Cada geração de artistas é única, ímpar e sempre antecedida por outra, tão grandiosa quanto. Em um momento, uma geração é a influenciada por sua antecessora; em um outro, é ela a base para uma outra e nova geração de astros. Esse ciclo de inspiração na música é normal, frequente e esperado, também ditando o que influenciará os artistas do presente. É assim com Lady Gaga.

Nessa série de especiais, serão discutidas quais são as grandes influências da cantora entre os artistas que tiveram seu auge no passado e seus porquês, expondo seus principais pontos de inspiração, semelhanças artísticas e comparações quanto às sonoridades e posturas enquanto influenciadores.

Como segundo episódio, a artista escolhida é Cher, a apelidada de “Deusa do Pop" pelo marco deixado na indústria musical.

Lady Gaga já lançou um álbum jazz (Cheek To Cheek), um material com visuais e sonoridades influenciadas pelo country (Joanne), já fez apresentações com astros do heavy metal e de tributo à lendas do glam rock e rock’n roll, além de ter atuado em Hollywood e ter vencido um Oscar e dois Globos de Ouro.

Seus fãs a apelidaram de “camaleoa do pop” devido sua enorme versatilidade. Entretanto, antes de Stefani Joanne Angelina Germanotta, uma outra grande artista já havia sido apelidada dessa forma, por motivos tão especiais quanto foram pra Gaga. Esta artista foi a então nascida Cherilyn Sarkisian, um sinônimo de reinvenção.

Cantora, atriz, apresentadora televisiva e com uma voz incomparável, de origem armeno-americana e europeia, Cher se manteve um dos grandes expoentes femininos do mundo pop durante seis décadas diferentes. Somente um artista adaptável e que reinventa diversas vezes sua arte é capaz de tal feito; e muito antes do surgimento de nomes como Cyndi Lauper, Madonna, Whitney Houston ou Björk, Cher já tornara-se um dos ícones femininos dos anos 1960 nos Estados Unidos e no mundo.

Vencedora de um Oscar, Grammy, Emmy, três Globos de Ouro e um Cannes, entre vários outros prêmios, é reconhecida como uma das maiores artistas da história. Vendeu mais de 100 milhões de discos em carreira solo e 40 milhões como parte da dupla Sonny & Cher, no início de sua carreira na música. Além disso, é a única artista a ter alcançado o primeiro lugar nas paradas da Billboard em seis décadas consecutivas, dos anos 1960 até os anos 2010, além de possuir cinco #1 na Billboard Hot 100, sendo quatro deles em carreira solo, com os sucessos "I Got You Babe”, “Gypsys, Tramps & Thieves”, “Half-Breed”, “Dark Lady" e "Believe". É a mulher mais velha a conseguir alcançar o topo das paradas, com 52 anos.

Em 1999, ela recebeu o Legend Award no World Music Awards por sua "contribuição para a indústria musical ao longo da vida". Em 2001, a revista Biography, da rede de televisão A&E, a classificou como a terceira atriz favorita de Hollywood de todos os tempos. Em 2002, Cher foi homenageada com o Artist Achievement Award, pelo Billboard Music Awards, por "ter ajudado a redefinir a música popular com enorme sucesso nas paradas da Billboard". Em 2010, ela foi inclusa na 44ª posição na lista das "75 maiores mulheres de todos os tempos", publicada pela revista Esquire. Além disso, estrelou dois programas de variedades bem-sucedidos na televisão, o que permitiu, segundo Keith Tuber, da Orange Coast Magazine, "que as pessoas pudessem vê-la e ouvi-la sem ter que comprar seus álbuns".

Em termos de sonoridade de ascensão de carreira e seu contraste com o que vinha fazendo sucesso em suas épocas, Cher e Lady Gaga compartilham algo em comum. Enquanto que, em 2008, Lady Gaga deu uma nova cara a dance music e a colocou novamente no protagonismo das principais paradas musicais, dominadas pelos gêneros urban, hip-hop e pop R&B ao longo de toda a década, Cher ascendeu à fama com o folk rock, uma sonoridade própria que rivalizou com as principais correntes musicais da década de 1960, marcadas por uma outra fase do rock’n roll, com Elvis Presley, The Beatles e The Who, e as músicas tematicamente políticas, tendo Bob Dylan como expoente.

