Nesta quarta-feira, dia 06, um novo vídeo, acompanhado de várias fotos, foi divulgado trazendo Lady Gaga como a nova capa da ELLE Magazine em sua edição de novembro.

Além do vídeo e do novo photoshoot realizado e divulgado pela revista, a cantora também concedeu uma entrevista incrível para ninguém menos do que Oprah Winfrey.

Na entrevista, a cantora contou sobre vários assuntos e levantou várias questões, como um mundo mais gentil, sua nova linha de maquiagem, seu vestido de carne, depressão, estilo, entre outros assuntos.

Leia a entrevista completa traduzida:

Na Haus de Lady Gaga tudo é bem vindo

Mais uma vez Lady Gaga prova que é a rainha do próprio castelo, agora incluindo 'Haus Laboratories', sua linha de maquiagem, junto das suas realizações inovadoras em música e cinema. Em um recente encontro de grandes nomes, Gaga conversou com Oprah, a original magnata feminina multifacetada e uma das primeiras defensoras do bem-estar emocional, sobre a trajetória de sua carreira exponencial e suas batalhas com problemas de saúde mental.

As duas mulheres consideram uma questão pessoal interromper o estigma e a vergonha que circundam em volta das doenças mentais, e o papel de cada uma delas na abertura global do diálogo é inegável: Oprah se juntou com o príncipe Harry no começo deste ano para criar uma série documentária explorando este problema (sairá em 2020) e Gaga foi convidada para se encontrar com príncipe William em Londres para discutir iniciativas para saúde mental que eles poderiam trabalhar juntos, mas não pode comparecer pois precisou estar com seus médicos. Aqui a Gaga se abre para sua heroína sobre seu crescimento pessoal tanto pela dor quanto pela bondade.

Eu entrevistei você pela primeira vez quase 10 anos atrás em 2010 no The Oprah Winfrey Show, e eu pude ver e sentir pela energia você florescendo dentro de si. Você estava naquele momento que estava aberta à sua própria descoberta e auto-expressão. Como você se tornou mais você mesma nos últimos 10 anos?

Eu penso que a medida que minha carreira cresceu eu mudei e fiz coisas diferentes. Eu me tornei bastante consciente da minha posição no mundo e minha responsabilidade com a humanidade e com aqueles que me seguem. E eu me considero uma punk da bondade. Eu olho para tudo que já fiz, e olho para tudo que estou fazendo agora, e é punk, você sabe que eu meio que tenho uma reputação de ser rebelde, certo? Então para mim, eu realmente vejo minha carreira, e até o que estou fazendo agora, como uma rebelião contra todas as coisas no mundo que vejo como cruéis. Bondade cura o mundo. Bondade cura as pessoas. É o que nos une - é o que nos mantém saudáveis.

Quando você olha para os últimos 10 anos, em qual momento você sentiu que era mais capaz de expressar que a bondade cura todas as coisas?

Eu acho que realmente começou do meu relacionamento com meus fãs. Olhando para a platéia e vendo muitas pessoas que eram iguais a mim, pessoas que se sentiam diferentes, que não se sentiam vistas ou entendidas. E também vendo muitas crianças que se sentiam com medo de se abrirem sobre quem eram, isto se transformou numa espécie de experiência existencial para mim, onde eu pensei sobre o que significa ser um indivíduo - eu queria lutar por aqueles indivíduos. Na verdade eu falei sobre isso outro dia na rede social. Eu disse: 'Não faço isso pela fama, eu faço pelo impacto', e esta é a verdade. Eu reconheci muito cedo que meu impacto foi ajudar a libertar as pessoas através da bondade. Quero dizer, eu acho que é uma das coisas mais poderosas do mundo, particularmente no espaço da doença mental.

Você sabia disso desde que estava na Escola de Artes Tisch da Universidade de Nova York (NYU’s Tisch School Of The Arts), e largou após um ano, depois fingiu ser sua própria agente e carregava seu teclado de um show para outro - você sabia disso, certo?

Bem, isso foi um pouco astuto. Eu não sei se foi completamente gentil, mas eu aprendi com minha mãe, Oprah. Quando eu voltava da escola e tinha sofrido bullying, ela dizia: 'mate-os com bondade'. Talvez 'matar' seja uma maneira um pouco agressiva de se falar, mas, você sabe, ela quis dizer isso da maneira mais gentil possível. O que ela quis dizer foi 'não mate fogo com fogo, mate fogo com água'.

