Cada geração de artistas é única, ímpar e sempre antecedida por outra, tão grandiosa quanto. Em um momento, uma geração é a influenciada por sua antecessora; em um outro, é ela a base para uma outra e nova geração de astros. Esse ciclo de inspiração na música é normal, frequente e esperado, também ditando o que influenciará os artistas do presente. É assim com Lady Gaga.

Nessa série de especiais, serão discutidas quais são as grandes influências da cantora entre os artistas que tiveram seu auge no passado e seus porquês, expondo seus principais pontos de inspiração, semelhanças artísticas e comparações quanto às sonoridades e posturas enquanto influenciadores.

No 17° episódio do Lady Gaga e suas Influências, a diva atual será comparada a uma diva do passado. Com diversos traços em comum, desde suas carreiras no cinema, vozes próximas em seus inícios, representantes de minorias a até músicas sampleadas, Lady Gaga e Diana Ross possuem mais pontos em comum do que parece.

Diana Ross foi nomeada a "Artista Feminina do Século" pela Billboard em 1976. Ela é a única artista feminina a ter diversos singles em #1 na Billboard Hot 100 como artista solo, como a outra metade de um dueto, como membro de um trio e como um membro de conjunto. Além disso, a Billboard a classificou como a 28º maior artista do seu ranking musical Hot 100 de todos os tempos. Diana Ross está entre os 5 melhores artistas na parada de singles da revista de 1955 a 2018, ao combinar seus sucessos solo e enquanto membro do grupo The Supremes.

A cantora teve ao menos um hit do Reino Unido no Top 10 em cada uma das últimas cinco décadas e possui ao menos um single Top 75 uma vez por ano, de 1964 a 1996 no Reino Unido, um período de 33 anos consecutivos e um recorde para qualquer artista. Em 1988, foi introduzida ao Hall da Fama do Rock’n Roll. Na década de 1990, o Livro dos Recordes a reconheceu pelo seu sucesso nos Estados Unidos e no Reino Unido por ter mais sucessos do que qualquer artista feminina nas paradas, com uma carreira total de 70 singles de sucesso com seu trabalho com as The Supremes e como artista solo. Ela recebeu as honras do Kennedy Center em 2007, o prêmio honrário dos Grammys em 2012 e a Medalha Presidencial da Liberdade em 2016.

Com um estrondoso sucesso como atriz, é dona de um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar, além de peça-chave de trilhas sonoras famosas de sucesso durante os anos 1970 e 1980.

A segunda filha dentre seis irmãos, sendo três mulheres e três homens, filhos do operário Fred Ross e da professora Ernestine Earle Ross, Diana nasceu em Detroit, Michigan. “Diana” foi um erro em seu registro de nascimento. A intenção de seus pais era que se chamasse "Diane", nome que continuou a usar até completar 21 anos, antes da fama. Seus amigos ainda a chamam de "Diane".

Assim como Lady Gaga, Diana Ross em sua fase antes da fama doou seu talento para o trabalho de outros artistas. Enquanto Gaga compunha e vendia canções a astros dos anos 2000, Ross realizava palmas e backing vocal para artistas conhecidos, como Mabel John e Marvin Gaye, na famosa Motown Records. A artista chegou a ser secretária do CEO da gravadora da época, Berry Gordy, tendo contato com as grandes figuras da música dos anos 1950 e 1960. Nesse sentido, tanto Lady Gaga quanto Diana Ross foram grandes promessas desde seus inícios de carreira.

“Elevou-se a compensação fora da mesa várias vezes ao dia, olhando para todos os documentos importantes para o futuro sobre sua mesa, esperando que, um dia, ver o meu nome em alguns deles". - Diana Ross em sua autobiografia “Segredos de um pardal” (1993).

Em 1961, Betty McGlown havia sido substituída por Barbara Martin e o quarteto assinou com a Motown Records sob seu novo nome, The Supremes, escolhido por Florence Ballard. Alegadamente, Ballard escolheu o nome "Supremes" porque era o único que não terminava com "ette", sufixo famoso dos grupos femininos da época.

Assim como Gaga, Diana Ross sempre foi muito ligada à moda e ao mundo fashion. Nesse sentido, durante o período de desenvolvimento do grupo, Ross serviu como figurinista do grupo, exercendo trabalhos desde costureira, cabeleireira e maquiadora a até dar ao grupo uma identidade visual própria combinada ao seu som, que as diferenciava dos outros grupos femininos da Motown.

Ross adquiriu cópias das revistas Vogue e Harper's Bazaar, adaptou os estilos retratados às necessidades do grupo, comprou os tecidos necessários, normalmente com Wilson ao seu lado, e recriou os estilos, deixando-os ainda mais fashion. Ross também ensinou às companheiras tudo o que havia aprendido em suas aulas de moda, que deu a todas uma aparência e comportamento novos antes de começarem a ter aulas no "Artista da Motown em Desenvolvimento".

Em 1963, Ross se tornou oficialmente vocalista do grupo, porque Berry Gordy sentiu que o grupo poderia "decolar" para as paradas de sucesso com a qualidade única da voz de Diana. Seu primeiro sucesso, a canção "When The Lovelight Shines Though His Eyes", tornou as The Supremes o primeiro grupo a alcançar o Top 20 da Billboard Pop Single. The Supremes conseguiram também um hit número um com "Where Did Our Love Go".

