Em meio a agitação que o mundo pop sofreu nesta madrugada de sexta (28), devido ao lançamento de "Stupid Love", mais novo trabalho solo de Lady Gaga desde 2016 com "Joanne", a revista britânica Dazed publicou uma matéria sobre os álbuns da cantora.

Na classificação dos álbuns, dos “piores aos mais impactantes”, mais que elencar do pior para o melhor, a publicação traz uma reflexão acerca da "obra em constante evolução" de Gaga.

O site coloca o álbum "Cheek To Cheek", trabalho da cantora com Tony Bennet, de 2014, como a produção menos conhecida de Gaga. Mas nem por isso menos importante. Segundo a matéria divulgada: “...nesta era, Gaga deliberadamente recuou dos holofotes para se reconstruir.”

"A Star is Born" ficou em 6° lugar. Ainda segundo a publicação, a notícia de que Gaga faria um remake de um filme já estrelado por Barbra Streisand gerou dúvidas: "Ela iria ser horrível?" Não só a atuação, mas um dos maiores hits de 2019 provaram o contrário: “'Shallow' arrebatou o mundo, provando que Gaga poderia não ser apenas atual, mas clássica. Eterna”.

'"Joanne" se torna difícil de ser inserido no panteão de Gaga", inicia o parágrafo referente à produção de 2016, que ocupa na classificação do site o 5º lugar na produção fonográfica da artista. Assim como outros gêneros musicais, ela também alcançou o sucesso com o country, mas sem oferecer muita novidade: "Os desvios de Gaga para o jazz e para o country foram facetas cintilantes em sua história geral de contínua reavaliação e reinvenção, e nos lembram do talento cru e avassalador presentes em sua alma, que podem ser impressionantes apenas com um violão e um banquinho…".

A 4ª posição é ocupada por "'The Fame". O que parte da crítica pontuou como uma mera imitação de Bowie e Madonna, na verdade. Ainda segundo a publicação da revista: “'The Fame' não foi apenas uma mistura de suas influências do glam rock dos anos 80, mas também seu plano para o domínio do pop”. Foi com este álbum em 2008 que Lady Gaga se lançou ao mundo da música, com referências e atitudes até então pouco ou não exploradas: “Ao toque dela, mundos inteiros se abriram.”

"Born This Way", que no ranking da revista está na 3ª posição nos trabalhos de Lady Gaga, sofreu semelhantes críticas às sofridas por “The Fame”, pois segundo alguns críticos o single "Born This Way" teria uma certa semelhança com “Express Yoursefl”, de Madonna. Na era “Born This Way”, a já Mother Monster deixou de engolir crucifixos, para seguir com uma verdadeira blasfêmia, com “Judas”. Foi um momento singular na carreira da cantora, período de intensa solidificação de sua aclamação mundial. Quase uma década depois, a mensagem de "Born This Way" ainda permanece forte: “Esta foi a era de uma Gaga pós-dominante, onde ela não tinha ninguém para combater a não ser a si própria”.

O trabalho de 2013, "ARTPOP", ficou com o segundo lugar. Ainda que a cantora tenha enfrentado problemas com seu agente, com a questão do aplicativo: “'ARTPOP' brilhava como um diamante”.

Em primeiro lugar está "The Fame Monster", uma versão mais sombria e estendida do primeiro trabalho de Lady Gaga. É nesta era que se encontra seu vídeo mais assistido, “Bad Romance”, que aliás foi durante um tempo o vídeo mais visto do YouTube, assim como seu feat. com Beyoncé, “Telephone”. “The Fame Monster" desprezou as exigências óbvias do comercialismo e, ao fazer isto, as dominou”.

Confira a tradução completa:

Os álbuns de Lady Gaga ranqueados - do pior ao mais impactante.

Após a cantora finalmente lançar “Stupid Love”, refletimos sobre a obra desta lenda que está em constante evolução.