Eu quero dizer que acho que a coisas que você mais fez, e a melhor coisa, de uma maneira que agora o mundo está começando a entender - nós vemos isso através da mídia social - foi começar a 'Born This Way Foundation'. Você estava declarando às pessoas que independente de quem você é, você é a pessoa que deveria ser. Quero saber qual o seu conselho para pessoas que ainda têm medo de serem elas mesmas, que estão vivendo uma vida falsa.

Eu acho que diria que, sinceramente, não é falso. Se você ainda não se manifestou sobre quem você é, eu gostaria de ter compaixão por você ainda não estar pronto, e avance um pouco a cada dia.

Isso é muito gentil.

Você sabe, é muito fácil dizer para alguém: 'seja corajoso', mas não é fácil de se pôr em prática. Digo, se você sente vergonha de quem é, e não se sente apoiado por pessoas que te cercam, você tem medo. A vergonha é poderosa. Mas dê tempo à você. Se permita a avançar um pouquinho a cada dia. Isso é o que eu diria: Pegue pequenos pedaços de coragem, eu não diria que é uma vida falsa. Eu diria que essa é a realidade, e que essa realidade pode mudar. Sinceramente, também foi por isso que eu criei a 'Haus Laboratories'.

Vamos falar disso. O que te fez se sentir pronta para se tornar uma empreendedora da beleza?

Eu queria fazer isso porque, primeiro, eu tinha o tempo - eu queria colocar tudo nele, o que eu faço em tudo que faço. Eu apenas não montei uma empresa, eu contratei uma equipe e fiz com que eles fizessem. Eu disse isso outro dia no nosso almoço: 'minhas digitais estão por toda a parte. É uma cena de crime'. E segundo, eu sentia que eu tinha a plataforma e tinha que criar a base em volta daquilo que eu defendo, e assim foi como a empresa surgiu. Seria uma rebelião de uma maneira gentil contra o status quo da beleza como é hoje, que está de várias formas nas mídias sociais, uma competição. É um concurso de beleza de várias maneiras. Essa empresa existe em um espaço influente na cultura que dizemos: 'Nossa casa (Haus), suas regras'. E todos são bem-vindos - todas as identidades de gênero.

Então essa é a missão da linha, de ser inclusiva para todas as identidades de gênero?

Todas as identidades de gênero, todas as identidades raciais, todo mundo, todas as idades. Isto é para todos.

Você não fica constantemente impressionada com o poder que a beleza tem para elevar as pessoas? Eu acabei de lembrar de quando estava em um hospital onde as mulheres estavam consertando suas fístulas na Etiópia e estávamos distribuindo batons, e elas estavam, literalmente, tentando sair de suas camas para pegá-los.

É muito poderosa, eu não me sentia tão bonita quando era jovem, e quando eu deixei a faculdade meus pais não estavam muito contentes comigo. Eu disse que queria ser musicista. Eu trabalhei em três empregos, pagava meu próprio aluguel e ia na farmácia para comprar maquiagem. Eu experimentei cores, me olhei no espelho e eu literalmente me fiz. Eu inventei a Lady Gaga. E isso fez me sentir tão forte, fez me sentir corajosa. Eu sofro de depressão desde que eu era uma menininha, mas minha nossa, o super herói que voou de mim, era como o Clark Kent e o Super Homem - me deu asas para voar. Também foi por isso que eu me recusei a mudar. A medida que minha carreira progredia, mesmo antes de ser famosa, quando as pessoas diziam: 'Oh, a maquiagem, tem muita maquiagem aí. Está por cima, bla, bla bla', eu era: 'Esta é minha força vital. Isso que me ajuda a voar'.

Fico me perguntando, você ainda sente a pressão de constantemente se superar? É de alguma forma uma algema para você?

Não mais, antigamente era, Oprah, no entanto eu tenho que concordar 100% com você. Eu costumava envolver meu cérebro o mais intenso que eu podia… Em vez de ser chocante eu costumava dizer 'arte de choque' ou 'arte performática', eu usaria a palavra 'surpreender' que basicamente coloca o público em um estado de confusão em que eles não podiam desviar o olhar. Eu costumava dizer: 'O que eu vou fazer em seguida para chamar a atenção das pessoas?'.

Depois do vestido de carne você se sentiu desse jeito: 'Para onde eu vou partir daqui?'

