Com a última semana extremamente agitada, tivemos a oportunidade de finalmente voltar ao Planeta Chromatica e ouvir o novo álbum de remixes de Lady Gaga, "Dawn of Chromatica".

Produzido por Bloodpop, o projeto reúne faixas do álbum "Chromatica" remixadas por diversos artistas, dentre eles a drag queen e cantora brasileira Pabllo Vittar na faixa "Fun Tonight".

E para a grande surpresa de todos, o lançamento do projeto, que ocorreu na última sexta-feira (03), veio acompanhado de um ótimo desempenho, se tornando o álbum de remixes com a melhor estreia da história no Spotify além de ter "Fun Tonight" como o maior debut internacional de 2021 na plataforma aqui no Brasil (você pode conferir todos os desempenhos de lançamento do álbum aqui).

O site australiano de entretenimento Junkee divulgou na tarde desta terça-feira (07) uma matéria sobre "Dawn of Chromatica". Demonstrando sua admiração pelo trabalho e pela recepção que o álbum teve, o site destacou a influência musical que a cantora SOPHIE (que infelizmente veio a falecer em janeiro deste ano) proporcionou ao projeto.

Segundo Sam Murphy, compositor e redator do artigo, "[o álbum] é tão estranho que você fica sempre perplexo. Alguns dos sons não apresentarão de forma favorável, mas esse pode ser exatamente o ponto - o experimento de tudo isso é se a espinha dorsal emocional do Chromatica permanece quando os sons se confundem."

Confira abaixo a tradução completa:

O álbum ‘Chromatica’ Remix de Lady Gaga revela o potencial eletrizante do original

No final de ‘Sine From Above’ de Lady Gaga no Chromatica, o crescimento desordenado da balada EDM poderosa explode em uma batida estridente de bateria e baixo. É inesperado e ríspido, mas traz uma adrenalina emocionante.

Gaga é uma das poucas artistas que abraça esses desvios chocantes — ela tem feito isso desde o início de sua carreira, unindo melodias clássicas do pop com produções modernas.

Dito isso, tirando o respiro glorioso de ‘Sine From Above’, Chromatica jogou dentro das regras. A produção, entregue nas mãos de seu colaborador e amigo Bloodpop, amolou algumas pontas afiadas que poderiam ter brilhado mais. E faz sentido. Gaga é uma mega estrela, afinal, não uma artista hyperpop satisfazendo nichos na internet.

Quando Bloodpop anunciou que um álbum de remix estava em andamento no início do ano, pareceu uma chance de cavar mais profundamente no mundo de Chromatica. Ouví-lo na sua forma primitiva.

Nos últimos meses, Bloodpop juntou colaboradores de forma visível, indo e voltando no Twitter, um por um, formando uma lista de alguns dos maiores e mais novos visionários do pop. O álbum de remix chegou agora com uma trilha sonora que inclui Charli XCX, Rina Sawayama, Arca, e mais.

Geralmente, remixes pop são focados em impulsionar uma música mais para o topo dos charts desde Ariana Grande se juntando ao The Weeknd em ‘Save Your Tears’ até Megan Thee Stallion se juntando ao BTS em ‘Butter’. Dawn Of Chromatica não é assim, no entanto. É uma chance de explorar Chromatica sem fronteiras — tirando o olho dos charts e olhando em direção ao futuro do pop.

O Passado, o Presente e o Futuro do Pop

“Eu te convido a dançar esse álbum celebrando os jovens artistas ao redor do mundo,” Gaga escreveu anunciando o álbum. “Artistas que veem o mundo, sentem o mundo e colocam sentimento em algo maior que todos nós: a música.”

Essa é uma artista que está prestes a lançar seu segundo álbum, Love For Sale, com a lenda do jazz Tony Bennett. Ela sempre foi uma artista que respeita a linhagem da música, enquanto marcha ousadamente para outros planetas em seu próprio trabalho. O colaborador de Gaga e super estrela do EDM, Madeon, traduziu isso da melhor forma, tuitando: "Em quatro semanas ela vai de um álbum dançante com batidas extremamente aceleradas para um álbum de clássicos de jazz com Tony Bennett. Que estrela pop extraordinária.”

Dawn Of Chromatica vive em um mundo diferente de Love For Sale, unindo um grupo de artistas que já foram inspirados por Gaga e que já inspiraram a própria Mother Monster. Eles não são artistas tradicionais, mas estudantes da música pop absurda e moderna de Gaga; eles a usaram como modelo para expandir os horizontes do pop.

Não há uma música em “Dawn Of Chromatica” que encontraria um lugar na rádio em 2021, com exceção, talvez, do potente remix de “Free Woman” por Rina Sawayama. Todo o álbum é barulhento e espalhafatoso, mas é excitante ouvir Gaga numa arena sônica que não é inibida pelo que está acontecendo no mainstream. Imagine um mundo onde Gaga tivesse lançado esse como o álbum original, com as batidas pulsantes de Doss no remix de “Enigma”, ou a repaginação obscura e distorcida de “Replay” por Dorian Electra.

Onde o “Chromatica” evitou ir por um caminho mais excêntrico, “Dawn Of Chromatica” abraçou isso. “Chromatica” é um álbum nascido da tristeza que procurava se aliviar através da dança. Perto de seu lançamento, Gaga disse a Paper Magazine: “Eu começava o dia tão mal e terminava ele dançando, olhando no espelho, praticando meus passos, cantando junto.”

