Lady Gaga é a capa da edição de outubro de uma das revistas mais conceituadas de moda dos Estados Unidos, a Allure.

Gaga foi fotografada pela revista para promover sua linha de beleza, a Haus Laboratories, e para completar a nova edição, a jornalista Jenny Bailly que é a responsável pela matéria, foi até a casa de Gaga e conversou com a cantora sobre alguns detalhes da vida pessoal e assuntos como bullying e, é claro, a linha de maquiagens.

A jornalista que assina a reportagem relatou que a cantora chorou durante o bate papo ao lembrar de alguns momentos da sua vida.

A seguir você confere a tradução completa da entrevista exclusiva.

Lady Gaga: O poder da maquiagem

Como uma deusa intergaláctica do glamour, Lady Gaga conhece a força incrível de uma maquiagem. Agora ela está fazendo sua própria linha e compartilhando seus segredos conosco, meros mortais.

A casa de Lady Gaga, uma delas pelo menos, foi construída em uma montanha (uma montanha de Hollywood, mas não te contarei qual montanha porque três pessoas bem legais me pediram para não contar). O segurança dela abriu o portão, tirou uma foto da minha identidade, e me levou para um cômodo para esperar. Eu estou em um porão. Se você é um americano criado no subúrbio, é provavelmente o porão da sua juventude: piso de assoalho, uma pilha de jogos de tabuleiro no canto, aqueles caixotes de plástico da Container Store com gavetas recheadas de coisas brancas que eu assumo que sejam camisetas de shows da escola e eventos de caridade. Há um quadro negro em uma parede.

Mas então, em um sofá no meio do cômodo (branco, e com tintas coloridas espirradas), há uma sacola de compras Celine, fresca e imaculada. Você pensa por um momento: Isso é… o presente de recepção que espera os convidados de Lady Gaga? Claro, como jornalista, eu não pensei nisso, e se fosse um presente eu nunca teria aceitado, estou apenas dizendo que é algo que outra pessoa poderia ter pensado ao sentar para esperar por Lady Gaga. Mas não eu. Obviamente. (Não era um presente).

Lady Gaga é, entretanto, muito generosa. Nos primeiros minutos depois que eu subi as escadas para encontrar com ela, ela compartilha seu espaço pessoal comigo, abrindo os braços para um abraço, e então, momentos depois, me dá sua cadeira. Nós ficamos na entrada da cozinha por um tempo, e ela me apresenta aos três bulldogs franceses reunidos ali — Asia, Gustav, e Koji — antes de me levar para um corredor curto e estreito. Em uma parede, colocado em uma pequena estante, está um Oscar, o Oscar, “Shallow” gravado na base. Na outra parede, mais Grammys do que posso contar enquanto caminho (de acordo com a internet, eu chegaria a contar nove).

O escritório que entramos não é muito maior que o meu no subúrbio de New Jersey. Esse, no entanto, tem portas de vidro de correr que abrem para um deck envolvente com vista para Los Angeles (isso é quase impossível de encontrar em New Jersey). Também tem uma mesa de conferência de vidro preto no centro, com uma cadeira de couro branco com encosto alto de um lado. “Pode ficar na cadeira do chefe,” Lady Gaga diz enquanto ela senta em uma cadeira preta menor do outro lado.

Eu provavelmente não preciso te dizer que minha cadeira superior faz pouco efeito em me aproximar do nível da chefe que está ali. Eu tenho uns 20 cm a mais que LG, como seus amigos a chamam, mas ela comanda o espaço, sentada à minha frente com uma postura de bailarina e um vestido preto justo de seda de Alexa Chapman. Lágrimas grossas de prata estão pesadamente penduradas em suas orelhas. Seu cabelo loiro platinado está em uma parte lateral profunda, despenteada. Mas sejamos claros, muito claros: estamos aqui para conversar sobre o que está em seu rosto.

Assim que meu gravador começa a trabalhar e antes de eu fazer a primeira pergunta: “Eu estou usando a Chained Ballerina Glam Attack nos meus olhos, com a Legend Glam Attack nos cantos. E estou usando o batom RIP Lip Liner in Drag, e o gloss Entranced is the gloss, um brilho cromo de arco-íris multidimensional claro que vem com o Rose B*tch collection.” Lady Gaga entrou no jogo da beleza, e suas primeiras criações, sob o rótulo da Haus Laboratories,serão enviadas para o mundo inteiro este mês.

