Recentemente, por conta das pré-estreias acontecendo em vários países, Lady Gaga tem concedido diversas entrevistas para os mais variados veículos de comunicação, como o programa ITV News.

Na entrevista em questão, a cantora falou sobre sua preparação para o filme "Casa Gucci", sua opinião sobre Patrizia e se a encontraria algum dia, sua fundação e mais.

Assista ao vídeo da entrevista + tradução completa:

NINA NANNAR: Olá, e bem-vindos a uma edição especial de 'Unscripted', na qual a minha convidada é a Lady Gaga. Nós conversamos sobre o seu novo filme 'Casa Gucci', o seu segundo longa-metragem, no qual ela estrela como Patrizia Reggiani, uma mulher presa em meados dos anos 90 por contratar um assassino de aluguel para matar o seu marido, o chefe da casa de moda Italiana, Gucci. Nós discutimos sua dedicação extraordinária à atuação de método, como ficar na personagem a afetou mentalmente e todos os burburinhos sobre premiações. Esse é o 'Uncripted'.

NINA NANNAR: Antes de mais nada, obrigada por se juntar a nós, parabéns pelo filme, eu preciso falar, Patrizia Reggiani, esse é o papel de uma vida.

LADY GAGA : Obrigada, muito obrigada. Obrigada por conversar comigo hoje, é muito gentil de sua parte. E, você sabe, quando as pessoas falam 'performance de uma vida', o que eu senti interpretando esse papel foi que eu coloquei a minha vida nessa performance e é algo que eu nunca esquecerei. Todos os dias no set eu estava tão consciente de que meus pés estavam plantados no solo que foi a casa de meus ancestrais, e que eles lutaram tanto para que a minha família pudesse ter uma vida melhor, e olhe para mim agora, olhe onde estamos!

NINA NANNAR: Isso é muito interessante, porque como uma ítalo-americana, você acha que isso te permitiu levar outra camada a sua abordagem desempenhando esse papel?

LADY GAGA : Acho que com certeza trouxe outra camada por causa da minha reverência à Itália e pelos italianos, mas ser ítalo-americana é diferente de ser italiana. Minha família veio e foi imigrante aqui, mas então eles assimilaram, então a assimilação muda a cultura, e eu cresci numa cultura de abundância, eu cresci com muita comida na mesa, e muita celebração pela família, e relacionamentos e pela autenticidade. Então eu diria que de certa forma, sim, por causa de minha reverência por ser ítalo-americana, e também foi um desafio, porque eu descobri muito rapidamente, assim que comecei a pesquisar a vida de Patrizia Gucci – Patrizia Reggiani – e assistir suas entrevistas, que ela era uma verdadeira mulher italiana, não uma ítalo-americana, e isso significava que minha etnicidade tinha que ser precisa.

NINA NANNAR: Você se absorveu totalmente nesse papel, e isso é bem óbvio, muito foi comentado sobre isso. Me fale mais um pouco sobre essa abordagem que todos chamam de 'Atuação de método'.

LADY GAGA: Sim, eu me considero uma atriz de método. Eu não vejo isso como uma medalha de honra que preciso carregar, nem mesmo acho que é a melhor maneira de atuar, é só o meu jeito. Eu estudei o Método Lee Strasberg quando era mais jovem, e eu estudei na Circle In A Square Theatre School, eu aprendi várias técnicas de memória afetiva, muita personificação, eu estudei com Susan Batson para esse filme, uma professora de atuação incrível, e usei do Método Susan Batson, eu trabalhei com Beatrice Pelliccia no filme, ela é uma mulher italiana que trabalhou comigo no meu dialeto e esteve comigo todos os dias. Então eu falei com meu sotaque por seis meses antes de começarmos as gravações, e então continuei falando com ele por três meses e meio, então estava em meu sotaque o tempo todo.

NINA NANNAR: Isso deve ter sido incrivelmente difícil, e, além disso, deve ter mexido com sua mente um pouco.

