Lady Gaga abriu o coração em entrevista a Vanity Fair Italiana. Gaga é capa da publicação este mês e em parte da matéria, revelou a sua vontade de ser mãe. Dentre os assuntos, a cantora falou sobre depressão, a troca de empresário, o rompimento com Taylor Kinney, ataques, estresses, concertos e muito mais. Depois de cinco anos muito complicados, ela nos ensina como combateu tudo o que lhe aconteceu.

Abaixo, confira a tradução da entrevista:

"Nesse álbum tem bastante sobre você e a sua família, suas raízes italianas estão aparecendo inteiramente.

Eu me sinto profundamente italiana: A família do meu pai, Joseph Giuseppe Germanotta, chegou à cidade de Nova Iorque de Palermo pelas Ilhas Ellis; A mãe dele, Angelina, é de Santa Lucia Del Mela (província de Messina). E minha avó, ao invés disso, é de Veneza. Esse álbum é um tributo a Joanne Stefani Germanotta, a irmã do meu pai: Ela morreu aos 19 anos na América e essa tragédia afligiu minha família por gerações.

Por que você decidiu falar sobre isso agora?

Não foi uma escolha, mas uma necessidade. Eu e minha irmã Natali sentimos o sofrimento pela perda, mas nós não fomos capazes de entender isso por anos. Às vezes eu me pergunto se eu realmente conheço meu pai, porque perder um membro de sua família te muda completamente. Eu cresci vendo os sentimentos na face dos meus pais e parentes que, em cada festividade estavam reunidos em uma mesa como bons italianos, e sentindo falta dela.

Seu pai costumava falar sobre essa perda abertamente?

Não, minha avó Angelina me contou sobre isso e minha mãe também. Quando eu perguntava a ela: "Mãe, por que o pai está chorando? Mãe, por que o pai bebe tanto? Mãe, por que o pai está sempre tão zangado? Mãe, por que o papai está perdendo a missa hoje?". Ela costumava responder: "O papai tem passado por um momento difícil desde que ele perdeu a irmã quando era muito nova. Reze por ele, porque ele sente essa perda tão profundamente que você não consegue entender”. Hoje em dia meu pai vem até mim para rezar, ele segura minha mão, e ele diz para mim que nós temos que falar com Deus e sermos gratos. Hoje meu pai não bebe mais, ele parou há dois anos. Eu vi seu progresso de cura e eu queria que esse fosse o intuito do álbum: Eu quero contar para o mundo todo sobre essa experiência de perda e magoa vivida pela minha família para ajudar aqueles que estão na mesma situação a superar. Para alcançar esse objetivo eu tive que me comunicar mais humanamente: Essas não poderiam ser letras da Lady Gaga, elas tinham que ser letras de Joanne, que é também meu segundo nome.

Eu li que seu pai é super-protetor com você e sua irmã. Você acha que isso tem algo a ver com a sua perda?

Definitivamente. Ele estava constantemente com medo de que poderia acontecer de novo, uma tragédia dessas faz você se sentir perdido. Por anos eu pensei que meu pai estava zangado por minha causa; quando nós somos crianças, podemos sentir as emoções dos nossos pais, mas as vezes isso é doloroso, porque naquela idade você está vivendo o amor mais puro e você deveria pensar apenas em ser uma criança. Enquanto você cresce, fica mais atento e pronto para dizer: "Pai, tem outro jeito, se desfaça de todos os fantasmas, eu estou aqui e você pode me amar, seu trauma se foi, você não precisa vive-lo todos os dias". Esse é o tema do Joanne: Eu aprendi a perdoar e a sentir compaixão não só pelo meu pai, mas também por todos aqueles que não foram capazes de superar a perda. Eu gostaria que minha mensagem te desse a força de passar por todo tipo de obstáculo. Eu misturei folk, pop e country, um gênero que é muito apreciado nos Estados Unidos, com o objetivo de alcançar a todos.

Há dois anos você declarou que você sofreu de depressão.

Há cinco anos eu estava sob pressão por causa do trabalho. Naquele período eu me separei do meu empresário, Troy Carter. Um longo caminho para me curar se seguiu e eu ainda não terminei com ele, meu corpo ainda não se curou inteiramente de todo o trabalho pesado e o estresse de todos aqueles shows. Eu me sinto condenada a viver com essa dor crônica, mas eu não quero compaixão: Tem muitas pessoas com o mesmo problema, nós somos fortes e vivemos todos os dias para fazer nosso melhor. Recentemente, eu fui diagnosticada com estresse pós-traumático, uma doença mental que é bem difícil de explicar em uma entrevista. Pode ser causada por uma imagem, algumas palavras ou uma história que me lembre de todo o trabalho pesado que eu fiz no passado e isso simplesmente me faz entrar em pânico. Eu vivo o trauma como se hoje eu estivesse na mesma posição que há 5 ano, mas não é assim, hoje eu estou aqui e eu tenho uma equipe fantástica que cuida do meu corpo, da minha doença mental, da minha dignidade como uma mulher que é livre para decidir quando usar meu corpo. Hoje eu deveria estar bem, mas essa doença mental às vezes não me deixa viver na realidade, ela assusta.

