Cada vez mais próximo do Oscar, muitos sites e revistas já fazem suas apostas e expressam o que esperam da premiação, e principalmente dos resultados delas após a entrega dos prêmios. Hoje (08), a Vulture publicou uma matéria sobre a importância de músicas como "Shallow" e "All the Stars" ganharem a categoria de Melhor Canção Original.

No artigo, o site aponta que músicas como essas, que além de serem bem recebidas pelos críticos, também atingem um grande sucesso comercial, são cada vez mais raras de conquistarem o prêmio de Melhor Canção Original. Nesta edição, tudo caminha para que "Shallow", dueto de Lady Gaga e Bradley Cooper, ganhe a estatueta, e o principal concorrente, seria "All the Stars", de Kendrick Lamar e SZA.

Ambas as músicas conquistaram ótimos resultados comerciais, com "Shallow" atingindo #5 na Billboad Hit 100 e "All the Stars" #7. Caso alguma delas leve o prêmio, seria apenas a quarta música com apelo comercial a ganhar a estatueta neste século.

Confira a tradução da matéria completa:

Uma vitória no Oscar para ‘Shallow’ ou ‘All the Stars’ seria significativo. Aqui vai o porquê.

Assumindo que as coisas acontecerão da forma que a maioria dos observadores do Oscar estão esperando, “Shallow,” o dueto off the deep end de Lady Gaga–Bradley Cooper de Nasce Uma Estrela, vencerá o Oscar deste ano para Melhor Música Original. Se e quando isso acontecer, marcará somente a quarta vez neste jovem século que uma música de sucesso autêntica terá recebido a estatueta dourada.

Na verdade, se o indicado amplamente visto como a competição mais acirrada que “Shallow” encara, “All the Stars,” co-gravada e co-escrita por Kendrick Lamar para a trilha sonora de Pantera Negra, vencer ao invés, irá alcançar o mesmo objetivo. “All the Stars” teve seu auge no No. 7 na Billboard Hot 100 e a trilha sonora de Pantera Negra passou três semanas não-consecutivas como álbum No. 1 na América, enquanto “Shallow” teve seu auge no No. 5, e Nasce Uma Estrela segurou o lugar de álbum No. 1 por três semanas consecutivas no último outono. Essas duas músicas se qualificam como sucessos mainstream. A última vez que a melhor música se encaixou nesse mesmo critério foi em 2014, quando o hit “Let It Go” de Frozen jogou gelo (desculpe) em todos os outros competidores originais. Em apenas outras duas ocasiões desde a crise Y2K inexistente, uma música pop do top 10 saiu com o Oscar de música original: em 2013, quando o tema de James Bond de Adele, “Skyfall”, venceu, e em 2003, quando “Lose Yourself” de Eminem também venceu.

Nem sempre foi assim. Nos anos 80 e 90, a categoria de música original era nivelada com músicas inescapáveis da rádio e clipes da MTV. Mesmo se você não tivesse visto todos os filmes que foram indicados em um determinado ano durante aquelas duas décadas, havia uma grande chance de você reconhecer pelo menos algumas músicas candidatas, e algumas vezes até mais. Mas no início dos anos 2000, as coisas começaram a mudar. Isso é um pouco de como e o porquê de isso ter acontecido, e o motivo pelo qual 2018-2019 podem, talvez, ser um momento decisivo.

Nos anos 70, algumas músicas no topo dos charts certamente triunfaram na categoria de melhor música, incluindo o tema de Shaft e “Evergreen”, o tema (aham) de amor da versão de 1976 de Nasce Uma Estrela. Mas as músicas que encheram a trilha sonora mais significante da década — Os Embalos de Sábado à Noite, que continua sendo uma das trilhas sonoras que mais vendem — eram completamente ignoradas na corrida por música original. É tentador dizer que membros da Academia estavam apenas sendo esnobes a respeito do disco, exceto no ano seguinte, quando deram o prêmio de Melhor Música Original para “Last Dance” de Donna Summer do filme Até que Enfim é Sexta-Feira, um filme sobre… uma discoteca.

Apesar dos Bee Gees não terem tido seu momento de glória no Oscar, o sucesso comercial da trilha sonora de Os Embalos de Sábado à Noite ficou próximo do sucesso pesado que foi Grease, falando alto a respeito do que uma trilha sonora recheada de música pop poderia fazer com a comercialização de um filme e o tanto de dinheiro adicional que poderia gerar para a indústria da música, graças em grande parte aos jovens que queriam ouvir esses sons familiares repetidamente. É por isso que, nos anos 80, a trilha sonora de música pop de um filme realmente começou a florescer, um fato refletido nos vencedores e muitos dos indicados como Melhor Música Original.

