Para o grande publico, Lady Gaga pode até ser aquela cantora que todos esperam para vê-la se apresentar, ou até mesmo conferir o que ela vai usar, mas não é de hoje que a cantora vem mudando o foco, mostrando cada vez mais seu lado humano e abordando assuntos muitas vezes esquecidos em meio a convivência no dia-a-dia.

Em recente publicação feita no The Washington Post, um texto de Anna Maxymiw, relata como foi para ela ter que lidar com duas situações em sua vida: desistir de namorar e finalizar seu primeiro livro. No texto, ela relata como Lady Gaga a ajudou nestes processos difíceis.

Leia a publicação completa traduzida:

Como Lady Gaga me convenceu a desistir de namorar - e terminar meu livro

Em uma entrevista de 2010 com a Vanity Fair, Lady Gaga disse algo que eu nunca esqueci. 'Quando eu vou pra cama com alguém eu fico pensativa', ela explicou, 'eles vão tirar minha criatividade de mim através da minha vagina'. Ela estava expondo por que ela não tinha um parceiro, porque ela se preocupava com o esgotamento da energia artística que ela poderia ter quando se coloca nua na frente de alguém. 'Eu estou sozinha quando estou em relacionamentos', ela continuou. 'É a minha condição de artista'.

Eu me lembro, talvez ela estava tramando algo: 2010 foi um dos pontos mais altos da carreira de Gaga. No ano anterior, ela lançou 'The Fame Monster', e ela estava na 'Monster Ball Tour'. Ela era o auge: sem remorso, grotesca, glamurosa e ousada. Guardei essa citação comigo.. Lá estava, pra quem quisesse ver: Namorar poderia te ferir: se você quiser ser você mesma e ser completa, é bem provável que seu parceiro vai te machucar.

Não estou dizendo que os melhores artistas são solteiros. Eu sei que existem milhares de cônjuges solidários que têm parceiros artísticos produtivos. Há muitos trabalhos dedicados a pessoas importantes: basta abrir alguns livros e você verá nomes após nomes de pessoas que foram nomeados por um escritor ou outro. Mas quantos deles também pertencem a outra lista, aquela com os nomes dos cônjuges, muitas vezes mulheres, que trabalharam para os seus parceiros à custa do seu tempo, saúde ou mesmo da sua própria criatividade?

Considere Zelda Fitzgerald, esposa de F. Scott, que usou seus diários como base para sua ficção. Scott foi elogiado; Zelda passou os últimos anos de sua vida dentro e fora dos sanatórios. Considere a escritora francesa Colette, cujos primeiros quatro romances foram publicados sob o nome de seu marido; quando ela queria ter seu próprio nome em seu trabalho, ele a trancou em um quarto e a forçou a escrever. Ela o abandonou e acabou ganhando fama como escritora por conta própria, mas só depois de um período de pobreza.

Por que esses exemplos extremos dos perigos de se associarem surgem para tantas mulheres até hoje? Seja um casamento em que um dos parceiros recebe o crédito do outro ou um encontro em uma cervejaria onde uma mulher tem que ouvir um homem falar sobre seu podcast sem perguntar a ela mesma sobre seus próprios esforços, os desequilíbrios criativos são muitas vezes rígidos.

Zelda e Colette não são as únicas mulheres que foram posicionadas dessa maneira. Em 2017, o BuzzFeed examinou a hashtag #ThanksForTyping. O romancista e professor de inglês Bruce Holsinger estava curioso sobre todas as vezes em que viu autores masculinos agradecendo seus cônjuges por digitarem manuscritos nos agradecimentos de seus livros. Uma esposa foi agradecida por 'digitar e re-digitar a maior parte do manuscrito 15 ou mais vezes'. Outro homem agradeceu à esposa por digitar rascunhos enquanto cuidava de seu filho recém-nascido e trabalhava meio período. Gostaria de poder dizer que fiquei chocada quando cliquei na hashtag, porém ao mesmo tempo não estava. Eles fazem com que as mulheres que façam o trabalho emocional para seus parceiros e também escrevem um livro inteiro pareçam quase insignificantes, comparado a algumas das mulheres encorajadoras que tiveram que fazer pelos homens de suas vidas: ser a silenciosa companheira sorridente em eventos ou cerimônias de premiação; entregando pinturas ou negociando um leilão, falando com alguém de uma fúria violenta ou de uma profunda depressão.

