Neste início de novembro começaram as pré-estreias do filme "Casa Gucci", que terá Lady Gaga como protagonista.

Diante de toda a repercussão, críticas e entrevistas vêm sendo liberadas com o elenco, que vem se reunindo para divulgar o filme.

Na última quinta-feira (11), o The New York Times liberou a entrevista que o jornalista Kyle Buchanan realizou com Lady Gaga e Ridley Scott, diretor do filme, no dia 10, após a pré-estreia em Londres, na qual os artistas falaram sobre sua relação durante as filmagens.

Lady [Gucci] Gaga, falou sobre como foi interpretar Patrizia Reggiani e seu processo para atingir os resultados desejados, como o sotaque e o comportamento.

Abaixo, você poderá ler algumas das falas traduzias de Gaga e Scott.

Confira:

"LADY GAGA: E RIDLEY SCOTT EM 'HOUSE OF GUCCI': QUANDO A BELEZA SE TORNA FEIURA

Gaga, o filme começa com uma frase sobre as pessoas olhando as vitrines da Gucci, desejando poder comprar pelo menos o segundo item mais barato da loja. Como foi quando você não só teve a capacidade de possuir todas essas coisas, mas ter elas oferecidas a você?

GAGA: Assim que você me faz essa pergunta, sou instantaneamente catapultada para quando eu falei essas palavras no set. Eu me lembro de pensar que eu era o segundo item mais barato, que Patrizia era o segundo item mais barato na loja, que ela nunca seria a melhor.

Eu também pensei sobre quando eu finalmente pude ter essas coisas boas, ou ter elas sendo oferecidas para mim, que sempre houve algo dentro de mim, arranhando meu coração, dizendo que isso não me pertencia. Mas eu acho que parte de ser um artista é essa ideia sem fim que nós não somos bons o suficiente. Coisas materiais são maravilhosas, mas nós vemos no filme o quanto o poder e o privilégio podem ser inerentemente malignos.

Patrizia é ambiciosa na maneira que corre atrás de Maurizio, mas você acaba torcendo no começo para eles como um casal.

GAGA: Uma das primeiras coisas que eu disse ao Ridley foi 'Eu não sei se ela realmente amava o Maurizio'. E ele disse, 'Sim, ela amava'.

Assim que Ridley disse ser amor, eu abandonei a ideia de que ela era uma interesseira e eu investiguei cada artigo possível que pude achar, qualquer entrevista sobre ela, eu não li o livro [no qual o filme foi inspirado].

Por que não?

GAGA: Eu comecei o livro e estava cheio de opiniões, então eu joguei fora. Eu não quero que ninguém molde a forma de eu pensar. Até a ideia de conhecer Patrizia Gucci, uma vez que assisti ela em suas entrevistas, eu pensei, isso certamente seria uma ideia ruim, porque ela teria uma agenda e iria querer me falar a história do jeito que ela queria que fosse contada.

Me diga sobre continuar usando o sotaque de Patrizia por tantos meses. Isso foi cansativo?

GAGA: Acho que só teria me prejudicado se eu não tivesse praticado tanto. Eu falava desse jeito com a minha mãe, com amigos, para que eu, Stefani, pudesse falar assim sendo totalmente natural. É como memória muscular, para que quando você estiver em cena, o sotaque não interfira com a visceralidade do que está acontecendo na sala.

Se eu tivesse um show de jazz na semana que vem, e não ensaiasse antes, minha voz não estaria pronta para o show. Minha abordagem nisso não foi tão diferente do meu compromisso com a música. Mas, eu quero ser clara: Eu não acho que é sobre glamourizar a atuação de método ou que continuar no personagem é a única maneira de fazer as coisas. Teria sido mais difícil para mim entrar e sair da personagem no set do que continuar nela.

RIDLEY SCOTT: Houve um momento em que pensei, 'Espere um minuto, ela sempre foi assim? Eu me esqueci'. A primeira vez que nos encontramos, ela foi, me atrevo a dizer, Americana...

GAGA: Eu sou Americana! Sou Ítalo-Americana

SCOTT: Mas então, eu pensei, 'Não vou questionar isso, porque para mim, está funcionando'.

Gaga, como você chegou na linguagem corporal de Patrizia? Na maneira que ela vagueia e na maneira que ela dança, ela parece ter um centro de gravidade mais baixo do que você tem.

GAGA: Em alguns métodos de atuação, eles chamam de “usar o animal”. Eu usei três animais diferentes para Patrizia. Eu comecei como um gato doméstico, que tem esse tipo de qualidade sedutora, mas também pode ser um pouco indiferente, e eu usei isso com a sua fisicalidade. Então, ela se transforma quando ela vê Aldo aceitar o Maurizio. Ela pensa com ela mesma, 'Talvez eu possa convencer Maurizio a se tornar mais próximo da família, ser parte do negócio da família'. Nessa cena, eu fiz a escolha de me transformar de um gato para uma raposa.

Então, quando [um advogado da Gucci] vai até a escola da minha filha para me entregar os papeis do divórcio – o que significa que Maurizio não teve a coragem de fazer isso ele mesmo – eu me transformo de uma raposa para uma pantera. Foi algo que trabalhei bastante, estudando a pantera. Quais as maneiras que uma pantera seduz a presa? Quais os modos na qual a pantera se move devagar antes de dar o bote? O que acontece quando a pantera está tão enfurecida de fome e apetite que entra em modo de sobrevivência? Eu sempre pensei que a Patrizia só estava sobrevivendo o tempo todo.

