A revista estadunidense Variety postou segunda-feira (21) sua review do primeiro show da residência ”Jazz & Piano” de Lady Gaga em Las Vegas. Considerando uma das noites mais triunfantes da carreira de Gaga, a revista elogiou desde os covers de jazz clássico às versões no piano dos maiores hits da cantora. Confira a tradução da review abaixo:

Review do Show: Lady Gaga Supera Seu Outro Show Em Vegas Com Maestria Em “Jazz & Piano”

Em um ano em que Lady Gaga deve ganhar pelo menos um Oscar no mês que vem e tem boas chances de ganhar dois, pode soar como um gesto de parabenização prematura sugerir que ela já aproveitou a noite mais triunfante que ela terá em 2019, senão em toda a sua carreira. Mas durante a abertura no domingo de “Jazz & Piano” – seu outro show de residência no Park Theatre em Las Vegas – ficou bem claro que essa viagem pelas alturas esculturais do Great American Songbook era o seu verdadeiro sonho se tornando realidade, e não uma estatueta de ouro. Era bem sonhador para nós amantes de Cole Porter, Billy Strayhorn e cocares ridículos, também.

“Sabe, foi logo ontem à noite quando eu estava curvada em um fio dental cantando algum pop progressivo”, brincou a estrela no topo do show, fazendo uma referência à “Enigma”, que estreou três semanas atrás, e que ela de fato havia apresentado apenas 24 horas antes. Não é nenhum insulto para a outra produção – ou para fios dentais, ou para cintos voadores e robôs gigantes – dizer que “Jazz & Piano” a ultrapassa. Você pode entrar no local do show com a suspeita razoável de que alguém que se destacou no pop contemporâneo sofrerá uma desvantagem automática ao se dignar a ser original e seguir os padrões dos anos 30, 40 e 50. Mas esse show deixa claro que ninguém precisa colocar um mindinho na balança enquanto julga suas proezas. O teste real é imaginar se você ainda seria conquistado desse jeito a vendo cantar essas músicas como uma desconhecida na Rainbow Room... ou como uma verdadeira estrela de Vegas em um universo alternativo dos anos 1960 no qual Shirley MacLaine não é a única mulher membro do Rat Pack. Ela passa, com cores voadoras e terrivelmente extravagantes.

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Jazz & Piano tonight ???? #GagaVegas

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A setlist de “Jazz & Piano” era um mistério se comparada ao conjunto dos maiores hits que são tocados em “Enigma”. Será que ela apresentaria qualquer coisa do seu material original acompanhada de uma orquestra? Ela apresenta, embora sejam apenas quatro músicas espalhadas pelo show. Sua devida humildade em relação a isso aparece em um interlúdio de entrevistas filmadas nas quais ela quase se desculpa por ter colocado suas composições com as de Rodgers & Hart. Mas aqueles hits do século XXI recebem novos arranjos tão divertidos que você chega a desejar que ela tivesse trazido mais um ou dois deles.

“Born This Way”, por exemplo, deveria ter nascido assim, da forma como ela canta sozinha ao piano, como se fosse um número lento de gospel; a música não soa mais como uma imitação de “Vogue”, mas sim como algo mais primitivo e espiritual, e é surpreendentemente comovente nesse momento mais reverente. “Paparazzi” foi precedida com um discurso sério sobre o preço da fama e como “é legal ser seguido” (no sentido de legalidade) – mesmo assim, ela conscientemente acrescentou, “eu não quero contar uma história triste vestindo veludo e diamantes” – e terminou com a orquestra completa tocando uma apropriada música de perseguição de filmes de suspense. Mas não havia tanta seriedade, é claro, com “Poker Face”, a qual Gaga introduziu com uma conversa apropriada sobre jogos antes de acrescentar uma explicação crítica da metáfora. “Assim como aconteceu com muitos compositores antes de mim, as pessoas achavam que sabiam sobre o que a música se tratava”, ela disse. “Eles estavam errados... É quando você está com um homem e está pensando em uma mulher – você tem que manter sua cara de blefe (Poker Face).” (“Desculpe, MGM”, ela brincou, logo depois de cantar a rima “bluffin/muffin”, que não é uma propaganda das ofertas do Starbucks do Park Hotel. “Eu já descontei o cheque”.)