A canção “Stupid Love” de Lady Gaga acabou de ser disponibilizada, juntamente a imagens de Gaga no deserto usando enfeites faciais de cromo extraterrestre e ombreiras metálicas semelhantes às dos xenomorfos (pense em ‘Alien’ de 1979, porém rosa). É apenas o começo de outro capítulo da jornada de reviravoltas de Gaga, que já dura uma década, de um pop avassalador a uma composição vencedora do Oscar. Aqui estão os álbuns de cada era desta lendária artista em evolução, classificados!

07) "CHEEK TO CHEEK", 2014

O álbum menos conhecido de Gaga, com a lenda do jazz Tony Bennett, mal chegou à luz do mainstream. Para uma Gaga do final dos anos 2000, cuja busca principal era "a arte da fama", essa seria uma notícia apocalíptica. Mas, nesta era, Gaga deliberadamente recuou dos holofotes para se reconstruir. Nós podemos entender isso, em retrospectiva, como o divisor de águas que deu origem à mais recente reinvenção de Gaga como polímata cultural e atriz indicada ao Oscar. Apesar de seu significado sensível para a própria Gaga, sua cratera de impacto é pequena em comparação com seu outro trabalho behemótico.

06) "A STAR IS BORN", 2018

Madonna em seu emocionante ‘Evita’ e a cativante história romântica de Cher em ‘Moonstruck’ foram as raras histórias de sucesso de crossovers de música pop com o cinema. Quando surgiram as notícias de que Gaga assumiria o papel em um remake inesquecivelmente clássico, outrora interpretado por Garland e Streisand, o potencial de humilhação pública pairava no ar: ela iria ser horrível? O triunfo global e o sucesso no Oscar do filme foram momentos próprios do ciclo completo para a carreira de Gaga, e a trilha sonora parecia representar os tantos altos e baixos em sua própria vida. “Hair Body Face” e as outras músicas pop intencionalmente bregas da trilha sonora foram abraçados pelos gays, espelhando comicamente o drama da vida real das lutas de Gaga com o comercialismo, como por exemplo a falha de "ARTPOP" em alcançar o sucesso em seu nicho musical. "Shallow" arrebatou o mundo, provando que Gaga poderia não ser apenas atual, mas clássica. Eterna.

05) "JOANNE", 2016

"Joanne", com sua excentricidade adornada com um chapéu de cowboy, se torna difícil de ser inserido no panteão de Gaga. A artista canalizou magistralmente inúmeros gêneros em seu trabalho, incorporou diversos elementos estilísticos e fez novas interações em sua assinatura electropop. Ela também teve sucesso com o country, mas não nos ofereceu muito em termos de uma nova proposta, enquanto inovadores, como Kacey Musgraves, estavam na sua cola. "Perfect Illusion" foi um destaque importante. "Million Reasons" e "Joanne" mostraram Gaga à vontade com composições tocantes e expositivas que prenunciavam a chegada empolgante de "Shallow". Os desvios de Gaga para o jazz e para o country foram facetas cintilantes em sua história geral de contínua reavaliação e reinvenção, e nos lembram do talento cru e avassalador presentes em sua alma, que podem ser impressionantes apenas com um violão e um banquinho - mas acaba não parecendo ser o evento principal.

04) "THE FAME", 2008

Por todas as críticas repetidas de que "The Fame" de Gaga foi uma pretensão à grandeza, um mero pastiche de artistas "reais" como Bowie e Madonna, a ironia é que a artista desencadeou a mudança de paradigma que permitiria que o álbum fosse apreciado retrospectivamente. Foram seus projetos ambiciosos, referenciais e visuais (juntamente com os de contemporâneos marcantes dos anos 2000, como Robyn) que anunciaram a nova era da Música Pop. Gaga sempre foi uma estudiosa sobre o pop desde o início, despretensiosa o suficiente para saber que toda arte é pastiche.