Entretanto, o grande sucesso do grupo foi a canção “You Can’t Hurry Love” (1966). Escrita e produzida pela equipe de produção da Motown, a canção liderou a parada de singles da Billboard, permaneceu entre as cinco primeiras do Reino Unido naquele ano e ficou entre as 10 primeiras na parada de singles da Austrália. Quando lançada, atingiu o pico no final do verão e início do outono em 1966. Mostrando-se um sucesso atemporal, em 1982 retornou às paradas e retornou ao #1 no Reino Unido quando Phil Collins regravou-a.

A Billboard nomeou a música em 19º lugar em sua lista das 100 Melhores Canções de um Grupo Feminino de Todos os Tempos. Além disso, a BBC classificou-a em 16º lugar no Top 100 Digital Motown Chart, que é baseado exclusivamente em todos os downloads e streams de lançamentos da Motown no Reino Unido.

Já desde o início da década de 1970, já em carreira solo, Diana Ross foi uma das grandes representantes da música pop internacional da sua época, ao lado de Cher, Elton John, Donna Summer, Queen, Stevie Wonder e outros. Foi Diana uma das grandes expoentes femininas da segunda metade do século XX, para além da música. Como, por exemplo, na moda.

Ela singularmente transformou a indústria da moda com seu glamour luxuoso e cintilante. Suas perucas gigantescas, seus casacos de pele, vestidos de lantejoulas brilhantes. Não somente os palcos e a indústria da música se curvavam para Diana Ross, mas também a indústria da moda, quando fez sua presença ser sentida na década de 1960 e seu legado de estilo continua até hoje nos tapetes vermelhos. Muito do que é Lady Gaga atualmente, nos quesitos de modas e quebra de paradigmas fashions, se deve a Diana Ross e seu senso de moda glamurosamente rebelde, cintilantemente novo.

Musicalmente, mesmo Diana Ross sendo conhecida pelos temas românticos e dançantes, sua voz é sua grande marca. Com uma afinação muito elevada, o que deixou a voz de Ross anasalada e penetrante, diversas canções de Lady Gaga em seu início de carreira, como “Summerboy” ou “Eh Eh (Nothing Ese I Can Say)”, lembram a forma de Diana cantar em seus tempos de ouro.

Além disso, Diana Ross é uma das grandes representantes femininas a adentrarem à música disco. Um de seus principais álbuns, “The Boss” (1979), mistura sonoridades de seu início de carreira com o que estava a se fazer no momento. Dentre os hits do trabalho de Ross do final da década de 1970, encontram-se “The Boss”, “No One Gets The Prize” e “It’s My House”. Esta última foi sampleada pela própria Lady Gaga em seu último álbum de estúdio, “Chromatica” (2020), na faixa “Replay”.

Para além de terem a característica musical em comum de retornarem sempre às suas origens na música, Lady Gaga e Diana Ross possuem ambas músicas de empoderamento de minorias. Enquanto que Gaga conta em sua discografia com a música “Born This Way”, que fala sobre a causa LGBTQIA+ e prega o amor próprio, Ross é dona do hitI’m Coming Out”, do início dos anos 1980.

Nile Rodgers, co-escritor e co-produtor da canção, disse que se inspirou para escrever a canção após ter ido à uma discoteca da Califórnia e lá ver inúmeras drag queens fantasiadas de Diana Ross. Ross, nessa época, já se autodenominava um ícone da comunidade gay, assim como Lady Gaga.

Lady Gaga é ganhadora de dois Globos de Ouro e um Oscar, enquanto que Diana Ross é vencedora de um Globo de Ouro e possui uma nomeação ao Oscar. Nesse sentido, ambas possuem sucesso longe dos palcos da música e dentro dos sets de filmagem.

No final de 1971, a Motown anunciou que Diana Ross iria retratar a cantora ícone do jazz Billie Holiday em um filme produzido baseado em sua autobiografia escrita em 1956 por William Dufty e pela própria Billie. Imediatamente, os críticos ridicularizaram Diana no papel, pois foi considerada "a milhas de distância" no estilo vocal e na aparência de Billie Holiday. Destemida, Diana mergulhou na música e história de vida de Billie Holiday.

Estreado em Outubro de 1972, “Lady Sings the Blues” foi um sucesso fenomenal, e o desempenho de Diana Ross recebeu críticas favoráveis universalmente. Em 1972, logo após as filmagens de “Lady Sings the Blues”, Diana gravou um álbum de jazz, assim como Lady Gaga, que foi arquivado pela Motown Records, pois queria que Ross voltasse à música pop.

Em 1975, Diana novamente co-estrelou com Billy Dee Williams no filme da Motown “Mahogany” (1975). A história de uma aspirante a designer de moda que se torna uma modelo de passarela. Além disso, Diana participou do musical norte-americano “The Wiz” (1978) e estrelou o filme “Out of Darkness” (1994), com ambas performances extremamente elogiadas pela crítica e pelo público em geral.

Dentre os filmes que participou, Diana Ross também participou da produção e criação de suas trilhas sonoras. Além de ter gravado um álbum ao vivo para o filme “Lady Sings the Blues”, a cantora possui em seu repertório do sucesso “Endless Love”, dueto com Lionel Richie para a trilha sonora do filme de mesmo nome. A canção é conhecida por ser o grande sucesso solo do cantor, responsável por impulsionar e motivar sua carreira solo fora do grupo The Commodores.

Diana Ross não é só um ícone, mas também uma artista que nos permite diversos paralelos com Lady Gaga. Desde suas similaridades de início de carreira a até seus sucessos no cinema, Diana e Gaga são, para além de artistas completas, versáteis e ambiciosas, personas de grande carisma e vitalidade dentro e fora da mídia - para sempre.

PLAYLIST - LADY GAGA E SUAS INFLUÊNCIAS

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