Fãs brasileiros se surpreenderam às vésperas da primeira apresentação de Lady Gaga no Brasil em 5 anos, no Rock In Rio, quando a cantora anunciou que não viria mais se apresentar.

Por meio do Instagram, Gaga justificou o cancelamento de sua apresentação, revelando estar sentido dores fortes por conta da fibromialgia, doença que afeta a cantora, fazendo-a sentir dor em várias partes do corpo.

Nesta segunda-feira (18), a revista Billboard publicou uma matéria explicando o que é, as causas e mais detalhes sobre a doença que afeta Lady Gaga.

Confira a tradução da matéria completa na íntegra:

O que é a dor crônica de Lady Gaga? Fibromialgia explicada.

Tem sido um mês incrivelmente difícil para a Mother Monster, Lady Gaga, que recentemente se abriu sobre a batalha que está encarando com a dor crônica, conhecida como fibromialgia. Na sexta, 15 de Setembro, a cantora postou uma séries de fotos de um hospital no Rio, Brasil, explicando que ela estava sem condições de continuar sua turnê por causa da dor física agonizante e severa. E apesar do documentário da Gaga no Netflix, Gaga: Five Foot Two, ter sido direcionado para sua batalha contra a dor, a revelação verdadeira da sua doença crônica veio no dia 18 de setembro no Instagram.

"Eu sempre fui honesta sobre as minhas dificuldades físicas e mentais, buscando durante anos analisar a fundo esses problemas. É complicado e difícil de explicar e nós estamos tentando resolver isso. Quando eu ficar mais forte e me sentir pronta, eu contarei minha história com mais profundidade, e planejo firmemente encarar isso para que eu possa não só aumentar a conscientização, mas também expandir a pesquisa para aqueles que sofrem como eu, para que eu possa ajudar a fazer a diferença. Eu usei a palavra 'sofrimento' não para que tenham dó ou para ganhar atenção, e estou decepcionada em ver pessoas online sugerindo que eu esteja sendo dramática, inventando isso ou me fazendo de vítima para não ter que fazer a turnê. Se vocês me conhecessem, saberiam que isso não poderia estar mais longe da verdade. Eu sou uma guerreira. Eu usei a palavra 'sofrimento' não somente por causa do trauma e da dor crônica terem mudado minha vida, mas porque isso está me impedindo de ter uma vida normal. Também está me impedindo de fazer aquilo que eu mais amo no mundo: me apresentar para meus fãs. Estou ansiosa para voltar logo a fazer a turnê, mas tenho que estar com meus médicos agora para que eu possa ficar forte e performar para todos vocês pelos próximos 60 anos ou mais. Eu amo muito vocês". Lady Gaga disse, anunciando que ela precisa remarcar as datas europeias da sua turnê.

As notícias levam os holofotes para uma doença que tem sido frequentemente incompreendida pelo público, é caracterizada por dor crônica e fadiga excessiva sem causa conhecida. A Billboard conversou com o Dr. Arya Mohabbat da Clínica Mayo e com Connie A. Luedtke, Supervisora de Enfermagem do hospital Clínica de Fibromialgia, sobre o que as pessoas deveriam saber.

A partir daí, começam as perguntas da revista para especialistas da área, confira:

O que é fibromialgia? O que o provoca e o que causa?

Dr. Mohabbat: Fibromialgia é uma síndrome de sensibilidade de dor crônica centralizada. Basicamente o que significa é que as pessoas terão uma dor que dura por um longo tempo, é uma dor da cabeça aos pés que elas sentem nos músculos e articulações, e a dor dura por longos períodos, mas com ausência de qualquer inflamação.

Quais são os sintomas?

AM: Além da reclamação de dores, muitos pacientes reclamam de cansaço, problemas no abdômen, intestino e na bexiga. Os pacientes terão dores de cabeça e problemas para dormir. Eles ficam entorpecidos e com formigamento no corpo todo. Ficam hipersensíveis. A comida e os remédios incomodam. Frequentemente, os pacientes dirão que os medicamentos possuem efeitos colaterais porque são hipersensíveis a muitas coisas que pessoas que não possuem fibromialgia acham natural.

