Em recente publicação, o site Vulture abordou a polêmica do álbum "ARTPOP", de Lady Gaga, trazendo informações relevantes e polêmicas sobre o mesmo, fazendo uma análise de sua qualidade, recepção desempenho e de como a cantora estava no momento de sua criação.

Muito se comenta do álbum "ARTPOP" até os dias de hoje, trazendo uma inacabável discussão, sendo o disco um divisor de opiniões.

Independente de sucesso, o site decidiu mostrar que nem tudo é o que parece, ou é, o que muda na verdade é como você vê e como escuta, podendo analisar de outra forma, ou continuar analisando como quiser, porém com mais clareza.

Leia a publicação traduzida:

'Pinkerton' de Weezer e 'ARTPOP' de Lady Gaga na verdade tem muito em comum

Bem-vindo, caro leitor, ao pequeno centro do diagrama de venn da superestrela pop atual Lady Gaga e dos ícones dos anos 90 e da atual banda cover de Toto, Weezer. É um espaço em que não vamos focar nos diferentes gêneros, diferentes gerações, nem, se me permitem, nos 'acordos' completamente diferentes de Lady Gaga e Weezer, mas sim, focaremos no que acontece quando um artista popular lança um disco não popular e como o tempo pode resgatar aqueles que fazem trabalhos ousados, pessoais e excessivamente ambiciosos. Nesse caso, os trabalhos em andamento são o segundo álbum do Weezer, 'Pinkerton', e o álbum 'ARTPOP', de Lady Gaga, de 2013.

Quando 'Pinkerton' foi lançado em 1996, foi recebido com ódio de fãs, críticos e até mesmo do líder da banda, Rivers Cuomo, que chamou o álbum de "hediondo". Mas, com o passar dos anos, ganhou seguidores, o que depois acabou gerando elogios da crítica. Fiquei emocionado com a possibilidade de uma sociedade inteira julgar de uma forma errada um álbum após seu lançamento, então mantive meus olhos abertos para o próximo 'Pinkerton'. Os críticos estavam errados antes, e eles estariam errados novamente. Então Lady Gaga chegou.

A ascensão de Lady Gaga ao topo do pop foi imediata e foi duradoura sem um verdadeiro desfaio ao lançar seus três primeiros álbuns. 'The Fame' e 'The Fame Monster' nos deram hits pop de bom gosto e exclusivamente embalados em Alexander McQueen. Com 'Born This Way', Lady Gaga apresentou musicalmente sua autoproclamada esquisitice, mergulhando em mudanças de gênero mais bizarras com estéticas de modificação corporal. Através destes anos de dominação absoluta, Gaga mudou o que significava ser uma estrela pop trazendo figurinos e façanhas à frente de sua imagem, mas depois de três ciclos de álbuns, Gaga começou a se cansar. Quando 'ARTPOP' saiu, as façanhas pareciam obsoletas (você se lembra da artista de vômito? O vestido voador?) e as pessoas não tinham certeza se Gaga era a estrela da moda/arte/pop que lhes havia sido prometida. O single de estreia do álbum, 'Applause', foi a primeira estreia de um álbum de Gaga a não chegar ao número #1, alcançando o número #4 na Billboard Hot 100. Os outros singles do 'ARTPOP', 'Do What U Want' e 'G.U.Y', respectivamente alcançaram o número #13 e o número #76 na Hot 100. O álbum como um todo estreou no número #1, mas comparado ao 'Born This Way', que vendeu 1,1 milhão de cópias em sua primeira semana, o 'ARTPOP', que vendeu 258.000 cópias em sua primeira semana, parecia como uma significativa decadência, e as pessoas perceberam.

