A Entertainment Weekly divulgou, na tarde de hoje (12), uma entrevista com os produtores do sexto álbum de estúdio de Lady Gaga, 'Chromatica'.

Na entrevista, os colaboradores contaram um pouco sobre o processo de criação do novo CD e também sobre o que planejam fazer a diante com a era.

Confira a tradução completa:

"Como nos provérbios antigos, é preciso de uma aldeia para criar um filho. No caso de Lady Gaga, tudo que se precisa é de uma mulher — e um pequeno e leal time de colaboradores — para ‘cancelar’ a Terra antes de dar à luz a um novo planeta. É assim a história por trás de Chromatica, o último álbum da cantora de 34 anos a alcançar o topo dos charts, que vê Gaga embarcando em uma jornada terapêutica de auto-cura ao retornar para a vibe dance-pop, inspirada pela house music que lançou sua carreira. É tudo feito num cenário principal do álbum: uma terra da fantasia colorida de rejuvenescimento e devastada pela tempestade.

“Nós nem tivemos que conversar sobre isso”, o produtor executivo de Chromatica, BloodPop, disse a EW a respeito da criação do álbum, que foi uma reviravolta proposital do desvio country que ela fez com "Joanne", de 2016. “Pareceu certo para ela revisitar os elementos eletrônicos, então aparecemos desde o início com sintetizadores pulsantes e ritmos house”.

Entre a metade de 2017 e o início de 2020, entre vazamentos de músicas e demos infiltradas em comerciais de cosméticos ("O mix da Haus Labs de 'Babylon' será lançado, então não se estressem", BloodPop promete), os dois expandiram seu escopo ao trazer uma equipe de produtores talentosos, compositores e artistas internacionalmente renomados — incluindo Ariana Grande, BLACKPINK, e Elton John — para ajudar a moldar suas visões para um álbum progressivo de dança. Alguns dos colaboradores de Gaga — BloodPop, BURNS, Johannes Klahr, Axwell, e mais — falaram com a EW sobre como tudo foi sendo reunido.

Apesar de BloodPop ter co-produzido todas as 11 faixas da edição standard de "Joanne", ele não tinha se comprometido a fazer o próximo álbum de Gaga, o que mudou depois que ele viajou para a cidade de Kansas City na parada da Joanne World Tour, onde ele tocou para ela uma música chamada "Stupid Love", que ele havia trabalhado anteriormente com Max Martin. A partir dali, Gaga e BloodPop começaram a gravar o álbum com uma porta rotativa de produtores, incluindo SOPHIE, Boys Noize, e BURNS.

BloodPop: Depois da Joanne tour e durante/depois de filmar Nasce Uma Estrela, nós começamos a trabalhar em demos no estúdio da casa dela. No início, não tínhamos uma visão hiper-clara. Estávamos dando o pontapé inicial. Sabíamos que “Stupid Love” era boa, e as outras músicas que estávamos escrevendo dava finais brilhantes para dias sombrios, difíceis e chorosos. O lado positivo é que isso continuou nos empurrando para frente, e com músicas como "Enigma", "Alice", e "Babylon" tomando forma, ela viu o álbum se encaixando.

Burns: Blood e eu nos conhecemos no final de 2018, e foi no início de 2019 que ele me perguntou se eu estaria interessado em ajudar no projeto. Ele tocou algumas demos para mim e discutimos ideias para a direção.... Blood e Gaga estavam bem aprofundados no aspecto de composição, mas o som ainda não havia sido esculpido.

BloodPop: Nós trabalhamos com SOPHIE bem no início. [Ela foi] a primeira colaboradora daquelas sessões. Aqueles dias foram divertidos. Nós arrumamos seis microfones e gravamos o escapamento da Lamborghini de Gaga, e SOPHIE transformou isso em samples. [Apesar de não ter entrado no álbum], ainda planejamos terminar essas músicas e apresentá-las como algo especial dentro do universo Chromatica.

BURNS: [As demos iniciais] tinham uma sensação implícita de alegria quando se trata dos vocais — mesmo quando o conteúdo da música era um pouco sombrio. Gaga cantou as demos com tanto poder e convicção, quase como se fosse uma libertação.

BloodPop: Foi provavelmente para a demo de “Enigma” [isso colocou o álbum em movimento]. Foi mais sobre sua performance vocal do que qualquer outra coisa, e como ela se envolveu com aquela música. Pareceu poderoso... pareceu uma mistura de Studio 54 e segmentos de todos os nossos álbuns preferidos de dança. Evocou aquele sentimento fugaz e eufórico que vem de boa música dance.

