Cada geração de artistas é única, ímpar e sempre antecedida por outra, tão grandiosa quanto. Em um momento, uma geração é a influenciada por sua antecessora; em um outro, é ela a base para uma outra e nova geração de astros. Esse ciclo de inspiração na música é normal, frequente e esperado, também ditando o que influenciará os artistas do presente. É assim com Lady Gaga.

Nessa série de especiais, serão discutidas quais são as grandes influências da cantora entre os artistas que tiveram seu auge no passado e seus porquês, expondo seus principais pontos de inspiração, semelhanças artísticas e comparações quanto às sonoridades e posturas enquanto influenciadores.

E uma artista com uma sonoridade tão única como a de Lady Gaga não é somente inspirada por artistas surgidos no século passado. Como uma de suas maiores - senão a maior - influências da música norte-americana, o 13ª episódio do Lady Gaga e suas Influências traz a inconfundível estrela do jazz, e conhecida como a Nova Rainha do Soul, Amy Winehouse.

Amy Winehouse é considerada por especialistas como a responsável pela revolução a que se assistiu na música soul dos anos 2000. A cantora apareceu por dois anos consecutivos, 2006 e 2007, na "Lista dos Mais Populares" da NME, além de eleita a "heroína suprema" dos britânicos pela Sky News em 2008, com base em uma pesquisa realizada entre pessoas com menos de 25 anos de idade. A artista foi incluída na lista "Personalidades Mais Influentes da Música" do periódico The Evening Standard em 2008 e ocupou a primeira posição entre as cantoras internacionais que mais venderam em território brasileiro, de acordo com a revista Veja, com mais de 500 mil álbuns comercializados, tornando-se recordista de vendas no país.

Apesar de sua curta discografia, Winehouse vendeu mais de 40 milhões de álbuns e singles em todo o mundo. Após o falecimento da cantora, o álbum “Back to Black” (2006) tornou-se o disco mais vendido do século XXI no Reino Unido. Posteriormente, foi lançada a compilação “Lioness: Hidden Treasures” (2011), que dividiu os críticos musicais e registrou boas vendagens. Em 2012, a cantora entrou para a lista "100 Grandes Mulheres na Música", do VH1, na 26ª colocação. Em 2015, foi lançada a cinebiografia Amy: The Girl Behind The Name, que retrata a trajetória de Winehouse, recebendo aclamação dos críticos e atingindo recordes de bilheteria em território britânico.

Sem Amy Winehouse, não haveria Adele, nem Duffy, nem Lady Gaga. Foi ela quem moldou o cenário musical atual mesmo depois de ter-se afastado da música [...] Graças a ela, artistas do sexo feminino tornaram-se credíveis e tiveram voz [...] Amy não introduziu somente um som totalmente novo, ela introduziu uma atitude completamente nova.” - The Independent

"Amy mudou a música pop para sempre [...] e representou uma espécie de 'gripe' para a música pop. E todos têm um pouco de 'gripe' e apaixonaram-se por Amy Winehouse. E, agora, quando aparecem outros tipos de 'gripe', as pessoas são menos intolerantes". - Lady Gaga

Em sua fala acima, Lady Gaga atribui a mudança no mercado mainstream nos anos 2000 e a aceitação do público em relação a artistas não-convencionais a Amy Winehouse. Indiretamente, Lady Gaga faz referência ao fato dela mesma já ter sido um tipo de “gripe” na música, algo “fora da curva” ou inicialmente inaceitável, digno de desprezo. Ela foi como Amy Winehouse já fora antes: uma cantora pop estética e/ou estilisticamente ímpar, fora de um padrão estabelecido como normal para as mulheres na música pop internacional na década de 2000.

Em seu início de carreira, é nítido o paralelo de sonoridades entre Amy Winehouse e a então Stefani Germanotta. Mesclando sonoridades como as do glam rock, blues e R&B, ambas as artistas conseguiram se firmar no mundo da música com sua própria marca.

Em seu primeiro álbum de estúdio, “Frank” (2003), Amy Winehouse soa muito paralelamente à Lady Gaga antes da fama, isto é, às primeiras composições da cantora, quando a mesma ainda atuava no cenário underground de Nova Iorque. Seja pelo tom de uma voz ainda em evolução (por conta da idade ou ausência de grande técnica vocal) ou pela sonoridade R&B característica dos anos 2000, as canções “Stronger Than Me” e “I Heard Love Is Blind” são muito comparáveis às músicas de Lady Gaga em seu primeiro extended player ainda com seu nome verdadeiro enquanto membro da Stefani Germanotta Band, “Red and Blue” (2007).

Quando Amy Winehouse faleceu, em julho de 2011, Lady Gaga se pronunciou sobre a sua morte. A cantora chegou a afirmar em entrevista a um programa matinal norte-americano que não conseguiu falar por dois dias devido ao choque da notícia.

"Fiquei tão devastada e tão triste que realmente não consegui falar por 48 horas. Estava em estado de choque. [...] Todo mundo era tão duro com ela. E tudo que sabia era que ela sempre foi a mulher mais agradável e gentil com todos. - Lady Gaga

Quando completaram-se 6 anos do falecimento da cantora, em 2017, Lady Gaga publicou uma mensagem em homenagem a mesma em sua conta no Twitter.

"Todos nós sentimos falta de você e da sua voz, Amy. Bom momento para lembrar de tratar as pessoas que amamos com dignidade e respeito. Que talento!"

Neste ano, no dia em que Amy Winehouse completaria 37 anos, Lady Gaga a homenageou ao publicar uma foto da cantora em seu Instagram, com a legenda “Você era a melhor”.

