Durante a última quarta-feira, dia 08, além da entrevista exclusiva de Lady Gaga para a revista InStyle (clique aqui para ler), uma entrevista com seu coreógrafo Ricky Jackson para o The Hollywood Reporter também foi divulgada, na qual o mesmo, na maior parte da entrevista, fala sobre o trabalho e os acontecimentos referentes a "Stupid Love".

Além de falar sobre a canção e boa parte do trabalho por trás do seus videoclipe, o profissional também falou sobre os preparativos para a "Chromatica Ball Tour" e complementou a entrevista contando como andam os trabalhos da "Haus Of Gaga" durante a quarentena e como isso a tem afetado.

Leia a entrevista completa traduzida:

Por dentro da criação do vídeo de "Stupid Love" de Lady Gaga, com o coreógrafo Richy Jackson

O colaborador de longa data da estrela fala com o The Hollywood Repórter sobre ter ajudado a cantora a trilhar um excitante retorno às suas raizes dançantes pop — e revela como a "Haus Of Gaga" está operando em quarentena por causa da pandemia do coronavírus.

Esta semana era para ter sido bem diferente para Lady Gaga.

A estrela tinha planejado lançar o seu bastante esperado sexto álbum de estúdio, "Chromatica", na sexta-feira. Porém, devido a propagação global do novo coronavírus, teve de adiar indefinidamente o lançamento. Por agora, músicas novas podem esperar, a Mother Monster está focada em salvar o mundo.

Em resposta à pandemia, Gaga se juntou a organização internacional Global Citizen para juntar mais de 35 milhões de dólares para o fundo de ação solidária do COVID-19 da Organização Mundial de Saúde. Ainda, ela está organizando um especial de duas horas, "One World: Together at Home" (Um Mundo: Juntos em Casa), marcado para ir ao ar na NBC, ABC e CBS no dia 18 de abril, em ajuda aos impactados pelo coronavírus.

Mesmo gratos à Mother Monster por seus esforços, a legião de fãs de Gaga — carinhosamente chamados de seus "Little Monsters" — está sentida pelo atraso de seu novo CD (inúmeros tuítes cobrando uma nova data de lançamento são a prova disso). Pelo menos o seu primeiro single, "Stupid Love", conseguiu ser lançado a tempo antes do mundo inteiro fechar as portas.

E com a música feita para se sentir bem, veio um videoclipe colorido com Gaga interpretando uma "Kindness Punk", promovendo paz e união entre diferentes tribos em meio a uma discórdia. Desde seu lançamento no dia 28 de fevereiro, o clipe — que foi filmado em Janeiro no pitoresco deserto de Mojave — já se encontra com 60 milhões de visualizações.

Como coreógrafo e diretor visual de longa data da "Haus Of Gaga", Richy Jackson conta ao THR, que o significado por trás de "Stupid Love" é particularmente importante não somente no meio de uma crise de saúde universal, como também durante um período marcado por constantes divisões políticas.

"O vídeo conta que mesmo que pensamos ser diferentes, não há necessidade de violência e conflito. Nós podemos sempre conversar. Podemos sempre festejar juntos. Podemos sempre cantar e dançar juntos. O vídeo é uma interpretação da vida real. E mesmo que nós, como uma sociedade global, podemos ter nos separado uns dos outros, no final somos todos iguais", ele diz. "Eu espero que 'Stupid Love' e a música de Gaga possam providenciar algum tipo de cura".

Abaixo, Richy — que também já trabalhou com Katy Perry, Meghan Trainor e Jojo Siwa — conta mais ao THR sobre a criação de "Stupid Love", sobre ajudar Gaga a retornar à sua raiz pop dançante, e sobre ideias para a nova turnê "Chromatica Ball", de sua casa em quarentena.

Primeiramente, como vai você agora?

Eu vou bem. Tenho estado em casa tentando alocar e planejar tudo o que precisa ser feito neste momento para a "Haus Of Gaga".

De que forma o lockdown está impactando a maneira como a "Haus Of Gaga" está operando no momento?

Nós tivemos que fechar tudo, como todo mundo. Estamos esperando em quarentena como o resto do mundo, e tem sido frustrante. Havia algumas apresentações promocionais que teriam sido divertidas de fazer, mas é claro que não podem ser feitas agora. Depois de tanto impulso com o vídeo de "Stupid Love", processar a pausa tem sido difícil.

