Cada geração de artistas é única, ímpar e sempre antecedida por outra, tão grandiosa quanto. Em um momento, uma geração é a influenciada por sua antecessora; em um outro, é ela a base para uma outra e nova geração de astros. Esse ciclo de inspiração na música é normal, frequente e esperado, também ditando o que influenciará os artistas do presente, como acontece com Lady Gaga.

Nessa nova série de especiais, serão discutidas quais são as grandes influências da cantora entre os artistas que tiveram seu auge no passado, expondo seus principais pontos de inspiração, semelhanças artísticas e comparações quanto suas sonoridades e posturas enquanto influenciadores mundiais.

Em seu novo álbum de estúdio, Lady Gaga traz uma mistura de gêneros musicais. Dentre eles, uma das principais sonoridades faz referência à música disco e, quando se fala de música de discoteca, não há outro paralelo feminino solo a ser feito senão com a Rainha da Disco Donna Summer.

Em toda sua carreira, Donna Summer vendeu mais de 200 milhões de discos. Foi a primeira artista a ter três álbuns duplos consecutivos a atingir o primeiro lugar nas paradas da Billboard nos Estados Unidos. Além disso, teve quatro singles que atingiram o #1 Billboard Hot 100, todos eles em um período de 13 meses. Em toda sua carreira, a cantora conseguiu emplacar 42 canções no chart.

Ela conquistou um hit no top 40 em todos os anos entre 1975 e 1984 e, desde seu primeiro hit no top 10 em 1976 até o final de 1982, ela teve 12 hits no top 10 (sendo 10 deles entre os cinco primeiros), mais do que qualquer outro artista no período.

Summer foi a primeira mulher negra a ser indicada ao MTV Video Music Award. Além disso, permaneceu na parada de músicas da Billboard Dance/Club ao longo de toda sua carreira e alcançou 19 singles em primeiro lugar no chart. Seu último álbum de estúdio, “Crayons” (2008), gerou três sucessos #1: "I'm a Fire", "Stamp Your Feet" e "Fame (The Game)". Em maio de 2012, foi anunciado que "I Feel Love" foi incluído na lista de gravações preservadas do Registro Nacional de Gravações da Biblioteca do Congresso e no ano seguinte Donna Summer entrou para o Hall da Fama do Rock’n Roll, o qual a credita como a “primeira diva verdadeira da era pop moderna".

Se os anos 1980 tiveram Madonna, se a década de 1990 fechou com chave de ouro com Britney Spears e Mariah Carey e se o século XXI conta com Lady Gaga, Beyoncé, Katy Perry, Rihanna e outras grandes artistas, os anos 1970 teve, como um dos grandes e mais famosos expoentes femininos na música, Donna Summer.

A artista se tornou um ícone cultural e sua proeminência nas paradas de dança, pelas quais foi dada como a Rainha da Disco, a fez não apenas uma das vozes definidoras daquela época, mas também uma influência para artistas pop que viriam a surgir nas décadas seguintes, de Madonna a Lady Gaga. Ao contrário de algumas outras estrelas da discoteca que desapareceram à medida que a música se tornou menos popular com o passar dos anos 1980, Summer foi capaz de crescer além do gênero e seguiu para um som pop-rock, de certa maneira retornando à sua sonoridade inicial.

O que poucos sabem é que Donna Summer iniciou sua carreira fora da música disco, com álbuns que representam o rock da década de 1970. Entretanto, tendo seus anos de glória na segunda metade da década de 1970, no auge da música disco, a artista adaptou-se perfeitamente aos gêneros em alta, tornando-se um grande expoente e um nome definitivo daquela geração. Seu primeiro sucesso foi a canção “Lady of The Night”, faixa de abertura do álbum de mesmo nome (1974).

E, assim como Lady Gaga, Donna Summer foi extremamente criticada em seu início de carreira. Enquanto que Gaga foi muitas vezes acusada de extravagante demais, de estranha ou até mesmo de ter relação com “forças malignas” para religiosos fervorosos, Donna Summer foi, como resposta ao seu hit de 1975 “Love To Love You Baby”, taxada de vulgar e imoral. A razão disso foi que a canção foi considerada muito sexy e vulgar, pois fala sobre sexo e é cantada em um tom sussurrado, que Donna explicou ter sido inspirado por Marilyn Monroe. Além disso a música é cheia de gemidos e sensualidade. Décadas após seu lançamento, a canção foi sampleada por Beyoncé na faixa “Naughty Girl”.

Com visuais e maquiagens extravagantes, Donna Summer foi uma tendência invejável dos anos 1970, pois conseguiu se lançar como uma das maiores estrelas de uma época, seja por sua sonoridade ou por sua imagem. Afinal, como bem afirma sua descrição para o Hall da Fama do Rock’n Roll, a cantora é uma das precursoras do que hoje são consideradas as “divas do pop”.

