Cada geração de artistas é única, ímpar e sempre antecedida por outra, tão grandiosa quanto. Em um momento, uma geração é a influenciada por sua antecessora; em um outro, é ela a base para uma outra e nova geração de astros. Esse ciclo de inspiração na música é normal, frequente e esperado, também ditando o que influenciará os artistas do presente, como acontece com Lady Gaga.

Nessa nova série de especiais, serão discutidas quais são as grandes influências da cantora entre os artistas que tiveram seu auge no passado, expondo seus principais pontos de inspiração, semelhanças artísticas e comparações quanto suas sonoridades e posturas enquanto influenciadores mundiais.

O tema do sexto episódio é a banda Pink Floyd, a representante de maior sucesso da corrente psicodélica e progressiva do rock’n roll.

Pink Floyd é sinônimo de experimentação sonora, letras políticas e filosóficas e autenticidade lírica e visual. O rock progressivo e a música psicodélica têm Pink Floyd como sua banda de maior sucesso e representatividade. Mesmo com uma história conflituosa entre os membros da banda, a mesma é ainda um grande sucesso na atualidade, considerada uma das bandas de rock de maior sucesso comercial e influência de todos os tempos.

Tendo vendido mais de 250 milhões de discos em todo o mundo, incluindo 75 milhões de unidades certificadas e 37,9 milhões de álbuns vendidos nos Estados Unidos desde 1993, a banda foi introduzida ao Hall da Fama do Rock’n Roll em 1996. O álbum “The Wall” é vencedor de um Grammy em 1981 na categoria “Melhor Álbum Não-Clássico” e a banda ganhou outra estatueta por "Melhor Performance Instrumental de Rock" pela canção "Marooned".

Em termos de crítica, Pink Floyd é um sucesso. Em 2004, o MSNBC considerou o grupo como a oitava melhor banda de rock de todos os tempos. No mesmo ano, a revista Q decretou a banda como a melhor de todos os tempos de acordo com as vendas de seu maior álbum, a escala de seu maior show de destaque e o número total de semanas passadas nas paradas de álbuns do Reino Unido. Em paralelo, a Rolling Stone classificou a banda no número 51 na lista dos "100 Maiores Artistas de Todos os Tempos" e o canal VH1 classificou o grupo no número dezoito na lista dos "100 Maiores Artistas de Todos os Tempos".

Em 1967, [Pink Floyd] havia desenvolvido um som inconfundivelmente psicodélico, realizando composições longas e altas, semelhantes às que tocavam hard rock, blues, country, folk e música eletrônica”. - Rolling Stone

A banda influenciou diversas contemporâneas à sua formação. Grupos famosos como Queen, U2 e Radiohead, além de artistas solo do passado, como David Bowie, expressaram sua admiração e influência da banda. Nesse sentido, Lady Gaga é uma grande fã de Pink Floyd.

Em entrevista à MTV News, em 2011, à divisão jornalística da emissora, a mesma afirmou que seus pais lhe apresentaram artistas como The Beatles, Stevie Wonder e, principalmente, Pink Floyd quando ainda criança, inspirando-a a entrar no mundo da música e, consequentemente, a querer se tornar uma cantora.

"Boas escolhas, mamãe e papai. Se eles me deram na boca Beatles e Stevie Wonder, e Bruce Springsteen e Pink Floyd, e Led Zeppelin e Elton John, deveriam esperar que eu me tornasse o que hoje sou" - Lady Gaga

Questionada por um fã, em 2012, em uma rede social sobre qual seria sua música favorita da banda, a cantora afirmou que “The Dark Side of The Moon” (o oitavo álbum da banda cuja proposta é a de apreciação em sequência, por completo da obra) e a canção “Eclipse”, décima e última faixa do álbum.

@edjairaguiar uma música favorita do Pink Floyd. Dark Side of the Moon e Eclipse. Mas eu poderia falar disso por muito tempo

Eclipse”, canção a qual Lady Gaga se refere, é a faixa que encerra o famoso “The Dark Side of The Moon”, sendo calma e sem muitas modificações em estúdio. A música é considerada uma espécie de continuação da faixa "Brain Damage", devido a ausência de intervalo entre o final de uma e o começo de outra, característica unânime em alguns dos trabalhos da banda. Entretanto, são faixas distintas e suas letras também têm significados diferentes.

Considerado um dos primeiros grupos de música psicodélica do Reino Unido, a banda começou sua carreira na vanguarda da cena musical underground de Londres. Durante o final dos anos 1960, a imprensa rotulou sua música como pop psicodélico, pop progressivo e rock progressivo.

"É difícil ver por que fomos escolhidos como o primeiro grupo psicodélico britânico. Nunca nos vimos assim... percebemos que estávamos tocando apenas por diversão e ligados a nenhuma forma específica de música, poderíamos fazer o que quiséssemos. A ênfase [está] firmemente na espontaneidade e na improvisação.” - Richard Wright

Não se restringindo pelos formatos convencionais do rock’n roll, a banda foi inovadora no rock progressivo, principalmente no final da década de 1960 e ao longo da década de 1970, além de adotarem um traço vital à sua sonoridade: o da música ambiente.

A música psicodélica de Pink Floyd possui suas justificativas técnicas para tal: as temáticas líricas das composições, os instrumentais estendidos e independentes e as progressões musicais nada previsíveis, além do fantástico trabalho do guitarrista David Gilmour, considerado o melhor guitarrista dos anos 1970 e de todos os tempos.

Entretanto, o que torna a sonoridade de Pink Floyd única e tão avassaladora são suas experimentações sonoras.