Em "The Fame", ela entusiasticamente começou a imitar o passado e seu próprio futuro, lamentando como os tabloides a destruiriam em “Paparazzi”, se apresentando como uma figura semelhante à Diana antes mesmo de ser conhecida. No VMA de 2009, ela explodiu uma bomba de sangue embaixo do sutiã incrustado de diamantes, o sangue escorrendo pelo biquíni branco para o suspirar de uma platéia com P Diddy e Pink, prenunciando seu sacrifício para ser uma celebridade. No sintetizado "Beautiful, Dirty, Rich", ela fala sobre não ter dinheiro enquanto está vestida em uma roupa vermelha com capuz sobre uma mesa cheia do dinheiro que ela sabia que iria ganhar. Suas profecias se concretizaram e o mundo ficou atrás dela.

“The Fame” não foi apenas uma mistura de suas influências do glam rock dos anos 80, mas também seu plano para o domínio do pop: “Me dê algo que eu quero ver, televisão e loiras gostosas em posições estranhas”, ela joga isto para uma platéia cativada na faixa título. Tão emocionantes quanto o material do álbum foram as faixas inéditas que circulavam no YouTube: "Rock Show" e "Retro Physical" evocavam à vida pegajosa dos bares com piano de Nova York de onde ela surgiu. Seu domínio acadêmico da história musical e a exatidão estética da era "The Fame" gerou uma nova geração de acólitos pop. Ao toque dela, mundos inteiros se abriram.

03) "BORN THIS WAY", 2011

No momento em que a era "Born This Way" começou, Gaga estava presa em uma batalha constante para fazer jus a si mesma. Em todos os níveis, ela aumentou a aposta. As próteses faciais foram de encontro a imagens embrionárias e biônicas e Gaga trouxe carruagens em formatos de ovos para o tapete vermelho. O álbum foi uma façanha de um gênero que tem de tudo: funde, heavy metal, trance e industrial juntos, trazendo Gaga em sua sonoridade experimental.

A controvérsia cortejou as apostas mais altas. As acusações de imitações de direitos autorais beiravam para plágio quando os críticos apontaram semelhanças entre a melodia da faixa-título e o "Express Yourself" de Madonna. A deglutição de um rosário em "Alejandro", de "The Fame Monster", se transformou em uma blasfêmia completa quando Lady Gaga lavou os pés de Jesus e de seu traidor em "Judas", que mostrou uma epopeia cinematográfica da mesma ordem que "Bad Romance" e "Telephone", chocando e encantando os espectadores enquanto Gaga embarcou em um curta-metragem sobre uma viagem com uma gangue católica de motociclistas, alternadamente vestida à moda de uma bruxa maria-gasolina que curte acid-house. "Marry The Night" forçou os limites da atenção do público, mas emocionou os fãs. O vídeo auto-dirigido de 13 minutos conta a história de uma rejeição anterior por uma gravadora e sua ascensão determinada em Nova York. "É que detesto a realidade", diz ela em seu monólogo de abertura, em uma maca de hospital que é empurrada. “Yoü and I” mais tarde a mostrou vestida de homem, a partir de onde ela passou mensagens pró-igualdade quando cantava a canção durante as turnês. Esta foi a era de uma Gaga pós-dominante, onde ela não tinha ninguém para combater a não ser a si própria.

02) "ARTPOP", 2013

A mais controversa das obras de Gaga, "ARTPOP" foi muito criticado por aqueles que pensavam que Gaga estava ficando irritante. As explicações de seu conceito “pop art” invertido de Warholiânico caíram como um balão de chumbo entre o grande público, percebido como difícil e pensado demais. De certa forma, eles estavam provando que Gaga estava certa - ela havia dito que tudo o que o público queria era ver "a decadência da estrela". Em meio a rumores de traição por sua equipe administrativa, parecia que várias partes estavam agora conspirando para garantir que ela caísse com força. Mas, como a maioria das artes concebidas sob pressão, "ARTPOP" brilhava como um diamante. Os críticos queixaram-se de que só podiam atrair fãs, e não o público em geral, devido ao seu som futurista, inspirado no EDM, com temas estranhos (que variam de drogas à Donatella Versace e sonhos sexuais) e sua obsessão com suas próprias neuroses.

