O The Times, do Reino Unido, publicou um artigo com entrevista concedida por Lady Gaga ao portal, no qual cantora fala sobre sua carreira da cantora até o presente momento e, principalmente, a respeito de seu quinto álbum de estúdio, JOANNE*, que será lançado oficialmente nessa sexta-feira (21).
Leia a entrevista na íntegra:
"A primeira vez que estive no mesmo ambiente que Lady Gaga, ela estava vestida como um sofá. Foi em 2014 e ela estava usando algo flutuante, branco e macio, comandando uma entrevista no Texas. Foi difícil decidir onde a cantora terminava e o estofado começava. Todo movimento parecia complicado. Essa foi a fase Artpop, seu terceiro álbum, rotulado como “fracasso” mesmo tendo vendido 2.5 milhões de cópias. Toda a Era pareceu forçada, mas, dois anos e meio depois, milhares de milhas distante, ela entra no quarto mais sombrio de Londres e se envolve nas sombras dele.
Sua roupa não é tão usada hoje em dia como quando os roqueiros dos anos 60 saiam ao final da noite: jeans escuro e uma camisa preta e marrom listrada - mangas enroladas, mostrando suas tatuagens - cabelo loiro amarrado bem apertado pra trás e raízes à mostra. Para uma mulher que uma vez fez uma turnê vestindo um top arrastão com estrelas sobre os mamilos, isso é menos despojado, mais despido.
"Você parece, eu sugiro, menos adornada". "Adornada", ela responde em voz baixa, mas sorrindo. "Essa foi uma boa maneira de se colocar". Depois de ARTPOP, Gaga fez um disco de jazz com Tony Bennett e abertura por Cole Porter, que sentiu-se deliberado: "In olden days a glimpse of stocking/Was looked on as something shocking/ Now, heaven knows, anything goes". É o caso agora, a sensação de que, uma vez que você tem uma página da Wikipedia para o seu vestido de carne, para onde mais você vai?
"Para ser franca", ela diz com ênfase, para mostrar que ela realmente quer dizer isso, "eu preferiria passar pelo ciclo do álbum e falar sobre a minha música. Isso seria ótimo. Acaba virando uma conversa sobre todas as outras coisas, e isso já foi o que eu quis. Mas se eu usar uma camiseta preta e calças pretas todos os dias, pode ser que as pessoas ouçam o que eu escrevo. Todas as roupas, a moda e as peças de artes de todos os anos fizeram sentido para mim, mas não faziam sentido para as outras pessoas…"
Ela pausa, ri e continua. "Mas eu sempre tive isso. Era uma expressão, não uma forma de me esconder. Dessa vez, meu estilo apenas continuou naturalmente como eu estava no estúdio. Eu comecei veementemente dizendo, ‘Tire essas roupas! Eu não vou usar isso! Não vou usar salto alto!’ E um pouco disso também é porque eu tenho estado em estúdio com garotos. Você não pode fazer música com um monte de garotos que estão olhando fixamente para uma lagosta na sua cabeça. Eles ficarão distraídos".
O novo álbum é chamado "Joanne", e os garotos incluem Mark Ronson, Beck e o compositor ao modo Randy Newman, Father John Misty. Ambos os títulos e a equipe sugerem uma estética. Ela diz que é uma hipster do Lower East Side de Manhattan, então esses artistas encaixam melhor do que muitos poderiam esperar. Indie, musicalmente orgânica, vem de diferentes clubes das suas colaborações anteriores como R. Kelly e Beyoncé; mais baratos e com mais whisky derramado. A carreira de Gaga foi fundada em músicas com muitas batidas como Paparazzi, Poker Face e, a música pop da década, Bad Romance. Embora, em Born This Way (2011), sua música se ampliou para melodias não muito diferentes de The Killers encontrando Elton John, ela tem aceitado fazer discos divertidos. Esses garotos dela? São totalmente o oposto.