O que estava te assustando?

Durante a Born This Way Ball Tour eu estava muito assustada, mas eu não sabia o porquê. Eu, de alguma forma, descobri que tinha alguma coisa a ver com o meu cérebro, mas me levou 5 anos e muitos psiquiatras para entender. Hoje eu estou aqui, mas eu luto todos os dias. Com Joanne eu quero que as pessoas saibam que eu sou humana, e não sou melhor do que eles, mas também não sou menos. As pessoas se inspiram em mim, é por isso que eu decidi falar sobre meus problemas.

Você acha que o abuso sexual que você vivenciou teve algo a ver com sua depressão?

Eu sofro com depressão desde que eu era muito nova e o abuso sexual que eu vivi aos 19 anos foi certamente um trauma. Mas a complicação da minha doença pós-traumática é principalmente pelo fato de ter sido ignorada por anos. Durante a Born This Way Ball Tour eu expliquei para meus empresários várias vezes que eu estava doente; eu pedi ajuda a pessoas da indústria musical que estavam trabalhando para mim, ninguém nunca me escutava. Ninguém nunca entendia o quão ruim foi que eu fui abusada sexualmente por um produtor. Eu não era protegida, e tudo continuava como se nada tivesse acontecido.

O show deve continuar.

Exatamente, todo mundo quer continuar fazendo dinheiro e fingindo que nada tinha acontecido. Se ninguém te escuta por tanto tempo, entretanto, seu corpo e sua mente vão parar em algum momento; e você não sabe mais quem você é, você não consegue expressar o que sente. Por que é uma doença mental e você está literalmente paralisada. E então eu quebrei meu quadril durante um show: quando eu acordei depois da cirurgia, meu empresário não estava lá e eu me senti ainda menos amada. Para a minha gravadora, eu era só uma máquina de fazer dinheiro. Desde aquele tempo alguma coisa mudou na minha mente, está comprovado que algumas partes do meu cérebro estão conectadas a algumas partes do meu corpo. Na minha cabeça, medo e pânico tem um forte e rápido impacto em mim, então se alguém chega por trás, mesmo que seja algo normal de se fazer, eu entro em pânico e reajo exageradamente. Acontece porque eu vivo toda vez a mesma falta de cura e atenção que eu sofri antes.

Nos últimos 5 anos você esteve em um relacionamento com Taylor Kinney. Ele te ajudou?

Sim, Taylor sempre foi muito amoroso e ainda é. Ele ainda é um bom amigo e continua sendo meu amor. Minha família também ajudou muito.

Ela para. Está chorando.

E também todas as pessoas que trabalham comigo hoje. Mas foi importante me livrar do homem que estava controlando minha vida sem se preocupar comigo. Eu espero que ao contar essa história, homens e mulheres de todas as idades serão inspirados a se livrarem de pessoas como ele. Entender sua dor, não ter tanto medo mesmo que esteja doendo, abrace e lute: é nisso que minhas músicas focam.

Até sua colega, Adele, admitiu que ela sofreu de depressão. Vocês são pessoas particularmente intimas?

Eu sou muito próxima da Adele e de todos os artistas que sofreram dessa doença. Uma sensibilidade muito profunda nos aproxima, porque para sermos criativos nós analisamos as emoções com uma atenção particular. Nós precisamos de compaixão e amor. Eu espero que eu, Adele e pessoas como Selena Gomez, que falaram sobre esse problema, sejamos uma nova geração de artistas que nunca morrerá porque ninguém cuida de nós. Muitos artistas jovens trabalham muito e ninguém cuida deles psicologicamente: isso precisa acabar.

É difícil para os outros entender essa mensagem. Eles veem vocês como pessoas com sorte, bonitos, ricos e famosos.

Dinheiro não vai te fazer feliz. Eu viajei por todo o mundo e nos lugares mais pobres eu vi as pessoas mais felizes: a felicidade real pode ser encontrada no amor, amizade, nos relacionamentos humanos, no esporte. Eu me sinto feliz quando dou amor para os meus fãs, não quando eu mostro o que tenho. E a coisa mais importante, que nós realmente precisamos, é bondade.

Você já pensou em deixar a indústria da música por causa da sua doença?

Eu penso sobre isso todo dia. Porque eu sei que a qualquer momento eu posso parar, ir para casa e ser feliz; mas então eu ia ficar infeliz porque eu não alcancei meu objetivo: Eu tenho um forte relacionamento com Deus, o que me lembra porque estou aqui. A verdade é que eu me sinto mais como uma missionária do que uma estrela pop."

Lady Gaga lançou seu novo álbum, Joanne, que inclui as canções Perfect Illusion, Million Reasons e A-YO. Adquira nas lojas Fnac, Saraiva ou Livraria Cultura.

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Agradecemos ao Matteo do Lady Gaga Now pela tradução da matéria em italiano.

Tradução por Mariana Guedes
Revisão por Aloisio Kreischer