Nós também vemos pessoas reclamando sobre coisas como fraqueza generalizada. Vemos pessoas tendo muito do que chamamos de ‘fibro fob’, que é basicamente reclamações cognitivas. Não é que possuem demência, mas possuem problemas com memória de curto prazo e tarefas relacionadas a atividades para relembrar, como ‘Eu peguei meu celular, mas para quem eu ia ligar?’, o que pode ser muito frustrante. Infelizmente com fibromialgia, eles não escolhem os sintomas que vão ter. Parece um efeito de bola de neve, você pode ter muitos, ou todos os sintomas que eu acabei de mencionar. Fibromialgia pode ser muito devastadora para um indivíduo.

Outra coisa que vemos que é frustrante para os pacientes é o fato de os sintomas não serem sempre consistentes. Então pode ser que eles comecem tendo dor no quadril e por algumas semanas ser o quadril e depois o ombro. Então quando eles vão no médico e dizem que tiveram dor no quadril e depois no ombro, não é confuso somente para o paciente, mas também para o médico que não está acostumado a lidar com pessoas com fibromialgia.

O que causa isso? É uma doença autoimune, como lúpus, que Selena Gomez tem ou é uma artrite reumática?

AM: Pelo que entendemos até agora não é. Doença autoimune implica que o corpo está produzindo proteínas chamadas anticorpos que vão e atacam partes saudáveis do próprio corpo. Até agora não temos evidência disso em fibromialgia. A causa ainda é desconhecida, mas achamos que tem a ver com a produção de químicos entre os neurotransmissores. Cerca de 8% da população dos EUA possuem essa doença, mas estudos indicam que há um padrão familiar nisso. Se uma pessoa tem e ela tem gêmeos, eles possuem 50% de chance de terem fibromialgia por causa da predisposição genética. Se uma pessoa tem a doença e ela tem um filho, a criança tem aproximadamente 8,5 vezes chances a mais de ter a doença do que a população em geral. Então definitivamente há uma influência genética, mas qual a mutação genética específica pode causar isso, ainda não sabemos.

CL: Sabemos que há fatores precipitantes. Clinicamente, nós vemos o que nossos pacientes nos apresentam e alguns dizem que eles estavam bem até que tiveram um tipo de infecção. Nós perguntamos quando eles começaram a ter os sintomas. Então infecção, trauma físico como um acidente de carro ou um procedimento cirúrgico (podem precipitar sintomas). Pode ser o caso. Há muitas pessoas que não se recordam ou compreendem o que aconteceu antes de ficarem doentes.

Quais são os tratamentos?

AM: Há o tratamento que envolve medicamento e o outro é o tratamento sem medicamentos. Remédios parecem ajudar para uma boa porcentagem dos pacientes, mas novamente, são aqueles mesmos pacientes que são hipersensíveis e intolerantes a remédios, então para algumas pessoas eles só causam efeitos colaterais. Mas eu acho que isso depende de uma boa conversa entre o paciente e o médico: esses remédios têm sido aprovados porque eles ajudam a contra-atacar as mudanças químicas de um nível do neurotransmissor.

Há também o outro lado do tratamento, que é a opção que não utiliza remédios. Nós conversamos sobre a importância da educação própria, porque as pessoas devem saber o que estão encarando e como lutar contra isso da melhor maneira possível. Depois passamos pelos princípios básicos da estratégia sem medicamentos, que é a fisioterapia, terapia ocupacional, terapia do comportamento cognitivo, terapia biofeedback, terapia com massagem, acupuntura. Há uma variedade de atividades de bem estar que as pessoas podem fazer, o que costumamos chamar de atividades da mente e do corpo; yoga, tai chi, pilates, meditação. Exercício é muito importante, mas a coisa mais difícil de falar para alguém que está sentindo dores é ‘Hey, nós temos que continuar’. Não é sobre machucar as pessoas, é sobre garantir que continuem se movendo, que continuem flexíveis porque o velho ditado ‘Você usa ou perde' é verdadeiro.

CL: Lady Gaga não é nossa paciente, mas ela faz muitas coisas que eu acho que são grandes exemplos para outras pessoas com fibromialgia. Ela é fisicamente ativa, é envolvida com meditação e tem uma vida equilibrada.

Na semana passada, a Netflix liberou mais uma prévia do novo documentário de Lady Gaga, "Gaga: Five Two Foot", onde a artista fala sobre as constantes dores que sente por conta da doença. Clique aqui e confira.

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Tradução por Vanessa Braz de Queiroz

Revisão por Vinícius de Souza