Bem o vestido de carne, para dizer a verdade eu não achava que iria ser tão chocante quanto todo mundo acha que foi. Mas aquilo era apenas eu. Eu meio que tenho um cérebro excêntrico, então para mim era como se fizesse sentido, eu estava aparecendo para fazer uma declaração sobre a 'Não pergunte, Não conte' (DON'T ASK DON'T TELL). Eu fui para o evento com soldados que foram dispensados porque eles se abriram, ou foram descobertos, e para mim se você decide desistir de sua vida pelo país, importa qual é a sua orientação sexual ou qual sua identidade de gênero? Para mim 'carne é carne', então essa era a intenção do vestido de carne. Para mim isso não foi chocante, isso foi chocante para o mundo. E eu tenho que dizer, isso foi bem recente - depois de fazer 'Nasce Uma Estrela', trabalhar com Bradley Cooper e até minha experiência de ganhar um Oscar - eu meio que me perguntei: 'Você tem uma missão muito maior na Terra do que assustar as pessoas. Sua missão é dar às pessoas uma forma de amor por meio da sua arte que as eleva'.

Eu tenho que te fazer uma pergunta sobre o Bradley. Eu estava sentada na cozinha dele um outro dia e ele estava cuidando da filha dele , e nós pedimos comida, e foi fantástico ver ele se envolver na coisa da paternidade.

Ele é um belo pai.

Não é? Ele está indo muito bem. Nós estávamos falando sobre todos os rumores sobre vocês ano passado. Ele disse que se eles tivessem sido verdadeiros, ele nunca teria sido capaz de te olhar nos olhos enquanto você estava sentada naquele piano.

Absolutamente, absolutamente.

E ele disse que a culpa que sentiria por ser católico nunca o teria deixado ser capaz de olhar para você naquele piano. Como você se sente sobre tudo isso naquela época? Você lidou tão bem.

Sinceramente. Eu acho que a imprensa é muito boba. Digo, nós criamos uma história de amor. Para mim, como uma performer e atriz, claro que eu queria que as pessoas acreditassem que estávamos apaixonados. E nós queríamos que as pessoas sentissem aquele amor no Oscar. Queríamos ir além das lentes daquela câmera para toda TV que estivesse sendo assistida. E trabalhamos duro nisso, trabalhamos por dias. Nós mapeamos a coisa toda, foi orquestrado como uma performance.

Vocês estavam orquestrando como uma performance para evocar exatamente o que foi evocado.

Evocou. Na verdade, quando conversamos sobre isso, nós tipo: 'Bem, fizemos um bom trabalho!'.

Tão bem recebido. Você colocou muita energia naquele filme, e então ele se tornou um dos maiores filmes do ano. Como foi quando tudo acabou? Como você disse adeus para o personagem da Ally e toda a experiência?

Bem, o personagem continuou comigo por um longo tempo. Eu tive que reviver muito da minha carreira fazendo aquele personagem. Eu não sei como você se sente quando você atua, mas para mim, eu não vejo isso como gravar um filme. Eu gravo como se tivesse vivendo o personagem, e é um momento da minha vida, então eu revivi tudo novamente, e levou um bom tempo para ela ir embora. Quando eu ganhei o Oscar por 'Shallow', eu olhei para ele e uma repórter me perguntou: 'Quando você olha para o Oscar, o que você vê?', E eu disse: 'Eu vejo muita dor'. E eu não estava mentindo naquele momento. Eu fui estuprada quando eu tinha 19 anos, repetidamente. Eu fui traumatizada de várias formas pela minha carreira ao longo dos anos, mas eu sobrevivi, e eu continuei seguindo em frente. E quando eu olhei para o Oscar, eu vi dor. Eu não sei se todo mundo entendeu quando eu disse aquilo no salão, mas eu entendi.

A dor que você passou para estar lá. Por que quando você é estuprada, particularmente repetidamente naquela idade, você teria PTSD (estresse pós traumático) por causa disso por anos.

Eu tenho PTSD. Eu tenho dor crônica. O trauma em resposta a dor neuropática é uma parte semanal da minha vida. Eu estou sob medicação. Eu tenho vários médicos. É assim que eu sobrevivo. Mas você sabe de uma coisa, Oprah? Eu continuo seguindo em frente, e aquela criança lá fora ou até mesmo aquele adulto que passou por muita coisa, eu quero que eles saibam que eles podem seguir em frente e que eles podem sobreviver, e eles podem ganhar um Oscar. Eu também aconselharia a todo mundo tentar, quando eles se sentirem prontos, a pedirem por ajuda. E eu também diria para os outros, que se eles verem alguém sofrendo, se aproximem e digam: 'Ei, eu estou te vendo, eu vejo que você está sofrendo, e eu estou aqui, me diga a sua história'.

