Na última quinta-feira (20), o The Guardian publicou sua review para o álbum Joanne, que conta para o Metacritic.

Leia a tradução:

NOTA: 60

Dez anos e quatro álbuns de estúdio na sua carreira, isso é onde Mother Monster derrama suas sobras. Joanne - nomeado assim pela sua tia falecida, mas também seu nome do meio - é o jeito de Lady Gaga desenhar uma linha, pelo menos por enquanto, debaixo da percepção dela como a garota com a lagosta na cabeça.

Tendo tomado seu projeto de arte auto-focado para o fim do espectro conceitual no álbum ARTPOP em 2013, a cantora foi deixada com vendas reduzidas e a consciência de que sua música foi eclipsada por uma imagem que estava espiralizando em paródia. Seu apoio ardente aos direitos LGBT tem sido repudiado por alguns na comunidade como uma tentativa de ser um cavalheiro branco eleito a seu favor. Seu mergulho no surrealismo, assim como o tão chamado ‘’vestido que voa’’ (que era na verdade um veículo elétrico com energia que flutuava) estavam começando a parecer acrobacias de Björk. Pior, seus temas musicais primários - marginalização, identidade, o direito de ser estranho - estavam cansativos, e os singles de ARTPOP falharam em se tornar a marca de músicas do ano, diferente da brilhante Bad Romance e de Paparazzi, que definiram 2009.

Joanne é Gaga com a camada de ‘’olhe para mim’’ retirada. Pela primeira vez, ela fez um álbum usando não mais que os recursos que pré-dataram seu estrelato: a grande, clara voz e a honestidade de ‘’a vida como ela vê’’. O deslumbramento nela não acabou totalmente - mais disso abaixo - mas leva um segundo lugar em seu desejo de ser vista como apenas a Stefani Germanotta por um tempo.

Ela foi impulsionada pela tragédia da morte de sua tia de lúpus quando tinha 19 anos, uma década antes de Gaga nascer. O pai de Gaga, Joe - irmão de Joanne - ainda chora por causa disso. ‘’Se eu pudesse curar meu pai, então talvez eu possa curar outra pessoa’’, ela disse recentemente. O acústico delicado da música-título foi escrita pra ele; a voz dela é tremenda quando ela canta: ‘’I can love you even if I can’t see you anymore’’. (Eu posso te amar mesmo não podendo mais te ver).

Para se disciplinar, Gaga mudou para um som triangularizado pelo country de raiz, blues e soul. Ela não é a primeira cantora americana a ir à ‘’Americana’’ quando se precisa de um tempo da música que a fez famosa - Madonna fez isso em 2000 com o álbum Pretenders - mas Gaga é a única que abordou isso com um punho de diva. Promovendo o álbum com turnos de shows em clubes dos EUA, chamados de Dive Bar Tour, ela vestiu em um traje completo de estrela country, o que era uma fantasia tanto quanto foi o imortalizado vestido de carne. E, no álbum, ela não precisa cutucar para libertar-se de querer atenção à força. Como foi provado por ela no álbum de duetos de 2014 com Tony Bennett, o Cheek to Cheek, ela pode cantar melhor que praticamente todo mundo, e esse álbum transborda de exemplos de Gaga em seu melhor.

Para cada melancólica Diamond Heart, aparentemente endereçada para um estuprador (‘’Some asshole broke me in / Wrecked all my innocence”), [Um filho da puta me quebrou / Destruiu minha inocência] há uma Come to Mama - uma faixa de soul/blues que rivaliza Mariah Carey em seu maior brilho, apesar de que a letra inclusiva (‘’Everybody’s gotta love each other / Stop throwing stones at your sisters and your brothers”) [Todos temos que amar uns aos outros / Pare de jogar pedras em nossas irmãs e irmãos] seja tipicamente Germanotta. O dueto Hey Girl inspirado em The Bennie and the Jets* a coloca contra Florence Welch, um embate de cordas vocais vencido por Gaga. Como um exemplo de mulheres poderosas estimulando que elas tenham o apoio uma das outras, não é "Sisters are doin’ it for themselves"**, mas consegue mostrar seu propósito.

* música de Elton John
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* músicas dos Eurythmics

Welch é uma de um número de convidados financiáveis de indie-rock. Josh Homme é o guitarrista e o baterista em John Wayne, uma confecção de rodeio que tem Gaga satiricamente declarando sua parcialidade por homens de verdade: “I crave a real wild man / I’m strung out on John Wayne!” [Eu quero um homem selvagem de verdade / Estou viciada em John Wayne] Beck co-escreveu Dancin’ in Circles, um country-reggae direcionado ao prazer próprio - “Up all night when I rub the pain out” [Acordada a noite toda tentando esfregar a dor] Lady Gaga murmura, soando não muito diferente do trabalho de Peaches* e, surpreendentemente, o Kevin Parker do Tame Impala co-produziu o primeiro single, Perfect Illusion, o estrondo que deveria ter sido maior que está mais perto de partir para o frenético, o som de balada de Gaga. Mark Ronson, o produtor principal do álbum, adicionou um brilho retrô que combina com Gaga.

*é uma musicista eletrônica canadense e artista performática. Sua músicas possuem muitas conotações sexuais.

É uma mudança arriscada, fazendo um álbum que é mais sobre o interior do que o exterior. A grande voz de Gaga adiciona uma aparência de auto-proteção, assim como a presença de outros músicos, mas pelo menos ela fez a preparação para os futuros álbuns que podem vir a mostrá-la em sua transparência verdadeira.

Joanne tropeça um pouco, e será recebido com desafio por todo mundo que não seja seus Little Monsters, mas você não pode deixar de admirar sua ousadia.

Notas de álbuns anteriores:

The Fame: 60
Born This Way: 80
ARTPOP: 60
Cheek To Cheek: 80

Tradução por Vanessa Braz de Queiroz

Fonte

Revisão por Vinícius de Souza