LADY GAGA : Sabe, começou a mexer com minha mente mais tarde. Nos seis meses antes da filmagem não me afetou, eu estava em controle do caos, e sinto que estava no controle do caos o tempo todo. Digo, existe uma disciplina no caos, você tem que dominar a sua paixão de uma maneira que te permita ser presente e livre no set. E então, quando começamos a filmar, o que foi desafiador foi sentir os sintomas da vida real de ser Patrizia o tempo todo, do que ela teve que passar, uma mulher vivendo num mundo de homens, e uma mulher que... você assistiu o filme, você viu e ela é como uma forasteira, e ela não é da mesma classe dos Gucci. E sendo sincera, eu me sinto ressentida pela mídia ter se referido a ela como uma interesseira, eu acho que ela estava muito apaixonada, e acho que ela só estava procurando por qualquer oportunidade de importar, uma maneira de sobreviver, e eu não acho que mulheres deveriam ser chamadas de vigaristas ou de interesseiras porque querem ter uma vida melhor. Para ela, isso não era sobre dinheiro, porque quando eles se casaram ele não tinha dinheiro, ele não era dono de metade da Gucci; quando ela contratou o assassinato dele, eles estavam divorciados, então as apostas financeiras que as pessoas acham que estavam lá, não existiam, e o amor sim.

NINA NANNAR: É interessante, não é? A maneira que você fala sobre como ela era tratada como uma mulher e as coisas que você diz no filme, que você é uma mulher. Esse tipo de cenário não poderia acontecer numa grande casa de moda hoje em dia, não é? Nós vemos muitas mulheres que estão abrindo o caminho, ou você acha que ainda temos muito trabalho a fazer?

LADY GAGA : Eu acho que isso acontece o tempo todo, eu acho que acontece no mundo inteiro, o tempo todo e acho que homens ficam muito confortáveis trabalhando com outros homens, porque ter que responder à uma mulher cria desconforto, e por essa razão é mais fácil expulsar as mulheres. Eu acho que isso acontece o tempo todo, se eu acredito que isso não aconteça em alguns lugares? É claro! Eu acho que alguns lugares têm valores e ética que vão de cima a baixo, sendo parte da fábrica de seus negócios, mas eu também acredito que [essa injustiça] ainda está viva. Porém, o que eu posso dizer é que eu tive uma experiência maravilhosa trabalhando com o Ridley Scott. Ridley Scott é um diretor incrível, e eu estava, na maior parte com homens no set todos os dias, mas eu me senti muito empoderada por ele, ele se importava com o que eu pensava, ele se importava com o que eu estava sentindo, ele se importava com a minha saúde mental enquanto eu experienciava muito trauma enquanto filmávamos, invocando as minhas próprias experiências de vida para criar memórias afetivas para Patrizia. Essa foi uma experiência bastante positiva, mas também desafiadora, porém não porque eu estava inserida num sistema patriarcal que estava me oprimindo, [mas sim pois] eu estava dentro de uma realidade alternativa que parecia real.

NINA NANNAR: Você acha que irá se encontrar com Patrizia, ou conversar com ela?

LADY GAGA: Não. Eu não acho que vou. Eu não quero conspirar com Patrizia Gucci. Eu acho que ela quer dirigir uma narrativa famosa dela mesma como uma assassina notória, e uma mulher que orientou a Gucci e, eu acho que o que ela fez foi errado, eu acho que ela se arrepende profundamente. E, se alguma coisa, eu estendo o meu coração para suas filhas. Elas provavelmente não querem isso, mas eu me importo profundamente [e acho] que isso deve ser muito doloroso para elas, e, você sabe, como uma atriz, isso é algo que eu devo avaliar.

NINA NANNAR: Você ainda sente que tem muito a provar como atriz? Porque o mundo te conhece, é claro, como uma cantora ganhadora de múltiplos prêmios. 'Nasce Uma Estrela' foi um grande sucesso e um filme ganhador do Oscar, e você foi nomeada ao Oscar e ganhou por sua canção. Esse é apenas o seu segundo longa-metragem, e você é protagonista, você está em quase todas as cenas. Você se sente confortável agora nessa pele de atriz?

