Em uma publicação feita neste sábado (30), a revista Rolling Stone divulgou uma nova entrevista com alguns produtores do "Chromatica", como BloodPop, Burns, Axwell e Skrillex.

Na matéria, os mesmos comentaram sobre o processo de produção do álbum, cujas primeiras ideias começaram a aparecer durante a mesma época em que Lady Gaga estava escrevendo as músicas para a trilha sonora de "Nasce Uma Estrela".

Os colaboradores ainda comentaram algumas curiosidades, como o fato de Gaga utilizar uma peruca “esperando que aquilo a fizesse se sentir como outra pessoa”, durante a gravação da canção "911". E também sobre Skrillex ser fã de Lady Gaga desde 2007, ainda como Stefani Germanotta, quando ela se apresentou para 50 pessoas em uma festa de Steve Aoki.

Confira a tradução completa:

Bem-vindo a 'Chromatica': Por Dentro do Retorno Triunfante de Lady Gaga às Pistas de Dança

Em seu sexto álbum, Lady Gaga mergulhou fundo na história da música house e recrutou um exército de veteranos da música eletrônica para voltar às suas raízes de música dance.

Na faixa “Free Woman” de "Chromatica", Lady Gaga canta com firmeza: “Essa é a minha pista de dança pela qual eu lutei”. Ela não está exagerando; seu sexto álbum mostra, de várias maneiras, a jornada que pavimentou o caminho triunfante da superstar pop para o retorno à música dance.

“Eu acho que o início do álbum realmente simboliza, pra mim, o que eu chamaria de início da minha jornada até a cura”, Gaga falou para Zane Lowe em uma recente entrevista, “e o que eu espero que seja uma inspiração para as pessoas que estão precisando de cura através da felicidade, através da dança”.

O retorno de Gaga às suas raízes musicais foi uma conquista difícil. Ao longo dos anos desde sua estreia em 2008 com "The Fame" (e seu subsequente EP "The Fame Monster") que a tornaram uma produtora de sucesso global, sua carreira foi construída com base em extremismos experimentais. "Born This Way" incluiu toques de metal em sua sonoridade apenas para ser seguido pelo ambicioso R&B e EDM de "ARTPOP". Em 2014, ela mostrou que seu alcance era ainda maior com o disco de jazz "Cheek to Cheek", um álbum feito em parceria com Tony Bennett, até que chegou ao country em "Joanne". Um desvio rápido foi feito para o cinema; protagonizou o filme "Nasce Uma Estrela" levando-a para o hit “Shallow”, ao lado do diretor e co-protagonista Bradley Cooper, uma balada poderosa feita para karaokês que rendeu a ela um Oscar.

Para os fãs de longa data, Chromatica é tão familiar quanto novo. É a Gaga eletro-pop, uma atualização da mulher que deu ao mundo “Poker Face” e “Just Dance”, que vai fundo na cena house music clássica que sempre abasteceu sua música. Para fazer o álbum, ela formou parceria com Michael Tucker, mais conhecido como BloodPop, que previamente ajudou a produzir "Joanne" ao lado de seus produtores executivos Mark Ronson e Gaga. “Começou mais ou menos ao mesmo tempo em que Gaga estava trabalhando em 'Nasce Uma Estrela'”, Tucker contou à Rolling Stone. Após o lançamento de "Joanne" no fim de 2016, Gaga aprofundou-se no filme logo em seguida, escrevendo e gravando a trilha sonora e logo depois filmando durante a primavera. Sua turnê mundial de "Joanne" começaria naquele verão.

Para "Nasce Uma Estrela", Tucker e a popstar escreveram as ideias na casa dela. Enquanto nenhuma das suas colaborações durante essa época entraram na trilha sonora, uma das ideias permaneceu e se destacou: “Stupid Love”.

“Eu trabalhei naquela demo por um tempo mas senti que faltava algo que não conseguia identificar. Quando eu toquei para o Max Martin, ele teve ideias fantásticas que melhoraram a música”, explica Tucker. Quando a "Joanne World Tour" de Gaga chegou em Kansas City, a cidade natal dele, em novembro de 2017, ele voou para tocar para ela a nova versão do que seria o lead single de "Chromatica"!. “Eu toquei no alto-falante bluetooth dela dentro de seu camarim com minha família e amigos presentes. Eu definitivamente considero que foi nesse momento que começamos 'Chromatica'”.

