Aos poucos, o Metacritic está adicionando as reviews do documentário "Gaga: Five Foot Two" ao seu painel, sendo a da revista Variety uma delas.

Traduzimos a review completa e você pode lê-la logo abaixo:

NOTA: 80

O documentário intenso e revelador de dentro da bolha da fama sobre Lady Gaga tem um pouco de verdade, ousadia e muita música.

A expressão rock star, como nós conhecemos, significa algumas coisas. Significa estrela do rock. Também significa alguém que é o mestre ‘’fodão’’ daquilo que ele ou ela faz - ele é o rock star da procuradoria fiscal, ela é a rock star dos personal trainers, ele é o rock star dos encanadores. Nessa medida, eu teria que chamar Lady Gaga de rock star dos rock stars. Ela pode não estar no auge comercial perturbador que ela estava quando revolucionou a indústria musical com seu dance pop rapsódico (nesse momento, Beyoncé e Taylor Swift parecem mais próximas do paraíso). Mas na sua fusão de sexo, fashion, grooves, movimentações, aura, indignação, e - como posso dizer isso? - maravilhoso e puro êxtase elétrico, ela ainda está na beira da glória, em um auge gigantesco por conta própria.

No Festival de Cinema em Toronto, antes da estreia de ‘’Gaga: Five Foot Two’’, um intenso e contagiante retrato verité da cantora no palco e (principalmente) fora. Gaga sentou no piano para performar uma lenta e acústica versão de ‘’Bad Romance’’, e foi estonteante. Sua voz tinha um poder que, além de dar arrepios, também te curava. Gaga canta a mesma versão no documentário, durante uma performance cabaré no Rainbow Room em Nova York, e você pode ver a magnificência disso passar pelo público da boate. A primeira cena do ‘’Five Foot Two’’ é a sola do sapato de salto de Gaga, enquanto ela é levantada em uma polia durante o ensaio para o show de intervalo do Super Bowl 2017, e parece certo. Depois de 10 anos, ela ainda é a rainha do pop que se arrisca.

‘’Gaga: Five Foot Two’’, documentário da Netflix que estará disponível mundialmente no dia 22 de Setembro, não tem muitos números musicais, e pessoalmente eu gostaria que tivesse mais. Se alguém tem maturidade para fazer um documentário de bastidores de shows que mostra a combinação de animação e intimidade de que lembramos, 25 anos antes, de ‘’Truth or Dare’’, é Lady Gaga. Mas ‘’Five Foot Two’’ é sobre Gaga crescendo, tomando decisões difíceis - quase uma rampa de saída - na sua jornada pop, explorando uma nova direção enquanto ela tenta, aos 30 anos, se acalmar frente as águas turbulentas da fama.

Dirigido por Chris Moukarbel (‘’Banksy Ocupa New York’’), que também filmou, é um documentário que olha para dentro da bolha da fama - o que é dizer que, se você vai assistir ‘’Five Foot Two’’ e gostar, você tem que se entregar ao fato de que é protagonizado por uma diva virtuosa que parece ter conseguido praticamente tudo que ela sonhou, sendo autêntica e aberta sobre as angústias da vida amorosa dela, os perigos e pressões em ser uma celebridade e a tristeza interior que ela, como todos nós, pode carregar.

De qualquer forma, eu acreditei nela, mesmo sendo tão rica, famosa, talentosa, abençoada e adorada, qualquer reclamação - e Gaga não é tímida quando se trata de falar das coisas que não a deixam feliz - pode, se vista de um certo ângulo, parecer como um caso glorificado dos ‘’problemas de pessoas brancas’’. Quando Gaga, no documentário, fala sobre o quanto ela se sente sozinha, e sobre como cada relacionamento amoroso parece acabar quando ela está começando um novo projeto, eu pensei: ‘Bem, sim, o amor é doloroso e a vida pode ser solitária - mas comparado com o resto de nós, há provavelmente uma ou duas pessoas que gostaria de namorar você’.

Ainda assim, o lado de confissões nunca se torna uma dor de cotovelo. Em ‘’Five Foot Two’’, Gaga irradia uma energia potente - ela é muito divertida, consciente, e tão descaradamente focada nela mesma que, como Madonna era, é simplesmente quem ela é e quem ela quer ser. (Desculpe, mas não dá para ser a rainha do pop focando muito nos outros). Falando na Madonna, Gaga xinga ela no documentário de uma forma não muito escandalosa, apesar de ser uma vingança pelos comentários negativos de Madonna sobre ela - e nesse caso, eu estou do lado de Gaga. Madonna veio cheia de inveja quando ela deveria ter celebrado o fato de que Lady Gaga, ao mexer com a ousadia no mundo com a sua explosão inicial, foi herdeira musical e espiritual de Madonna, sem mencionar sua protegida do século XXI na manipulação da imagem de Warhol.

