Lady Gaga e Chris Moukarbel foram entrevistados às vésperas do lançamento do documentário "Gaga: Five Foot Two".

Nesta entrevista à LA Times, a cantora e o produtor falam sobre a confiança que tinham um no outro para que esse projeto pudesse sair.

Abaixo, leia na íntegra, traduzido [contém spoilers]:

"'Eu pareço patética?' Lady Gaga pergunta, cobrindo seu rosto com as mãos para esconder as lágrimas. Ela está deitada em um sofá de seu apartamento, apenas uma toalha cobrindo seu corpo. A fisioterapeuta coloca um pacote de gelo em sua bochecha e massageia sua cabeça. 'Estou tão envergonhada', ela diz, chorando quieta.

Pelos últimos anos, a cantora tem sofrido em privado dessa forma com a dor crônica que iniciou após ter quebrado seu quadril em 2013. Ela já falou publicamente sobre o machucado antes – descrevendo como a ressonância magnética revelou que ela tinha um grande buraco em seu quadril – e este mês contou aos fãs ter sido diagnosticada com fibromialgia.

Mas um novo documentário sobre a artista de 31 anos expõe o quanto a condição tem afetado sua vida. “Gaga: Five Foot Two”, que estreia na Netflix nessa sexta-feira, está repleto de momentos crus como o da super estrela pop, nascida Stefani Germanotta, chorando em seu sofá. Dirigido por Chris Moukarbel, o filme segue Gaga no curso de um ano, através do lançamento de seu mais recente álbum “Joanne”, seu rompimento com o noivo Taylor Kinney e sua performance no intervalo do Super Bowl de 2017.

É o retrato de uma artista com pouco filtro emocional, alguém sem medo de ser vulnerável com aqueles à sua volta: ela chora encontrando fãs. Ela chora tocando uma música nova para sua avó. Ela chora sobre o quão sozinha se sente à noite. Ela chora no estúdio de gravação. E ela chora quando seu corpo dói.

“Você precisa chorar. Não é bom guardar as coisas. Te deixa doente”, ela diz. Ela está sentada em uma sala de conferência de um hotel, vazia exceto por duas cadeiras posicionadas de forma esquisita, horas antes do documentário estrear no Festival Internacional de Filme de Toronto. Seu delineador é de preto intenso e glitter dourado e ela está usando plataformas de pelo menos dezoito centímetros que parecem a versão extrema de um salto que uma dançarina exótica usaria.

Ela passou as últimas duas noites apresentando concertos em uma arena local, mas anunciará pouco mais de uma semana depois que deve remarcar a parte europeia de sua Joanne World Tour por estar “sofrendo dor física severa que impactou sua habilidade de apresentar-se”.

Como fãs, às vezes estamos cínicos quanto a esse tipo de anúncio – certamente ela não está tão doente. Talvez a venda dos ingressos estivesse indo mal. Talvez ela esteja de saco cheio. Mas Gaga tem esperanças que o filme mostre o quão real sua dor é – e o nível de obrigação que ela sente em relação a seus fãs. Por que, por exemplo, ela não simplesmente senta-se ao piano e canta em vez de forçar-se a apresentar coreografias elaboradas?

'Porque eu não posso deixar isso me derrubar', ela diz, referindo-se à sua condição. 'Sou eu honrando quem eu sou, honrando minha mensagem para os meus fãs desde o início. Se você se sentir em déficit, se você se sentir um intruso ou alienado de alguma forma - e dor, ansiedade, para mim, podem alienar - você não pode desistir. Se eu desistisse, seria contra tudo que eu defendo'.

Ano passado, o empresário de Gaga, Bobby Campbell, começou a discutir a ideia de um documentário com a Live Nation - que produziu o filme - e a companhia de entretenimento sugeriu Moukarbel como diretor. O cineasta tinha feito documentários similares, incluindo um sobre o artista de rua Banksy e outro focado em Chris Crocker, o cara do ‘‘Deixe a Britney em paz!’’.

Depois de encontrar com Campbell, Moukarbel pôde fazer um teste com Gaga em Junho de 2016, quando pediram que ele aparecesse na casa dela em Malibu com sua câmera. Ele chegou e a encontrou sem maquiagem, vestida com um body e calça de treino, cozinhando frango em sua cozinha. Dentro de minutos, ela estava falando sobre uma briga que ela teve com Kinney, explicando como ela já não tinha mais paciência para 'besteiras de homens'.