Sons como risadas macabras ou de alívio, telefones sem linha, trechos de filmes antigos, barulho de passos, relógios, caixas registradoras, hélices de helicóptero e muitos mais são frequentemente encontrados ao longo das faixas dos álbuns da banda, impondo ao seu ouvinte uma experiência que ultrapassa a da sonoridade, propondo que sua imaginação crie uma ambiência própria para cada canção.

Há a frequente utilização de sintetizadores, dispositivos quadrafônicos e técnicas para simular efeitos tridimensionais nas canções. O grupo usou diversos efeitos sonoros inovadores de gravação de áudio de ponta durante suas gravações, além das experimentações para manipular o som amplificado da banda, combinado com fitas gravadas, projetando os sons em 270 graus em torno de um local, obtendo um efeito de turbilhão sônico em algumas apresentações e em gravações em estúdio.

Além disso, utilizando uma fita estéreo convencional para produzir um efeito que parecia mover o som ao redor da cabeça do ouvinte quando eles usavam fones de ouvido, a engenharia sonora de grande parte dos álbuns do Pink Floyd permitiu que fosse simulada a movimentação do som para trás, acima ou ao lado dos ouvidos do ouvinte.

Se analisarmos atentamente a discografia de Lady Gaga, muitos traços da sonoridade de Pink Floyd são encontrados nas músicas da artista. Não nos quesitos técnicos musicais, mas resquícios de algo alucinógeno, beirando o extravagante e mergulhado no excêntrico.

O abrir de uma garrafa de champagne e o encher de uma taça no início de “Donatella”, o barulho de fauna selvagem ao longo de “Babylon”, os sinos clericais em “Marry The Night”, as batidas de um coração no início da incomparável “The Edge of Glory” e as risadas femininas no final de “Grigio Girls” são traços da música psicodélica que Lady Gaga tanto admira.

Um dos vários exemplos de utilização de elementos para além dos musicais nas músicas da banda são as faixas iniciais do álbum “The Dark Side of The Moon” (1973), que se completam. “Speak to Me” e “Breathe (In the Air)” dão o pontapé inicial em um dos melhores álbuns de todos os tempos.

Liricamente, há muito do estilo Art Rock em Pink Floyd. As músicas do álbum “The Piper At The Gates Of Dawn” (1967), primeiro da banda, possuem como temáticas as que remetem a fantasias e nostalgias, como objetos da infância, seres místicos, energia da natureza e contos de fadas.

"Seus interesses são verdade e ilusão, vida e morte, tempo e espaço, causalidade e chance, compaixão e indiferença". - Jere O’Neill Surber

A morbidez muitas vezes é encontrada na sonoridade da banda, tópico que também pode ser comparado à Gaga. Em faixas como “Angel Down”, “Fun Tonight” e “Dope”, por exemplo, o quesito do existencialismo e da reflexão sobre seu eu interior é extremamente aparente. O olhar para si, para seu próprio âmago, é o que moveu e move muitos sucessos de Pink Floyd, como, por exemplo, o sucesso “Comfortably Numb”, terceiro single do álbum “The Wall” (1979).

Extremamente filosóficas, sombrias e existencialistas, as letras das canções da banda percorrem desde temáticas como a alienação e o não-ser a até distopias e opressão. Com um viés político, as composições da banda muitas vezes criticavam o cenário político da época de lançamento.

O décimo álbum da banda, “Animals” (1977), por exemplo, independente das mudanças que traz para a discografia do grupo no momento, faz críticas às condições político-sociais da Inglaterra dos anos 1970. Muito do que foi feito no rock da segunda metade da década de 1970 tem como plano de fundo letras que exploram as suas preocupações sobre a desigualdade, o preconceito e as atitudes sociais.

Há, nesse sentido, muito de social nas músicas de Lady Gaga. Não necessariamente político, mas discursos com foco na autoaceitação, igualdade e luta LGBTQIA+. O que une a banda e a cantora, para além daqueles citados, é o senso provocativo; aquele que, por meio da música, suscita debates.

Tanto Lady Gaga quanto a banda Pink Floyd já trabalharam com cinema, especificamente em trilhas sonoras. Enquanto Gaga é responsável pela trilha sonora do quarto remake do clássico “Nasce Uma Estrela” e pela canção “Till It Happens To You” para o documentário “The Hunting Ground”, o grupo britânico compôs várias trilhas sonoras para filmes, começando em 1968, com ‘The Committee’. No ano seguinte, eles gravaram a trilha sonora do filme “More”. Em 1971, a banda trabalhou na trilha do filme “La Vallée”, para o qual eles lançaram um álbum chamado “Obscured by Clouds” (1972). Após seu lançamento, tornou-se o primeiro álbum da banda a entrar no top 50 da Billboard 200.

Ao comporem a trilha sonora do filme “Zabriskie Point”, houve um descarte de uma das canções que originalmente faria parte da musicalidade do filme. A então “The Violent Sequence” mais tarde se tornou a excepcional "Us and Them", incluída no “The Dark Side of the Moon”. Com 7 minutos e 50 segundos, é a maior música do álbum.

Independentemente dos conflitos entre os membros da banda, mudanças de liderança ao longo dos anos e divergências internas, Pink Floyd é inigualável e grandiosa, uma das maiores bandas de todos os tempos. E possui um paralelo indiscutível com a discografia e o modo de ser de Lady Gaga: a qualidade, o exotismo e a ousadia.

PLAYLIST - LADY GAGA E SUAS INFLUÊNCIAS

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