Quanto aos 16 covers vintage, muitos se dirigiram para o que você veria nesse tipo de show. Ela abriu e fechou o show sendo Frank – A repentina auto referência em “Luck Be a Lady” abrindo o show e “New York, New York” fechando-o. Você não negaria a ela essas oportunidades de arrebentar da maneira com mais instrumentos de sopro dos expatriados de Nova Jersey, mas os padrões mais sutis entre os dois ofereceram oportunidades melhores para descobrir suas verdadeiras habilidades. "What a Diff'rence a Day Make", emprestada por sua heroína Dinah Washington, foi beneficiada por um arranjo de cordas cintilantes, assim como pela atenção da própria Gaga para o sentimento de esperança recém-nascida da letra. Sua versão do hit de Cher, Bang Bang, foi lenta e dramática o suficiente para que, quando alguém riu durante uma pausa na música, achando que a música era exagerada, aparentemente, Gaga interrompeu, em uma defesa aparentemente espontânea: "Isso não é engraçado". Sua performance mais requintada veio em “Someone Watch Over Me” – ninguém nunca confundiria Gaga com o “cordeirinho perdido” de Gershwin, mas ela é boa em interpretar um na TV – e em arrasar nas sutilezas desafiadoras de “Lush Life”, usando essas baladas para trazer um vibrato requintado, que ela é inteligente o suficiente para usar com moderação.

Gaga claramente não está indo para a parte obscura dos padrões em nome da obscuridade, mas foi bom ouvi-la apresentar dois números que são raramente ouvidos hoje em dia, inclusive no ambiente de cabaré: “Orange Colored Sky”, que não é revivida frequentemente desde sua imortalização sentimental por Nat King Cole, que ela descreveu como uma favorita da infância, e “Little Coquette”, uma música de Guy Lombardo através de Fats Domino que Gaga disse já ter sido escolhida como a música de seu funeral. “Sabe, quando eles estão me fazendo rolar, que se dane”, declarou ela alegremente. (Agora, se ela pelo menos conseguisse fazer sua fanbase trocar seu nome de Little Monsters para Little Coquettes...)

No começo do show, Gaga anunciou que teria um convidado surpresa, que rapidamente ficou claro não ser uma surpresa para ninguém, embora tenha sido, de fato, uma adição de último minuto. Essa foi a aparição de Tony Bennett, com quem ela gravou um álbum de duetos e saiu em turnê na primeira metade dessa década, ainda parecendo tão satisfeito aos 92 anos em ter a marca de batom de Gaga depois de sua demonstração literal de “Cheek to Cheek”, e em assinar a ideia descarada de “The Lady Is a Tramp”. A doçura dela era atraente: “Vocês se importam se eu levá-lo embora?” ela perguntou à plateia depois da colaboração de duas músicas. “Porque tocá-lo apenas é bom”.

Esse não foi o último momento de cavalheirismo dela, já que ainda havia um momento de orgulhosa androginia por vir. Depois da terceira e última troca de figurino da noite, ela apareceu com uma saia preta sobre o que parecia ser um smoking de acrílico, depois brincou: "O que é engraçado sobre essa roupa é que eu tenho uma saia e sou uma dama, mas tiro a saia, e agora sou apenas um gigolô”. O que se seguiu foi uma cantoria conjunta do clássico de David Lee Roth... perdão, Louis Prima, em conjunto com seu assombroso amigo de cabaré de duas décadas e outro parceiro de dueto, o trompetista e diretor musical Brian Newman.