Essas queixas parecem ridiculamente desatualizadas quando olhamos para o cenário pop pós-PC Music de hoje. É um clichê dizer que as pessoas simplesmente não entenderam, mas, ei, elas não entenderam! Este foi o começo da maior reinvenção de Gaga, seu domínio sobre suas próprias batalhas internas e sua recusa em ceder ao mainstream chato. O vídeo estendido de “G.U.Y” foi descartado como um depósito de material visual, mas foi um banquete pop deliciosamente maximalista. Andy Cohen e as Real Housewives ironicamente acompanharam a jornada de Gaga pela mitologia grega, enquanto ela recupera o controle sobre as demandas do comercialismo com uma metáfora de embasamento para o capitalismo. "Eu não preciso estar no topo para saber que valho a pena", ela insistiu. As insinuações retais não são para o gosto de todos. "Creeedo, Creedo, credo, você é tão nojento!", Lady Gaga cuspiu estes gritos para um homem sujo em "Swine", e este conteúdo lírico foi ilustrado pelas náuseas de uma artista profissional de vômito que regurgitou o neon no corpo de Gaga no palco. "Nojooo", algumas pessoas disseram. "Uau!", murmuraram outras. A grande arte é divisória.

01) THE FAME MONSTER, 2010

Vendido como uma mera reedição de estreia cataclísmica "The Fame", o segundo empreendimento de Gaga inicialmente parecia um desvio para o dominador pop nascente. Em vez de buscar um novo conceito brilhante de álbum, ela correu para criar um adendo extenso ao manifesto de "The Fame", uma nota de rodapé visualmente mais sombria e melancólica. Quando sua meditativa capa tirada de um photoshoot produzido pelo fotógrafo Hedi Slimane foi rejeitada pelos chefes das gravadoras, ela os convenceu do contrário. Se "The Fame" foi sobre celebridades fabricadas, esta era foi uma espécie de zoom nas consequências. "Monster", "Dance in the Dark" e "So Happy I Could Die" foram cortes profundos do Europop gótico cheios de Auto-tune que minaram dos pesadelos de Gaga e cimentaram seu lugar no coração do público.

Gaga sabia, com sua previsão pop, o que seus chefes de gravadora não sabiam - para garantir a longevidade, você mostra tanto a escuridão quanto a luz. Eles queriam uma máquina pop, ela sabia que as pessoas estavam interessadas nos parafusos enferrujados. Ela também sabia o quanto lhe custaria abrir o capô, pronunciando, daí, os nomes Diana, Plath e Marilyn Monroe. "Bad Romance", "Alejandro" e "Telephone" representam indiscutivelmente o zênite visual de Gaga. "Bad Romance" foi por um período o vídeo mais visto do YouTube de todos os tempos e canalizou mais terrores subconscientes com sua moda de Alexander McQueen, semelhante a insetos e com cenas de tráfico assustadora em uma casa de banho russa. "Telephone" tinha uma Beyoncé co-piloto num estilo matadora (os chefes das gravadoras provavelmente deram um suspiro de alívio aqui), o que deu vida à imaginação distorcida de Gaga nos rolos de cabelo de lata de coca-cola, na Pussy Wagon de Tarantino e nos waffles de lanchonetes envenenados. O álbum misturou o industrialismo do Leste Europeu com estética austera e electropop de novas ondas, usando imagens de Hitchcock para evocar as ansiedades de Gaga sobre sexo, dependência e necessidade de ser vista.

"The Fame Monster" desprezou as exigências óbvias do comercialismo e, ao fazer isto, as dominou. Você pode ver seu legado hoje na velocidade com que Ariana Grande lançou o exposto “Thank U, Next” depois que sua vida foi virada de cabeça para baixo e antes do próximo álbum. Aqui, tivemos uma Gaga tirando a capa, revelando-se como a herdeira falha, humana, para ascender ao trono.

Você pode conferir a matéria original clicando aqui.

Assista a “Stupid Love”, mais recente trabalho de Lady Gaga:

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Tradução por Gustavo C. B. Kolliner