Por mais estranho, e até mesmo cômico o “Dawn Of Chromatica” fique, ele sempre mantém aquela tristeza implícita em sua raiz, de olho em dias melhores. “Eu olho para Vênus e procuro por um lugar / E procuro por um lugar / e as vezes eu me odeio,” canta Charli XCX em seu remix de “911”. “Se tudo está ficando cada vez mais difícil / aumente o som, festeje ao som da Gaga,” ela conclui em um dos momentos mais triunfantes do álbum. Porém, longe da batida constante da original, o instrumental de A. G. Cook se deforma e distorce, como se a canção original estivesse se derretendo em uma nova forma.

Enquanto isso, no remix de Pabllo Vittar para “Fun Tonight”, ela justapõe as letras devastadoras e sem esperança com um instrumental influenciado pelo forró, carregado por sons metálicos. É, de alguma forma, esmagadoramente ensolarado e desesperador enquanto Vittar canta “Eu não estou me divertindo essa noite” por cima de uma buzina estridente. Em “Plastic Doll”, Ashnikko duplica a raiva, trazendo um toque emo para a já desafiadora faixa. É fortalecedora e frustrante, impulsionada pelas batidas trituradas, influenciadas pela música trap.

A cada reviravolta, parece que as emoções de Gaga estão sendo ampliadas pela produção mais desafiadora. No álbum original, os sentimentos de confusão emocional de Gaga pareciam fáceis de se agarrar, mas com essa nova produção, isso se torna mais complicado A versão de “Rain On Me” por Arca, por exemplo, emerge de um lamaçal sônico, lentamente revelando a euforia da canção pedaço-por-pedaço. A euforia é mais difícil de acessar, mas, quando ela finalmente chega em seu clímax, com os sintetizadores falhados e vocais repicados, a recompensa é gloriosa. Tristeza, e a sua subsequente cura, nunca são simples.

O Legado de SOPHIE

Alguém que entendeu isso melhor do que a ninguém era SOPHIE. Suas produções eram vanguardistas e desafiadoras, mas a recompensa emocional sempre foi imensa. Quando Dawn Of Chromatica foi lançado, um tweet viral prestou homenagem a SOPHIE, reconhecendo o impacto que teve nesta música pop futuristica que era sua marca.

“Em quase todas as faixas,  senti sua presença, e é importante respeitar seu trabalho, já que TODOS os artistas que estão neste projeto foram influenciados por ela”, dizia o tweet. E é verdade. O movimento Hyperpop - um termo para música pop eletrônica maximalista - pode ser amplamente associado a SOPHIE, e todos os artistas que aparecem aqui exibem um pouco da influência de SOPHIE, desde o gosto de Charli XCX pela tristeza melancólica [nas canções] até o amor de Lil Texas por sons absurdos e inesperados.

SOPHIE inicialmente trabalhou no Chromatica [álbum] com Bloodpop e Gaga. Bloodpop recordou as primeiras sessões em que "[eles] instalaram seis microfones e gravaram o escapamento da Lamborghini [de Gaga], e SOPHIE dividiu em samples [trechos musicais reutilizados em trabalhos posteriores]".

Mesmo que SOPHIE não tivesse créditos de produção no produto final, suas marcas estão por toda parte. Ainda mais no álbum de remixes, onde vários discípulos de SOPHIE apresentam elementos de sua produção emocionalmente deliciosa.

A melhor parte de Dawn Of Chromatica é que parece uma celebração da comunidade. SOPHIE foi fundamental na construção dessa comunidade assim como Gaga. Quando The Fame chegou, quase 15 anos atrás, ela se sentiu como uma estranha na comunidade pop, e quando ARTPOP veio, vários anos depois, ela foi colocada de lado por ir longe demais. Agora, no entanto, ela se juntou a artistas que carregaram a tocha, criando uma comunidade para músicos que seguem seu ritmo criativo, sem se preocupar se ele é encarado como estranho ou incompreensível.

Quer seja a busca incessante de Bree Runway por moda de vanguarda ou a orgulhosa grandiosidade de Sawayama, cada um desses artistas foi empoderado pelo ethos [modo de ser/estar] de Gaga. Isso transparece no remix de Sawayama e Clarence Clarity: "Free Woman", onde Sawayama encontra poder em sua parceria com Gaga. "Vamos lá, Gaga", ela canta no início, antes de mesclarem seus dois versos no refrão. Quando chega a vez de Sawayama entregar um verso original, ela canta: “Fique firme, mesmo quando menosprezado / Sua voz é mais alta, ecoa”.

Dawn Of Chromatica dá a esses artistas não tão comerciais uma plataforma gigantesca e a melhor parte é que é totalmente sem regras. O álbum de remixes é tão estranho que você fica sempre perplexo. Alguns dos sons não apresentarão de forma favorável, mas esse pode ser exatamente o ponto - o experimento de tudo isso é se a espinha dorsal emocional do Chromatica permanece quando os sons se confundem.

“Que som funcionaria aqui para fazer o ouvinte quase se sentir confortável, como se eles já tivessem vivenciado antes”, disse Bloodpop à [revista] Rolling Stone falando sobre a criação de Chromatica. Em Dawn Of Chromatica, o objetivo é o completo oposto. Como eles podem fazer o ouvinte se sentir desconfortável como se nunca tivesse experimentado isso antes?


"Dawn of Chromatica" está disponível em todas as plataformas de streaming. O novo trabalho colaborativo reúne parcerias com Rina Sayawama, Bree Runway, Charli XCX e a cantora e drag queen brasileira Pabllo Vittar.

Ouça em todas as plataformas:

Spotify

Apple Music

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Fonte

Tradução por Vanessa Braz de Queiroz, Miguel Victor e David Luis