O Senhor Elton, um mentor e tanto, diz que esse álbum é a tapeçaria dela. É aparar sua esquisitice enérgica, concentrando na tradição country americana, apoiada pela sua voz soberba, que é uma entonação louca que soa cada vez mais provável quanto mais você escuta. Gaga tem 30 anos e quer agradar a todos, especificamente aqueles que pensaram que uma tagarela exagerada e andrógina da pretensiosa Manhattan nunca escreveria uma música que pudesse se relacionar com eles. Mais especificamente ainda, ela quer agradar "essa mulher no meio da América com o cabelo amarrado, sem maquiagem e com jóias de família, uma blusa que você poderia comprar em uma farmácia, uma criança no braço, e uma bebida na mão, duas crianças correndo ao redor e que você não sabe se é casada, mas que está no meu show chorando muito porque ela sente que eu estou falando por ela".
É a mulher por trás de Joanne, no entanto, que mais sugere essa nova abordagem, inspirando Gaga a vestir como se ela tivesse feito compras na GAP e colocando mais foco nas letras da música, não no látex. Cada imagem é planejada, extravagante ou não, mas em um cômodo onde a única distração é uma vela, do tipo que você encontraria em um spa, algumas coisas são difíceis de fingir. Gaga começa a chorar. Não lágrimas que molham a bochecha, mas aquelas de encher os olhos, fazem suas palavras oscilar e me fazem duvidar se o público alguma vez realmente conheceu quem ela realmente é.
Enquanto estou esperando ela descansar de uma visita ao Reino Unido que começou em uma rádio durante a manhã e incluiu uma visita a um clube drag mais tarde, eu conversei com seu pai, Joe. Nós conversamos sobre a rotina, o aparecimento do Wi-fi, e ele fez mímicas segurando um bebê, o fazendo dormir. Eles são uma família muito próxima, mas somente depois falando com a filha dele que eu percebi o quão sensíveis eles são agora.
Joanne era irmã de Joe. Ela deu para sua sobrinha o nome do meio (Stefani Joanne Angelina Germanotta é o nome de nascimento de Gaga), que inspirou a tatuagem, "12/18/1974", a data que Joanne morreu, 11 anos antes de Gaga nascer. Filosofia oriental nunca é um assunto para trazer em uma entrevista pop, mas Gaga fala de Joanne de uma forma que sugere que ela tem sites de reencarnação favoritados. Joanne, uma artista, morreu aos 19 anos; Gaga largou a faculdade para se tornar uma artista aos 19. Ela tem até mesmo posts assinados no Instagram "Amor, Joanne xoxo".
Já são quase 20h quando nós conversamos sobre o álbum. De fora, seus fãs - conhecidos como Little Monsters - se agrupam debaixo de um andaime para fugirem da chuva, usando sapatos encharcados. Eles são os mais devotados, mas esperam por uma surpresa. Na música título de "Joanne", ela está cantando uma balada acústica clássica sobre a sua tia falecida. É um longo caminho desde as letras do Artpop: "Urano! Você não sabe que minha bunda é famosa?"
"É baseado na relação do meu pai com a sua irmã", diz Gaga sobre a música título do álbum. Quando Joe chora por causa da sua irmã, "ele senta lá, e as lágrimas começam a descer no seu rosto". Ele não se move, e ela diz "minha vida toda, eu nunca entendi porque meu pai era tão triste, bebia tanto ou era selvagem. Eu pensava que era culpa minha, e que era doloroso para a família. Eu testemunhei ano após ano o sentimento de perda do meu pai e dos meus avós. Há algo muito poderoso e profundo sobre perder uma criança". Gaga diz que os médicos queriam amputar as mãos de Joanne, mas sua avó não deixou. Ela tinha problemas causados pelo lúpus, a doença que a matou, mas a família disse que ela era uma poeta e uma escritora, então teria que manter suas mãos. "Então", a cantora fala, "minha avó disse que ela foi para a sala de espera e rezou para que Deus levasse sua criança".
"Nada é conceitual mais", Gaga diz sobre a nova produção. "Você poderia me perguntar algo pessoal sobre cada música. Eu não sei se entraria em detalhes, mas Joanne me deu forças para viver o resto da vida que ela não teve oportunidade. Chamando o álbum de Joanne é... eu acho que, se eu posso curar uma pessoa, talvez eu possa curar duas, cinco, 10 milhões. Se eu pudesse apenas curar meu pai, então talvez eu possa curar outra pessoa".
