Cada geração de artistas é única, ímpar e sempre antecedida por outra, tão grandiosa quanto. Em um momento, uma geração é a influenciada por sua antecessora; em um outro, é ela a base para uma outra e nova geração de astros. Esse ciclo de inspiração na música é normal, frequente e esperado, também ditando o que influenciará os artistas do presente. É assim com Lady Gaga.

Nessa série de especiais, serão discutidas quais são as grandes influências da cantora entre os artistas que tiveram seu auge no passado e seus porquês, expondo seus principais pontos de inspiração, semelhanças artísticas e comparações quanto às sonoridades e posturas enquanto influenciadores.

Como terceiro episódio, o ponto de comparação e paralelos serão traçados entre a Mother Monster e o quarteto integrante da inconfundível e incomparável banda Led Zeppelin.

Na década de 1960 o gênero rock ganhou outra faceta perante seu início dentro do cenário musical, com a ascensão de Elvis Presley, Bill Haley, Jerry Lee Lewis e a banda The Beatles. Na década seguinte, o rock’n roll ganhou novos patamares sonoros, sociais e visuais com Elton John, Queen, David Bowie e, sobretudo, com a frequentemente reconhecida banda fundadora da vertente do heavy metal, Led Zeppelin.

Se os anos 1960 tiveram os The Beatles, os jovens da década de 1970 tiveram a distorção da guitarra de Page, a agilidade e potência de Bonham na bateria, a versatilidade instrumental de Jones e os vocais dramáticos de Plant. A banda Led Zeppelin é uma das mais bem sucedidas, influentes e revolucionárias da história da música. Em vendas, possui entre 200 a 300 milhões de unidades vendidas em todo o mundo. Com 111,5 milhões de cópias certificadas pela Associação da Indústria de Gravação da América, é a segunda banda de maior recorde de vendas de discos nos Estados Unidos.

Descrita por muitos como a maior banda de rock’n roll de todos os tempos, todos os seus nove álbuns alcançaram o top 10 da Billboard 200 e seis deles ocuparam seu primeiro lugar. A revista Rolling Stone classifica a banda como o 14º maior artista da música. Em 1995, a Led Zeppelin ingressou no Hall da Fama do Rock’n Roll.

"Led Zeppelin — talentoso, complexo, ávido, bonito e perigoso — fez um dos corpos mais duradouros da composição e interpretação na música do século XX, apesar de tudo o que tinham para dominar, incluindo a si mesmos" - Mikal Gilmore.

Por muitas bandas contemporâneas ao Led Zeppelin, que acabou por ter seu fim em 1980, foi considerada como sua grandes influência, dentre elas as bandas de rock e glam rock Queen, Megadeth, Deep Purple, bandas da sonoridade punk como Ramones e os The Cult a até artistas consagrados do pop como Madonna e a própria Lady Gaga.

O que une Led Zeppelin e Lady Gaga é o conceito de rebeldia. Nesse sentido, Gaga é declaradamente uma fã do heavy metal e da própria Led Zeppelin. Mesmo a banda sendo famosa nos meios alternativos e do rock tradicional, há paralelos inegáveis entre esses grandes astros dos anos 1970 e a Mother Monster. Desde acusação de satanismo, de exagerada “lascividade e depravação” em suas músicas a até a dualidade entre temáticas de trevas e claridade, muito há em Lady Gaga dos garotos da Led Zeppelin.

A influência do heavy metal na música de Gaga é inegável. Muito do que ouvimos em Black Sabbath, Iron Maiden e, propriamente, em Led Zeppelin encontramos na discografia de Lady Gaga; seja na bateria e guitarras frenéticas de diversas faixas como “Diamond Heart”, “Speechless”, “Electric Chapel”, "Yoü and I" e ”Perfect Illusion”, por exemplo, ou na composição de suas faixas e temáticas artísticas de cada trabalho.

A própria canção “Heavy Metal Lover” de Gaga mostra o quão influenciada pelo gênero a cantora foi e continua sendo. Nesse caso, não há uma influência explícita na sonoridade da canção, mas em sua temática que envolve drogas, libertinagem, álcool e liberdade sexual. O próprio título da canção faz referência à Lady Gaga e em sua ascensão ao estrelato (“Would you love me if I ruled the world?”).

Led Zeppelin trata em suas músicas sobre diversos temas encarados como polêmicos para época de seu auge, como o ocultismo, mitologias, gêneros místicos. A temática das trevas e sombras em contraposição à luz e claridade tem grande presença na concepção artística dos Led Zeppelin - assim como Lady Gaga, que já citou em entrevistas gostar dessa dualidade de elementos, haja visto o conceito artístico dos álbuns The Fame Monster e Born This Way.

The Fame Monster expressa o lado sombrio da fama através de metáforas de monstros, enquanto que Born This Way apresenta temas comuns às composições controversas da banda e da cantora, como o amor, dinheiro, drogas, religião, liberdade e sexo. O quesito sexual, inclusive, é um grande expoente tanto de Gaga quanto da Led Zeppelin - nada do que os fãs de Lady Gaga já não estejam acostumados. Nas músicas "The Lemon Song" e "Whole Lotta Love", sucessos de 1969, por exemplo, fica evidente o quão provocativas são as canções sexuais da banda, que falam sobre sexo e masturbação. O heavy metal é, em sua essência trazida por bandas como Led Zeppelin, palco da sexualidade e do rebelde.