O pequeno grupo de colaboradores, em pouco tempo, trouxe outros tipos de dance music para reforçar sua visão, incluindo Axwell e o produtor/compositor Johannes Klahr.

BloodPop: Quase todas as músicas foram começadas com Gaga ou Gaga e eu em um piano, ou com uma faixa bem básica. Nós íamos construindo a faixa depois de existir uma aparência da música, e eu ia afinando até o ponto de sentir que tinha o espírito certo. Então, nós avaliamos o sentimento da música e convidamos colaboradores baseado em sua capacidade de reimaginar a música ou a produção. Por exemplo, amamos essa música do Axwell, que estava sendo tocada em todas as boates da época, chamada "Nobody Else”. Tinha o soco de energia sonora que queríamos em "Alice" e "Free Woman".

Axwell: O motivo de eu ter aceitado é que gosto de Gaga, e eu pensei que era legal que eles [estavam fazendo] um álbum inteiro de dance music. Não era um pop cheio de EDM, mas um house retrô das antigas. Isso me animou, mas eram ótimos sons em sua base... “Free Woman” era uma música com a batida bem para cima, de empoderamento sem gênero. O som retrô que tinha no começo me fez seguir em frente. Eu estava imaginando as boates de Nova Iorque dos anos 90 quando a ouvi.

Johannes Klahr: Tenho ajudado Axwell com a produção [por anos]. Desde que fizemos “Nobody Else” juntos, nós fizemos isso naturalmente... “Free Woman” é uma faixa dançante estrondosa, mas é mais relaxante. Amplificamos os sons dos anos 80 e 90 e adicionamos nosso sabor para ver até onde poderíamos ir sem perder a essência. Somos orientados pelo groove; o baixo precisa bater com a bateria, e com os vocais exuberantes de Gaga, nós queríamos fazer o groove o mais legal e fluido possível para deixá-lo autenticamente club.

Axwell: Eles estavam analisando a história da house music, e eu faço parte um pouquinho dessa história... O legal é que eles me chamaram por uma razão. Eles sabiam o que queriam.

Klahr: Apenas fizemos o que pensamos que era para onde a faixa estava indo. Se você olhar o primeiro álbum de Gaga, já tem todos aqueles elementos, mas agora é mais desenvolvido e direcionado para as boates. Gaga tem uma audácia especial que aparece quando você coloca uma dança autêntica por baixo.

Para reforçar os sons de retro-house do álbum, BURNS, Axwell, e Klahr começaram a usar técnicas vintage.

BURNS: Nós não queríamos um EDM moderno, queríamos o sentimento clássico de dance music. “Autêntico” foi uma palavra muito usada; tinha que ser familiar, mas ao mesmo tempo fresco.

Klahr: Nós usamos um organ bass clássico Korg M1 [para "Alice"], que é utilizado em todas as faixas house antigas, e funcionou perfeitamente. É um baixo harmônico, então tem um tom acolhedor e combina com os vocais.

Burns: Eu estava consciente em tentar me afastar do som polido e quebradiço que você ouve muito em produções atuais pop-EDM. Eu queria que tudo que eu fizesse parte tivesse personalidade e um pouco de coragem.

Axwell também contribuiu em uma música não finalizada, com a qual ele brincou por seis anos. A faixa esquelética, que se tornaria “Sine From Above”, tinha sido originalmente escrita para Elton John com Ryan Tedder e o parceiro criativo de Axwell, Sebastian Ingrosso, em 2014.

Axwell: Estava abrindo um buraco no meu hard drive... Na verdade, não se chamava “Sine From Above” no começo, se chamava “Elton John”, porque Elton John cantava. Era uma coisa mais relaxante, acústica, no piano. Você ainda pode ouvir isso nos versos, e [a versão final tinha] a mesma progressão de acordes.... Não foi muito fácil continuar em contato com Elton, porque ele muda de e-mail, de endereço e fuso horário. Essa foi a oportunidade perfeita para chegar em algum lugar com a música, porque eu sabia que Gaga e Elton eram grandes amigos. Eu mandei a música para eles e disse, “Pode ser a combinação perfeita!”. Eles gostaram, entraram na vibe e Gaga adicionou seu toque. Gaga não teve nenhuma dificuldade em entrar em contato com Elton.