Se isso soa um pouco triste, algum humor diminui de uma entrevista para outra na qual Gaga levou a imprensa para sex clubs de Berlin, em que já há fragmentos de claridade. Ela é uma boa companhia, é inteligente e entusiasmada de um jeito New York de ser. No próximo ano, ela tem o seu primeiro grande filme como protagonista com Bradley Cooper no remake de Judy Garland, "A Star is Born", com Gaga como a cantora em ascensão e Cooper como um ator envelhecido.
Eu sugiro que ela faça outro remake em 30 anos, com ela como uma estrela em declínio. Há um silêncio. "Meu Deus", ela responde finalmente. "Meu Deus. Nós podemos trabalhar amanhã? Pare de agendar meu futuro!". Quando eu pergunto se ela está nervosa sobre filmes críticos, ela me olha torto e diz que todo mundo tem opiniões, antes de adicionar, com uma satisfação diabólica: "E tenho certeza que você pode encontrar opiniões sobre você mesmo na internet..."
Ela é divertida e, apesar de seu novo look, ela ainda é excêntrica. Ela canta para mim. Eu não posso olhá-la nos olhos durante essas apresentações, o que parece durar tanto quanto "A Ilíada", porque é estranho quando Lady Gaga senta de joelhos e canta para você e a única forma de evitar o constrangimento é ficar de queixo caído olhando a renda nos seus sapatos. Ainda no compasso de um dueto que ela gravou com Florence Welch ("Hey garota, hey garota, nós podemos facilitar isso se pudermos nos levantar juntas!"), é isso que eu faço, enquanto ela bate na mesa como se fosse um tambor conveniente.
"A canção é sobre mulheres apoiando umas às outras", diz ela, enquanto eu lentamente levanto a cabeça. "Muitas mulheres, não importa sua raça, cor, religião, passam pelos mesmos problemas com homens, corpos, mentes. Várias mulheres se fecham, como se não fossem ouvidas. Não é fácil. Eu sei o que está me separando. Isso está me separando?" Eu pensei que seria retórica, mas uma pausa sugere o contrário, então eu aceito. "Trata-se de uma mulher de amor incondicional que se deve ter de um para o outro." Uma feminista não deve lutar? "Sim. É muito simples. Eu gostaria que as mulheres escutassem a música, quando elas entram num bar e vê outra garota que nunca conheceu, elas simplesmente dizem 'Hey girl!' e isso significa 'Estamos neste bar, e estes homens são tolos, mas eu tenho você aqui...'".
No entanto, eu me pergunto, alguém pode te parar? Gaga já vendeu quase 30 milhões de álbuns. Ela foi a estrela mais interessante do pop na virada da década, e ganhou seis Grammys. No entanto, quando se trata de pares agora, ela está abaixo de Beyoncé e Taylor Swift no olhar público. Ela iria lotar salas mais pequenas do que Ed Sheeran, mas controvérsias ainda a seguem. Se você não se ajustar a um molde, não haverá nenhum para escolher, e, desde a nossa reunião, Gaga foi ridicularizada por seu retorno básico com a turnê Dive Bar patrocinada pela Bud Light, ela foi acusada de pagar 5 milhões de dólares para performance no Super Bowl do ano que vem, enquanto recebe uma reação mais ou menos de sua volta com o single 'Perfect Illusion'. Alguns afirmam que ela escreveu sobre seu ex, Taylor Kinney, mas na verdade é sobre a internet. Nada disto é como as pessoas esperam, então eles reagiram assim. Basta esperar até que escutem "Joanne".
Não é este o propósito? Gaga é o último grande desajuste, e seus olhos lacrimejaram novamente ao falar de David Bowie. Ela fez uma homenagem arrebatadora para ele no Grammy e disse: "Eu sempre fui movida por sua capacidade de ser consolado por ser absurdo". É uma postura ousada para uma mulher que uma vez virou-se na televisão alemã vestida de Kermit, os sapos, mas faz sentido e é atraente em uma indústria cheia de Sam Smiths.