E, além disso, com sua música, Lady Gaga promete ter relevância em qualquer tempo e gênero musical - visto seus últimos múltiplos trabalhos; tipo de carreira esta que Cher conhece muito bem: a que, com as estratégias certas, mantém um ícone sempre a ser um ícone, independente de seu tempo.

Cher é um modelo de gestão de carreira flexível. [...] Embora ela tenha cultivado de maneira competente a imagem de uma rebelde que não se importa com o que os outros acham, suas muitas e variadas vitórias na carreira foram, na verdade, baseadas na constante reinvenção de sua imagem de acordo com o que as pessoas pensam. [...] Ela seguiu cuidadosamente as demandas do mercado cultural, anunciando cada reviravolta dramática de estilo como outro exemplo de rebeldia – uma situação que permitiu a ela fazer mudanças calculadas ao mesmo tempo em que parecia ser consistente. [...] ela exerce um forte apelo que não se limita aos seus fãs mais antigos. Embora isso possa ser atribuído em partes a um marketing bem-sucedido, a capacidade de Cher para projetar sua juventude é fundamental para manter seu status de 'cantora/atriz/ícone da indestrutibilidade” - Craig Crawford, em “The Politics of Life: 25 Rules for Survival in a Brutal and Manipulative World”.

Cher é, indiscutivelmente, uma artista completa, assim como Lady Gaga. A então “Deusa do Pop” começou sua carreira no folk e com influências de dance, surfou na onda disco na virada da década de 1970 para a de 1980 e lançou álbuns no gênero rock que rejuvenesceram sua carreira. Chegando na década de 1990, ainda explorando os gêneros do rock, lançou álbuns com baladas poderosas, fumegantes e com influências de R&B, vindo a chegar nesse século a Cher que conhecemos, com a perfeição pop “Believe”, “Strong Enough” e “All or Nothing”.

Ela [Cher] é uma artista única que continua a quebrar as barreiras de seu talento” - Craig Kostich.

Desde o início de sua carreira, Cher é conhecida como uma artista que quebra tabus com sua música. Lady Gaga com seu álbum Born This Way, e principalmente com a canção de mesmo nome, mostra-se uma artista atenta a seu tempo, às demandas sociais de um mundo por si só preconceituoso e avesso à comunidade LGBTQ+. A Mother Monster já tratou de diversos temas considerados polêmicos em suas canções: do uso de drogas, sexo entre duas mulheres, visibilidade LGBTQ+, condições mentais, entre outros. Entretanto, ainda na década de 1970, Cher trouxe ao debate temas ainda mais estruturalmente polêmicos.

Abordou em suas músicas temas como a gravidez indesejada, racismo, preconceito para com os nativos norte-americanos e misticismo. Por mais engraçado que isso possa parecer, Cher também causou polêmica ao ser a primeira mulher a mostrar o umbigo na história da televisão.

Na comunidade LGBTQ+, é considerada um ícone, muito por conta, além de seus diversos prêmios pela comunidade, às realizações em sua carreira e seu senso de estilo. Cher é frequentemente inspiração de drag queens pelo mundo, além de já ter dado vida a uma lésbica no filme Silkwood.

"Enquanto o resto de nós dormia, Cher esteve por aí pelas últimas quatro décadas vivendo cada uma de nossas fantasias de infância. [...] Ela encarna uma liberdade sem remorso e uma coragem que alguns de nós podemos apenas aspirar" - Alec Mapa, da revista The Advocate.

E como não falar sobre Lady Gaga e Cher sem falar sobre cinema? Atualmente, a arte cinematográfica e o nome das duas divas pop andam lado a lado. Lady Gaga, vencedora do Oscar de Melhor Canção Original e de dois Globos de Ouro, é uma promessa para a indústria, já estando no elenco de um novo filme a ser lançado.

