O sexto álbum de estúdio de Lady Gaga, que foi lançado na última sexta-feira (29), tem sido muito bem recebido, sendo um sucesso em críticas (o álbum mantém a nota 81 no Metacritic, sendo a mais alta de Gaga até agora), e em streams, é o álbum de maior estreia na história do Spotify Brasil e a terceira maior estreia de um álbum feminino no Spotify Global.

Desta vez, o importante portal britânico Pitchfork, conhecido por ser bastante crítico quando se trata de álbuns pop, divulgou na madrugada desta segunda-feira (01), sua resenha do novo CD. Elogiando a capacidade de Gaga de retornar ao tipo de som que a tornou famosa mais de uma década atrás, a publicação deu ao álbum a nota 7.3/10.

Leia abaixo a tradução:

Lady Gaga - 'Chromatica'

Com um talento incomparável, a diva pop retorna aos seus dias de dance-pop com um álbum fabulosamente divertido e profundamente pessoal que é em partes bizarro, teatral e ambicioso.

Lady Gaga cancelou a terra. Ela vive no planeta ‘Chromatica’ agora. Sim, esse é o retorno de Stefani Germanotta para o que significa Lady Gaga: bizarra, teatral e ambiciosa, envolta de eletrodos, operando com um cérebro ga-ga-galáctico, entregando hinos dance para nós, terráqueos cancelados. ‘Chromatica’ é o seu primeiro álbum pop desde 2011; Ao contrário das músicas, sem ser ‘Why Did You Do That?’, na trilha sonora de ‘Nasce Uma Estrela’ e no acústico álbum de 2016, ‘Joanne’, neste novo álbum você não irá achar nenhuma balada. Especialmente, de acordo com as tradições de Gaga, ‘Chromatica’ é um planeta remoto no estilo de ‘Mad Max’ onde ‘baladas são ilegais’. Quem que não ama a criação de um mundo?

Mas mesmo que o ’Chromatica’ seja o retorno de Gaga aos seus dias de dance e pop, isto não significa a mesma coisa agora. Já fazem 12 anos desde que o seu álbum de estreia, ‘The Fame’, foi lançado, e naquela época, ‘EDM’ (Electronic Dance Music - Música Eletrônica Dance), era apenas um termo utilizado por quem o entendia, sem fazer muito sentido e ‘dance’, era apenas música de se bater os pés. Em 2020, um álbum dance de Lady Gaga soa como um renascimento da música house dos anos 90, sem medo. Mas se tem uma pessoa que ganhou o direito de uma viagem a esta casa, é Lady Gaga, que é uma das poucas estrelas pop de hoje em dia que pode legitimamente ser chamada de diva. Quando Gaga canta, ela canta de verdade: não cantarola, no estilo de competições de canto, mas sim sem medo de chegar lá. Seja através de notas grossas com a garganta, comandos de tom baixo ou desespero feroz. E é por isso que seus flertes com o rock, em sua maioria funcionaram, e por isso que ‘Chromatica’ parece mais substancial do que as tentativas de outros artistas com o dance. Muito de suas partes ‘nu-house’ são dirigidas pelo produtor, com os seus vocalistas reduzidos à decorações, se creditados; Não há riscos disto com Gaga. Tudo por aqui seria a sua cara sem sombras de dúvida se a auto-referência já não fosse abundante. O lead singleStupid Love’ salva a sua sequência do julgamento de ‘Do What U Want’, aumenta em velocidade, e tece os singles anteriores de Gaga ao redor, como serpentinas: a força que carrega ‘Bad Romance’, o contorno melódico de ‘Born This Way’ e a presunção de ‘Applause’.

A outra narrativa sobre o ‘Chromatica’, é que é o álbum mais pessoal de Gaga. Você deve se lembrar que o ‘Joanne’ também foi chamado de o álbum mais pessoal de Lady Gaga. Naquela época, foi ‘pessoal’ da mesma forma que todos os álbuns mais acústicos das estrelas pop são chamados de pessoal: tinha violões nos arranjos, e o Auto-Tune foi deixado apenas para uma limpeza final. O ‘Chromatica’ perde o violão mas certamente lida com assuntos pesados: gatilhos de estresse pós traumático, antipsicóticos e abuso sexual. De fato, a maioria das músicas de Lady Gaga desde o ‘The Fame’ tem sido bastante pessoais. Para cada música brilhante e pop como ‘Telephone’ ou ‘Hair’, Gaga gravou três a mais com feridas no núcleo: os medos pessoais do ‘The Fame Monster’, as partes de ‘Born This Way’ que são mais sombrias do que alegres; e a bagunça amarga do ‘ARTPOP’, de 2013. Os temas se repetem: identidade fragmentada, soldados do vazio, tomando lágrimas, morrendo um pouco ao ser tocada. A arte é por vezes bagunçada, a bagunça específica de arte escrita do trauma. Mesmo quando Gaga veste figurinos esquisitos ou escreve músicas de alto conceito sobre Judas ou sobre suínos. Esse é o motivo pelo qual seus álbuns se mantém bem. São reveladores os momentos de Gaga que ressurgiram do início de 2010 para a memória da cultural atual: a introdução impassível de ‘Monster’ ou a sangrenta ‘Bloody Mary’, que o TikTok tornou ainda mais gótica.

