Esta sexta-feira (31) foi marcada pelo Festival de Cinema de Veneza 2018, evento no qual "Nasce Uma Estrela" foi exibido. Assim, diversas revistas e sites de críticas especializadas estão publicando reviews sobre o filme.

Entre elas, está a revista norte-americana Times. Escrita pela crítica de cinema estadunidense Stephanie Zacharek, a análise sobre o longa-metragem exaltou diversos pontos, como a capacidade de Gaga de atuar e a direção de Bradley Cooper.

Leia a crítica do site abaixo:

A crítica contém possíveis spoilers do filme.

Lady Gaga entrega uma performance nocauteante em Nasce Uma Estrela.

Só existe um antidoto para o mundo em que vivemos, uma era de ansiedade política, inveja no Instagram, ensaios pessoais que tratam experiências básicas da vida como tragédias imensas, e selfies: nós precisamos de mais melodramas, filmes que mostrem seres humanos fazendo todo o tipo de escolhas erradas, se apaixonando por pessoas que deveriam correr a uma milha de distância, e no fim recuperar os pedaços perdidos de si mesmo, tudo isso enquanto parecem fabulosos. Exagero é o segredo, um melodrama sem gosto e sensível não é um melodrama direito. E você precisa de uma estrela que pode radiar o sofrimento notável com uma grandeza no nível kabuki. Alguém como Lady Gaga.

Nasce Uma Estrela, de Bradley Cooper, está fora de competição aqui no Venice Film Festival, está do lado certo do bom gosto, o que significa estar um pouco no lado errado: podia ser mais insano na forma que expressa emoções e fracassos humanos sombrios. Mas funciona de qualquer jeito: Você sai sentindo algo por essas pessoas, indivíduos com falhas que estão tentando juntar os pedaços de si mesmos, ou arrumar os pedaços quebrados daqueles que amam. Cooper interpreta a encantadora, mas ofuscada, estrela do country Jackson Maine, um rapaz que passa por cada show, e cada dia, perdendo-se na bebida. Ele está perdendo a audição também, entretanto ele está negando isso obviamente, não importa quanto seu irmão e empresário, Bobby (Sam Elliott), tente colocar juízo na cabeça dele.

E então entra Lady Gaga, a superestrela que nasceu com o nome de Stefani Germanotta, entretanto o filme não a credita desse jeito. Como Ally, ela é uma garçonete que também canta e escreve músicas. Depois de sair abalado de um de seus próprios shows, Jackson a vê performando num bar drag, todas as queens amam ela, então elas estão contentes em tê-la no palco. Em seu vestido minúsculo, grudado sobre ela, ela é como um álien de Planet Song, brilhando seu caminho durante “La Vie en Rose”. Se você quer comparações entre Janet Gaynor, Judy Garland ou Barbara Streisand, as outras estrelas de Nasce Uma Estrela (este é o terceiro ou quarto remake, dependendo se você contar a versão de 32 por George Cukor, "What Price Hollywood?"), Gaga não é parecida com nenhuma delas: ela é mais como Liza Minnelli, que fez a mãe de uma delas, frágil e com um toque de ansiedade. Quando Ally feita por Gaga canta, ela é menos uma criatura do outro lado do arco-íris do que um espirito de outro mundo que rapidamente aprendeu as regras de sobrevivência do nosso mundo.

Não é à toa que Jackson se apaixona por ela, que o convence a passar a noite fora, um drink pós-show com ele, e ela entra em uma briga defendendo-o de alguém querendo enfiar uma câmera na sua cara: esse é o começo de um padrão, de uma mulher tentando salvar o homem, mas sua ousadia é impressionante. Jackson a leva até uma loja de conveniências e coloca um saco de vegetais congelados em sua mão; ele é o cuidador de agora. Então enquanto eles sentam em um estacionamento, ele tira seus anéis, para que eles não fiquem presos, ao fechar seus lábios em seus dedos inchados. Ela retorna o favor cantando, a pedido dele, um trecho de uma música que ela escreveu. É uma cena adorável, uma vinheta pincelada de duas pessoas encontrando beleza uma na outra.