Entretanto, mesmo Cher tendo tido um grande estrelato no cinema, vencendo o Oscar como Melhor Atriz em 1988, sua ida ao cinema foi quase um escape. Seu desempenho na música no início da década de 1980 não ia bem, em termos de vendas e de qualidade musical. De qualquer forma, sua carreira tomou outros patamares no cinema - ainda mais positivos.

Cher elogiou o desempenho de Lady Gaga no filme “Nasce Uma Estrela” por meio de um tweet, na época de lançamento do filme.

”Um amigo assistiu “Nasce Uma Estrela” ontem à noite e disse que está INCRÍVEL! ‘Bradley Cooper fez um um grande trabalho dirigindo e atuando e Gaga estava tão natural que não parecia que estava atuando!’. Para Brad… BOM TRABALHO! Para Gaga… BEBÊ… EU SEMPRE SENTI QUE VOCÊ PODERIA FAZER ISSO, E ESTOU MUITO ORGULHOSA DE VOCÊ”

Enquanto o cinema foi um impulsionador grandioso em sua carreira, a televisão foi onde Cher se firmou enquanto um fenômeno, ainda na década de 1970. Cher ascendeu à fama como parte da dupla de folk-rock Sonny & Cher, formada com o marido Sonny Bono, em 1965, alcançando ainda mais notoriedade como apresentadora de televisão na década de 1970, estrelando uma série de atrações no horário nobre das redes CBS e ABC, entre elas The Sonny & Cher Comedy Hour e Cher.

Foi nessa época em que Cher começou a lançar tendências de moda e de estilo. Nesse sentido, Lady Gaga também é conhecida por algumas participações em talk-shows e passagens pela televisão norte-americana, mas principalmente por sua contribuição no mundo da moda. Sendo um ícone da moda, Lady Gaga é considerada por diversos críticos como um dos principais expoentes da moda atual, por seu estilo ímpar e sua irreverência desde seu início de carreira.

Desde a década de 1960, Cher foi uma criadora de tendências de moda, popularizando os cabelos lisos e longos, as calças boca-de-sino (que são muitas vezes citadas como uma criação sua) e a barriga “de fora”. A cantora foi sempre conhecida por desafiar os padrões com seus vestidos e conjuntos ousados. Seus figurinos em turnês são considerados ímpares e grande influenciadores de cantoras contemporâneas a Cher, incluindo Gaga. Seus vestidos mais famosos são os usados durante a década de 1970, o que foi usado na cerimônia de entrega do Oscar de 1988 e o da gravação do videoclipe da atemporal “If I Could Turn Back Time”.

Ambas as artistas iriam lançar uma colaboração, como foi divulgado em 2011. A canção “The Greatest Thing” estaria no vigésimo sexto álbum de estúdio de Cher, lançado em 2013, intitulado Closer To The Truth. Ao contrário do que era esperado, o disco não trouxe "The Greatest Thing" com Lady Gaga, já que a Mother Monster não gostou do resultado da faixa. Originalmente, a canção foi escrita em 2007, por Lady Gaga e RedOne.

Questionada por um fã no Twitter, Cher disse que Gaga não gostou do resultado de “The Greatest Thing”.

Está feito e ela não gosta ou não quer que seja lançada. Ela é uma artista, a decisão está com ela. Eu estou desapontada também” - Cher via Twitter.

Escute a versão demo da canção descartada que vazou antes do lançamento do álbum de Cher, em 2013:

Cher não é somente a mulher que segurou a estatueta de Lady Gaga na cerimônia do Video Music Awards 2010 (VMA), para que a mesma anunciasse o nome do seu mais novo álbum de estúdio, o então incomparável Born This Way, vestida com seu famoso “vestido de carne”. Cher é uma das grandes influências diretas ou indiretas da carreira de Lady Gaga, uma das grandes e mais revolucionárias mulheres da indústria da música.

Escute alguns dos sucessos da Cher, artista que inspira e influencia a Lady Gaga, junto com as músicas da cantora que são "a cara" da Deusa do Pop na playlist abaixo!

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