LADY GAGA : Eu me sinto sim confortável na minha pele de atriz. Eu sou uma atriz desde que era uma garotinha e eu tenho colocado atuação na minha música durante toda minha vida. Dizer que eu precisaria me provar [como atriz], para mim não é correto, o que ressoa comigo é a ideia de conquistar o meu lugar, conquistar o meu espaço, isso parece mais certo, tipo, fazer mais filmes, fazer ainda mais trabalhos, fazer mais pesquisas. Mas eu não acredito em 'tentar provar a si mesma' dessa maneira. Eu acredito em conquistar as coisas, e eu acredito em trabalho duro. 'Se provar' para mim cheira muito a 'Eu quero muito que as pessoas gostem de mim', e o que eu quero muito é que as pessoas sorriam, eu quero muito que as pessoas gostem de si mesmas, eu quero muito que as pessoas aproveitem a vida. E esse filme é muito engraçado, e é divertido, e bonito, e triste, e é selvagem, e é uma viagem, e, depois de 18 meses de COVID, eu me sinto muito feliz de ter a honra e o privilégio de trabalhar em algo que acredito que fará as pessoas felizes e se divertirem.

NINA NANNAR: O que você acha das perspectivas do Oscar? Porque é claro, os burburinhos já começaram e com um papel desses, você vai, no mínimo, ganhar uma nomeação ao Oscar.

LADY GAGA: Sabe, eu amo artistas, então eu amo celebrar todas as pessoas criativas, e eu não sou competitiva com ninguém, a não ser eu mesma, então, estar numa competição é bem estranho para mim, porque eu quero celebrar todas as pessoas que têm feito filmes e todos os tipos de arte durante a pandemia de COVID. Mas eu aprecio de verdade esse sentimento, e eu sei o quão cobiçado o Oscar é, e é uma honra, e uma honra que sempre significou bastante para mim.

NINA NANNAR: Você está em um bom lugar agora, em termos da sua saúde mental? A sua Born This Way Foundation está fazendo coisas incríveis, e o seu filme também é sobre saúde mental, Patrizia Reggiani, nós assistimos essa desintegração, não é? E o mundo vai sair do cinema pensando sobre as implicações sobre a saúde mental, sejamos honestos, o mundo está cheio disso agora.

LADY GAGA : Absolutamente. Eu estou em um lugar muito melhor com minha saúde mental, muito obrigada por perguntar, espero que você também. Em termos do filme, eu tive muitos desafios mentais enquanto estava trabalhando no filme, porque ela teve esses desafios. Sabe, ela teve muitos desafios mentais e foi tão traumatizada, sendo afogada por aqueles homens, constantemente descartada, sendo deixada para trás, abandonada porque ela perdeu sua beleza, ele não a ama mais e a abandona por uma mulher mais jovem e mais bonita. Quero dizer, Patrizia é alguém que estava lutando por sua vida, e quando você está no modo de sobrevivência em frente às câmeras o tempo todo... Eu estudei animais para isso na verdade, eu estudei um gato doméstico, uma raposa e uma pantera. Eu estudei a maneira que eles seduzem, a maneira que eles caçam, a maneira que eles se reproduzem, a maneira que eles se divertem. Um gato doméstico tem um ar particular, uma raposa é bem brincalhona quando caça, é quase engraçada, que é de onde o seu humor vem, e, então, quando ela recebe os papéis do divórcio, ela se transforma de uma raposa numa pantera. E trabalhar com os animais, estudar os animais, muda a maneira como você se move, e para mim existe algo ancestral sobre a saúde mental, que, na minha opinião, não damos muito crédito, é o animal dentro de nós, é o nosso cérebro, é parte do nosso corpo.

Eu oro pelo mundo o tempo todo, eu passei os primeiros meses da pandemia do COVID levantando mais de $150 milhões de dólares com a Global Citizen e a Organização das Nações Unidas para o fundo de solidariedade, que proveu equipamento para profissionais de saúde. Eu oro o tempo todo para a cura dos profissionais de saúde, o trauma pelo que eles passaram foi imenso, e a mudança no mundo, os problemas mentais pela qual todos nós passamos durante a pandemia têm sido reais. E do meu jeito, sabe, eu tentava fazer as pessoas rirem durante a quarentena, dizendo 'Eu estou em quarentena faz anos! Eu não saio de casa, sou muito reclusa', mas eu consigo ver o peso que isso teve no mundo e eu só oro por todos. Acho que é uma boa hora para nos inclinarmos para a gentileza. Eu acho que a gentileza é o único sistema perfeito, porque ela tem mão-dupla, e se você se comprometer a ela, ela nunca estraga.

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Tradução por David Luis