Nos primeiros anos, começando com o lançamento de ‘’The Fame’’, em Agosto de 2008, Gaga é quase difícil de lembrar, era uma figura cheia de mistério. Todas aquelas máscaras! Todos aqueles vídeos de deixar a cabeça rodando, que combinavam glamour e mutilação, mas que pouco deixava ver como era a cantora além dos olhos de corça e nariz romano. Toda aquela representação pós moderna durante as primeiras entrevistas.

Mas em ‘’Five Foot Two’’, Gaga é inteira e casualmente exposta, e o que vemos é uma mulher brincalhona e vibrantemente intensa usando enormes óculos e cabelo loiro preso, uma pessoa que é extremamente confortável com a família (o pai dela não é uma figura distante - é apenas um pai que fica por perto e apoia), que valoriza o processo criativo e sabe como se cuidar. Ela tem dois cachorros, e sua mansão em Malibu é de muito bom gosto e aconchegante, parece a casa que a Jennifer Lawrence está reformando em ‘’mother!’’ se ela tivesse conseguido terminá-la.

Em um estúdio de Hollywood, onde Gaga grava a balada calma e cheia de alma ‘’Million Reasons’’, ela tem uma camaradagem muito grande com Mark Ronson, o DJ britânico e o produtor que vemos ela colaborar na gravação de ‘’Joanne’’, seu primeiro álbum de ruptura com o dance pop. (Difícil de acreditar que a primeira música de dança, ‘’Perfect Illusion’’, foi seu primeiro single chato, com um gancho gritante que fica na sua cabeça até você perceber que - sim - o gancho vem de ‘’Papa Don’t Preach’’).

Quando ‘’Truth or Dare’’ saiu, foi antes da era dos reality shows, e todo mundo na mídia fez acrobacias metafísicas tentando definir o que significou quando Madonna nos deu uma versão dela mesma que era ‘’espontânea’’, ‘’desprotegida’’, ‘’crua e completa’’ e ‘’dos bastidores’’ que foi guiada por uma estrela - e mesmo que não tenha sido, o cálculo real foi que Madonna, em um DNA tudo a ver com sua personalidade, sempre estava representando de qualquer forma. Foi assim que ela foi captada. (Warren Beatty no filme: ’’Ela não quer viver longe da câmera’’). De primeira vista, tudo me acerta como uma parte verdadeira, duas partes tinham a ver com sexismo. Como se Bob Dylan, o inventor do ‘’descolado’’, não tivesse orquestrado sua imagem tanto quanto em ‘’Don’t Look Back’’.

‘’Five Foot Two’’ é certamente um documentário tão cheio de controle como uma coletiva de imprensa, mas só porque Lady Gaga é a rock star dos rock stars não significa que sua sinceridade não é real. Quando ela senta na piscina, topless, você pode chamar isso de publicidade ou simplesmente é só algo que ela goste de fazer. (É provavelmente os dois). Eu achei o documentário intensamente revelador sobre a vida e personalidade de Gaga, especialmente quando ela está recebendo tratamento para lidar com a dor que tem a perseguido por três anos, desde que o quadril dela quebrou (diagnóstico errado na época) na turnê. Enquanto o corpo dela é trabalhado por um terapista através de massagem, ela fala sobre a corda de ansiedade que passa por ela e vai para a cabeça, e o jeito que ela descreve isso nós podemos sentir como a corda conecta a dor física e mental (o que acontece quando um machucado acaba com você).

Como um diretor, Chris Moukarbel sabe como deixar as coisas dinâmicas. Ele nos leva para uma fusão de uma Gaga no set de ‘’American Horror Story’’ para um encontro mais próximo com os fãs em uma performance para o Comitê Nacional Democrático, para uma família batizando Gaga por acidentalmente bater no carro de Mark Ronson no estacionamento de um estúdio, para quando ela ia gravar com Florence Welch de Florence And The Machine, para uma versão com os assistentes de moda (‘Nós vimos muitos momentos glamourosos por dez anos - é entediante!’) e para sua preparação do show de intervalo do Super Bowl, um evento que ela guarda com um certo grau de admiração.

Em um momento ela disse que não se importa com a passagem do tempo, que ela está feliz em pensar nela se tornando uma ‘’rock star idosa’’. Um comentário como esse é um som de sanidade. Mas agora que ela fez um documentário se expondo, ela deveria fazer um de show, um profundamente meticuloso que, como ‘’Stop Making Sense’’, poderia trazer a forma para um novo tom de animação criativa. ‘’Five Foot Two’’ mostra Lady Gaga evoluindo - mas mais que isso, mostra que ela só está começando. É isso que acontece quando você nasce assim.

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Tradução por Vanessa Braz de Queiroz

Revisão por Kathy Vanessa