As críticas do álbum foram mistas; alguns apreciaram sua ambição, mas, em geral, foi considerado um fracasso. Na resenha da Rolling Stone, o crítico Caryn Ganz escreveu: 'Gaga quer que acreditemos que o LP foi inspirado por Marina Abramović, Jeff Koons e Sandro Botticelli; no seu melhor, parece que foi dirigido de forma criativa por RuPaul, Dr. Ruth e Beavis and Butt-Head'. O álbum não foi indicado para nenhum Grammy, foi visto como um passo em falso na melhor das hipóteses, e como forma de ofensa recebeu o apelido 'Artflop' do lado infinitamente vadio da internet obcecado por pop. Alguns temiam que a carreira de Lady Gaga estivesse acabando não com um estrondo, mas com um grito: 'Swine!' A própria Gaga, ao aparecer no SNL logo após o lançamento do 'ARTPOP', realizou uma das mais sombrias cenas que eu já vi, onde ela interpreta uma versão do futuro de si mesma como uma mulher idosa que se esforça para conseguir que um assistente de informática a reconheça tocando trechos de seus sucessos. Ele não sabe quem ela é e só reconhece 'Born This Way' de um comercial. A cena terminou com uma sombria e melancólica interpretação de 'Aplause', que sugere um ponto baixo na crença de Gaga em seu poder.

Aqueles que ouviram 'Pinkerton' esperando o Blue Album, Two (Full Throttle), teriam ficado razoavelmente desapontados. O Blue Album (oficialmente intitulado Weezer) saiu e foi triplo-platina com seus hinos peculiares, nerds, mas deixou o vocalista Rivers Cuomo se sentindo isolado pelo estrelato que ele de repente possuía. Além disso, ele passou por uma dolorosa cirurgia para estender a perna direita e decidiu se afastar da fama e estudar composição musical em Harvard. Após o lançamento de 'Pinkerton', as pessoas que esperavam outro 'Buddy Holly' borbulhante foram recebidas com uma queixa bizarra sobre a dormência causada por fazer sexo demais em 'Cansado de Sexo'. Em geral, o sexo triste, pervertido e sem esperanças percorre 'Pinkerton'. Músicas como 'Why Brother?' parecem preventivamente uma derrota; 'Across The Sea' impropriamente anseia por uma fã de 18 anos de idade; e em 'Pink Triangle', Cuomo quase com humor, e um pouco desesperadamente, quer que uma lésbica goste dele. As letras de Cuomo são confessionais, às vezes engraçadas, e muitas vezes infantis, com as mais conscientes vindas de 'El Scorcho' ('Eu pedi para você ir ao show do Green Day/ Você disse que nunca ouviu falar deles / Quão legal é isso! / Então eu fui para o seu quarto / E li seu diário') e ele está perto de gritar ou sussurrar o tempo todo, raramente encontrando um volume médio para expressar seus sentimentos juvenis. Até mesmo a feita para as rádios 'The Good Life' é uma música divertida que se queixa da fama e apresenta Cuomo culpando-se por não encontrar alegria em seu sucesso. É um álbum inteiro de alguém gritando seus desejos mais profundos, sendo emocionalmente fora dos trilhos, e raramente parando para deixar a música diminuir ou filtrar qualquer pensamento, o que, embora tenha desanimado os fãs casuais que estavam esperando hits, tornou-se essencial ouvi-lo para aqueles que conseguem apreciar a montanha-russa emocional.

Lady Gaga lidou com seu próprio tumulto pessoal entre o lançamento de 'Born This Way' e 'ARTPOP', que incluiu uma rivalidade pública e eventual separação com seu antigo empresário, Troy Carter, e o cancelamento de muitos shows da turnê 'Born This Way Ball por causa de um quadril quebrado. Em uma entrevista para a Billboard, ela discutiu a possibilidade de ter um sério bloqueio criativo enquanto trabalhava no 'ARTPOP', dizendo: 'Eu não pude escrever por dois anos. Para 'ARTPOP', eu estava fazendo batidas ao invés disso. Eu não queria estar perto daquele maldito [piano]'. Ela também falou sobre se sentir traída por sua gerência durante a produção e o lançamento do álbum em um post confessional em Little Monsters: 'Aqueles que me traíram gravemente administraram mal o meu tempo e minha saúde e me deixaram sozinha para piorar o controle de quaisquer problemas que surgiram como resultado. Milhões de dólares não são suficientes para algumas pessoas. Eles querem bilhões. Então eles precisam de trilhões. Eu não era o suficiente para algumas pessoas. Eles queriam mais'. Mais tarde, ela twittou no quarto aniversário do lançamento do álbum que o 'ARTPOP' era uma expressão de sua 'raiva, paixão e medo'.