"É o motivo de eu estar tão desafiadora sobre as pessoas comentando minhas performances, como se esse fosse sempre o propósito", ela diz, "era para ser confuso. Mas então você vai com o resto de Bowie, e você vê que ele era mais brilhante como musicista que como alguém que iremos lembrar pela sua presença fantástica e mágica".
Tudo que Gaga faz tenta significar mais do que inicialmente parece. Ela falou sobre ser inspirada por Andy Warhol, mas ela é mais MC Escher. Você esmaltar sobre aquela imagem, parece que só está querendo aparecer - mas quando você absorve, você percebe que os artistas possuem uma profundidade inesperada. Ela sempre apoiou a tolerância, mesmo falando contra suas raízes católicas, mas ainda vive em um mundo que é muito menos tolerante que ela poderia expor. A frase que inicia a linda e melancólica faixa que fecha o álbum, "Angel Down" é "Eu confesso que estou perdida", antes da música perguntar: "Onde estão nossos líderes?". A principal questão do Born This Way era a aceitação, então como adepta de Hillary Clinton, em uma eleição perto de eleger o outro cara, ela está derrotada ou, pelo menos, desencorajada?
“Não, eu não diria que estou desencorajada” diz ela. "Apenas diria que estou mais velha e em um estágio forte da realidade, tentando, com declarações sobre positividade e amor, falar de uma forma que não seja muito ingênua, talvez, de uma maneira em que as pessoas que vivem neste mundo possam se identificar com o que estou dizendo, em oposição a sentir que é pretensioso... é sobre usar palavras e permitir que a dor que eu sinto permeie o álbum, e não escondê-la com qualquer coisa. Vou dizer isso. Minha mãe chorou quando eu comecei a gravar [o álbum]. Eu perguntei 'O que há de errado?', E ela disse: 'há tanta dor em sua voz nesse instante'”.
Nós nos abraçamos no final e ela é magra. Alguém que carregou o mundo em seus ombros por um tempo, mas que agora os sente cederem. (Aquela canção final também inclui o verso: “Anjo caído, porque as pessoas apenas o cercam?”). Para uma artista ciente do crescimento do antiliberalismo no seu país e no resto do mundo, ela sabe que é o momento errado para trazer um álbum pop que habita um universo de boates e cheio de músicas potentes e otimistas. Esse novo visual dela é deliberadamente americano, mas um tipo de americano que usa chapéu de Cowboy, odeia Manhattan, escuta Garth Brooks e vota no Donald Trump. Ela é de um mundo que eles odeiam, mas agora está fazendo um estilo de música que eles amam. Ela está, sorrateiramente, tentando criar um elo entre os gêneros.
“Eu acredito que todo mundo possui uma Joanne em suas vidas”. Ela fala sobre um álbum que, para ela, possui um apelo universal. “Todos têm alguém que ou perderam ou estão prestes a perder. Minha melhor amiga tem câncer de estágio 4...” Ela cantarola novamente: “Sete anos atrás, eu disse que você conseguiria”. Ela estala o dedo e eu toco meus dedos do pé. “No Pinot, garotas do vinho Pinot acizentado transborde seu coração/ veja seu blues virar ouro”. Nós nos balançamos. Eu preciso de um copo de vinho. Ela liga esta música à sua tia também.
“Nesse mundo, todos tentamos manter a aparência, expor uma imagem perfeita de quem somos”, ela diz, mais Stefani Joanne Angelina Germanotta do que nós já tenhamos visto, “mas eu me sinto mais feliz e autêntica quando eu sou quem eu era quando criança”. Ela adentra vagarosamente à noite. Eu penso no filme “Entrevista com o Vampiro”. Particularmente porque está escuro e ela está pálida. Sem mencionar as velas e o fato dela exibir óculos escuros. Mas, na maior parte, é porque há muitas coisas aqui nas quais é possível enfiar os dentes.
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Tradução por Vanessa Braz de Queiroz, Genilson Paranhos e Narles Lino
Revisão por Vinícius de Souza