Em uma matéria divulgada nessa semana, a revista VICE entrevistou Bobby Campbell (empresário de Lady Gaga) e Chris Mourkabel (diretor do documentário Gaga: Five Foot Two).

A entrevista girou em torno do assunto: homens gays que trabalham com Lady Gaga e a moldaram como artista.

Abaixo, leia a entrevista na íntegra:

"Como Lady Gaga capturou a imaginação homossexual americana.

Para homens gays, o novo documentário de Chris Moukarbel sobre a Mother Monster desencadeia fortes emoções e lembranças sobre crescer com Gaga.

Tem uma cena surpreendente em Gaga: Five Foot Two, um documentário sobre a vida e carreira de Lady Gaga, lançado na última sexta-feira na Netflix. A cena ficou presa em minha mente desde a primeira vez que assisti na primavera passada. Nela, vemos Gaga deixando um estúdio de gravações e andando em direção a sua Escalade estacionada. Ela é interrompida por uma multidão de fãs gritando. De repente, vimos uma montagem de Gaga deixando estúdios, aviões, e shows ao decorrer de sua carreira. De The Fame Monster até Joanne, vemos a mesma multidão de fãs ao seu redor diversas vezes. Alguns gritam “Ga! Ga!” enquanto outros gritam a popular frase “Slay Gaga!” E sempre tem alguém gritando “Mama! Mommy!”. Em uma questão de segundos, o diretor Chris Moukarbel mostra ao mundo o que a Mother Monster sempre significou para os seus fãs, especialmente os gays.

Poucos músicos conseguiram criar esse tipo de culto à personalidade que Lady Gaga conseguiu. E seja isso pela forma ao qual ela sempre se distanciou das normas de uma pop star, poucos ainda tem uma fã base gay tão dedicada como Stefani Germanotta.

Tomando alguns drinks no Festival Internacional de Cinema de Toronto, eu sentei com dois homens que foram essenciais para trazer Gaga: Five Foot Two à vida: Mourkabel, que dirigiu Me at the Zoo; e Bobby Campbell, o empresário de Gaga. Nós conversamos sobre a Gaga e sobre o que significa ser um homem gay e ser absorvido no seu mundo.

VICE: Esse documentário não começou como esse grande e caro projeto, certo? Era pra ser apenas gravando ela no estúdio?

Chris Moukarbel: Certo. Não era pra ser esse grande retrato dela como pessoa. Nós tomamos uma direção casual ao processo dela no estúdio e isso tudo. Eu acho que isso é o que ajudou ela a querer mais também. Na minha perspectiva, sempre era pra ser algo bem maior que aquilo, mas isso era a minha agenda pessoal. Eu não sabia se conseguiríamos fazer aquilo tudo.

Bobby Campbell: Olha, vou te dizer uma coisa agora que eu nunca falei antes: ela já tinha falado de fazer um documentário um ano antes de você aparecer, mas não existiam planos concretos. E quando vocês começaram a sugerir que poderia ser mais do que pensamos que seria, eu apoiei totalmente. Mas eu só queria bancar o durão, eu acho.

O que é engraçado sobre isso é que como alguém que cresceu com Gaga como a santa padroeira dos gays torturados, eu pensei que parte da atração por Chris para isso era o fato de que ele é um garoto gay da Escola de Arte de Yale.

Chris: Eu não acho que ela já leu meu currículo assim.

Bobby: Não mesmo.

Chris: Ela é tão intuitiva.

VICE: Mas você acha que parte do que a fez confortável o suficiente para fazer esse projeto foi meio que uma sensibilidade com os gays?

Chris: Bobby, você disse isso mais cedo, e obviamente se tornou claro quando comecei a trabalhar com vocês - o círculo de amigos mais próximos dela é principalmente mulheres e gays. Então, o fato de eu ser gay sem dúvidas tornou mais confortável para que ela trabalhasse comigo. Talvez nós não sabíamos exatamente o que estávamos fazendo, mas eu acho que o fato de eu ser gay já me alinhou com a sensibilidade dela.