Gaga, é claro, não podia dar sua atenção total ao seu sexto álbum até o ano seguinte. "Nasce Uma Estrela" seria lançado no final de 2018 e ela ainda iniciou uma residência em Las Vegas apenas dois meses depois: um show pop completo chamado "Enigma" e um outro show "Jazz & Piano". Em janeiro de 2019, ela começou a trabalhar com os produtores Burns (Charli XCX, Little Mix, PartyNextDoor), que se tornaria integral no processo de produção do álbum também, produzindo quase todas as músicas junto com Gaga e BloodPop. Burns trouxe algumas ideias para “Enigma”, a faixa piano-house em "Chromatica". Naquele momento, Gaga e Tucker tinham “tantas placas de mostruário girando”, como ele gosta de definir, com algumas músicas começando a tomar vida. Decidiram definir o álbum assim que 5 músicas foram concluídas: “Stupid Love”, “Enigma”, “Rain On Me”, “Alice” e “Free Woman”.

“[Gaga] só sabia que ela queria dançar”, Tucker adiciona. A decisão de fazer um álbum enraizado em house music viria alguns meses depois. “Alguns daqueles dias foram muito longos e emocionalmente difíceis. Não importava o quão difíceis eles eram, por volta das 9 ou 10 da noite, ela sempre estava dançando e sorrindo. Você podia ver a música curando fisicamente essa pessoa em tempo real então muito rapidamente se tornou óbvio que era isso que tínhamos que fazer”.

“Parecia que o mundo estava pronto para dançar de novo em geral”, Burns conta para a RS. Vindo do Reino Unido, muito do seu som é influenciado pela cena do acid house, o qual ele trouxe para as suas sessões com Gaga e Tucker.

“Quando sentamos com a Gaga, nós todos conversamos sobre como deveria soar. Havia esse consenso geral de que a música deveria parecer clássica e familiar, mas também fresca e nova ao mesmo tempo. Algo que pensei bastante quando terminava essas gravações: 'Que tipo de som funcionaria aqui de forma que o ouvinte se sinta confortável como se ele já tivesse ouvido isso antes?'”

Todos os três colaboradores se imergiram na cultura da música house dos 90. Eles cobriram o estúdio com posters de acid house e Burns enviava para Gaga e para Tucker várias playlists de música house clássica para ensiná-los. O trio levou o tributo à música house tão a sério que eles disseram ao mixador do álbum Tom Norris para evitar usar recursos de mixagem muito tecnológicos ou muito modernos.

“Me disseram para não usar sidechains no álbum,” Norris explica. “Sidechains é um recurso que desvia um instrumento para a entrada para outro, e é uma coisa bem comum em EDM. Não era possível usar esse recurso quando essas músicas house clássicas dos anos 90 foram feitas. Então eu tentei evitar esse recurso para me manter fiel ao som”.

Norris, amigo de BloodPop, foi trazido para nos ajudar com “Fun Tonight”, uma música de tom temperamental feita sobre um término com um parceiro mais obcecado com a fama da Gaga que ela. A música teria sido “consideravelmente mais lenta”, como Norris a descreve, com um arranjo diferente antes de acelerarem o BPM para se ajustar com o restante do álbum. Ele eventualmente foi trazido para mixar o resto do álbum, trabalhando de perto com o produtor vocal Ben Rice no Henson Studios em Los Angeles.

“[Ben] adicionou efeitos vocais, delays e reverbs, que seriam apropriados para a era”, diz Norris. O album também exigiu atenção sobre o equipamento que eles usavam, com Norris investindo em um "compressor barato" de 50 dólares em homenagem a Daft Punk, que usou um compressor de baixo orçamento em seus dois primeiros álbuns. Foi usado em "Rain On Me".

“Eu fiz uma engenharia reversa de algumas músicas do Daft Punk para descobrir como foi o processo de criação deles. Algumas delas não chegaram à versão final do disco, mas nos ajudaram a descobrir como trazer aquele som com um toque francês de um jeito bem 2020.”

Assim que Chromatica começou a tomar forma de verdade, Gaga e Tucker decidiram colocar pesos-pesados da música dance para ajudar a artista a conquistar a pista de dança que ela lutou para conseguir: Skrillex, Axwell, Tchami, Madeon, Johannes Klahr e Boys Noize estão entre os gigantes do EDM que foram convidados para adicionar ideias e ajudar na produção.

“Eles passaram pela história da dance music e eu tive um pequeno papel em parte dessa história”, Axewll conta para a RS, ligando de sua casa na Suécia. Ele foi chamado durante o último inverno para ajudar a amplificar “Alice” e “Free Woman”. Axwell admirava a dedicação para produzir “música dance verdadeira”, levando as cenas de house music e garage music em consideração ao invés de EDM. Ele até desenterrou e tirou o pó de uma faixa antiga em que trabalhou quando se apresentou com Sebastian Ingrosso como Axwell e Ingrosso: "Sine From Above".