Felizmente, o vídeo de "Stupid Love" foi gravado e lançado antes de o coronavírus ser declarado pandêmico nos EUA. Quanto tempo você teve para se preparar para ele?

Teoricamente, nós tivemos cerca de um mês para prepará-lo. Mas ensaio de base real? Tivemos cerca de seis dias para ensaiar.

Isso é bem rápido. Gaga tipicamente trabalha a alta velocidade?

Todo clipe é diferente. O ritmo nunca é o mesmo com Gaga. Mas, considerando tudo o que estava envolvido na criação do videoclipe de "Stupid Love", eu diria que tivemos que ser muito eficientes com o nosso tempo. Tivemos que escolher 49 dançarinos, então essa foi uma parte muito importante da preparação. E com esses dançarinos, porque estávamos escalando-os para as diferentes "tribos" da Chromatica, queríamos selecionar uma ampla variedade de dançarinos com diferentes vibrações, etnias, formas, tamanhos e aparências. Após um período de três dias em que tentamos descobrir quem seria perfeito para isso, começamos os ensaios. Foram seis dias e depois gravamos o vídeo em dois dias.

Qual foi a sua reação imediata quando você ouviu "Stupid Love" pela primeira vez?

Eu surtei assim como os fãs! Eu amo que é uma música bem "alto astral". E, então, quando a ouvi pela primeira vez, pensei comigo mesmo que esse era o momento perfeito para esse tipo de música. Agora é a hora, quando o mundo tem sido tão divisivo. Nos últimos anos, a música pop - para mim, pelo menos - se inclinou um pouco mais pra o lado emo. Tem sido um pouco mais sombria. Então, ouvir uma música como "Stupid Love" foi uma redefinição. Invoca celebração dentro de todos nós. E isso é evidente pela maneira como vimos os fãs reagirem, seja no Twitter ou em um vídeo do TikTok. Precisávamos desse registro de bem-estar agora.

Gaga defende a diversidade e a aceitação desde o início de sua carreira. Mas porque isso foi particularmente importante de destacar quando selecionaram os dançarinos para o vídeo de "Stupid Love"?

Ela é a rainha da inclusão. A "Haus Of Gaga" sempre foi sobre isso. Todo mundo vem de diferentes origens e é isso que nos torna bonitos. E na audição, encontrei dançarinos que eram diferentes e se moviam diferente. Era importante que celebrássemos todo tipo de pessoa com este vídeo, durante o clima político e social em que estamos vivendo. Há tanta coisa acontecendo agora que achei que seria incrível defender todos.

Sua coreografia também inclui linguagem de sinais — conte-me sobre a decisão de transformar isso em parte do vídeo.

Há a letra: "Tudo que eu sempre quis foi amor". Nessa estrofe, eu sabia que precisávamos fazer linguagem de sinais. Então, demos mais um passo para incluir a comunidade de surdos. Eles podem não ser capazes de ouvir, mas sabem que estamos com eles. Aquela parecia a estrofe perfeita para que eles soubessem que "Stupid Love" também é para eles. É para todos.

No total, 49 dançarinos foram escalados neste vídeo. Esse número é significativo, de alguma forma, para a Gaga?

É o que ela queria. Ela foi muito insistente em ter esse número. Naquele momento, o número 49 era um número em que ela realmente se sentia fantástica. Ela realmente forçou em ter aquele número específico. Agora, por que? Eu não tenho idéia. Gaga sempre nos deixa imaginando.

O quão envolvida estava Gaga, no processo de seleção, com você?

Ela me deixa escolher. Nós trabalhamos juntos por tanto tempo e ela me diz: 'Eu sei que você vai colocar as melhores pessoas ao meu redor'. Ela sempre confiou muito em sua equipe, ama entrar em um ensaio e, finalmente, conhecer quem escolhemos. Eles a veem pela primeira vez e ela sempre é tão calorosa, receptiva e acolhedora. Ela abraça todo mundo e os agradece por serem uma parte de qualquer que seja o projeto que estamos trabalhando. E foi a mesma coisa no vídeo de "Stupid Love". O queixo desses dançarinos caiu - porque muitos deles trabalharam com artistas que não operam dessa forma.