Que eu acredito que seja o maior presente que possamos dar uns aos outros (se referindo ao ato de 'ver' a dor de outra pessoa). Quero dizer, é por isso que eu acho que 'Avatar' (filme de 2009) e James Cameron (diretor de 'Avatar') é um dos magos da nossa geração; pela sua mensagem: 'Eu vejo você'. Não há nada mais poderoso que isso.

Realmente não há. Na verdade eu nunca me abri muito a respeito disso, mas eu acho que é algo muito importante que as pessoas saibam e ouçam: eu me cortei por muito tempo, e só fui capaz de parar de me cortar e me auto-mutilar, quando me dei conta de que o que eu estava tentando fazer era mostrar para as pessoas que eu estava sofrendo, ao invés de contar a elas e pedir ajuda. Quando eu percebi que dizer a alguém: 'Hey, estou tendo vontade de me machucar', era o que me impedia de fazê-lo. Então eu tinha alguém ao meu lado dizendo: 'Você não precisa me mostrar. Apenas me diga: Como você está se sentindo agora?' Aí eu podia apenas contar minha história. Eu digo isso com muita humildade e força; Sou muito grata por não fazer mais isso, e eu espero não glamourizar essa atitude. Uma coisa que eu sugeriria àqueles que lutam contra um trauma, questões de automutilação ou tendências suicidas, é gelo. Se você colocar suas mãos em uma tigela com água gelada, isso choca o sistema nervoso e o traz de volta à realidade.

Você também fez terapia dialética comportamental?

Na verdade eu tenho uma professora; Eu faço terapia dialética comportamental, e acho que esse é um caminho maravilhoso para lidar com questões de saúde mental.

Eu perguntei porque há muitas garotas na minha escola (a Oprah Winfrey Leadership Academy for Girls na África do Sul) que lidam com isso.

É realmente uma maneira muito forte de aprender a viver, e é um guia para entender suas emoções.

Essa precisa ser uma conversa muito mais longa. Eu quero saber, o que você já acreditou ser insuperável, e no fim, acabou percebendo que a solução era muito simples?

Eu já acreditei que não havia caminho de volta do meu trauma. Eu realmente acreditei. Eu estava sofrendo dores físicas, mentais e emocionais. E a medicina funciona, mas é necessário medicina e terapia para realmente funcionar, porque há uma parte do trabalho que você tem que realizar por si mesmo.

Esse sofrimento é da sua fibromialgia?

Isto é. Embora existam muitas teorias diferentes sobre a fibromialgia - para mim, minha fibromialgia e minha resposta ao trauma meio que andam de mãos dadas. A fibromialgia para mim é uma dor mais leve; a resposta ao trauma é muito mais pesada e, na verdade, parece o que senti depois de cair na esquina depois de ter sido estuprada várias vezes por meses. É um sentimento recorrente. Então, em certo ponto eu tive um surto psicótico, e foi uma das piores coisas que já aconteceu comigo. Fui levada ao pronto-socorro para atendimento urgente e eles trouxeram o médico, um psiquiatra. Eu apenas gritava e então eu disse: 'Alguém pode me trazer um médico de verdade?' E eu não entendi o que estava acontecendo, porque todo o meu corpo ficou dormente; Eu me dissociei completamente. Eu estava gritando, e então ele me acalmou e me deu remédio para quando isso acontecesse - olanzapina.

Eu estou familiarizada com isso. Eu tenho centenas de garotas (alunas da escola de Oprah), então não há nada que você possa me dizer que não passei ou experimentei.

Sim, então eu tomo metocarbamol e olanzapina, que é provavelmente a mais importante – me ajudou naquele dia, e esse homem e todos os meus amigos salvaram minha vida.

Essa é minha última pergunta: O que você acredita que a vida está pedindo de nós?

Eu acredito que a vida está nos pedindo que aceitemos o desafio. O desafio da gentileza. É difícil viver em um mundo como o nosso; nós temos uma história muito, muito grande. Estamos com problemas, e já tivemos antes. Mas eu acho que a vida nos pede, em meio a esses desafios, esse ódio, essa tragédia, essa fome, essa guerra, essa crueldade: Você pode ser gentil e sobreviver?

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Fonte

Tradução por Laíza Coelho, Alexander Junior Samuel Von Banck

Imagem: Sølve Sundsbø / Divulgação: ELLE Magazine (ELLE US)