Eu tenho minhas próprias experiências #ThanksForTyping. Nas poucas vezes em que estive envolvida com outros escritores, sempre terminava em eu tendo que colocar meu trabalho de lado para editar seus manuscritos ou dar conselhos sobre uma personagem feminina que eles 'basearam na minha voz'. Quando pedi a esses mesmos parceiros que olhassem para o meu próprio trabalho, eu fui eviscerada através de edições descuidadas ou simplesmente ignorada. 'Sua escrita é muito intimidante para mim', disse um homem para quem eu havia editado dois livros. 'Eu só não tinha edições para fazer!'.

Então eu escrevi meu próprio livro. Eu fiz o trabalho: trabalhei em tempo integral para poder escrever de manhã. Fui fazer compras às 11 da noite depois que meus turnos da noite terminaram. Eu digitei todas as minhas próprias palavras para os cerca de 12 rascunhos que escrevi durante os nove anos que levou para escrever e editar o livro, conseguir um agente para o livro, conseguir uma editora para o livro.

E eu continuei lembrando que Gaga fez sua marca. Não é isso que me guiou ativamente para permanecer sozinha sobre o apego romântico; sinceramente, eu particularmente não quero passar pela vida sozinha quando grande parte do mundo parece ser destinado a casais. É só que suas palavras surgiram em minha mente toda vez que eu estava com o coração partido, toda vez que outra parceria no mundo não acontecia. Quando eu estava deitada na cama chorando, quando eu estava vagando no meu caminho, quando estava obcecada com o que eu poderia ter feito diferente, esse lema seria um convite para uma realidade alternativa, um mundo onde eu poderia gastar minha energia em algo que seria garantido para florescer se eu colocasse o trabalho nisso. E então, finalmente, no final de 2016, quando minhas edições começaram a aumentar para o livro, encerrei minha vida amorosa. Eu não daria mais energia para coisas que estavam fora do meu controle: eu direcionaria toda essa energia para a página. Eu ia fazer um nome para mim através de algo tangível.

Logo depois que fiz minha grande escolha, o universo pareceu me tranquilizar de que eu estava no caminho certo. Escolhi minha editora, McClelland & Stewart, na manhã do Dia dos Namorados em 2017. Em vez de revirar os olhos para casais que se bajulavam nas redes sociais, passei meu Dia dos Namorados dançando em volta do meu apartamento, acolhendo essa nova e diferente forma de romance. Eu não sou do tipo de pessoa que planeja todo o meu destino, mas parecia que algo estava reforçando a minha escolha. E agora eu sei: eu trocaria mil encontros ruins por isso, o sentimento de criar um legado que pode ser mantido nas mãos de alguém. Agora eu choro, mas é sobre meus personagens. Hoje sou a única que pode partir meu coração.

Nove anos depois, Lady Gaga não está mais sozinha; na verdade, ela está noiva. Talvez ela tenha mudado de ideia sobre perder sua criatividade através de sua vagina. Talvez ela tenha encontrado uma maneira válida de equilibrar sua vida amorosa e sua vida artística. Ou talvez ela tenha encontrado um parceiro que entende exatamente o que ela precisa. Ela também está em um novo estágio de seus esforços criativos, ganhando acenos por sua performance em um filme sobre uma mulher explorando sua identidade criativa e encontrando sucesso artístico graças ao seu relacionamento com um homem. Eu admito que isso me deixa pensando: Estou errada? Estou confundindo o medo de namorar, de me tornar vulnerável, de um sinal de que eu deveria estar me concentrando apenas em escrever? Estou fechando uma parte crucial de mim mesma e dizendo a mim mesma que é necessário?

Eu não sei o que o futuro reserva. Eu não sei se vou relaxar o meu impedimento ao namoro depois que este livro estiver no mundo. Mas aconteça o que acontecer, eu nunca vou esquecer a declaração de Gaga: 'Foi estranho e maravilhoso, brilhante e ousado, e me deu liberdade para me libertar das restrições das expectativas da sociedade em relação à solteirice de uma mulher'. Nessa citação, vi minhas próprias aspirações criativas se agitarem. Eu encontrei a liberdade que precisava para me tornar uma escritora.

A canção "Shallow" será apresentada no Oscar 2019, que está marcado para domingo, dia 24, e o RDT fará a cobertura completa através das redes sociais. Fique atento!

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Fonte

Tradução por Hugo Queiroz

Imagem: Jay L. Clendenin (LA Times) / Divulgação: The Washington Post

Revisão por Kathy Vanessa