Como dito anteriormente, "Nasce Uma Estrela" está sendo exibido no TIFF 18 (Toronto Internacional Film Festival), primeiramente para os críticos, com isso, a atenção voltada para o filme é grande, gerando uma série de reviews publicadas por sites especializados no assunto.

Dando sequência as reviews, o site HuffPost também publicou a sua elogiando o filme, não poupando aprovação, classificando-o como talvez o melhor até agora.

Leia a review completa (contém MUITOS spoilers):

Lady Gaga e Bradley Cooper brilham no eufórico "Nasce Uma Estrela"

O filme de Cooper transcende seus predecessores ao se tornar um comovente retrato romântico e uma crescente crítica à fama.

Por Matthew Jacobs, HuffPost US

Quando nós vemos Lady Gaga em "Nasce Uma Estrela" pela primeira vez, ela está no box de um banheiro, dando um fora em seu namorado no meio do seu turno de trabalho. Ela desliga o telefone e sai gritando, apontando seu torso para o chão em angústia antes de gritar para o céu quatro palavras enlouquecidas: "Homens filhos da p*ta!".

Claro, não é exatamente Gaga quem faz isso. É Ally, a garçonete que mora com seu turbulento pai (Andrew Dice Clay) e obedece às ordens de seu chefe exigente (Greg Grunberg). Ela tem os maneirismos e o contralto de Gaga, mas Ally é uma criação distinta – uma estrela pop crua, que contorna a bagagem que qualquer estrela pop estabelecida com o calibre de Gaga leva a um papel na tela. Gaga, fazendo sua estreia cinematográfica, é o que há, e não só porque ela sai do banheiro chutando tudo e gritando. Bradley, outra força sem igual, trouxe o filme à vida – é a sua estreia diretorial, e ele interpreta o par romântico dela – mas "Nasce Uma Estrela" é a obra de Gaga.

Hollywood valoriza esta tragédia romântica desde o Technincolor original, de 1937. Ao longo dos anos, os seus comentários sobre os julgamentos da fama e as tribulações que as mulheres sofrem nas mãos de egos masculinos se tornaram cada vez mais incisivos, embora "Nasce Uma Estrela" seja muito mais do que apenas uma acusação de "homens filhos da pta". Ally é a mais nova atualização num papel que requer uma celebridade mega renomada e mega talentosa, alguém que já está familiarizada aos olhos curiosos do público: Judy Garland como uma atriz no primeiro *remake (1954), Barbra Streisand como uma estrela do rock em ascensão no segundo (1976) e agora Gaga como uma cantora de bordel que vai do excessivo nervosismo para apresentar suas folclóricas músicas à aceitação do seu modelo diva do pop sensual, repleto com uma tintura laranja-loira, cartazes gigantes e um swing dançante que pergunta "Por que [como] você fica tão boa nesse jeans? / Por que você viria até mim com uma bunda dessas?"

Esse não é o comum "Nasce Uma Estrela". É uma crítica saliente à máquina que transforma talento em campanhas de marketing, e ao orgulho frágil que torna os aplausos de uma audiência ao mesmo tempo condenatórios e viciantes. Além disso, é uma multidão gigante e agradável que se baseia em sua fundação, mas transcende em sua execução – palavras que eu nunca pensei que atribuiria à estreia diretorial do cara que estrelou em "American Sniper".

Antes de vermos o barulho do banheiro de Ally, o filme começa com um Jackson Maine (Cooper) de cabelo desgrenhado tomando pílulas e bebendo uísque num show ao ar livre, onde milhares de fãs veneram seu antigo country-rock. A câmera empurra Jackson como se fosse seu parceiro de dança, perseguindo-o enquanto ele tropeça em direção ao microfone e rasga um solo de guitarra. Quando vira em direção aos espectadores,o panorama adota uma dimensão de fisheye, imediatamente se lançando na psique de Jackson para revelar um homem que mal registra o que o rodeia. A vida se tornou um borrão.

Mas o mundo dele se intensifica mais tarde naquela noite, quando, desesperado por outra bebida, cambaleia a um bar gay e apenas foca, como um laser, quando Ally sobe ao palco para um cover maravilhoso de "La Vie En Rose". Durante a nota final, ela se vira para ele, e a cena desacelera por um breve segundo, o holofote banhando o rosto de Ally num brilho aveludado. Hipnotizado por sua voz e carisma, a convence a juntar-se a ele para uma bebida, e ali começa uma crônica de amantes-estrelas cruzadas, uma em ascensão e outra em queda.

Quando Garland e Streisand protagonizaram "Nasce Uma Estrela", seus respectivos relacionamentos com os homens assombrados que descobriram seus talentos se desenvolveram num clipe que não permitia nuances. Mas Cooper, que co-escreveu o roteiro com Eric Roth ("Forrest Gump") e Will Fetters ("The Lucky One"), atribui mais tempo para Ally e Jackson amadurecerem como personagens contornados no filme. Jackson pode ficar impressionado com a beleza de Ally - um ponto que o filme enfatiza para neutralizar os homens que disseram a Ally que ela não é atraente o suficiente para ser famosa - mas ele é igualmente conquistado pelas suas composições, sua história familiar e seu companheirismo.