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❤️you were the best

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Quantos aos rumores de que Lady Gaga interpretaria Amy Winehouse em sua possível cinebiografia surgidos anos atrás, o pai da artista desmentiu todos eles. Ainda que o projeto esteja em suas etapas iniciais, seu pai afirmou que Gaga "não fala o nosso tipo de inglês". Ele ainda afirmou que não se importaria de ver uma desconhecida vinda de Londres, com sotaque cockney e alguma semelhança com Amy assumindo o papel.

No documentário "Gaga: Five Foot Two", Lady Gaga fala sobre sua performance no VMA 2009 e sobre como alguns artistas se tornaram vítimas da fama. Em certo ponto, ela cita alguns nomes e, por algum motivo, não menciona claramente o nome de uma artista, confirmada pelo diretor Chris Moukarbel como Amy Winehouse.

No início da carreira, quando tinha ainda cabelos pretos, Gaga era constantemente comparada com Amy. Lady Gaga já afirmou usar delineados longos e pretos como sua inspiração usava em vida.

Nesse sentido, Amy Winehouse era uma artista um visual único, extremamente característico, composto por um alto penteado em forma de colmeia e forte sombra preta nos olhos, transformou-a em, assim como é Lady Gaga, um ícone fashion reconhecido por influentes marcas de moda.

O visual de Amy Winehouse reunia diversos elementos que deixavam explícitas suas influências. O penteado inspirado nos anos 1950 e 1960, chamado beehive, o forte delineador inspirado pelas Ronettes, o piercing acima do lábio e as treze tatuagens, incluindo o desenho de uma Betty Boop em sua nádega, a transformaram em um ícone.

Quando estreou no cenário musical em 2003, Amy Winehouse era tímida, usava recatados vestidos e maquiagem pouco extravagante e não exibia sinais da transformação pela qual passaria anos mais tarde. Mitch Winehouse, pai da artista em sua biografia, revelou as inspirações para o estilo excêntrico da cantora com o passar dos anos. Segundo ele, a mesma teria ficado fascinada pela maneira de se vestir das garotas latinoamericanas.

"Quando retornou para Londres, Amy comentou empolgada sobre algumas garotas latinoamericanas que avistara em Miami e sobre como ela almejava misturar o visual delas — grossas sobrancelhas, forte sombra para olhos e vívido batom vermelho — à sua paixão dos anos 1960, o penteado beehive". - Mitch Winehouse

O visual da cantora não se tornou popular somente nos meios de comunicação, mas mas se tornou um fenômeno. Em 2007, por exemplo, o site Brooklyn Vegan relatou que a maneira de vestir-se da cantora foi a fantasia de Halloween mais popular do ano, enquanto o The Independent revelou que o seu penteado foi um dos mais imitados pelas mulheres britânicas àquele ano. Em uma pesquisa realizada com e divulgada pelo Daily Mail, em 2015, o penteado da cantora foi eleito o segundo mais emblemático da música contemporânea, atrás apenas de Elvis Presley.

A estrela que todos os fotógrafos badalados desejam pôr diante de suas lentes sujas, em razão do seu 'exótico' e instantaneamente reconhecível estilo" - Alexandra Shulman

Musicalmente, assim como Lady Gaga, Amy Winehouse era extremamente eclética. O jazz é uma das principais raízes de ambas as artistas. O desencanto de Winehouse com a música contemporânea, em relação aos clássicos que crescera ouvindo, inspirou-a a realizar as suas primeiras composições.

Enquanto que Lady Gaga já expressou diversas vezes seu amor pelo jazz, tendo até mesmo já gravado um álbum de estúdio no gênero e feito diversas outras apresentações em homenagem ao gênero, incluindo uma residência em Las Vegas, ambas foram introduzidas ao jazz de Frank Sinatra e Tony Bennett e à música negra norte-americana de Ray Charles, Stevie Wonder e Aretha Franklin ainda crianças.

No entanto, Amy Winehouse descobriu o seu estilo, nas palavras da própria, por volta dos onze anos, ao ouvir pela primeira vez o hip hop e o R&B das Salt-n-Pepa e das TLC. Músicos pop ofereciam pouca atração para a jovem e a sinceridade das letras dos principais grupos de garotas dos anos 1990 era o que mais atraia a sua atenção.

"Eram mulheres reais, que não tinham medo de falar sobre os homens, conseguiam tudo o que queriam e falavam sobre garotas as quais não gostavam" - Amy Winehouse

Os críticos musicais são unânimes em reconhecer Amy Winehouse como a responsável por resgatar estilos antigos e revigorar a música britânica. E, assim como Lady Gaga, as composições da cantora eram constantemente duais: se não irônicas, sensuais e satíricas, cheias de profundidade e muito pessoais.

Desde a sua estreia com Frank, Amy Winehouse foi avaliada em função da sinceridade, originalidade e sarcasmo de suas letras, e os seus textos foram reconhecidos como autobiográficos. A cantora revelou que começou a escrever as suas próprias canções como uma maneira de expressar-se e, portanto, as suas composições adquiriram tons pessoais.

Entretanto, a personalidade autodestrutiva que viria a se transformar nas canções de seu segundo álbum de estúdio é perceptível em canções como "Amy Amy Amy" e "What Is It About Men?".

Independente de seu fim de vida conturbado, Amy Winehouse viveu-a intensamente - e a prova disso é seu trabalho na música, com tamanha profundidade, qualidade e personalidade. Mulheres fortes influenciam umas às outras e, mesmo que com tamanhas particularidades, Amy Winehouse e Lady Gaga são personas muito próximas, de consonâncias extremamente aparentes: desde artistas “fora da caixinha” a até pilares da atual música pop internacional.

PLAYLIST - LADY GAGA E SUAS INFLUÊNCIAS

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