Na última quinta-feira, dia 30, foi aberta oficialmente a "Haus Of Gaga Las Vegas", localizada dentro do Park MGM, local no qual acontece a residência da cantora, "Enigma", que teve seu primeiro show de retorno na mesma noite.

O local inaugurado apresenta uma exposição de moda, lembrando muito um museu, repleto de figurinos, perucas, acessórios, jaquetas, bonés e camisetas, representando de forma icônica cada era da cantora, todos expostos ao público.

Com entrada gratuita, o local pode ser visitado por fãs de forma tranquila, sendo permitido fotos e vídeos do local (ao que parece, a única regra é que a permanência de cada pessoa deve levar no máximo 15 minutos, por conta do grande número de visitantes).

A frente do local, como co-curador, está Nicola Formichetti, estilista de Lady Gaga, que foi o responsável por cuidar de cada figurino presente, decidindo o que iria ser exposto. O estilista concedeu uma entrevista para a Paper Magazine, na qual conta sobre o local e também sobre algumas curiosidades de alguns looks, como seu armazenamento por exemplo.

Leia a publicação completa da revista + entrevista traduzida:

Nicola Formichetti na curadoria do Museu de Lady Gaga em Las Vegas

As roupas de Lady Gaga se tornaram tão famosas como as suas músicas. Absurdamente polarizadas e as vezes estrategicamente sensacionalistas, a estrela pop reacendeu a demanda por celebridades que levam a sério a moda por mostrar como a moda pode ser um instrumento para romper as normas culturais e perturbar o cotidiano. Ao contrário dos sons e das letras, as roupas podem ser fotografadas e então serem reproduzidas por milhões ao redor do mundo para consumo em massa - um meio para elevar e espalhar sua mensagem em escala global, à medida que os Little Monsters começaram a desejar, replicar e precisar de mais.

Ao longo da carreira de 10 anos de Gaga, sua música pode ser organizada em eras visuais - cada uma delas distintas e como reflexos de sua psique como uma mancha de tinta.

Quando ela era fascinada pelo mundo das celebridades ('The Fame'), Gaga vestia collants da era do Studio 54, usava espelhos em tudo e sangrou até a morte no palco em homenagem à Princesa Diana. Quando ela clamava por libertação ('Born This Way') ela empunhou uma fantasia de Bruce Springsteen cheia de couro, jeans e símbolos religiosos. Quando as coisas pareciam caóticas ('ARTPOP'), as perucas de Gaga ficaram maiores e sua aparência, de alguma forma, parecia mais experimental. Quando ela se entregou ao jazz ('Cheek To Cheek') o comprimento de seus vestidos foram até o chão. E quando ela prestou uma homenagem à família ('Joanne'), o pop provocativo trocou sua reputação excêntrica por um toque discreto.

Para coincidir com sua residência em Las Vegas no Park MGM, as roupas mais icônicas de Gaga foram retiradas do seu acervo pessoal e organizadas em um museu no mesmo hotel. A exibição 'The Haus Of Gaga', que vai até 8 de novembro de 2019, foi co-curada pelo estilista de longa data Nicola Formichetti, permitindo aos fãs verem mais de 40 peças de roupas e acessórios de perto. É um paraíso para os fãs, com os looks mais conhecidos de Gaga (o vestido de carne, o chapéu de 'Telephone', o maiô do Super Bowl), assim como itens mais profundos (as botas de 'Born This Way', as plataformas em forma de sapatilha de balé de 'Marry The Night', a peruca turquesa utilizada no CFDA Awards).

A exibição 'The Haus Of Gaga' parece um presente para os fãs de Gaga, e Nicola Formichetti até disse que consultou alguns Little Monsters a cada passo no caminho para garantir que sua equipe tenha considerado tudo certo. Antes do museu abrir para o público, a PAPER teve uma prévia exclusiva e conversou com Formichetti sobre uma década de estilo revolucionário.

A apresentação de Lady Gaga de 'Paparazzi' no VMAs de 2009 foi o que realmente mudou a carreira dela. Foi o momento que o mundo percebeu que ela não era uma estrela pop padrão.

Nós sentimos isso também. Estar perto dela durante aquele período - aquele foi o primeiro ano que nós começamos a trabalhar juntos, e foi incrível ver ela no palco ao lado de outros [grandes] artistas. Aquela apresentação foi inacreditável. Eu lembro que a gente estava tentando descobrir como fazer o sangue sair, porque nós somos perfeccionistas, e nós queríamos que o sangue saísse na hora exata. Nós ficamos nos bastidores rezando [risos], mas tudo foi perfeito.