Chromatica’ reverte esse efeito. Isto é house music da forma mais brilhante e imaculada, um gênero feito de dor e escapismo, cordas altas e palpitações anestesiantes. Mas as letras de Gaga são claramente ditas, em sua maioria livres de metáforas religiosas e pretensão; as duas músicas com fortes conceitos em ‘Chromatica’, uma é a deliberadamente boba ‘Babylon’, e a outra, ‘Alice’, imediatamente trazem a metáfora de volta para a realidade: as primeiras palavras são: ‘Meu nome não é Alice’, e a música não é habitada por coelhos brancos mas sim pelas criaturas mais amedrontadoras da mente de uma pessoa. A emergência em ‘911’ se refere à ‘olanpazine’, um antipsicótico de efeito rápido que Gaga diz ter salvo sua vida. A faixa começa com uma batida fria e vocais sem emoção, robotizados. A coisa inteira soa esquisita, e quando o refrão chega, soa mais esquisita ainda. O contraponto nunca combina com a música, e as falas mais doloridas (‘Gostaria de ter rido e mantido as boas amizades’) são jogadas fora, quase sem percepção. Mas estes são detalhes maravilhosos, que você pode dançar agora, e os entender depois.

Se levarmos em conta toda a ênfase de Gaga em nos dizer que temos que ouvir o álbum em sequência, sem pular, essa sequência soa um pouco fora de ordem. As interludes, compostas com Morgan Kibby (M83, White Sea), separa o álbum em três atos, cada um com seus preenchimentos. A redenção climática da colaboração com Ariana Grande em ‘Rain On Me’, chega 10 faixas muito cedo, e ‘Free Woman’ e ‘Fun Tonight’ perdem a sua energia por estarem tão perto. No segundo ato, ‘Plastic Doll’ - a ideia básica que você consegue adivinhar ao ler o título - teria sido precisa demais no ‘The Fame’. ‘Sour Candy’, a colaboração que quebrou a internet com as super estrelas de K-Pop do BLACKPINK, é atrevida o suficiente, mas em um álbum de Lady Gaga, especialmente esse álbum, soa um pouco fora do lugar. E isto é em parte porque nós não ouvimos Gaga, antes de um minuto, e em parte também porque nós já ouvimos isto antes, ‘Sour Candy’ é pelo menos a quarta música construída em cima da sampl de ‘What They Say’, de Maya Jane Coles, e então tem o fato inevitável que ‘Chromatica’ é um álbum feito para as pistas de dança, lançado logo antes do *Pride Month, um humor celebratório grande, em um ano onde nenhuma dessas coisas existem da forma como existiam.

As duas faixas mais fortes do ‘Chromatica’ são opostos completos. Imagine um eixo entre um transcendente bizarro e um transcendente puro; ‘Sine From Above’ é totalmente do lado esquerdo. Cada parte individual dessa faixa, meio que faz sentido. Lady Gaga e Elton John? Claro; aliás, eles são família, e ele é um colaborador mais vivo que Tony Bennett ou Bradley Cooper. Elton John com dois terços do ‘Swedish House Mafia’? Esta era a ideia, lá em 2013. Um poema à uma onda sonora literária, com vocais dos céus? Interrompendo tudo para um solo de bateria e baixo no final? Para citar a criança do teatro que diz, é grande e errado - mas é tão grande, que é difícil de chamar de errado.

Se ‘Sine From Above’ deriva do bizarro, ‘Enigma’ é executada na familiarização: Cada batida musical e emocional chega na hora precisa, como se a boate tivesse memória. É massiva, ela tem atração gravitacional. Sem coincidência, o refrão da música lembra uma certa outra música sobre ser um amante heróico, apenas por uma noite. Se encaixa perfeitamente com Gaga: ‘Enigma’ é o nome de sua residência em Las Vegas, e os solos de saxofone que tocam no refrão lembram os de Clarence Clemons, em ‘Born This Way’. E, crucialmente, a faixa acerta no desejo de se encontrar com alguém em toda sua urgência. No platena ‘Chromatica’, ‘Enigma’ é de outro mundo: ‘a atmosfera se ilumina violeta, olhos de dragões e fantasmas são abundantes’. É a mesma direção que dá força à música dance, de disco à house, à Gaga - virando um momento destacado, mais fantástico, e até em seus momentos artificiais, de certa forma, inteiramente humano.

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