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Como você descreveria a ética de trabalho de Gaga?

Ela é alguém que sempre dá 100 por cento. Sempre procura novas maneiras para ser melhor. Ela constantemente se pergunta: 'Como isso pode tocar mais pessoas? Como isso pode ser mais impactante? Como podemos divulgar nossa mensagem?'. Eu amo sua ética de trabalho e como ela é prática, porque isso me mantém alerta. Mantém a "Haus Of Gaga" inteira em alerta. Estamos sempre pensando em como podemos elevar a qualidade. Porque ela tem muita confiança em si mesma, em nós e em tudo o que fazemos juntos, e isso nos inspira a sermos ótimos.

Como a "Haus Of Gaga" reagiu quando "Stupid Love" vazou em janeiro? Isso provocou alguma conversa sobre lançar uma música diferente como single principal do "Chromatica"?

Eu pensei comigo mesmo: 'Bem, os fãs estão de volta!'. Não houve debate sobre ir em uma direção diferente porque já estávamos avançando com o vídeo naquele momento. Mesmo que vazamentos não sejam bons, foi legal ver como os fãs responderam. Ficou claro que eles adoraram. Foi uma reafirmação para nós, porque as pessoas estavam muito empolgadas, mesmo que não soubessem se era uma gravação real ou não. Foi interessante ver como as pessoas estavam performando antes mesmo do lançamento, para ver o que elas estavam vendo na música. E então, enquanto isso no rancho, sabíamos que tínhamos algo mais para eles.

Como surgiu o conceito do vídeo?

Quando eu e ela conversamos sobre isso, ela tinha o conceito e disse que queria grupos de pessoas diferentes, com diferentes cores, se unindo. Eles eram todos separados e faziam partes de tribos diferentes, mas até o final da música, todos se reuniam. Então, com isso, eu disse: 'Bem, como eu os separo não apenas por suas cores e aparência, mas como os separo através da dança?' A música pop envolve todos os tipos de movimento: hip-hop, voguing, movimento abstrato, clássico, moderno e jazz. Então, decidi coreografar cada tribo de uma maneira diferente, com movimentos diferentes.

Como foi coreografar diferentes estilos de dança para cada tribo?

Foi incrível, e fiquei realmente empolgado com essa parte em particular porque, como coreógrafo, você quase nunca tem a chance de fazer isso. Com "Telephone" e "Bad Romance" havia um estilo para cada vídeo e funcionou. Mas para esse, com a separação das cores, não havia outra proposta. E eu estava mais do que pronto para o desafio. Eu abracei essa parte do trabalho. Eu amei. E os dançarinos estavam absolutamente sem palavras. Deixamos que todos vissem os outros aprendendo suas partes. Eu amei todo o processo. Não mudaria nada sobre isso.

Houve muita conversa sobre o significado por trás do vídeo de "Stupid Love". Obviamente, os paralelos políticos parecem visíveis - mas qual é a sua interpretação?

Na minha opinião, a mensagem é que todos temos nossos grupos, tribos, partidos políticos ou pessoas com as quais nos consideramos iguais. E essas diferenças percebidas causam divisão. Mas este vídeo está dizendo que, só porque pensamos que somos diferentes, não precisa haver violência ou conflito. Nós sempre podemos ter uma conversa. Nós sempre podemos festejar juntos. Nós sempre podemos dançar e cantar juntos. Este vídeo é uma interpretação da vida real. Mesmo que nós, como uma sociedade global,possamos nos separar um do outro, na verdade somos todos iguais.

Essa mensagem é especialmente impactante em 2020 - um ano de eleição onde estamos vivendo uma crise de saúde universal sem precedentes?

Sim, tem muito a ver com o que está acontecendo hoje. Não importa a circunstância - seja numa certa festa política ou até no meio da moda - sempre pode haver união. Podemos sempre nos entender e nos comunicar. Se alguém está triste, essa pessoa pode ir ao deserto e dançar. E com o coronavirus à solta, só espero que "Stupid Love" e as músicas da Gaga possam promover algum tipo de cura.

O clipe foi gravado inteiro em iPhones em conjunto com a Apple. O quanto isso impactou na construção da coreografia?

