Há 10 anos Gaga e Beyoncé faziam um dos clipes mais memoráveis da música pop: “Telephone”. Você pode conferir nossa material especial sobre os 10 anos desse clipe aqui.

Após uma década do lançamento, o diretor do clipe, Jonas Åkerlund, concedeu uma entrevista à revista Variety sobre o processo de gravação e também acerca do misterioso “to be continued”, indicando que o clipe teria uma continuação - tão aguardada pelos fãs há uma década.

Confira a tradução:

Em 15 de março de 2010, o videoclipe de "Telephone" de Lady Gaga, com Beyonce, chegou ao YouTube. Dizer que causou impacto na cultura pop seria um eufemismo.

O vídeo de quase 10 minutos começou com Gaga na prisão (diretamente fazendo um gancho com seus crimes no videoclipe de “Paparazzi”) e continuou com ela e Beyoncé enquanto elas passeavam no Pussy Wagon do filme “Kill Bill” de Quentin Tarantino a caminho para envenenar um restaurante inteiro. No caminho há de tudo, desde óculos de sol adornados com cigarros até a colocação do produto PlentyOfFish.com e uma sequência de dança matadora feita em roupas da bandeira americana. Simplificando, há muito o que dissecar.

E dissecar foi o que a internet fez. Na década desde que foi lançado, “Telephone” acumulou uma enorme quantidade de 346 milhões de visualizações e inspirou inúmeras ideias, além de críticas.

Jonas Åkerlund, o cineasta sueco que dirigiu e co-escreveu o videoclipe, conversou com a Variety 10 anos após seu lançamento sobre sua agitada filmagem de dois dias, improvisando as falas de Beyonce e Gaga falando se os fãs conseguirão uma sequência após o misterioso “continua...” no final de “Telephone”.

Conte-me sobre como você e a Gaga criaram o conceito para o videoclipe de “Telephone”.

Tivemos uma experiência realizada com “Paparazzi” um ano antes. Então nós meio que nos conhecíamos um pouco. Eu aprendi desde o início que Gaga é um tipo de artista muito visual - ela é cheia de ideias. Então meu trabalho era basicamente filtrar e apenas pegar todas as coisas dela e tentar fazer disso uma realidade, sabe? Foi uma colaboração muito boa, na verdade, uma colaboração respeitosa, como sempre, com ela, devo dizer. Mas, sim, não me lembro exatamente de onde tudo veio. Como sempre fazemos, ela falou comigo pelo telefone e eu escrevi tudo e adicionei coisas a ele. É um vaivém e é assim que fazemos.

"Telephone” foi uma sequência direta de "Paparazzi". Quando você estava trabalhando em “Paparazzi”, você tinha alguma ideia de onde isso chegaria?

Na verdade não, para ser sincero. Não era para ser realmente uma série. Eu meio que gosto da ideia de colocar “continua...” no final [risos], apenas para torná-lo mais emocionante. E então esse tipo de coisa se tornou, “Oh, espere um minuto. Vamos continuar." E então encerramos "Telephone" com "continua..." também. É meio engraçado e seria legal ter um terceiro chegando.

E a internet certamente tem clamado por isso. Vocês já discutiram sobre fazer um "Telephone” parte 2?

Não, na verdade não - [pausa] sim, na verdade temos. Não me lembro de qual música era - começamos a escrevê-la, mas acabamos fazendo outra coisa.

A filmagem de "Telephone" foi tão ambiciosa, com um orçamento grande. Quantos dias você passou no set?

Filmamos tudo em dois dias, o que é incrível. Tudo era como um pesadelo de produção, com trocas de roupas e itens de carros e locais diferentes. Daí fizemos um dia em torno da prisão, e depois fizemos um dia no deserto. Então foi uma filmagem de dois dias, e eu me lembro claramente, quando já estávamos sem tempo e a Beyoncé apareceu, e Beyoncé e Gaga estavam praticando, tipo, literalmente ali no local, bolando a coreografia enquanto estávamos esperando. Foi louco. Na verdade, a ideia era filmar a parte da performance de Beyoncé no deserto, mas aí perdemos a luz do dia, então improvisamos e a colocamos naquele estranho pequeno quarto de motel. Fazia parte do local onde estávamos. Filmamos toda essa parte, como ela falando ao telefone, todas essas coisas, naquele quarto de motel.