Qual foi a conversa que você teve com ela sobre o conceito? Porque sangrar e morrer no palco é algo bem extremo.

[risos] Foi a ideia de que a fama a matou, então isso foi um pouco teatral. Tinham muitas coisas acontecendo: a coreografia era incrível, ela tocando piano bem no meio. Nós trabalhamos nesta apresentação por muito tempo. Pesquisamos e estudamos muito. Tem o aspecto espontâneo, mas nós planejamos para que tudo fosse perfeito na apresentação. A única coisa que a gente não quer são os problemas mecânicos. Estas eram as únicas coisas pelas quais estávamos rezando.

As estrelas pop daquela época não levavam a moda a sério. 'Bad Romance', por exemplo, estreou no desfile de Alexander McQueen, que foi transmitido ao vivo no SHOWStudio. Foi isso que fez seu relacionamento com a Gaga tão especial.

Eu vim do mundo da moda, então para mim, quando eu comecei a trabalhar com ela foi tão normal cobri-la com moda. Por causa disso foi algo tão perfeito, mas naquela época as pessoas não estavam fazendo isso. Então eu acho que foi um momento muito especial no começo, com [Alexander] McQueen e Nick Knight. Ela abraçou totalmente essa cultura da moda, e ela, de certa forma, tornou a moda viva. Ela meio que conectou a cultura pop com a moda e música. Abriu a porta para outros artistas fazerem isso hoje em dia. Está tudo junto. Tem que ser 360 [graus]. Mas naquela época não era deste jeito. Nós começamos isso.

Quando você trabalhou com Gaga, você desenhava as roupas para serem icônicas? Elas têm todas um incrível impacto cultural.

Não, ela as tornou icônicas. Ela se apresenta nelas, ela se torna [personagem] para melhorar e levar para um outro nível. Ela faz bastante parte do processo criativo, e é claro, ela está usando o corpo dela, rosto e imagem. Mas ela é muito ativa nos bastidores, assim como - fazendo e cortando coisas, colocando alfinetes de segurança, tentando torná-lo melhor e novo.. E assim nós fazemos isso icônico [risos].

A era 'Born This Way' foi repleta de ideias bem diferentes, como o vídeo de 14 minutos de 'Marry The Night'. Qual foi sua abordagem?

Nós estávamos olhando para ele mais como uma história de moda de uma revista. Cada cena é um figurino diferente. Nós realmente fomos ao extremo disso. Esta época foi muito importante - a moda, os fotógrafos e os diretores, de Nick Knight a Steven Klein e Inez & Vinoodh. Nós realmente trabalhamos com eles para elevar a coisa toda. Foi como um orgasmo.

Olhando para trás, de tudo o que vocês criaram juntos, qual foi o look mais difícil de produzir?

Bom, tem os de tapete vermelho - no tapete vermelho você tem uma chance, então tem que ser perfeito. Tem que ser 360 [graus]. Se você está em local externo com cabelo, há movimento. O vestido de carne foi emocionante porque eu entrei com um frigobar e Franc [Fernandez] fez o vestido, e o vestido estava dentro do frigobar. A mãe da Gaga perguntou: 'O que a Gaga vai vestir hoje?', e eu respondi: 'Está na geladeira' [risos]. Tem uma mensagem: Nós somos todos iguais, somos todos feitos de carne. Isto foi uma evolução de um figurino que fizemos para a Vogue Hommes Japan, o biquíni de carne, e aí nós queríamos fazer algo um pouco mais para tapete vermelho baseado na mesma ideia [risos].

Especificamente as roupas da 'Monster Ball' estão bastante desgastadas. Você poderia dizer que ela as usou até não poder mais. Como você pôde garantir que essas roupas resistiriam?

Eu sei, nós tentamos fazer com que seja o mais confortável possível. Mas ela se importa muito com seus fãs, que se no final parece bom, ela vai usar indefinidamente. É por isso que nós a amamos, porque ela se compromete. E aí nosso trabalho é fazer aparecer o mais impactante possível, mas que também seja confortável para ela se apresentar com eles. Mas às vezes a gente não consegue fazer o efeito com conforto, então ela vai ficar tipo: 'Ok, vamos lá!'. Porém, algumas vezes é muito difícil quando ela tem que se apresentar com eles todas as noites. Mesmo assim, ela se compromete e eu amo isso.

Todas essas roupas vieram de um acervo?