Se você já viu qualquer uma das interações nos antigos Nasce Uma Estrela, o de 1937 com Gaynor e Frederic March, o de 1954 com Garland e James Mason, ou o de 1976 com Streisand e Kris Krstofferson, você sabe o quão errada essa história pode ficar, e se você é novo a essa fórmula específica, bem-vindo. A versão de Cooper prova que sempre tem um jeito de deixar material antigo parecendo novo. As melhores cenas são as do começo, nas quais Jackson, com verdadeira generosidade, dá um impulso a sua carreira, primeiramente convidando Ally subir ao palco para cantar uma música, e então transformando-a em uma verdadeira parceira.

A grande pergunta que vem circulando há meses é, Lady Gaga pode atuar? É uma pergunta ridícula. Cantoras frequentemente são reveladas atrizes incríveis. Elas se prepararam pra isso: todo canto é atuação. Mas o que é surpreendente sobre Gaga é o quão carismática ela é sem sua habitual maquiagem extrema, perucas estranhas e fantasias inventivas. É um prazer imenso olhar para o rosto dela, sem adornos, com aquele nariz extraordinário e definidor de rostos; é como descobrir um novo país. Mais tarde na história, enquanto a carreira de Ally decola, a de Jackson desaba, Gaga é menos fascinante, porém não menos amável. Ally se conecta com um empresário que reconstrói sua imagem (Rafi Gavron), transformando-a de um novo rosto no ramo como cantora/compositora em um estouro pop com cabelo hiper vermelho, e cada vez mais roupas teatrais. É aqui que o filme fica menos empolgante. É difícil não sentir falta da cara pelada de Ally e o cabelo marrom bagunçado: você pode se encontrar querendo mais Germanotta e menos Gaga, mesmo assim, Ally, a superestrela, não está nem perto de ser miticamente fora da caixa como a própria Gaga em si. Na verdade, enquanto as criações pop aparecem, ela é bem comum, entretanto, ela certamente sabe como fazer uma balada poderosa.

E ela ainda é a estrela de tudo isso enquanto contracena com seu diretor, Cooper, que mostra uma generosidade artística que é quase cortesa. Basicamente, a história de Nasce Uma Estrela é como uma engrenagem, então você quase sente mais dó do homem, do que você admira a mulher. Em toda versão, o homem ameaça roubar a cena com sua própria degradação; a força de proteção da mulher é bem menos interessante. Mas como um ator, Cooper desaparece nos momentos certos, permitindo que Gaga possa brilhar. Ele reconhece isso como uma performance, ela é maior do que a vida; ela é justamente do tamanho dela, e não tem problema nisso. Ele também cria um cenário adequado aos papéis pequenos, mas com incríveis performances como Dave Chappelle (sendo um dos amigos mais sensíveis de Jackson no mundo da música) e Andrew Dice Clay (como motorista de limusine e pai de Ally, Lorenzo).

Cooper também faz algumas escolhas espertas de enredo. (O roteiro é feito por Eric Roth, Cooper e Will Fetters.) A morte de Jackson é tratada sensivelmente, nada como Kris Kristofferson batendo seu carro só para que Streisand possa entrar em cena e segurar sua cabeça sem vida com tristeza. (Quem pensou que essa seria uma boa ideia?) E ele mantém a gravação direta e sem enfeites. É incrível ver a primeira vez de um cineasta que se preocupa mais em contar a história efetivamente do que nos impressionar; contar a história efetivamente é difícil o suficiente. Melhor ainda, Cooper conseguiu fazer um melodrama formidável para os tempos modernos. Essa é uma história de grandes personalidades e erros humanos ainda maiores. Ultimamente nós sempre estamos prontos para o nosso próprio encerramento. É um alivio virar o jogo para outra pessoa fazer a diferença.

Nota: 90/100

A estreia de "Nasce Uma Estrela" está marcada para o dia 11 de outubro no Brasil.

Fonte

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Tradução por Vinícius Colombo

Revisão por Vinícius de Souza