Desde seu início de carreira, Lady Gaga foi e ainda é muito criticada e por diversos fatores e envolta em polêmicas que envolvem, inclusive, sua música relacionada à religiosidade. Uma dessas críticas, que frequentemente ressurge pela internet, é o rumor de seu envolvimento com o satanismo. Essa controvérsia, particularmente advindas na época de sua passagem pelo continente asiático com a Born This Way Ball Tour, viu se tornarem reais protestos de vários grupos religiosos que a acusaram de “satânica” e “contra valores religiosos”.

Na discografia de Led Zeppelin, muito se é criticado sobre a mesma também conter apologia ao satanismo, incluindo mensagens subliminares. Muitos desses rumores são entendidos ao interesse do vocalista Robert Plant por histórias e lendas antigas e do guitarrista Jimmy Page, em ocultismo e misticismo. De certa maneira, Lady Gaga tem em comum à banda o interesse pelo lendário desconhecido com um quê mitológico e apoteótico, haja visto algumas de suas canções que tratam dessa temática, como “Bloody Mary”, “Venus” e “Babylon”.

Entre seu grande pico de sucesso no início dos anos 1970 e o fim da banda com o final da década, sendo frequentemente indicados como a maior e melhor banda do mundo, os Led Zeppelin investiram em um rumo mais experimental em suas carreiras: com a banda visando uma experimentação sonora maior e quebrando recordes que os renderam à uma reputação de excessos e devassidão. Uma famosa canção do grupo que marcou essa fase de hiato é o single “Trampled Under Foot”, presente no sexto álbum de estúdio da banda, “Physical Graffiti” (1973).

Com a moda, Led Zeppelin revolucionou o modo de se expressar o rock’n roll - como Lady Gaga fez com a cultura pop, com seu lado camp. A banda lançou a moda do cabelo grande para os grupos do rock e heavy metal, além dos elementos de uma postura rebelde, insurgente e revoltosa e com roupas, jóias e estilos de cabelo desgrenhados e camisetas pegajosas e os jeans apertados.

Led Zeppelin teve uma grande influência na moda, porque toda a aura em torno deles é tão legal, e as pessoas querem um pedaço disso” - Simeon Lipman.

Além da moda, há um outro elo de ligação entre a banda e Gaga: a teatralidade. Em termos vocais, Led Zeppelin é uma banda extremamente sensorial. Seu vocalista, Robert Plant, possui traços vocais sedutores, límpidos, dramáticos e, sobretudo, cênicos. Ao vivo, a banda, em sua formação original, durante a década de 1970, era efervescente, escandalosa e, ao mesmo tempo, misteriosamente poética. Lady Gaga possui apresentações com forte apelo ao que é teatralmente aclamado, incluindo sua voz.

Gaga é, portanto, em sua essência, uma excelente cantora, não importando o gênero com o qual se propõe a cantar - nos palcos ou até "palinha" em entrevistas, como será mostrado em seguida. Cantando músicas ao vivo da banda Led Zeppelin a cantora mostra, além de sua versatilidade artística, sua grande paixão pela banda síntese dos fatores do heavy metal.

Em 2016, em entrevista à rádio Sirius XM, no programa de Howard Stern, a cantora apresentou um trecho improvisado, acapella, da canção “Black Dog”, presente no quarto e mais renomado álbum de estúdio da banda, o qual não possui um nome oficial e é tradicionalmente conhecido como Led Zeppelin IV (1971). Em termos de curiosidade, a então considerada obra-prima da banda não possui um nome formal por ser uma forma de revolta à crítica especializada da época por não receber positivamente o trabalho anterior da banda, o então Led Zeppelin III (1970).

Em duas de suas turnês, tanto na artRAVE: The ARTPOP Ball Tour e na Joanne World Tour, há registros de Lady Gaga cantando trechos ou até canções inteiras da Led Zeppelin, com destaque para “Whole Lotta Love”.

Há, inclusive, uma gravação de Lady Gaga antes da fama cantando “D’yer Mak’er”, sucesso da banda de 1972 com influências do gênero reggae. Antes de ser a então Lady Gaga, Stefani Joanne Angelina Germanotta se apresentava nas noites de Los Angeles como parte de uma banda amadora, antes de assinar contrato profissional com qualquer gravadora.

Com a morte de seu baterista John Henry Bonham, em 1980, Led Zeppelin se viu não podendo ser mais quem era e foi dissolvida. Entretanto, sua marca será levada por gerações na música com artistas, como Lady Gaga. O símbolo de rebeldia os unem e os tornam gigantes na música, seja no complexo, estérico e devasso heavy metal de Led Zeppelin ou no potente, fluido e camaleônico pop de Lady Gaga.

Escute alguns dos sucessos do Led Zeppelin, que inspira e influencia a Lady Gaga, junto com as músicas da cantora que são "a cara" da banda na playlist abaixo!

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