Como assim?

GAGA: Ela nunca teve prestígio, ou foi brilhante ou sob medida como os Gucci. Sempre tinha algo sobre ela que era um pouco constrangedor e um pouco estranho. Isso é uma mulher que quer mais para si mesma, mas, em minha opinião, todo o seu poder na verdade é uma ilusão, do jeito que o patriarcado é infinitamente uma ilusão. É a maneira que, como uma mulher, eu posso sentir que tenho poder, mas no momento que um homem me diz não, o meu mundo inteiro desaba. Ela é apenas descartada, de novo e de novo, e eu acredito que isso que compeliu esse assassinato.

Como você racionalizou esse ato?

GAGA: Eu acredito com cada parte do meu ser que essa mulher está por aí, andando por Milão, se arrependendo amargamente do que fez. Eu acho que ela estava tão traumatizada que acabou cometendo um grande erro. Eu não tentei fazer dela alguém amável, mas eu acho que Ridley permitiu que ela fosse amável porque ele me deu forças como mulher.

Eu devo dizer isso, Ridley: Não existem muitos homens que são diretores, que dariam poder para uma mulher ser feia nas câmeras. Quando eu envelheci e tive cenas em que estava nesse estado constrangedor e desesperado, ele abraçou a feiura dessa personagem e isso deve ser elogiado, porque é algo feio ser descartada pela sua aparência, é feio ser trocada por uma mulher mais jovem. Então eu aprecio que o Ridley pegou algo que era meio que um “assassinato aexy” e deixou ele ser feio.

[...]

Deve te deixar feliz quando as pessoas estão animadas sobre o seu trabalho. Mesmo enquanto você estava gravando 'House Of Gucci', as fotos do set causaram uma sensação na internet.

SCOTT: Totalmente. Não há nada como o sucesso para te fazer se sentir bem ao acordar, certo? Ao mesmo tempo, se você consegue um hit, não deixe isso subir à sua cabeça. Se você gosta do que fez, siga em frente.

GAGA: Eu não poderia concordar mais. Quando você está fazendo arte para agradar as pessoas ou ir em busca de aclamação, isso não é sustentável. Você fica essencialmente aficionado em conseguir que as pessoas te amem ao invés de ser apaixonado pelo trabalho. Eu sei que me perdi como artista por um tempo quando comecei a me importar com o que faria com que as pessoas gostassem de mim. E então, eu me rebelei, pois por qual razão eu deveria seguir uma Estrela do Norte que está sempre se movendo?

Na minha carreira inteira eu tive altos, eu tive baixos. Quando Ridley estava falando sobre 'Blade Runner', eu estava pensando no meu álbum 'ARTPOP' e como eles fizeram críticas antes mesmo de ser lançado. Por causa da liberdade de expressão, as pessoas podem escrever o que quiserem, mesmo que seja mentira, mas anos depois, é um dos meus álbuns mais aclamados pela crítica

Nós não temos nenhuma ideia do que esse filme irá fazer após estrear, mas isso não importa porque sabemos que fizemos algo bom. Quando você tem a chance de ser sortuda como eu e ser parte de um dos filmes [de Ridley Scott], você sabe que não importa o que aconteça, isso irá durar uma vida inteira.

Você olha para o Ridley com muita afeição.

GAGA: Eu amo tanto o Ridley. Senti que ele estava cuidando de mim. Ele me viu adentrando mais e mais na personagem o tempo todo, e costumava dizer, 'Você tá bem? Você tá OK?' e eu respondia qualquer que fosse a verdade no momento e ele sempre dizia pra mim, 'O que quer que isso seja, eu espero que você abandone aqui'.

Então como você se sentiu quando deixou Patrizia e tudo aquilo para trás?

GAGA: Sendo honesta, eu já estava pronta pra deixar ela pra trás. Ela é um indivíduo tremendamente complicado e quando você está vivendo no modo de sobrevivência o tempo todo – e ela sempre estava no modo de sobrevivência – isso cria um imenso sentimento de constante trauma. Quando eu peguei aquele avião de volta da Itália, eu joguei fora meus cigarros. Eu joguei fora a bebida, eu aterrissei em L.A. e dei uma limpa na minha vida porque eu não poderia viver mais daquele jeito. Estava me matando porque estava matando ela.

E como é ser você mesma de novo?

GAGA: É muito emocionante. Eu brinco com Ridley o tempo todo, mas realmente experimentei algum tipo de pânico de desapego quando saí do set, sentia muita falta dele. Eu me sentia como Patrizia se sentia, uma vida sem Gucci não era uma vida que valesse a pena. O melhor momento da vida dela foi ser Gucci, e posso dizer a vocês, ao terminar este filme, que o melhor da minha vida foi ser Gucci. É assim que arte e vida se alinham. A vida de Ridley é uma obra-prima e você terá sorte se puder fazer parte dela.

"Casa Gucci" tem sua estreia aqui no Brasil no dia 25 de novembro, com pré-estreia exclusiva prevista para os próximos dias. Para poder ter uma chance de estar entre os convidados, fique atento às nossas redes sociais.

Fonte

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Tradução por David Luis e Klara Gomes