Houve algum momento em que você pensou: "Ai, meu Deus, não vamos conseguir resolver isso"?

Quero dizer, todo videoclipe é assim, porque o nível de ambição é sempre maior que o orçamento e o tempo que você tem. Você sempre quer esticá-lo o máximo que puder. E eu sabia que essa era uma ideia ambiciosa, porque queríamos contar uma história, queríamos criar um diálogo, queríamos ter uma coreografia, todas essas coisas. Para ser sincero, deveria ser realmente uma filmagem de quatro ou cinco dias.

Como foi o processo de seleção dos atores na sequência de abertura na prisão?

Faz muito tempo, mas eu lembro que queria algumas garotas fisiculturistas lá dentro, então tivemos algumas delas - você sabe, tipo, ásperas. E o figurino e tudo mais, essa é a parte divertida de Gaga, porque você pode fazer coisas com ela que você não pode, necessariamente, fazer com outros artistas. Ela permite que você vá até o limite com as coisas, esse é o tipo de parte divertida.
Gaga me disse: “Eu estava prestes a me cansar de fazer videoclipes. A MTV nunca foi realmente boa para mim. Eles não gostavam de mim na MTV, eu sempre fui censurada, e minhas ideias eram sempre muito ambiciosas, grandes ou longas demais, e eles me censuravam e cortavam minhas coisas.” Houve até um ponto em que a MTV aprovou tratamentos para nós. Eles realmente controlavam o que mostrar de uma maneira realmente horrível. Então Gaga foi, tipo, a primeira artista que me procurou e disse: "F%da-se a MTV, nós podemos fazer isso, não precisamos deles. Podemos fazer isso tudo online, no YouTube.” Então isso me deixou empolgado novamente e percebi o que os videoclipes realmente poderiam ser e a razão pela qual eu comecei os videoclipes - todas essas coisas voltaram para mim com sua [da Gaga] incrível atitude, suas ideias e tudo mais. O vídeo parecia uma rebelião em muitas maneiras, a frase “Eu falei que ela não tinha um p%nt#” em particular, vem à mente. De quem foi essa ideia? Foi minha ideia. Não era parte do tratamento, eu adicionei como um voiceover na edição. Naquele tempo, havia rumores e especulações que, você sabe, por alguma razão Gaga não era mulher. E esses eram apenas rumores estúpidos, obviamente. E eu queria fazer algo sobre isso. Nós fizemos isso na pós-produção.

Depois daquela sequência da prisão, você tem a cena onde Gaga e Beyoncé oficialmente juntam forças - Beyoncé está alimentando a Gaga, e elas estão trocando essas linhas malucas. O que você estava tentando transmitir nesta cena?

Sendo honesto, eu acho que nós improvisamos o diálogo. Acredito que tínhamos algumas ideias escritas, mas creio que improvisamos o diálogo. Sabe, tem a coisa toda com tipo “se você mata uma vaca, você tem que fazer um sanduíche” e todas essas coisas. Aquilo apenas veio da Gaga. Ela fez aquela merd*. Eu lembro que nós gravamos mais diálogos do que utilizamos no vídeo. Mas queríamos ter um diálogo no começo, no meio, no fim, para torná-lo mais parecido com um curta-metragem, eu acredito, do que um videoclipe.

Vocês se lembra de como conseguiu o Pussy Wagon de “Kill Bill”?

Eu sei exatamente como nós conseguimos aquilo, porque tínhamos outro carro, e então Gaga tinha uma reunião na casa do Quentin [Tarantino], e ela me enviou uma foto e disse “Isso está na garagem do Quentin. Vocês querem?” e eu tipo “Sim. Nós queremos!”. E eu acho que ele não andou, ou algo assim, e tivemos que consertar. E nós consertamos, por isso acabamos usando.

E Quentin estava à vontade com isso?

Sim, quero dizer, graças a Gaga estar em sua casa, eu acho. Eu nunca teria pensado nisso, porque já tínhamos outro carro. Isso foi literalmente, tipo, um dia antes da gravação ou algo assim.

Há tantos looks icônicos encravados embutidos nesses dez minutos, de Beyoncé e Gaga. Você tem algum, traje ou roupa, favorito?