De 1981 a 1987, começando com o tema de Arthur (Best That You Can Do)” para o título também entre parênteses “(I’ve Had) The Time of My Life,” cada vencedor de Melhor Música Original foi um sucesso No. 1 que cresceu até o topo dos charts pop antes de receber o Oscar. (“Fame,” de Irene Cara, vencedora de 1980, nunca chegou no No. 1; teve seu auge no chart de singles da Billboard em No. 4.) Muitos dos outros indicados daquela década — “9 to 5,” “Endless Love,” “Eye of the Tiger,” e “The Power of Love,” entre outros — eram igualmente onipresentes na rádio e no ar em geral.

As seleções dos anos 80 certamente não refletiram nem mesmo o lado mais suave da vanguarda. Mas as músicas indicadas sugeriram, pelo mesmo em certo nível, como o pop mainstream soava naquela época.

Você pode ouvir certamente que em 1985, o ápice da era do Top 40 americano em reinado no Oscar e um ano quando cada a música indicada do ano anterior — “Against All Odds” do filme de mesmo nome, “Footloose” e “Let’s Hear It For the Boy” de Footloose, “I Just Called to Say I Love You” de A Dama de Vermelho, e “Ghostbusters” de, você sabe, aquele filme sobre flagrar fantasmas — passou muitas semanas no topo dos charts. Você pode discutir a respeito da qualidade dessas músicas. Eu certamente discutiria sobre o fato de que não há uma única música de Purple Rain que venceu na categoria de Melhor Trilha Sonora Original. Mas você não pode negar o quão culturalmente onipresentes essas músicas eram. Você não tinha que ir caçar essas músicas para entender o que elas eram. Essas músicas te encontravam, você gostando delas ou não.

Aquela tendência continuou em uma extensão reduzida durante o Oscar dos anos 90, uma era dominada por temas pop da Disney adorados; metade dos vencedores da década não seguiram essa tendência. Mas músicas bem famosas de talentos em ascensão também venceram, incluindo “You Must Love Me,” cantada por Madonna para Evita, “Streets of Philadelphia” de Bruce Springsteen, e um monstro real, “My Heart Will Go On,” a balada de amor de Titanic cantada por Celine Dion. Muitos outros lançamento bem conhecidos — “Everything I Do (I Do It for You)” e “Have You Ever Really Loved a Woman?” por Bryan Adams, a versão de Trisha Yearwood de “How Do I Live” de Con-Air - A Rota da Fuga, “I Don’t Want to Miss a Thing” de Aerosmith — foram indicadas naqueles anos também. Apesar de não ser elegível para um Oscar, porque não era originalmente escrita para o filme, “I Will Always Love You” — talvez a música de filme mais bem sucedida já gravada, e certamente o maior sucesso do que resta da trilha sonora mais vendida de todos os tempos, O Guarda- Costas — também foi lançada durante esse período.

Então, nos anos 2000, algo mudou. Apesar de músicas gravadas ou escritas por artistas famosos ainda terem recebido algumas indicações, foi altamente raro ver um competidor de Melhor Canção Original que tivesse penetrado nos ouvidos dos americanos da mesma forma que "My Heart Will Go on" ou "Flashdance ... What a feeling" fez. Frequentemente, mesmo os fãs de filmes têm dificuldade de lembrar as melodias honradas na categoria de Melhor Música Original. Sério: Se você conseguir atingir uma nota sequer de “Loin de Paname” do filme Paris 36, um indicado no 82º Oscar, eu irei pular do precipício e você poderá assistir enquanto eu mergulho.

Como a maioria das coisas na vida, essa tendência pode ser culpada por um fator: a internet. Bem, mais ou menos. Durante a primeira década do século 21, à medida que os amantes da música viravam-se para serviços digitais para escolherem as músicas que queriam ouvir ao invés de comprá-las no formato de CD, as vendas de CDs despencaram ao redor do mundo. Isso significa que poucas pessoas estavam consumindo trilhas sonoras da mesma forma de antes.

Trilhas sonoras não se vão. Elas ainda estão sendo lançadas e os artistas ainda estão compondo e apresentando músicas especificamente para filmes. Mas o que o New York Times se referiu em 1995 como um estrondo de trilhas sonoras não faz mais tanto barulho assim. Uma análise dos charts de singles e álbuns pop da época reflete isso. Depois de atingir o auge em 1997, quando as trilhas sonoras de 11 filmes entraram para a lista do top 100 de álbuns mais vendidos do ano, o número de trilhas sonoras entrando no top 20 nos anos 2000 caiu para um dígito. O mesmo fenômeno aconteceu no chart de singles da Billboard. Depois de duas décadas onde pelo menos um ou dois filmes apareceram no top 20 de músicas de cada ano, os anos 2000 raramente tiveram um hit relacionado com um filme na sessão mais alta da sua contagem de fim de ano. Baseada na minha pesquisa, durante muitos anos, não houve nenhum single de filme no top 20.