A mesma já se pronunciou sobre Lady Gaga em uma entrevista no backstage de uma de suas apresentações no final dos anos 2000, provavelmente uma das últimas antes de sua morte, em 2012.

Acho que Lady Gaga tem muito talento, uma veia artística. Não conheço sua história, mas pelo que eu posso ver ela é muito artística, tem muita arte em si” - Donna Summer

Para o mundo ocidental dos anos 1970, a música disco, incluindo seus principais representantes, era extremamente ligada às populações marginalizadas e minorias sociais, dentre elas a população negra, feminina e LGBTQIA+. As músicas de Donna Summer, mesmo ela sendo mulher e negra, era reconhecida como hinos da comunidade LGBTQIA+, já que eram grande febre em discotecas e locais próprios da comunidade.

Além de também ser um ícone LGBTQIA+, Lady Gaga tem outro atributo igual ao de Donna Summer: a união junto a outros ícones da comunidade para o lançamento de músicas de destaque. Enquanto que Gaga possui “Rain On Me” com Ariana Grande e “Telephone” ao lado de Beyoncé, talvez Donna Summer e Barbra Streisand foram as protagonistas da primeira colaboração de sucesso de dois ícones LGBTQIA+ no pop internacional.

A canção “No More Tears (Enough is Enough)” alcançou o #1 na Billboard Hot 100 em 24 de novembro de 1979, tornando-se o quarto single de ambas as cantoras no topo das paradas nos EUA e número #1 por quatro semanas na parada disco. A canção também foi um grande sucesso internacional e alcançou o top 3 no Canadá e no Reino Unido. Infelizmente, Donna Summer e Barbra Streisand nunca apresentaram juntas ao vivo a canção.

Em 1983, como parte do acordo judicial assinado com a Casablanca Records, Summer lançou o álbum “She Works Hard for the Money”, com produção de Michael Omartian. O que deveria ser apenas uma obrigação, transformou-se num estrondoso sucesso.

Em termos de canções representativas para além da comunidade LGBTQIA+, Donna Summer possui o sucesso de mesmo nome de seu décimo primeiro álbum. “She Works Hard For The Money” é uma música que se tornou um hino para os direitos das mulheres. A música alcançou #3 na Billboard Hot 100 e #1 no chart Billboard R&B singles.

Tanto Donna Summer quanto Lady Gaga estrelaram filmes e foram extremamente aclamadas por seu desempenho. Gaga estrelou o quarto remake de “Nasce Uma Estrela” em 2018 e conquistou, além de uma indicação na categoria de Melhor Atriz no Oscar, venceu na categoria Melhor Canção Original pela sucesso “Shallow”.

Pelo filme “Thank God It’s Friday” (1978), comédia norte-americana musical com temática disco, Donna Summer interpretou Nicole Sims, uma aspirante a cantora. No filme, a artista apresenta a canção “Last Dance”, a qual tornou-se um grande sucesso e crítica e de vendas e um dos carros-chefes da carreira de Donna Summer.

Além de alcançar #3 na Billboard Hot 100 e conquistar um Grammy na categoria Best Female R&B Vocal Performance, a canção é vencedora de um Oscar na categoria Melhor Canção Original.

Em 2020, Lady Gaga lançou seu sexto álbum de estúdio, “Chromatica”. Na obra, a cantora resgata diversas sonoridades famosas no passado, como o dancepop, house music e synth-pop, e as mescla com uma das promessas da música: o gênero EDM. Nesse sentido, um dos gêneros que Lady Gaga resgata e explora em seu novo álbum é o disco, justamente o gênero pelo qual Donna Summer é extremamente famosa e conhecida, além de um expoente.

Diversas faixas do “Chromatica” são bastante próximas ao modo como álbuns de Summer pós-1976 soam, contando com um forte quê disco, como “Alice”, “Rain On Me”, “Plastic Doll”, “Replay” e “Babylon”. Para além disso, não é a primeira vez que Lady Gaga faz referência à discotecas dos anos 1970 e 1980. A Mother Monster já tratou sobre a temática em seu primeiro álbum de estúdio, “The Fame” (2008), especificamente na faixa “Disco Heaven”.

Lady Gaga e Donna Summer compartilham de vários pontos em comum: de divas pop, representantes de uma comunidade a até uma carreira consolidada de vários anos de reconhecimento de crítica e de vendas. Se o mundo conheceu o fenômeno Donna Summer no final dos anos 1970, ele vivenciou algo semelhante com o estouro de Lady Gaga no final da década de 2000, trinta anos depois. Seja no disco ou no pop, ambas são sinônimos de renovação, continuidade e músicas definidoras de uma época. Afinal, “this is their dancefloor, they fought for”.

PLAYLIST - LADY GAGA E SUAS INFLUÊNCIAS

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