Quando ele se apaixona por uma balada que ela escreveu chamada "Shallow", Jackson a coage a se apresentar em seu show. Ally a princípio se recusa, e então, ao ouvi-lo dedilhar os acordes de abertura, ela se entrega e se apressa ao palco. Quando ela agarra o microfone, o mesmo esmalte vermelho que delineou seu rosto durante "La Vie En Rose" retorna. O mundo se derrete e Ally aterrissa no momento que todos desejamos: aquele súbito lampejo quando as constelações se alinham e o universo se abre. Enfim, o paraíso que ela desistiu de esperar a encontrou.

Para Ally, esse paraíso rende um contrato com a Interscope Records. Jackson queria mostrar seu talento, mas pode ele competir com isso também? A partir daí, "Nasce Uma Estrela" se torna um cabo de guerra entre devoção pitoresca e realidade amarga. Quando o produtor de Ally (Rafi Gavron) a transforma em uma rainha glamourosa, sua fama dispara. Enquanto isso, Jackson é relegado à margem da indústria, e os ciclos de dependência e perda que há muito o perseguem se tornam insuperáveis, mesmo quando ele faz tudo o que pode para honrar seu compromisso com Ally.

Se você já assistiu a outro "Nasce Uma Estrela", você sabe como é o resto. O que pode surpreendê-lo é o quão sentimental e estética é a festa que Cooper construiu.

Gaga traz um naturalismo deslumbrante ao papel, que acentua a força da classe trabalhadora de Ally, enquanto ainda aponta ao seu lugar natural nos brilhantes palcos do mundo. De uma forma em que eles não podiam estar no vampiresco "American Horror Story: Hotel", os olhos de Gaga estão cheios de fervor. Ela incorpora seus arredores como se estivesse os experenciando pela primeira vez. Enquanto Jackson cai em seus vícios, ela veste a cautela em seu rosto como uma máscara que ela não pode tirar. Ela entrega uma linha tão comunicativa que é chocante – ela está constantemente procurando as palavras certas, ou entrando em erupção com a impulsividade certa, ou saboreando os holofotes com a estupefação precisamente suficiente. Gaga também tem um relacionamento nítido com os atores coadjuvantes do filme, incluindo Clay, Anthony Ramos (que interpreta seu melhor amigo), um excelente Sam Elliott (que interpreta o empresário de longas datas de Jackson) e Dave Chappelle (que interpreta o amigo de Jackson). A cada nova reunião, podemos senti-la se ajustando ao seu cenário em tempo real, seja saboreando ou lamentando-o.

E Cooper. Ah, Bradley Cooper. Eu raramente me conectei com ele como ator, e agora eu me pergunto o quão errado eu estive esse tempo todo. Seja falando ou cantando, ele mergulha em seu tom mais baixo para produzir uma modulação grisalha que anuncia a vida de sofrimento e pressão de Jackson. Em outra vida, Cooper pode ter sido uma estrela do rock. Ele certamente tem um jeito para isso. Em suas mãos, "Nasce Uma Estrela" é muito mais do que uma narrativa cansada sobre um homem impulsionando a carreira de uma mulher - é uma conversa séria sobre os gêmeos esforços de aspiração e afeto, noções que nem sempre se misturam.

Cooper foi sábio em contratar como seu diretor de fotografia o dotado Matthew Libatique, cujas luzes suaves e seu trabalho de câmera tornaram os filmes de Darren Aronofsky tão dinâmicos, como "Black Swan" e "Mother!". Libatique combina as sombras vermelhas com verdes e azuis, que formam o pulso da história. Elas sublinham perfeitamente o regozijo final do filme: a música. Compostas por Gaga e o roqueiro Lukas Nelson (filho de Willie), as vibrações da trilha sonora - até melhores do que as da versão de Streisand - são o que confirma o talento central do casal. Isso os torna mais simpáticos, porque torcemos por seus dons, assim como por seus espíritos.

Às vezes, "Nasce Uma Estrela" muda para a perspectiva de Jackson quando a de Ally seria mais interessante. Ele também não pode deixar de satisfazer seu paradoxo de estrela de cinema. Como é Jackson, um alcoólatra de longa data que parece despreocupado com a aptidão física, tão malditamente esculpido? E nós realmente acreditamos que Gaga, mesmo em seus momentos menos inventados, não é uma Vênus quase perfeita? Mas com certeza, vamos cantar juntos com o excesso inevitável de Hollywood, se isso resultar em algo assim tão primoroso, tão afetivo, tão resplandecente. Traga seus lenços; haverá lágrimas.

"Você não está cansado de tentar preencher esse vazio?" Ally canta num hino de destaque. A pergunta permanece no lugar desse filme no atual cânone de Hollywood, no qual os estúdios evitam projetos sem largas travessuras. Isso é o que muitas vezes está ausente em nosso cenário moderno de cinema: espetaculares showboats com personagens dimensionais e entretenimento exuberante. "Nasce Uma Estrela" preenche um vazio. Temos a sorte de tê-lo.

Nota: desconhecida

No Brasil, "Nasce Uma Estrela" tem sua estreia marcada para 11 de outubro.

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Fonte

Imagem: Reprodução / Huff Post Brasil

Tradução por Maria Eduarda Seabra

Revisão por Kathy Vanessa