Em 2011 e 2012, as coisas atingiram o fundo do poço. Não havia nenhuma trilha sonora no top 50 de álbuns do ano, nenhum single relacionado com filmes no top 20 de músicas do ano, e no 84º Oscar — que aconteceu em 2012 para honrar as conquistas de 2011 — os votantes do Oscar só puderam indicar duas músicas originais: “Real in Rio” do filme Rio, uma música de Sérgio Mendes que eu não lembro apesar de ter visto Rio duas vezes, e “Man or Muppet” dos The Muppets. Nenhuma música foi apresentada durante a cerimônia. Certo: Os produtores do Oscar, vendo a oportunidade de encenar um musical puritano ao vivo com Muppets de verdade, disse, “Nah. Deixaremos essa passar.” Sem dizer diretamente, os produtores deixaram claro que eles assumiam que o público não estava interessado o suficiente nas músicas originais para ouvi-las na televisão ao vivo.

Essencialmente, há duas coisas acontecendo: Como notado anteriormente, trilhas sonoras e músicas de filmes saíram um pouco de moda. Mas também, voltando a culpar a internet, a forma que consumimos cultura popular se tornou altamente fraturada por causa das escolhas que a revolução digital apresentou. Parte da razão de termos parado de reconhecer os indicados a Melhor Música Original é porque não eram populares, no senso tradicional. Mas elas não eram populares, no senso tradicional, porque era e é raro para qualquer coisa ser popular da mesma forma que era antes. A ideia de todo mundo compartilhar as mesmas referências ao mesmo tempo estava começando a desaparecer nos anos 2000. Agora é um fato da vida que é aceito. É uma das razões do porquê a cerimônia do Oscar ter mergulhado, e porquê muitos americanos não possuem familiaridade com os indicados a Melhor Filme a cada ano: Nós todos estamos ingerindo fontes diferentes de entretenimento em prazos inteiramente diferentes. Eu defendo que a categoria de Melhor Música Original reflete essa tendência societal de forma mais ampla.

É por isso que é tão marcante que 2018 tenha sido um ano tão incrível para as trilhas sonoras, como colocado pela Forbes. No final do ano, três trilhas sonoras — O Rei do Show, Pantera Negra, e Nasce Uma Estrela conseguiram também. A última vez que três trilhas sonoras passaram muitas semanas no topo dos charts de álbuns no mesmo ano foi em 1998, quando Titanic, Cidade dos Anjos, e Armageddon: The Album, fizeram o hat trick. Isso sem levar em consideração o sucesso de Bohemian Rhapsody, cuja trilha sonora também vendeu muito bem e fez de “Bohemian Rhapsody” um sucesso pop pela terceira vez. (A primeira foi em 1970 e a segunda foi nos anos 90, quando o filme Quanto mais idiota melhor a ressuscitou.)

A não ser que haja uma surpresa selvagem e chata, o vencedor de Melhor Música Original provavelmente tem tudo a ver com esse ressurgimento das músicas nos filmes. A questão é se essa vitória irá marcar outro sinal de declínio na categoria, do mesmo jeito que “Let It Go” fez alguns anos atrás, ou se marcará o começo de uma tendência que tornará esse elemento do Oscar um pouco mais parecido com o dos anos 80 e 90.

Verdadeiramente, poderia ser um sinal. Colocando o Rei do Show de lado por um momento, já que tecnicamente foi lançado em 2017 e competiu no Oscar do ano passado, as músicas das outras trilhas sonoras compartilham artistas dinâmicos e consolidados — Lady Gaga, Kendrick Lamar, Freddie Mercury? Sim, esse é um supergrupo infernal — apresentando músicas solidamente escritas para filmes que obviamente mexeram com o público em geral. São músicas de sucesso que se encaixam bem nos filmes de sucesso que representam. Não é fácil conseguir esse tipo de alquimia todo ano.

Por outro lado, olhando para alguns filmes que serão lançados em 2019 — incluindo remakes de Aladdin e O Rei Leão; filmes sobre Judy Garland e Elton John; e Frozen 2 — parece ter uma boa chance dos indicados do próximo ano serem altamente familiares para a maioria das pessoas. E se os triunfos das trilhas sonoras deste ano resultarem em outros filmes tentando duplicar esses sucessos, copiar é aquilo em que Hollywood é melhor, então quem sabe? Talvez a categoria de Melhor Música Original pode ser ótima, ou pelo menos um pouco mais reconhecível novamente.

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Tradução por Vanessa de Queiroz.

Revisão por Kathy Vanessa