Deixe eu retirar metade do que eu falei: Lady Gaga, na verdade, tem estado no jogo dos cosméticos desde que ela emergiu na cena das boates de Nova Iorque mais de uma década atrás, usando delineador preto, franjas e um sutiã com franjas. Ela entrou na conversa de beleza — e mudou. Na sua primeira aparição no VMA, ela usou o que só pode ser descrito como um choque frontal de renda vermelha, seu rosto completamente escondido e uma massa de cachos loiros brotando de um buraco nas costas.Ao longo do caminho, houve um adereço de crustáceo de cristal, um collant inspirado em placas de circuito, um vestido com cabelos loiros. Houve perucas (muitas perucas), raios de David Bowie, sobrancelhas com strass e cílios com pontas douradas. Ela emergiu de ovos e colocou o corpo em carne crua. Ela subverteu a imagem sexualizada de uma estrela pop, desafiou as noções de gênero, e nos fez pensar sobre o que significa ser autêntica (bem antes daquele termo se tornar o jargão mais exaustivo).

Mas agora Lady Gaga está no jogo de fazer coisas físicas de beleza: batons, gloss, uma mistura líquida cintilante que seca em pó e brilha como a barbatana dorsal de um peixe arco-íris.

“Eu nunca me senti bonita, e ainda há dias em que eu não me sinto bonita."

E ela quer que as pessoas de cada canto do planeta compre essas coisas, muitas delas — Amazon é sua parceira exclusiva. Mas ela é a Lady Gaga, e sua ambição vai muito além de uma dominação mundial de batom e gloss. Ela também quer que essa maquiagem mude sua vida, assim como a maquiagem mudou a dela. “Eu nunca me senti bonita, e ainda há dias em que não me sinto bonita,” ela me contou algumas semanas antes em uma conversa no telefone.

“Todas as inseguranças com que tive que lidar a minha vida inteira ao sofrer bullying quando era jovem, elas voltam para me assombrar. Então eu coloco maquiagem, e antes de eu perceber eu me sinto a super heroína que tenho dentro. Me dá asas para voar.”

Quando Lady Gaga fala sobre seus produtos, ela fala sobre eles com paixão e um entendimento de cada aplicador e proporção de brilho / pigmento. Mas ela sempre volta para a emoção. O que ela disse sobre nunca se sentir bonita, sobre insegurança? Foi uma resposta para essa pergunta: Alguma das fórmulas foi inspirada por um produto de maquiagem que você conhece e ama, mas queria que houvesse uma melhora dos mesmos?

"Toda vez que coloco [meu batom], eu tenho esse suspiro de libertação gigante, artística e criativa que eu apenas — meu coração paira.”

Sua resposta começou com: “Primeiro e principalmente, eu queria criar o lápis de boca dos meus sonhos. Eu amo lápis de boca, mas para mim sempre acaba tendo algo de errado com eles. Ou sai do alinhamento da boca ou sangra. Com essa fórmula, eu consigo alinhar minha boca lindamente, mas a maior parte do tempo, eu uso na minha boca inteira. Parece um batom, e não é transferido. Toda vez que uso, eu tenho esse suspiro de libertação gigante, artística e criativa que eu apenas — meu coração paira.”

Então: super-heróis, asas para voar.

E então: “Quando eu me tornei Lady Gaga quando eu era jovem, foi por causa da descoberta da maquiagem. Significa muito para mim em um nível profundamente visceral — o poder da maquiagem de mudar como você se sente quando você está no seu pior momento.”

Aos 33 anos, Lady Gaga alcançou o auge da fama, fortuna, e circulação cultural. Ela está falando comigo agora literalmente debruçada no topo de Los Angeles. Mas ela conhece os pontos baixos. Ela já falou bem abertamente sobre ter sofrido bullying, ter sido sexualmente abusada por um produtor musical aos 19 anos, e sofrer com dor física da fibromialgia durante os últimos anos. E há o ritmo implacável, às vezes esmagador.