Oh, quero dizer, isso é impossível. Eu gosto da cena inteira do restaurante, com a coreografia, a coisa com a bandeira americana. Mas como você disse, os looks icônicos são intensos nesse vídeo. É assim que é trabalhar com a Gaga. Eu escrevo sobre o maneira em que ela anda no pátio da prisão, fumando um cigarro, e quando ela aparece [no estúdio], está usando um óculos com cigarros. Esse é o tipo de colaboração que você tem com ela, e é a mesma coisa na lanchonete. Eu lembro de escrever sobre ter uma bandeira americana na parede, ou algo do tipo, e ela aparece vestindo um traje completo da bandeira americana. Esse é o tipo de colaboração com ela.

Ela leva tudo para o próximo nível.

Eu nem acredito que ela ache que é o próximo nível. Creio que essa seja só a maneira que ela pense, como ela vê o mundo, e é isso que eu amo nela. Para mim, fazendo videoclipes e tentando causar impacto, tentando tocar a vida das pessoas, comovê-las, ou o que quer que seja, criando imagens memoráveis que deveriam estar ligadas à música, ela é como uma cliente dos sonhos. Ela trabalha mais do que a maioria das pessoas com quem trabalho e ela incentiva você a ser um pouco melhor do que você pensa que é. Então, isto é, para mim, tudo o que preciso. São precisos dois para dançar o tango - eu nunca poderia fazer ótimos vídeos sem um artista que queira isto, ou acredita nisto, e te impulsiona.

Você se lembra dela sendo particularmente enfática sobre colocar algo no vídeo? Como “não, isso precisa estar aqui”?

Não, acho que não. Quero dizer, nós realmente queríamos que a Beyoncé aparecesse. Quando você faz essas colaborações, eles basicamente fazem favores uns aos outros para aparecerem e fazerem vídeos uns dos outros. E, infelizmente, nós estávamos gravando fora de Los Angeles e nós sabíamos que era uma longa viagem para a Beyoncé, mas graças a Deus ela foi. Essa era a única coisa que eu ficava pensando, sabe, “eu realmente espero que ela apareça”.

Você trabalhou com Gaga antes de “Telephone”, e tem trabalhado com ela desde “John Wayne”. Você tem planos trabalhar com ela novamente enquanto ela lança novas músicas?

Não sei. Temos uma coisa boa acontecendo, eu apareço e faço a minha coisa. Se eu pudesse escolher, com certeza. Eu a amo até a morte. Eu digo isso desde o primeiro dia: a primeira vez em que eu a vi tocando piano no Youtube, eu disse “Essa é a uma das artistas mais talentosas que eu já vi”. Ela pode fazer qualquer coisa que vem à cabeça e é o que ela está fazendo agora. Novamente, para mim como diretor, ela é a cliente dos sonhos para se trabalhar.

Você lembra da última vez em que assistiu o videoclipe de “Telephone”?

Não, não sei. Talvez eu deveria ter assistido antes dessa entrevista [risos]. Desculpa! Mas sabe, eu sou um editor também, então eu sei cada quadro desse clipe. Uma vez que é digitalizado na minha cabeça, fica lá. Então eu lembro de tudo.

Gaga disse em uma entrevista, depois que o clipe foi lançado, que ela queria que o vídeo fosse sobre “a ideia que a América é cheia de pessoas jovens que são inundadas com informação e tecnologia”. Dez anos depois, acredito que estamos vendo cada vez mais esse conceito. Você acredita que o vídeo possa repercutir em 2020?

Eu não sei. Sei que videoclipes não são realmente determinados para terem uma vida longa. Eles sempre são feitos para estarem naquele momento. Eles eram [feitos] para venderem álbuns, tipo naquele momento. Mas agora, se você for sortudo, você tem um vídeo que as pessoas lembram, e se elas lembraram dez anos depois, é uma coisa boa. E as pessoas parecem gostar disso. Ainda tem pessoas que dizem que adoram o clipe.

Você também pode conferir a matéria original clicando aqui.

Relembre uma das colaborações mais icônicas do pop:

Acompanhe todas as novidades sobre a Lady Gaga em nossas redes sociais: Facebook, Twitter e Instagram.

Tradução por Maria Eduarda Seabra e Isabelle Rodrigues.

Revisão por Daniel Alberico