Possivelmente a era mais controversa de Lady Gaga, “ARTPOP”, mesmo após mais de 6 anos de seu lançamento, ainda dá o que falar. O disco que marcou uma fase conturbada da carreira da artista, com perda de equipe, boicote e reações de amor e ódio à nova sonoridade trazida, continua sendo pauta de discussão e comentários.

Recentemente, no dia em que o disco completava mais um ano desde seu lançamento, Gaga publicou em seu Twitter que não se lembrava do álbum – “eu não me lembro do ARTPOP” –, o que gerou um burburinho nas redes sociais e trouxe mais uma vez a obra a tona.

Nesta quarta-feira (13), a Paper Magazine publicou em seu site uma matéria em defesa do álbum e da era. Relembrando a performance de “Swine” de 2014 no SXSW, em que a artista Millie Brown – famosa por seus quadros feitos com tinta regurgitada – vomitou em Gaga no palco enquanto a cantora gritava ao som frenético da música (apresentação definida pela Paper como uma ultrajante, ridícula porém inesquecível performance artística), a revista afirma:

”Apesar do que o Sr. Germanotta disse sobre o Joanne ser o seu registro mais pessoal, ARTPOP vem de um lugar de uma dor humana tão profunda que nenhuma invocação de tia morta de Gaga poderia ser comparada. A artista já estava trabalhando no sucessor de Born This Way, mas o enorme sucesso e impacto cultural deste álbum a catapultaram para um nível de fama tão alto que uma queda foi foi tudo menos inevitável.”

De fato, durante o período de lançamento e desenvolvimento da era “ARTPOP”, muitos abandonaram Gaga por acreditarem que, após o enorme sucesso da artista com seus trabalhos anteriores, não teria mais espaço para ela crescer e a partir desta posição ela só desceria, não sendo mais “rentável” aos olhos de alguns investidores e “amigos”.

”E aqui estamos. É 2019 e Gaga é uma ganhadora do Oscar em Las Vegas que não ‘se lembra’ de um álbum que ela chamou de uma ‘’raiva’ de paixão eletrônica e fúria’ e ‘uma celebração da obsessão’ – um projeto ambicioso que ela insistia ser anunciador de uma ‘nova era’ em que ‘a arte comanda o pop, e o artista mais uma vez está sob controle do ‘ícone’’. Possivelmente, Gaga agora é mais poderosa que nunca – com um show no intervalo do Super Bowl, um Oscar, e uma marca de produtos de beleza em seu império –, mas estaria ela usando este poder para criar o tipo de arte que uma vez defendeu? Teremos que aguardar o lançamento do LG6 (se for mesmo lançado) para descobrirmos.”

Relembrando as faixas e “personas” que Gaga interpretou nas faixas do álbum, a revista ainda diz:

”E se entregar, de fato, ela fez. ARTPOP representou Gaga no seu mais selvagem e experimental. Elegendo ela mesma como uma Afrodite da era espacial (‘Venus’), uma dominatrix relutante (‘Swine’), um avatar do mistério feminino (‘Aura’), uma passiva poderosa (‘G.U.Y’), uma maconheira com alma (‘Mary Jane Holland’ e ‘Dope’), uma sedutora sem vergonha (‘Sexxx Dreams’), e uma ditadora fashion (‘Donatella’), Gaga se rendeu a literalmente todos os seus impulsos artísticos. ‘Eu me recuso a fazer o que não quero’, insistiu Lady Gaga durante a Sirius XM Town Hall no mês de lançamento do album.”

Válido relembrarmos que o conceito da era baseava-se justamente na liberdade artística e criativa, em nos expressarmos da maneira que sentimos vontade, criando arte com liberdade e sem medo de julgamentos externos. Durante a era também tivemos alguns momentos de uso da tecnologia – também parte essencial do conceito do álbum –, como o vestido voador “Volantis”, também relembrado pela revista.

”Enquanto Gaga havia antes construído mundos elaborados em torno de seus álbuns, em seus shows e vídeos musicais, o ARTPOP procurou preencher a lacuna entre o mundo das artes de destaque e a brutalidade confusa e glamourosa da cultura pop. Na ArtRave, festa de lançamento do álbum, Gaga exibiu novas obras de alguns dos maiores nomes do mundo da arte - Marina Abramović, Inez e Vinoodh, Jeff Koons e Robert Wilson. Ela também estreou o Volantis, "o primeiro vestido voador do mundo". Durante as apresentações ao vivo, Gaga parecia cheia de uma energia inquieta, quase maníaca, mas que era canalizada tão ferozmente por sua arte que era impossível desviar o olhar. Ela oscilava descontroladamente entre a arte e o pop – quando não estava praticando o método Abramović ou aparecendo no Louvre nos retratos em vídeo de Robert Wilson, estava aniquilando homens com a ajuda das ‘Real Housewives’ de Beverly Hills em seus videoclipes. ‘A cultura pop estava na arte’, ela nos avisou. ‘Agora a arte está na cultura pop em mim’. E ela entregou!”

Contudo, também foram relembrados os momentos ruins que envolveram a era.

”O ARTPOP foi um fracasso tanto crítico como comercial – e faziam memes sobre o ARTFLOP antes mesmo dos memes serem realmente uma coisa no Twitter –, Gaga disse que ‘toda a indústria lhe deu as costas’ durante o ciclo do álbum. ‘Fiquei muito deprimida no final de 2013’, disse ela ao Harper's Bazaar em 2014. ‘Eu estava exausta lutando contra as pessoas. Eu não conseguia nem sentir o meu próprio batimento cardíaco. Eu estava com raiva e tinha essa profunda tristeza como uma âncora se arrastando por todos os lugares que ia. Eu simplesmente não estava mais com vontade de lutar’. Ela parecia colocar a culpa pelo fracasso do álbum nos membros de sua equipe que ‘mentiram para ela’. Uma semana antes do lançamento do ARTPOP, ela se separou do gerente de longa data Troy Carter, que trabalhava com ela desde antes de ‘Just Dance’.”

”’Não permitirei que a indústria da música me diga o que posso e o que não posso ser para ser uma estrela do pop’, afirmou Gaga em 2013. "Sou o artista. Eu digo o que sou.’ Rejeitando seu trabalho mais dolorosamente pessoal, Gaga nos disse quem ela é. Para aqueles de nós cujas vidas Lady Gaga mudou com sua música, que não podem escapar do poder que ela tem sobre nós, precisamos aceitar que Gaga continuará a atrapalhar nossas expectativas – e não é isso que sempre desejamos dela?”

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