Por 150 anos, a revista Harper's Bazaar tem explorado o que significa ser uma mulher no mundo moderno. E, para a nova edição, Lady Gaga escreveu um artigo intitulado de "O Retrato de uma Lady", falando um pouco mais sobre si, sobre Joanne, que tipo de lady ela quer ser e o que significa ser uma mulher nos dias de hoje. Confira:

"Enquanto crescia, sempre me disseram que eu era rebelde. As pessoas diziam coisas como, 'Você é desafiadora' e 'Por que você se veste assim?'. Mas eu continuei fazendo o que eu queria e me vestindo como eu queria - porque claramente eu não mudei. Por um longo tempo, no entanto, havia uma vergonha que eu carregava comigo. Eu sou uma italiana católica - eu cresci com muita culpa. Mas o que eu comecei a perceber é que minha rebeldia, se quiser chamar disso, é algo que foi passada para mim por uma longa linhagem de pessoas fortes - e mulheres fortes - na minha família.

Minha mãe e minhas avós são sem dúvida as forças femininas mais poderosas da minha vida. Minha mãe cresceu em West Virginia, em uma família italiana. O pai dela foi um homem extremamente trabalhador; ele trabalhava em uma seguradora. Os pais da minha avó morreram quando ela era jovem, então ela teve que cuidar de sua irmã. A família do meu pai veio da Itália através da Ellis Island. Eles viveram em Nova Jersey. Meu avô era um sapateiro e a mãe do meu pai trabalhava com ele quando ela não estava em casa com as crianças. Eles tinham dois filhos. Eles perderam um deles - a irmã do meu pai, Joanne, que me deu o seu nome.

Joanne morreu quando tinha 19 anos. Eu chamei meu álbum de Joanne porque a presença dela sempre foi importante para mim. A melhor forma de descrever meu relacionamento com ela é que é como se fosse um relacionamento que alguém pode ter com um anjo ou um guia espiritual ou qualquer coisa que você considere que tenha poder superior. Joanne morreu de lúpus, doença a qual é autoimune, e, pelo que sei da história da minha família, uma das razões da sua doença ter piorado foi porque ela foi abusada quando estava na universidade. Ela foi abusada sexualmente e apalpada. Joanne morreu em 1974, 12 anos antes de eu nascer, então aprendi sobre ela principalmente através de histórias e fotos. Mas eu também aprendi sobre ela através da fúria do meu pai e o assistindo beber todas as noites, vendo meus avós chorarem na mesa de jantar no Natal quando era claro que havia uma cadeira vazia que eles queriam preencher.

Saúde, felicidade, amor - essas são as coisas que estão no coração de uma grande lady, eu acho. Esse é o tipo de lady que quero ser. - Lady Gaga

Para mim, Joanne foi a minha esperança e minha fé. Eu sempre senti que eu tinha alguém olhando por mim, e eu olhava para ela para que me protegesse. Na medida que fui ficando mais velha, eu também olhava para ela para que me ajudasse a entender eu mesma. Eu pensava em Joanne enquanto estava assistindo as notícias durante a eleição sobre o escândalo por trás da fita do Access Hollywood. Aqui estamos nós, em 2016, e o fato de que aquele tipo de linguagem que estava sendo utilizada para falar sobre mulheres estava em todo lugar - na TV, na política - foi um abrir de olhos. Eu me senti deprimida e machucada por isso porque é isso que esse tipo de linguagem faz. Depois eu assisti nossa incrível primeira dama, Michelle Obama, falando em New Hampshire sobre o quão machucada ela se sentiu vendo isso também. Ela falou sobre como as mulheres estão frequentemente com medo de dizer algo porque estão preocupadas que irão parecer fracas - que nos dirão que somos exageradas, dramáticas, emocionais. Mas não somos. Estamos lutando por nossas vidas.

Ser uma lady hoje significa ser uma guerreira. Significa ser uma sobrevivente. Significa se deixar ser vulnerável e reconhecer sua vergonha, ou que você está triste ou com raiva. Leva muita força para fazer isso. Antes de fazer Joanne, eu tirei um tempo de folga. Eu fiz música com Tony Bennett. Eu fiz "Til It Happens To You" com Diane Warren. Mas eu fui capaz de sair do trem de trabalho sem fim que eu estava, o qual foi muito abusivo para o meu corpo e mente, e tive silêncio e espaço ao meu redor. Eu queria vivenciar música de novo da forma como eu fazia quando era mais nova, quando eu só tinha que fazer música, ao invés de me preocupar sobre o que todo mundo pensa ou ficar obcecada com coisas que não são importantes.

A fama é a maior droga que já existiu, mas uma vez que você percebe quem você é e com o que você realmente se importa, aquela necessidade por mais, vai se distanciando. O que importa é que eu tenho uma ótima família, eu trabalho duro, eu cuido daqueles que estão ao meu redor, eu ofereço trabalho para as pessoas que eu amo muito, e faço música que eu espero que mande uma boa mensagem para o mundo. Eu fiz 30 esse ano, e sou uma mulher completamente formada. Eu tenho perspectiva clara do que eu quero. Isso, para mim, é sucesso. Eu quero ser alguém que luta pelo que é verdadeiro - não mais por atenção, mais fama, mais glorificação.

Eu olho para a minha mãe e o jeito que ela tem amado meu pai através da dor dele, e eu olho para os meus avós e o que eles passaram - três deles são como um trio de força. Saúde, felicidade, amor - essas são as coisas que estão no coração de uma grande lady, eu acho. Esse é o tipo de lady que quero ser. Você sabe, eu nunca pensei que eu iria dizer isso, mas não é hora de tirar os corsets? Como uma pessoa que ama eles, eu acho que é hora de tirá-los."

Corsets off. LET DO THIS. #Election2016 Spread the word to #GoVote

Uma foto publicada por #VoteHillary (@ladygaga) em

"Sem Corsets. VAMOS FAZER ISSO."

A nova edição da revista Harper's Bazaar, na qual Lady Gaga é a capa, chegará nas bancas no dia 22 de novembro.

Lady Gaga lançou seu novo álbum, Joanne, que inclui as canções Perfect Illusion, Million Reasons e A-YO. Adquira nas lojas Fnac, Saraiva ou Livraria Cultura.

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Tradução por Vanessa Braz de Queiroz
Revisão por Milena Rodrigues