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Vegas, baby!! ????by @kevinmazur

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Seus outros figurinos em geral deixavam à mostra suas pernas ou decote, às vezes parecendo algo saído da era saudada, às vezes não, como no figurino rosa que tinha ombreiras quase tão largas quanto o próprio palco, ou a “peruca” da abertura que parecia um grande conjunto de espinhos de porco-espinho. Seus trajes podem ter parecido radicais pelos padrões da era Rat Pack, mas não muito mais radicais do que a questão padrão Patti LaBelle. Ela parecia bem ciente do equilíbrio que estava atingindo, tanto no figurino como no canto e no tom geral: respeitando inteiramente a elegante tradição do showroom, com apenas alguns “f*-se” e acessórios impressionantes do século XXI.

Houve alguns gemidos no material roteirizado entre as músicas, assim como há no roteiro de “Enigma”. Quase toda pausa entre as músicas começa promissora com um comentário pessoal e termina em uma declaração embaraçosa do título da música seguinte ou das letras principais a seguir. Mas não é tão bobo quanto a tentativa da “Enigma” de estabelecer uma narrativa de ficção científica. Ela só está seguindo praticamente todos os cantores de cabaré da história ao buscar alguma conexão entre as músicas, embora forçada. Ela está sempre ligada, mesmo quando pede um copo de uísque, que ela bate no piano com um baque audível que faz você pensar que a parte de cima do teclado pode ter sido microfonada apenas para esse propósito. Mas você também poderia dizer, no domingo à noite, que havia alguma emoção real envolvida nessa experiência em particular, pela garota que gastou alguns anos de sua juventude em bars drag simplesmente querendo entrar na carne do velho Fred Astaire ou Edith Piaf antes de até mesmo sonhar em entrar em um vestido de carne.

"La vie en rose" de Piaf foi um momento tão jovem que ela reviveu na abertura de domingo, assim como ela reviveu na tela em "Nasce uma Estrela". (Foi a única música trazida para "Jazz & Piano" do seu filme de sucesso, desculpe, não tem nenhuma versão de orquestra de "Shallow" aqui). Se alguém imaginou que sua performance no filme foi produto de edição, tanto em tela quanto do estúdio de gravação, sua interpretação da música no Park enterrou aquela ideia: foi difícil imaginar alguém, fora a própria Piaf, que cantasse a música melhor ou mais poderosamente. Não era apenas um momento de bravura da diva – embora certamente tenha sido – mas algo estranhamente autobiográfico também. No mundo de Lady Gaga, não existe muita distinção entre o teatral e o pessoal, ou entre ela sendo da realeza ou sua melhor amiga com sotaque de Nova York.

E não é só sobre ela. Os gráficos são uma estrela de "Jazz & Piano" também. A grande maioria do público no Park não teria como lembrar o quanto esse show lembra o pico de Vegas, quando você tinha que dar gorjeta ao maître, e não ao StubHub, para chegar tão perto de uma banda de 30 membros de distinção mundial com uma belter de renome mundial na frente. Mas com certeza todo mundo sente que essa é a melhor chance que vamos conseguir naquela viagem no tempo... e que, se entrarmos em uma máquina do tempo para o passado, poderemos descobrir que algumas das estrelas do passado não colocaram tanto de si em seus conjuntos Glitter Gulch quanto Gaga está colocando nos dela. De todas as coisas que você poderia fazer com algumas centenas de dólares em Las Vegas agora, gastar em Gaga cantando “Call Me Irresponsible” é realmente o mais responsável.

“Jazz & Piano” tem 8 performances marcadas atualmente no Park, em 3 de Fevereiro; 2, 9 e 15 de Junho; 20 e 26 de Outubro; e 3 e 9 de Novembro. Assim, como com o show simultâneo, “Enigma”, é esperado que Gaga estenda seu compromisso até ano que vem.

Os próximos shows da residência "Enigma" de Lady Gaga em Las Vegas acontecerão nos dias 24, 26 e 31 de janeiro.

Tradução por Caio Carvalho
Imagem: Just Jared

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Fonte

Revisão por Kathy Vanessa