Burns: Elton estava em turnê na Austrália durante essa época. O prazo para terminar tudo estava se aproximando, então estávamos correndo contra o tempo... Acabamos gravando a música via Skype, com Elton no estúdio lá e nós em Hollywood.

Johannes Klahr: A bateria e o baixo [terminando] surgiram [depois que Axwell e eu havíamos terminado], mas é insano. Essa é a minha parte favorita. É muito boa.

Burns: Originalmente, minha primeira versão tinha uma batida no estilo "Amen", mas no final, optamos por um ritmo 4/4. No último minuto, Gaga pensou que deveria haver algum tipo finalização louca e estridente. Ela sugeriu acelerar o ritmo, então eu pensei por que não trazer de volta a batida "Amen", mas no clássico estilo de Jungle.

Axwell não foi o único que revitalizou materiais passados. Madison Love escreveu uma faixa fora da produção de Chromatica durante uma sessão não relacionada [ao álbum] com BloodPop, Rami Yacoub e BURNS, que mudaria de forma para o sucesso "Sour Candy", assistido por BLACKPINK. Enquanto isso, BURNS reergueu um de seus projetos anteriores para o que viria a se tornar "Replay".

Madison Love: Começamos a riffar um refrão. Gostamos do título “Sour Candy”. Pensei que deveríamos escrevê-la como o Sour Patch Kids naqueles comerciais em que cortam o cabelo das pessoas: são azedos, e depois são doces. Nós escrevemos o refrão e eu escrevi um pequeno verso para um [artista em colaboração]. Pensávamos que BLACKPINK poderia ser legal... Blood o trouxe para Gaga e ela ficou tipo: "Eu amei isso, quero trabalhar nele". Ela colocou seu toque e transformou a música em sua. No final, ela ficou tipo: "Que tal adicionar BLACKPINK a ela?".

Burns: Eu já tinha começado a trabalhar no instrumental de "Replay" fora do projeto Gaga. Antes de tocar para Gaga e Blood, era um esboço que eu baseava em uma amostra do disco de Diana Ross "It is My House". Quando BloodPop ouviu, ele sugeriu que eu retrabalhasse-a para encaixar numa música que eles começaram a escrever juntos, chamada “Replay”… Foi a última música que terminamos para o álbum, eu acho. Embora “Sour Candy” seja um deliberado ponto brilhante no álbum, era essencial que BloodPop e Gaga retivessem a tristeza que surgia no coração de Chromatica, particularmente ao explorar o repentino e envolvente relacionamento de Gaga com a fama (“Fun Tonight”) e seu uso de medicação antipsicótica (“911”).

BloodPop: Estranhamente, sempre que [Gaga] estava escorregando pela toca do coelho da tristeza, eu dizia: "Você que queria ser uma estrela pop". Isso a faria sorrir, independente de qualquer coisa, e se eu pudesse fazê-la sorrir, talvez pudesse fazê-la rir, e é muito difícil afundar na armadilha da tristeza quando você está rindo.

Não é divertido falar sobre [medicação] para a maioria das pessoas, mas é uma parte muito real da vida moderna para quem precisa. Essa era sua verdade e ela queria escrever sobre isso, mesmo sabendo que seria doloroso "ir para lá". ["911"] me bateu particularmente forte, porque na época eu tive que tomar remédios para TOC e depressão pela primeira vez na minha vida.

Também no convés estava "Rain on Me", que se originou como uma demo solo de acid house, e viria a se transformar em um dueto com Ariana Grande.

Burns: Todos sabíamos que "Rain on Me" tinha um enorme potencial e era uma música incrível, mas a produção não se encaixava no som geral. Então Blood perguntou se eu poderia tentar algumas coisas com ela. Peguei o vocal e quis experimentar um novo movimento com os acordes e explorei diferentes progressões para ver se mudava o humor. Foi meio inconscientemente que comecei a tocar a linha de baixo de "All This Love That I’m Givin", de Gwen McCrae sob o refrão, e isso pareceu outro momento de epifania. Lembro-me de Blood virando para mim e sorrindo como se tivéssemos acabado de decifrar um código.

Após os vazamentos, e com o álbum praticamente finalizado, BloodPop e Gaga sentiram que o projeto precisava de uma unificação adequada. Então eles se voltaram para a musicista Morgan Kibby, também conhecida como White Sea, para polir Chromatica com interlúdios orquestrais.