“Eu tinha essa música velha que trabalhamos, tipo, há sete anos atrás com Elton John”, Axwell explica. “Sine From Above”, que também tem a participação de Ryan Tedder na composição, foi feita para ser uma colaboração da dupla house e do lendário pianista.

“Nós tentamos trabalhar nela e não conseguimos chegar onde gostaríamos”, ele diz. “Também era meio difícil de chegar no Elton John. Eu tinha a música no meu computador e foi tipo,: ‘Espera aí, Lady Gaga e Elton John são amigos’”.

Axwell enviou a demo para Gaga e Tucker, que amaram a música. Além disso, Gaga tem mais facilidade de contato com John, já que é amiga de longa data do cantor e madrinha do filho dele.

“Foi muito legal ter a música finalmente fora do meu computador”, ele sorri.

“Gravar com o Elton John pelo Skype direto da Austrália foi um dos momentos mais surreais eu nunca vou esquecer,” Burns acrescenta.

Axwell trouxe Johnnes Klahr, um colaborador dele desde 2018. Klahr observa o uso do baixo Korg nas músicas em que eles trabalharam juntos, um instrumento popular nas faixas clássicas de house. “É tipo aquela vibe de 'Show Me Love' da Robyn. Encaixa muito bem nos vocais.”

Skrillex é fã de Gaga desde 2007 quando ele a viu se apresentando para 50 pessoas em uma festa do Steve Aoki, Dim Mak Tuesdays Party. Ele remixou algumas de suas músicas, mas ainda não tinha encontrado com Gaga pessoalmente. Foi trazido pelo Tucker para ajudar na produção de “Plastic Doll”, uma faixa emocional sobre ser usada como um brinquedo por um parceiro.

“A música surgiu sem muito esforço já que BloodPop e eu trabalhamos muitas vezes juntos”, Skrillex comenta. O par trabalhou no LP "Purpose" de Justin Bieber. “Eu me apaixonei pelo refrão. A entrega dela é tão completa. Ela só se joga! Há algo muito legal na maneira como tudo surgiu”.

Mesmo sendo terapêutico dançar, entregar algumas letras mais emocionais no estúdio se mostrou difícil para Gaga. Tucker comenta que a música “911”, que conta com a produção de Madeon, foi particularmente difícil. A música é um dance powerhouse com letras profundamente tocantes sobre como ela é sua pior inimiga.

“[Gaga] teve que reviver tudo que ela estava cantando na música a cada tomada”, Tucker explica. “Ela usou uma peruca no estúdio naquele dia, esperando que aquilo a fizesse se sentir como outra pessoa. Tivemos que deixar o estúdio quase totalmente escuro. Gostaria que todo mundo pudesse ver o que eu vi porque ela realmente lutou para se entregar totalmente a todas e a cada uma daquelas músicas, a qualquer custo”.

“Ela é muito inteligente e quer ter certeza que todos que estejam trabalhando em uma música saibam exatamente qual é a mensagem passada ali para que não nos distraiamos,” Madeon conta. “Nós mantemos a produção em silêncio. Acredito que há tanta vida e impacto nessas letras que você precisa deixá-las respirarem. Você não precisa afogá-las. Eu realmente queria respeitar isso”. Madeon, que também trabalhou em "ARTPOP", pode atestar a intensidade de Gaga no estúdio. “Não é como se ela não estivesse vindo trabalhar casualmente. Ela quer ter certeza que está canalizando o espírito dessas músicas”.

Felizmente para toda a equipe envolvida, Gaga e Tucker finalizaram seus trabalhos em "Chromatica" no mês de janeiro, enquanto Norris e Rice terminaram os ajustes na mixagem durante o mês de março. A iminência da pandemia do coronavírus atrasou o lançamento de abril, mas algo na triste euforia de músicas novas parecia oportuno e confortante em um mundo sombrio. “Eu estava falando com meus amigos, e eu disse: ‘Eu mal posso esperar para dançar com outras pessoas ao som dessas músicas. Eu mal posso esperar para ir em qualquer lugar com um monte de gente e colocar isso pra tocar o mais alto possível para mostrar a elas o quanto eu as amo’”. Gaga disse em sua entrevista com Lowe.

“Até lá, eu espero que eles ouçam esse álbum e atravessem não só a minha jornada pessoal comigo e dancem através da dor, mas que eles passem pelas próprias jornadas e dancem através de suas próprias dores.”

Ouça "Chromatica" em todas as plataformas:

Spotify

Apple Music

Clique aqui para ter acesso à publicação original, em inglês.

Acompanhe todas as novidades sobre a Lady Gaga em nossas redes sociais: Facebook, Twitter e Instagram.

Tradução por Deborah Lima Sant'Anna

Revisão por Vinícius de Souza