'Eu confiei que Chris iria abordar o filme de forma respeitosa, então eu nunca me preocupei que algo que Gaga poderia dizer ou fazer iria se transformar em algo obsceno ou sensacionalista', Campbell escreveu em um email. 'Eu queria que ela se sentisse livre o suficiente para ser ela mesma e permitir que as câmeras desaparecessem. Eu nunca me interessei em criar um documentário extremamente produzido, com um olhar filtrado da vida dela. Isso foi sobre permiti-la sentir-se empoderada pela sua vulnerabilidade'.

'Eu não queria que fosse um comercial para mim sobre o porquê você deveria me amar e pensar que sou perfeita'. - Lady Gaga

Gaga concordou em deixar Moukarbel acompanhá-la somente se ela não sentisse tanto a presença das câmeras cercando-a, o que significava que o diretor frequentemente tinha que gravar todas as cenas sozinho. 'Se alguém estivesse em pé dizendo, ‘Como você está se sentindo?’ o tempo todo, o acordo estava acabado', Gaga relembra. 'Eu queria investir em ser o tópico desse documentário ao contrário do diretor. Eu não queria que fosse um comercial para mim sobre o porquê você deveria me amar e pensar que sou perfeita'.

Isso sendo dito, houve momentos que Gaga pediu Moukarbel para desligar a câmera - geralmente quando uma cena envolvia mais pessoas que ela - e ele sempre obedecia.

'Ela poderia ter parado o filme a qualquer momento. Eu não estou querendo tentar humilhar as pessoas', reconhece o diretor. 'Eu posso imaginar as pessoas sendo cínicas sobre isso. Mas não é verdade absoluta. Isso não é jornalismo. Ela não é um político. Eu não estou atrás de um furo na história. É um retrato impressionista que eu fiz sobre alguém por quem sou fascinado, e por quem muitas pessoas são fascinadas'.

Quando Moukarbel pegou um momento particularmente pessoal em um microfone, no momento - Gaga estava em um cômodo diferente conversando com sua assistente, que tinha o equipamento de som ligado - ele pediu sua permissão para usar o áudio no filme. O clipe acabou sendo um dos mais crus do filme, com a cantora discutindo como ela vai de 'Todo mundo a tocando o dia todo, falando com ela o dia todo, para um silêncio total'.

'Todas essas pessoas irão embora, e então eu ficarei sozinha', ela diz com a voz trêmula.

'Não há razão para mentir e colocar um laço nisso e fazer parecer bonito quando realmente não é', ela diz agora. 'É muito diferente viver no olhar do público o tempo todo. Isso te muda. É extremamente isolador, e é mais isolador ainda quando o mundo pensa que você está vivendo o melhor da vida'.

Se Moukarbel tivesse filmado Gaga no começo da sua carreira, uma década atrás - quando seu gosto tinha mais a ver com vestidos de carne, perucas e casacos de Caco, o Sapo - ele não teria capturado a mesma mulher, ela acredita. Ela mudou, ela disse, tornando-se mais forte quando se trata de proteger sua dignidade e cuidando de seu corpo.

'Ainda assim, há também essa ansiedade que veio em mim quando eu me tornei muito famosa e aquilo também foi uma grande mudança', ela admite. 'Eu acho que eu me sinto livre por isso estar sendo lançado, porque é cansativo sentir como se você tivesse que esconder coisas sobre você mesma'.

'Olhe, a verdade é que há muita realidade no fato de que algumas pessoas se satisfazem com a dor de pessoas famosas', ela continua, fixando um intenso contato com os olhos. 'Há um elemento de humilhação, como se nós fôssemos bobos da corte. É muito cansativo viver nisso quando você já está sentindo como se tivesse que viver de acordo com os padrões dos outros. Eu acho que aprendi que todo mundo vai ter uma opinião, mas é importante para mim saber que eu sou quem eu sou, e você pode pegar ou largar'".

Gaga: Five Foot Two será lançado nesta sexta-feira, dia 22 de setembro.

Tradução por Vanessa Braz de Queiroz e Pedro Marinho

Revisão por Vinícius de Souza

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Imagens: Reprodução/divulgação