Em recente review publicada pelo site Pitchfork, a cerimônia do Oscar 2019, que aconteceu no domingo (24), foi comentada de forma direta. Sem poupar alguns "erros", que aconteceram na visão do site.

No texto publicado, o site destacou os nomes de alguns vencedores da noite, fazendo observações sobre algumas vitórias. Entre as vitórias comentadas está a de Lady Gaga, com "Shallow", na categoria de "Melhor Canção Original", que diferente das demais foi elogiada pelo site.

Mas o verdadeiro foco do texto foi para a apresentação de Lady Gaga e Bradley Cooper cantando a canção "Shallow", que, na opinião do site, foi o que valeu a pena acompanhar, sendo destacada como o momento que salvou a cerimônia deste ano.

Leia a review completa traduzida:

'Shallow' foi a parte mais real de um Oscar que celebrou a fraude musical

Você podia sentir as costas de todo mundo se endireitando no começo da Terceira hora do Oscar na noite passada – nada fácil. Rapidamente após um prêmio técnico, um piano de cauda foi empurrado para o palco, e sem nenhum anúncio, de repente uma guitarra tocando suavemente inundou o palco do Dolby Theatre. A câmera foi em direção à multidão enquanto o tão esperado dueto, Bradley Cooper e Lady Gaga de 'Nasce Uma Estrela', saíam de seus assentos, de mãos dadas, como se eles tivessem recebendo um prêmio. A performance hipnotizante que se seguiu foi um alívio bem-vindo do resto da cerimônia.

Todo Oscar tem sua cota de momentos dignos de constrangimento, mas a noite pareceu especialmente longa quando começou com o Queen, liderado pelo Adam Lambert, executando 'We Will Rock You' e 'We Are The Champions'. Um Christian Bale e uma Kacey Musgraves visivelmente desconfortáveis fingiam entusiasmo e até mesmo Gaga batia palmas para uma volta olímpica sem Freddy Mercury de uma bagunça problemática de biografia. A cerimônia seria repleta de elogios não merecidos: quatro Oscars para 'Bohemian Rhapsody', incluindo 'Melhor Ator' para Rami Malek e uma série de prêmios técnicos embaraçosos, e 'Melhor Filme' para 'Green Book', a outra grande biografia musical da noite (por depreciar o músico de jazz Don Shirley). Houve uma época em que todo mundo previu que 'Nasce Uma Estrela' varreria os prêmios da academia, mas de algum modo domingo a noite acabou sendo a celebração da fraude musical (e Roma).

No meio dessa bagunça, 'Shallow' veio como um alívio reconfortante. A canção pode ter se originado em um filme fictício, mas a emoção entre Gaga e Cooper foi uns dos momentos musicais mais honestos da noite (Gillian Welch e David Rawling também fizeram uma performance sincera de sua música 'When A Cowboy Trades His Spurs For Wings' de 'Ballad Of Buster Scruggs', com roupas cafonas e menos espetáculo). Não foi o que Gaga e Cooper refizeram a música drasticamente, como ela fez no Grammy, mas a interpretação deles foi de um outro romance – de um ardente grande amor, ao invés da atração florescente da versão do filme. A apresentação foi lindamente dirigida, uma única câmera simples e itinerante, centrada sobre o momento dos dois juntos. Os produtores não ousaram cortar, este tipo de calor não precisa da validação de algum 'A-list' cantando junto.

'Me diga uma coisa, garota', Copper começou, sua voz trémula e crua enquanto Gaga o olhava carinhosamente; ele havia dito que não iria se apresentar como Jackson Maine no Oscar. Gaga, normalmente coreografada com perfeição, continuou movendo a sua mão pelo cós parecendo involuntário, como se ela estivesse se preparando para um momento que iria tirar o seu fôlego. No final do verso de Cooper, ela se apressou para o assento do piano como se tivesse se esquecido que era sua vez de cantar, ou até mesmo que ela estivesse no Oscar, porque ela estava tão encantada com o seu parceiro de cena. O que Gaga fez ali foi uma boa atuação. Por aqueles poucos minutos, ela nos deixou desdobrar toda uma história de fundo através dos seus pequenos tiques.

O verdadeiro auge chegou no suave momento perto do final, quando Cooper se juntou à Gaga no banco do piano. Enquanto se aproximava do microfone para cantarem juntos, o perfil de Cooper se eclipsava com o lado esquerdo do rosto da Gaga, criando uma espécie do Persona de Igmar Bergman com duas identidades mescladas, ou algo parecido com The Lovers de Rene Magritte, uma pintura de dois rostos cobertos se beijando enquanto os seus lábios na verdade nunca se encostam. O que é tão perfeito nesta intimidade é que ela não quebrou a ilusão de autenticidade – um beijo poderia ter sido muito cinematográfico, muito performático – e não acabou se tornando um artifício, uma linha que a Gaga poderia facilmente ter cruzado. O 'quase' da performance deles é perfeito – talvez uma sequência de três minutos e meio mais merecedora de Oscar que 'Bohemian Rhapsody' ou 'Green Book'.

A sutileza emocional de 'Shallow' foi um refrescante afastamento da arrogância esmagadora do 'Bohemian Rhapsody' - e com isso quero dizer, a audácia de um filme tão terrível de se passar por homenagem quando, na verdade, é um retrato paternalista e enrustido de Freddie Mercury. A escalada de Queen na noite inteira - até os anúncios - seria surpreendente se fosse outra banda, mas a Academia adora uma boa marca, talvez até mais do que eles adoram parecer antenados. Durante toda a noite nem uma única pessoa agradeceu o diretor Bryan Singer demitido de 'Bohemian Rhapsody', porém ainda leva os créditos, mas isso não mudou o fato de que o suposto agressor sexual estava sendo celebrado por seu trabalho.

'Green Book' pode ter sido feito por figuras menos desconcertantes, mas a sua vitória por 'Melhor Filme' também foi frustrante. Este é um filme biográfico que absolve rapidamente o racismo por meio de guarda-costas brancos, expele propaganda pró-policial e deturpa sua estrela, o pianista Don Shirley, cuja própria família desaprova o filme. Tanto o 'Green Book' quanto o 'Bohemian Rhapsody' são fáceis para a Academia escolher: em linha com sua contínua adoção de biografias musicais exageradas e com um pouco de felicidade no final, apesar de serem baseados naqueles que viveram dificuldades reais. É quase como se a fantasia importasse mais para a Academia do que a realidade.

A apresentação dos protagonistas de "Nasce Uma Estrela" entrou hoje (26) para o TOP 10 de vídeos mais vistos do YouTube, leia aqui.

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Fonte

Tradução por Laíza Coelho

Revisão por Kathy Vanessa

Imagem: TNT / Divulgação: Pitchfork