Não é a primeira vez que Lady Gaga fala sobre saúde mental. A cantora já apareceu diversas vezes na mídia abordando esse tema.

Gaga sempre disse que é um assunto muito delicado, e que as pessoas devem quebrar certos tabus para falarmos mais sobre isso. A própria cantora já sofreu com esses problemas, e também ajudou instituições que tem como objetivo dar suporte à pessoas que sofrem com isso.

Imagem: Reprodução / RDT - Lady Gaga e príncipe William falando sobre saúde mental

Agora, Lady Gaga voltou a falar sobre isso, escrevendo uma coluna para o jornal The Guardian sobre este tema, junto com Tedros Adhanom.

Confira a coluna traduzida aqui:

" 800.000 pessoas se matam todo ano. O que podemos fazer?

Em muitos lugares o apoio à saúde mental não é disponibilizado e aqueles com condições tratáveis são criminalizados. Já passou da hora de surgir uma solução corajosa.

Quando você terminar de ler esse texto, pelo menos seis pessoas terão tirado suas vidas ao redor do mundo.

Essas seis pessoas são apenas uma pequena fração das 800.000 pessoas que se suicidarão ao longo desse ano – mais que a população de Washington DC, Oslo ou Cidade do Cabo.

Às vezes são nomes famosos como Anthony Boudain ou Kate Spade que aparecem nas manchetes, mas todos são filhos ou filhas, amigos ou colegas, membros queridos de famílias e comunidades.

“A saúde mental de pessoas jovens é uma crise em ascensão. Providências são necessárias. ” - Mary O'Hara “

O suicídio é o sintoma mais visível e extremo de uma imensa emergência de saúde mental que até então estamos falhando em solucionar. Estigma, medo e falta de compreensão compõem o sofrimento daqueles que são afetados e evitam a ação corajosa que é desesperadamente necessária e que já era para ter surgido.

Um em quatro de nós tem que lidar com alguma condição de saúde mental em algum ponto de nossas vidas, e se não formos nós os afetados, alguém com quem nos importamos provavelmente será. Nossa juventude está particularmente vulnerável, com o suicídio sendo a segunda maior causa de morte entre pessoas com idade de 15 a 29 anos no mundo e metade de todas as nossas doenças mentais começando a partir de 14 anos.

Mesmo assim, apesar da universalidade do problema, lutamos para conseguir falar sobre o assunto abertamente ou para oferecer cuidados adequados ou recursos. Dentro de famílias e comunidades, normalmente permanecemos quietos por uma vergonha que nos diz que aqueles com problemas mentais são, de alguma forma, menos dignos ou culpados pela própria condição.

Ao invés de cuidarmos daqueles que enfrentam problemas de saúde mental com a compaixão que ofereceríamos aos que apresentam alguma lesão física ou doença, nós os deixamos de lado, culpamos e condenamos. Em muitos lugares os serviços de apoio não são disponibilizados e aqueles com condições de tratamento são criminalizados – literalmente acorrentados em condições sub-humanas, cortados do resto da sociedade sem esperanças.

A saúde mental atualmente recebe menos de 1% de ajuda global. O financiamento doméstico para prevenção, promoção e tratamento são semelhantemente baixos. Hoje, todas as nações do mundo são países “em desenvolvimento” quando se trata de saúde mental.

Esse investimento insignificante não é apenas ruim individualmente, é destrutivo para as comunidades e mina as economias. As condições de saúde mental custam ao mundo US 2,5 trilhões por ano, um número que em 2030 deve chegar a US 6 trilhões, a menos que tomemos providências.

Não podemos mais nos permitir sermos silenciados pelo estigma ou frustrados por ideias mal orientadas que retratam essas condições como uma questão de fraqueza ou falha moral. Pesquisas mostram que há quatro vezes o retorno de investimentos para cada dólar gasto em tratamento de depressão e ansiedade, os problemas de saúde mentais mais comuns, fazendo com que o gasto seja um grande investimento tanto para líderes políticos quanto para empresários, além da geração de economia no setor de saúde.

Chegou a hora para todos nós, coletivamente, atacarmos as causas e os sintomas da doença mental, e prover cuidados aos que sofrem com isso. Você não precisa ser um artista internacional ou o presidente da Organização Mundial de Saúde (OMS) para gerar impacto.

Todos nós podemos ajudar a construir comunidades que entendam, respeitem e priorizem doenças mentais. Todos nós podemos aprender como oferecer apoio para os entes queridos passando por momentos de dificuldades. E todos podemos ser parte de um novo movimento – incluindo as próprias pessoas que já sofreram de algum problema mental – para cobrar de governos e indústrias que coloquem saúde mental no topo de suas prioridades.

No Zimbábue, avós estão liderando a oferta de sessões de aconselhamento baseadas em evidências em bancos de rua, que está ajudando a derrubar o estigma. No Reino Unido e na Austrália, o sistema de educação por pares encoraja os jovens a apoiarem uns aos outros. E a tecnologia móvel também tem oferecido novas e empolgantes plataformas de fornecimento de serviços e criando aberturas para um diálogo saudável sobre o assunto.

Desde 2013, a OMS tem trabalhado com os países para implementar um plano de ação global para saúde mental. No início desse ano a OMS publicou o Atlas Mundial de Saúde Mental, que fornece informações sobre o progresso de 177 países sobre o progresso para atingir todos os propósitos do plano. A principal conclusão é que, mesmo tendo havido progresso, precisamos de investimentos significativos para expandir os serviços.

É essencial ter uma liderança governamental significativa e sustentada e alguns governos estão começando a intensificação de Sri Lanka, onde o governo estabeleceu um quadro de saúde mental dedicado e instaurou posições financiadas para apoiar cuidados de saúde mental baseados na comunidade, a Nova Iorque, onde o ThriveNYC reuniu líderes locais para construir um plano abrangente de saúde mental.

Esta semana, no dia da Cúpula do Reino Unido sobre Saúde Mental e Dia Mundial da Saúde Mental, um painel com especialistas internacionais irá publicar no The Lancet, a mais abrangente coleção de pesquisas já publicadas sobre como promover e proteger a saúde mental e tratar doenças mentais. Isso fornecerá a base científica para ampliar a ação global em saúde mental, semelhante ao movimento pelo HIV / Aids, adotado pela ONU em 2001. Esse movimento ajudou a salvar milhões de vidas e serve como uma representação do potencial da ação humana coletiva para lidar com problemas aparentemente insuperáveis.

Nós dois temos caminhos diferentes na vida. Mas nós dois temos visto como a liderança política, financiamento, inovação e ações individuais de coragem e compaixão podem mudar o mundo. É hora de fazer o mesmo pela saúde mental.

De Lady Gaga e Tedros Adhanom."

Leia a coluna original aqui

  • Dr Tedros Adhanom Ghebreyesus é o director geral da Organização Mundial de Saúde. Lady Gaga é a co-fundadora da Fundação Born This Way.

  • No Reino Unido, os Samaritans podem ser contatados no 116 123 ou através do e-mail jo@samaritans.org. Nos EUA, Linha Nacional de Prevenção do Suicídio é 13 11 14. Outros telefones para ajuda sobre suicídios podem ser encontrados em www.befrienders.org .

  • No Brasil, O Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio e pode ser contatado através do telefone 188 e no site https://www.cvv.org.br/ .

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Tradução por Débora Sant'Anna.

Revisão por Kathy Vanessa