugar para a voz de Gaga respirar. Ela nunca soou mais prática que na faixa-título do álbum, uma ode a irmã de seu pai pela qual ela foi nomeada - há um momento no início de Joanne no qual sua voz ondula e se torna seca no final da palavra you, como uma folha que começou a morrer. Momentos íntimos similares são registrados do início ao fim - especialmente na participação de Hillary Lindsey na country Million Reasons - através da faixa, impressionante como é, é frequentemente mais reminiscente da Broadway que do tipo da intimidade cantora-compositora que Gaga tenta alcançar.

Em uma entrevista com a Times, Gaga contrastou a 'colagem fantasia' rendida por suas letras de antes com um 'claro, conciso e simples jeito' que ela diz as coisas no Joanne. Em sua mensagem de solidariedade feminina na Benny and the Jets - escora de Hey Girl que vem alto e claro - ela se junta no dueto com Florence Welch no que parece ser uma refutação da noção de que todas as mulheres pop stars são competidoras inerentes. A menos bem sucedida Come to Mama, é como um pedido infantil de paz em um fundo higienizado que soa mais uma reminiscência de Christmas (Baby Please Come Home) de Darlene Love. Everybody’s got to love each other / Stop throwin’ stones at your sisters and your brothers, é como a música começa, e só fica pior depois. The only prisons that exist are ones we put each other in, diz Gaga, que aparentemente nunca encontrou uma doença mental ou uma areia movediça. Pelo menos Angel Down, é oblíqua o suficiente para evitar se revelar como um tributo a Trayvon Martin como foi idealizado. Poderia ser muito mais difícil de lidar.

A retórica de Gaga sempre foi pelo menos um pouco vazia - durante a Monster Ball Tour, ela pregou os valores da individualidade em um lugar cheio de crianças vestidas como ela. Um gesto grande proclama as implicações de gestos práticos da sua marca - dizer qualquer coisa negativa sobre ela publicamente e ver o quão benevolentes são seus fãs. Mas como musicistas são esperados de serem superficiais encarando seus trabalhos se torna altamente literal (para ser justo, a mesma coisa poderia ser dita para a maioria de nós). É compreensível que Joanne encontra a Gaga perfomando autenticidade, até porque é o jeito mais forte de transmitir a evolução artística para as massas em 2016. A imagem aqui - a ilusão, na verdade - é imperfeito como é também meticulosamente interpretada."


Notas de álbuns anteriores:

THE FAME MONSTER: 60
BOR THIS WAY: 80
ARTPOP: 60

Lady Gaga lançou seu novo álbum, Joanne, que inclui as canções Perfect Illusion, Million Reasons e A-YO. Adquira nas lojas Fnac, Saraiva ou Livraria Cultura.

Acompanhe todas as notícias sobre Lady Gaga e seu novo álbum JOANNE, através do site RDT Lady Gaga e suas redes sociais: Facebook, Twitter e Instagram.

Tradução por Vanessa Braz de Queiroz
Revisão por Milena Rodrigues