Lançado na última sexta-feira (03), o novo álbum de remixes de Lady Gaga, "Dawn of Chromatica", continua sendo avaliado pela crítica e vem recebendo diversas opiniões favoráveis sobre as colaborações presentes no novo projeto.

O portal britânico Pitchfork, conhecido por suas críticas criteriosas relacionadas a álbuns pop, divulgou na madrugada desta quarta-feira (08), sua opinião sobre o "Dawn of Chromatica".

Destacando pontos positivos e negativos do álbum colaborativo, o site deu ao disco nota 6.7/10 e elogiou a faixa "Fun Tonight", que conta com a participação da drag queen e cantora brasileira Pabllo Vittar.

Para o site, a participação de Pabllo e a sonoridade latina "faz uma das músicas mais tristes da memória recente soar como uma ensolarada feira de rua brasileira, uma dissonância atraente."

Leia abaixo a tradução completa:

Um álbum de remixes do épico álbum dançante de 2020 de Lady Gaga é menos que uma imensa coleção de músicas de balada do que uma expansão do universo cinemático de Chromatica, com a colaboração de Charli XCX, Arca, Rina Sawayama, Doss, e mais.

Foi uma tragédia que o Chromatica de Lady Gaga - um álbum feito não apenas para se dançar num local lotado e suado mas para se envolver numa cura comunitária - foi lançado em um momento que só poderia ser curtido em isolamento. O momento de Dawn of Chromatica parece menos uma tragédia do que uma piada cruel: um álbum de remix a todo vapor com contribuições de uma lista de estrelas do pop, lançado no mundo apenas como um breve e feliz alívio da pandemia, ansiedade é substituída por uma renovada sensação de incerteza.

Se há um fio de esperança, é que Dawn of Chromatica é menos uma coleção imensa de músicas de baladas do que uma expansão do universo cinemático de Chromatica: novos personagens, novos sons, novos memes aprovados e distribuídos pela líder suprema. É uma desculpa bem vinda para revisitar o álbum que animou e reuniu tantas pessoas queer desde do ano de seu lançamento. E graças ao seu grau incomum de coerência e fluxo, é um projeto que você pode curtir no conforto de sua própria casa sem sentir a sensação paralisante de que perdeu alguma coisa.

Parte do que fez o Chromatica original tão satisfatório foi a sua escavação da música house dos anos 90. Ele foi consistente e implacável de um jeito que outros álbuns da Gaga - até mesmo o Joanne com o chapéu de caubói rosa e o comprometimento com o country drag - nunca conseguiram. As versões mais memoráveis de Dawn of Chromatica criam novas conexões com outros momentos memoráveis da discografia da Gaga. Os riffs chorosos e as baterias em “Free Woman” de Rina Sawayama and Clarence Clarity entram diretamente no ecossistema de Born this Way, e o remix trash de Dorian Electra de “Replay” intensifica ainda mais a energia do couro e metal.

A animada interpretação de “Fun Tonight” pela Pabllo Vittar invoca o primeiros flertes de Gaga com a música Latina junto com uma linha de sax digna de Clarence Clemons, e ela também faz uma das músicas mais tristes da memória recente soar como uma ensolarada feira de rua brasileira, uma dissonância atraente. E enquanto a versão de “Sine from above” de Dawn of Chromatica é uma música que eu não me vejo revisitando regularmente, existe um pouco de Artpop em sua provocação digital flatulenta.

Alguns outros destaques inclinam-se na outra direção, teletransportando Gaga para mundos de som estabelecidos com resultados satisfatórios. Doss transforma “Enigma” de um hino caótico em uma expressão de sua assinatura com um música dance leve como uma pena, em partes iguais a uma névoa e uma borracha. O remix de Planningtorock de “1000 Doves” muda completamente o tom da original, transformando em joia não lapidada escondida - talvez a coisa mais próxima de uma balada do Chromatica, mal contornando seu status ilegal - em New Wave com luz estrobocópica. (É o tipo de música pop que teria entrado nas top listas de críticos de música nos meados dos anos '00 ao lado de Annie and the Knife.) Não é nenhuma surpresa que o corte mais radical de Dawn of Chromatica seja a subversão de Arca em “Rain on Me ”, no qual Alejandra Ghersi experimenta seu próprio “Time” e “ Mequetrefe”para situar Gaga e Ariana Grande dentro da teia de aranha avant-pop do KiCk i.

Os dois convidados mais próximos do estrelato pop trazem o seu melhor em Dawn of Chromatica, elaborando os temas de trauma e recuperação do álbum original com contribuições que parecem mais com duetos completos do que retrabalhos. Sawayama traz uma sensação de camaradagem - eu amo a maneira como ela começa a música com um "Let’s go, Gaga!" - e um desafio extático em "Free Woman", encerrando com uma gloriosa celebração de independência. Ela superou algumas canções depois, quando Charli XCX e A.G. Cook abalaram em "911", o angustiante tributo de Gaga à medicação antipsicótica. Sua forma final é um épico hiper-pop cristalino, que chega ao clímax com versos finais impressionantes. É um dos melhores trabalhos de Charli desde Pop 2.

As disposições de Dawn of Chromatica parecem secundárias em relação à sua função como um documento de influência e selo de aprovação para uma geração de desajustados pop de esquerda. Talvez seja uma coisa estranha a dizer sobre um álbum que estreou em primeiro lugar e rendeu vários singles no Top 10, mas Chromatica parece distante do centro do gênero; sua posição dentro de uma paisagem pop definida pelo domínio contínuo do rap, o ressurgimento geminado do pop-punk e do rock alternativo e a crescente popularidade global do urbano e do Afrobeats não é clara. Tornar-se uma verdadeira força multifacetária - observe o álbum com padrão Cole Porter ao lado de Tony Bennett, o império da maquiagem e a iminente campanha do Oscar da House of Gucci - também significou Gaga entrar na fase de "tocar os sucessos" de sua carreira. É digno de nota que seus maiores momentos musicais não "superficiais" [referência a Shallow] da última meia década foram performances que abrangeram sua carreira, no Super Bowl e nos VMAs.

É esse contexto que faz Dawn of Chromatica parecer menos uma celebração de um recorde mundial e mais como um “passar a tocha”. Reunir este grupo amplamente variado de artistas de todo o mundo e chamar a atenção para as qualidades que eles compartilham - sua diversão, sua coragem, sua vontade de ultrapassar os limites do gosto - é uma maneira elegante de Gaga reforçar essas mesmas qualidades como peças fundamentais de um legado que ainda está se formando.


"Dawn of Chromatica" está disponível em todas as plataformas de streaming. O novo trabalho colaborativo reúne parcerias com Rina Sayawama, Bree Runway, Charli XCX e a cantora e drag queen brasileira Pabllo Vittar.

Ouça em todas as plataformas:

Spotify

Apple Music

Acompanhe todas as novidades sobre a Lady Gaga em nossas redes sociais: Facebook, Twitter e Instagram

Fonte

Tradução por Laíza Coelho e Maria Seabra

Arte da capa por @sadseaboy