Quando me falaram que estava sendo gravado em iPhones, eu fiquei um pouco nervoso. Ouvir que estava sendo gravado em telefones com outras 49 pessoas, mais Gaga, eu ri. Pensei: 'É mesmo? Ok. Vamos ver'. Mas, quando chegou a hora, vi que eram iPhones em suportes, em drones, em todo lugar! Eu estava duvidando até chegarmos lá, e ver todo o equipamento. Quanto à minha coreografia, minha ideia é que fosse algo grande e que pudéssemos dar nosso tudo. Então, foi o que fizemos, e acabou ficando algo muito bonito.

Em que patamar "Stupid Love" fica no panteão de todos os clipes que você já colaborou com Gaga? Você diria que é o melhor trabalho que fizeram juntos até hoje?

Eu acho que está entre os melhores. Se formos comparar com "Bad Romance", "Telephone" e "Alejandro", todos eram ótimos em sua época e ainda são. Mas, acho que amo mais "Stupid Love" por ter participado mais. Eu pude criar coreografia para estilos diferentes. Eu pude trabalhar com o maior número de pessoas que já tive a oportunidade na minha carreira toda. Acredite ou não, tivemos mais pessoas envolvidas no clipe de "Stupid Love" do que na performance de Gaga no Super Bowl de 2017. O estilo também foi épico. Dançar no deserto. A lista de qualidades é longa. Esse é o projeto mais recompensador que já pude participar em minha carreira.

O que você pode nos adiantar sobre o resto de "Chromatica"?

Eu não sei sobre nada. Até mesmo eu, não pude tomar conhecimento sobre nada além de "Stupid Love". Ela tem de manter segredo o máximo que consegue. É o que temos feito hoje em dia para evitar vazamentos.

Depois de "Joanne" e "Nasce Uma Estrela", que foram relativamente mais calmas que as outras eras da carreira de Gaga, você ficou animado em voltar a um som mais dance-pop com "Stupid Love"?

Enquanto um bom baladeiro, com certeza! Assim... "Joanne" foi um álbum diferente e o que amo na Gaga é que ela vai em todas as direções. Nunca se sabe que caminho ela vai tomar. E certamente eu vou estar sempre ao lado dela. Mas, nesse momento particularmente, eu excedi em alegria. Eu sabia que os fãs iam pirar com "Stupid Love". É maravilhoso voltar a esse estilo de música.

A "Chromatica Ball Tour" ainda está agendada para começar em Paris no dia 24 de Julho. Onde você se encontra no processo para fazer tudo acontecer e a quarentena do coronavirus impacta toda a preparação?

Para mim, ainda estamos reagindo ao clipe de "Stupid Love" e vendo o quanto de sucesso fará. Ainda temos um certo tempo antes da "Chromatica Ball". Ainda não começamos a criar para a turnê. Mesmo em quarentena, pode estar certo de que estou pensando em ideias. Isso povoa minha mente totalmente. Preciso absorver e descobrir os movimentos e temas que as pessoas amam, que as animam. Assistir às performances drag de "Stupid Love" me atingem com inspiração. Cheguei a ver uma garota fazer a coreografia de "Stupid Love" em pernas de pau. Quem sabe não colocamos Gaga em pernas de pau? (Risos).

Como você descreveria a evolução da sua relação profissional com Gaga?

Faz 13 anos. A conheci ainda na época do MySpace. Para situar vocês, isso foi antes do lançamento de "Just Dance". Naquele momento, ela era alguém tentando dar certo na indústria da música. Ninguém a conhecia, ou conhecia sua música ou como reagir a ela. Fizemos tanta coisa nesses anos, mas nosso relacionamento, de muitas maneiras, permanece o mesmo. Ainda nos questionamos: 'Como ser os melhores? Como nos superarmos? Como ultrapassar as expectativas?' É sempre sobre como sermos nossas melhores versões. Temos sido assim por todos esses anos. Isso não mudou. Temos dado nosso melhor por mais de uma década. E não nos vejo parando.

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Fonte

Tradução por Aloisio Kreischer, Maria Eduarda Seabra, Isabelle Rodrigues e Perfume Tropical

Imagem: Nathaniel Goldberg / Divulgação: The Hollywood Reporter