Se você for ouvir o 'ARTPOP' esperando que ele te anime, você ficaria desapontado. Aqueles que chegam a ele sem essa expectativa, e sem o cansaço da Gaga de 2013, encontrariam um álbum que é ao mesmo tempo divertido, bravo, agitado, engraçado e açucarado. 'ARTPOP' toca como alguém tentando se divertir apesar de estar com um péssimo humor. Gaga usa batidas tão fortes ao ponto do absurdo ('Venus' dispara os alarmes de um carro), tenta misturar todos os gêneros, desde o pop dos desfiles ao rap ou dubstep, está praticamente implorando para bater em alguma coisa, e renuncia à voz leve dos seus dias de 'Poker Face' para se comprometer ainda mais com um uivo de Halloween que decola desde o primeiro riso cacarejante de 'Aura'. Parece maníaco quando você alcança 'Gypsy' e acende agressivamente em músicas como 'Fashion!' e 'Applause'. Você pode levar chicotadas entre 'Swine' e 'Donatella' ou você pode decolar completamente para 'Venus', 'G.U.Y', 'Sexxx Dreams'. O álbum é, do começo ao fim, profundamente psicótico e muito mais interessante do que qualquer outra coisa que Gaga havia lançado antes. Como 'Pinkerton', sua dificuldade imediata não é uma falha, mas a razão pela qual vale a pena ouvir.

Para que o 'ARTPOP' seja verdadeiramente o 'Pinkerton' da carreira de Lady Gaga, ele precisa ser perdoado pelo público, e já podemos estar no meio disso. No Twitter dos gays existe um apoio estrondoso no lado que procura #JusticeForARTPOP. No teste final, ao entrar recentemente no bar gay do Brooklyn, Metropolitan, ouvi o familiar grito estridente inspirado no dubstep 'SWINE !!!!'. O clima está lá, e nem mesmo 'Jewels and Drugs' vai parar o 'ARTPOP' de obter o respeito que merece.

A maior questão restante é como Gaga irá avançar a partir de 'ARTPOP'. Desde o seu lançamento em 2013, ela ainda não lançou um álbum totalmente pop. Ela fez o country 'Joanne', a trilha sonora de piano-rock/country/pop para 'Nasce Uma Estrela', e 'Cheek to Cheek' com Tony Bennett. Quando o Weezer estava lançando o sucessor de 'Pinkerton', álbum que também é tecnicamente chamado de 'Green Album', em 2001, Rivers Cuomo disse sobre 'Pinkerton': 'É como ficar bêbado em uma festa e derramar sua coragem na frente de todos e se sentir incrivelmente bem, ótimo e catártico sobre isso, e então acordar na manhã seguinte e perceber o completo idiota que você fez de si mesmo'. Ele orgulhosamente disse em uma entrevista à Rolling Stone que no 'The Green Album': 'não há sentimento, não há emoção', e muitas das músicas do Weezer tiveram o mesmo toque sem impessoal. Na apresentação de Gaga no Super Bowl, 'ARTPOP' foi o único álbum não representado no medley. Em sua mais recente turnê do 'Joanne', a única música do 'ARTPOP' que entrou para a setlist foi 'Applause'. Rivers Cuomo levou anos para reconhecer que 'Pinkerton' era potencialmente seu melhor trabalho e valorizar sua sincera estimação. Espero que Gaga encontre logo a beleza em sua própria experimentação e esses discos fora do comum serão capazes de (citando 'Applause') 'derrubar as críticas perguntando: 'Está certo ou errado?''.

Escrito por: Sam Taggart

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Fonte

Tradução por Vinicius Colombo

Imagem / Reprodução: Vulture

Revisão por Kathy Vanessa