Sim, é um depósito na Califórnia muito seguro, numerado e com temperatura controlada.

Existe um pessoal em tempo integral trabalhando nele?

Claro, respeitamos muito a moda. Também estão lá os adereços dela e seus presentes de fãs. É tudo mantido em um espaço muito bonito.

Gaga é tão intensa trabalhando com você nos bastidores como ela é se apresentando no palco?

Sim, ela é muito parecida com a Gaga dos palcos. Além disso, eu amo o fato de que ela realmente respeita artistas e outros designers. Ela é uma das primeiras pessoas a me encorajar a fazer minhas próprias coisas. Ela é uma das razões pelas quais eu assumi [ser o diretor de criação da] Mugler. É super divertido quando trabalhamos juntos. Quando parei de trabalhar para ela por um tempo, Brandon Maxwell assumiu e agora Brandon está fazendo seu próprio trabalho de design, e há tantas pessoas se sobressaindo do escritório de Brandon. Somos todos amigos e ainda conversamos um com o outro, e acho super legal.

O que trouxe você e a Gaga juntos novamente?

Eu amei fazer minhas próprias coisas, eu ainda amo. Eu estava meio que sentindo falta do aspecto da performance. Nós sempre mantivemos contato, mas eu acho que o show em Vegas ['Enigma'] foi um bom momento para voltar a colaborar, e agora está completo [risos].

Como co-curador, como você escolheu o que viria para o museu 'Haus Of Gaga'?

Este lugar está em constante evolução. Queremos mudar as coisas, queremos continuar mudando. Uma das coisas mais divertidas que fizemos foi na verdade colaborar com os Little Monsters. Isso foi muito especial para mim. Entramos em contato com todos os super fãs, seus Little Monsters, para inicialmente obter o sentimento de quais tipos de coisas eles queriam ver. Quais visuais eram seus favoritos, e também checagem de fatos [risos]. Eles são tão atentos sobre as datas - 'Oh não, ela não estava usando aquele sapato naquele dia' - então estávamos checando os fatos com seus Little Monsters. Esse espaço é para os fãs dela, então eu queria colaborar com os fãs dela para retribuí-los.

Olhando agora para este museu, com anos de seu trabalho na vitrine, como você se sente?

É muito sentimental para a gente. Existem muitas lembranças [no museu]. É a vida dela, são as nossas vidas. É quase como um perfume - você relembra este momento com um cheiro, é muito parecido com isso. Você olha para isso visualmente e é como: 'Nossa, eu lembro o que eu estava fazendo naquele momento'. Para Gaga, é difícil escolher roupas favoritas porque ela sempre gosta de seguir em frente. Ela provavelmente diria que a camiseta que ela está usando hoje seria o visual favorito dela agora.

Isso é muito você.

[risos] Nós amamos o que vem em seguida. É interessante olhar para atrás, porque nós nunca olhamos. O que a gente normalmente faz é que provavelmente damos estilo a esses looks de maneira diferente e com isso fazemos algo completamente diferente da coisa antiga, certo? Mas nós não queríamos fazer isso para esta experiência, porque queremos que as pessoas se sentissem naquela época. Mas a gente mexeu no espaço e o fez parecer mais atual, então parece bem mais moderno e também harmoniza com o show 'Enigma'. Parece bastante digital. Eu acho que ficou muito bonita a junção do passado com o futuro.

Um museu é bem simbólico.

Eu sei, quando você começa a fazer um museu parece mais como um final de carreira. Mas [Gaga] está só começando. Claro que ela já fez 10 anos, mas nós temos tantas coisas loucas maravilhosas que estão por vir este ano e ano que vem. Parece estranho, mas é como um lindo selo de 10 anos que diz para seus fãs: 'Olha o que nós fizemos, obrigada'. Mas eu sinto que isto é apenas o começo. O filme [Nasce Uma Estrela] mudou completamente as coisas. Ela continua surpreendendo as pessoas.

Você sente pressão de continuamente se superar?

Na verdade a gente não se sente assim. A gente sempre acredita no nosso instinto e estamos sempre ligados no que está por aí - o que é legal, moderno e novo. Eu acho que estamos bem. Nós temos algumas cartas na manga [risos].

Nota de tradução: Studio 54 foi uma lendária discoteca, que ficava em Nova Iorque, e chegou a ser considerada como "a maior discoteca do mundo" nos anos 70.

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Fonte

Tradução por Laíza Coelho

Imagem: Terry Richardson / Divulgação: Paper Magazine