BloodPop: Nós tínhamos o praticamente álbum inteiro escrito, e algo nele soava cinematográfico, especialmente "Alice", "Sine From Above" e "Enigma". Gaga sentiu que o álbum tinha atos distintos, como a curva acentuada à direita que faz quando “911” entra em cena. Nós sabíamos que tínhamos que amarrar o álbum [junto] quando ela estava classificando a ordem das faixas, e de alguma forma terminamos com a ideia dos interlúdios por causa disso.

Morgan Kibby: O tema principal que exploramos foi a luz e a escuridão, o empurrão e a atração de sua - e, por extensão, nossa - experiência humana universal, que é lindamente quadridimensional… BloodPop e eu referenciamos especificamente acordes e sopros de disco em minha fase inicial de demonstração, e acho que aquilo ficou como uma pedra angular de inspiração quando trabalhei com Gaga. Os longos acordes que iniciam "Chromatica I" visam a evocar a majestade e a grandeza das deusas do disco Donna Summer e Gloria Gaynor. Também há acenos às partituras clássicas de filmes como THX 1138 e Outland: Comando Titânio. Kibby e Gaga passaram duas semanas nos interlúdios no início de 2020, montando uma orquestra de 26 pessoas para gravar as peças.

Morgan Kibby: "Chromatica III" começou como um arranjo em "Sine From Above". Quando solamos os acordes, BloodPop teve o instinto de que eles deveriam viver como um momento distinto, e assim se tornaram nossa base para "Chromatica III". Depois de analisarmos parte do arranjo que todos nós amamos, ele e Gaga, acredito, acrescentaram os sons da chuva. A peça chave de "III" para as cordas foi definitivamente a longa nota que varre e infla para honrar o conceito de uma onda senoidal, e acho que a produção adicional serve para destacar essa ideia.

E, sim, Kibby e Gaga amam o modo como Chromatica II transita para “911” tanto quanto você.

Morgan Kibby: “Chromatica II” foi a peça final que compusemos, e naquele momento ficou claro para Gaga que ela deveria cair um pouco antes de “911”, que já estava completa. Lembro-me desse momento no estúdio muito claramente, porque ela levantou, e sem nenhuma palavra eu virei o teclado, puxei o som dos acordes que ela estava imaginando e ela começou a tocar essa incrível ideia de marcato. Dali, nós a massageamos, e eu me concentrei nas harmonias e dinâmicas para garantir que elas amplificassem a energia. No fim das contas, nenhum de nós tinha ideia de que as pessoas abraçariam esse pequeno momento com tal destaque. Me dá tanta alegria que um dos meus momentos favoritos com ela, pessoalmente, acabou sendo alguns dos favoritos de seus fãs, musicalmente.

Inicialmente agendada para lançamento em 10 de abril, Gaga foi forçada a adiá-lo para 29 de maio, após a pandemia global. Mas, como Leah Greenblatt, da EW, escreveu em sua crítica, Chromatica "oferece uma fuga empoeirada de glitter desses tempos estranhos". O processo de criação do álbum também é uma prova da natureza em constante evolução de Chromatica como um corpo de trabalho e um estado mental temático que reflete os gostos variados da mulher em seu centro.

Madison Love: No final do processo, Gaga me convidou para o estúdio para ouvir "Sour Candy". Eu a conheci e começamos a dançar. Ela tinha toda essa dança coreografada que estava fazendo para mim. Eu estava tentando não chorar. Foi um daqueles momentos em que eu fiquei tipo, "Ai, meu Deus, eu estou conhecendo-a e ajudei a co-escrever uma música!"... Fiquei meio que admirada quando a ouvi pela primeira vez, porque eu não havia ouvido seu verso completo e como ela o finalizou. Fiquei tão mais chocada quando ela a tocou pela primeira vez para mim que eu nem estava prestando atenção... Depois, eles me enviaram um link e eu a ouvi no carro. [Lembro-me de pensar] "esta é a Gaga que amo".

Johannes Klahr: Eu tenho tanto respeito por Gaga, então, [trabalhando com ela] assim, eu entrei em pânico no começo, tipo, "O que nós fazemos?". Mas nós nos acalmamos e fizemos nosso negócio, e ficou bom… Você faz o trabalho e não realmente ouve as músicas até que sejam lançadas, e cabe à equipe íntima dela juntar tudo para o final. Vai para a masterização, e isso pode mudar a sonoridade... Mas estou impressionado com o que eles fizeram"

Ouça Chromatica!

Apple Music:

Tradução por Vanessa Braz de Queiroz e Maria Seabra.

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