Bobby: Sim, eu concordo. Eu acho que é parte do motivo de ela ter se sentido confortável com você, Chris. Ela já falou muito sobre como os gays que estão na vida dela já a ajudaram a moldá-la como mulher ou a ajudaram a se tornar uma mulher. De forma geral, é também a razão de ela ter se entregado a esse processo. A primeira vez que ela viu a versão final do filme foi com todo mundo aqui no Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ela confiou em mim, no seu estilista Brandon Maxwell, que trabalha conosco por quase uma década, e claro o Chris para saber se iríamos assinar no futuro que estava sendo pintado para ela - mesmo se tivesse vulnerabilidades e coisas que fossem assustadoras para ela, porque ela pode confiar e sabe que os gays na sua vida sempre a apoiaram.

VICE: Como você acha que sua sensibilidade contribuiu para esse filme?

Chris: Bem, eu acho que minha vida inteira e durante minha infância, muito da minha identidade foi moldada por mulheres que estavam na mídia. Digo, era para quem eu olhava. Eu não entendo o que é uma sensibilidade gay. Eu não sei de onde vem isso. Mas eu me pergunto às vezes o motivo de uma criança como eu, que vivia nos subúrbios de Connecticut, uma criança de imigrantes libaneses, se tornou obcecado com Judy Garland e o Mágico de Oz aos 5 anos de idade. Eu não esquecia depois que vi pela primeira vez e estava obcecado com os sapatos de rubi e todas aquelas referências que eram consideradas tradicionalmente gays, classicamente gays. Mas como eu poderia saber aquilo? É uma memória memética, alguma predisposição.

É quase como se houvesse um gene gay - de alguma forma atado em um certo tipo de mulher, e eu encontrei essas mulheres a minha vida inteira. É visível que Gaga é uma dessas mulheres. Eu acho que ela sempre foi, desde o início. Bem quando ela apareceu. Ela sempre estará segura perto dos corações dos gays e parte dessa tradição é que ninguém é capaz de explicar.

Bobby: Eu cresci trabalhando com ela. Eu tenho trabalhado com ela por quase 10 anos. Mas sabe - uma coisa engraçada para mim, ouvindo Chris falando sobre idolatrar Judy Garland desde que tinha cinco anos - Britney Spears sempre foi minha rainha, desde os 13 anos. Eu sou um verdadeiro fã das estrelas pop icônicas, e acho que contei muito do que eu sou hoje. Por algum milagre, eu tive a chance de trabalhar com minha própria rainha pop. É como se eu pudesse entregar para milhões de crianças ao redor do mundo o que Britney fez por mim aos 14. Para mim, isso é a bênção máxima de tudo isso.

As montagens do filme levam o espectador para diferentes momentos da carreira de Gaga. Quão consciente ou inconscientes são essas novas identidades para ela?

Bobby: Da minha perspectiva, é um conflito estranho ser totalmente proposital em cada detalhe, enquanto também ser completamente autêntico a quem e onde ela está naquele momento. Com Joanne, por exemplo, as pessoas falaram muito sobre ser ela voltando às origens. Mas as origens dela não vêm do country. A família dela é de West Virginia, mas suas origens não são de lá. Ela nasceu e cresceu na cidade de Nova York. Mas naquele momento, quem ela sentiu como mulher foi aquilo.

Eu acho que desde o início - seja quando ela usava roupas loucas ou apenas jeans e uma camiseta - ela sempre conseguiu expressar o que estava sentindo. Cada geração da sua carreira se torna uma capa ou escudo que ela usa para se identificar com o mundo. O que eu amo nesse filme é que você aprende um pouco sobre tudo isso. Há sempre uma razão por trás de tudo que ela faz. Para ela, não é sempre proposital, é ela se revelando quem ela realmente é".

Gaga: Five Foot Two foi lançado na última sexta-feira, dia 22 de setembro, na Netflix.

Tradução por Vanessa Braz de Queiroz e Aloisio Kreischer.

Revisão por Kathy Vanessa

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Imagens: Reprodução/divulgação