“Quando eu estava fazendo a Joanne tour [dois anos atrás], eu tenho feito turnê desde os 22 anos. Eu havia acabado de fazer o show do Super Bowl, Coachella, Nasce Uma Estrela. Eu realmente comecei a ficar destruída,” diz Lady Gaga.

“Eu fazia o show, depois eu entrava em um avião, ia para outro país ou estado, saía, dirigia 40 minutos para o hotel, dormia, acordava, fazia outro show. Eu ficava zonza.” Maquiagem era frequentemente a única coisa que parava essa vertigem emocional, que podia colocar Stefani Germanotta em um lugar mental onde ela poderia subir no palco e ser Lady Gaga para dezenas de milhares de pessoas.

Lady Gaga está chorando nesse momento. E se desculpando para mim.

“Sarah [Tanno, artista de maquiagem de Lady Gaga] me levantava do chão, me sentava na cadeira, secava minhas lágrimas, e dizia, ‘Vou colocar no seu rosto agora,’ ” ela lembra. “Se eu chorasse enquanto ela estivesse colocando minha maquiagem, eu pedia desculpas, e ela falava, ‘Está tudo bem. Estou aqui por você.’” Lady Gaga está chorando nesse momento. E pedindo desculpa para mim.

“Sarah fazia minha maquiagem, Freddie [Aspiras] fazia meu cabelo, os dois me seguravam e diziam, ‘Olhe para você. Ali está a Lady Gaga. Você consegue fazer isso. Agora vá fazer.’ E eu ia lá, e no segundo que os holofotes estavam em mim, bam, eu estava concentrada,” ela diz. “Mas eu não poderia fazer isso sem eles. Esse é o poder do glamour para mim. Nem todo mundo tem uma Sarah, mas sou muito sortuda por ter. E eu quero que essa linha seja para a pessoa de casa aquilo que irá te levantar. Se eles usarem, ou não usarem, eles podem pelo menos olhar para ela e falar ‘Isso é o que ajuda Lady Gaga a brilhar nos seus dias ruins. E eu quero brilhar hoje.’”

Mais lágrimas descem. Eu sinto como se eu estivesse assistindo uma atriz muito bonita performar o show de uma pessoa só para uma pessoa só. E parece que estou. De repente alguém aparece de fora do palco (do deck) e joga uma caixa de lenços na mesa para ela. “Oh, obrigada. Você me ouviu chorar? Por que eu choro o tempo todo quando falo sobre maquiagem?”

Eu não sei a resposta, mas eu sei que é a minha segunda conversa com Lady Gaga, ambas sobre maquiagem, e ambas cheias de lágrimas. A maioria das vezes da parte dela. Mas eu fiquei com lágrimas nos olhos na nossa primeira entrevista quando ela contou a história que todo editor de beleza já ouviu muitas vezes: sobre ser uma garotinha assistindo sua mãe se maquiar durantes as manhãs. Mas na história de Lady Gaga, foi além do clichê: “Ela ficava tão, tão bonita, e tão forte. Ela tinha uma bravura tão grande e era tão inspirador para mim. Eu cresci com esse entendimento de que você pode ser corajosa de diferentes maneiras, e uma delas é com a maquiagem.” Mas a lágrima não havia descido até: “Eu realmente espero que quando eu tiver talvez uma menininha, ou um menininho, e eles vêem sua mamãe colocar maquiagem, eles tenham a mesma experiência que eu tive.”

Quando Lady Gaga estava promovendo Nasce Uma Estrela no ano passado, ela e Bradley Cooper contaram a mesma história sobre o dia que ela fez o teste, que também foi sobre maquiagem como fonte de poder. Ele foi até a casa dela, e quando ela desceu as escadas ele disse, “Tire tudo,” entregando uma toalha para limpar. O objetivo era colocar ela em um estado mais vulnerável. Eu perguntei Lady Gaga se ela também vê esses pigmentos como um tipo de armadura. “A maquiagem faz você sentir que está no controle? Você espera que essa linha irá levar esse sentimento para outras pessoas?”

A resposta é: um sólido não. “Eu não quero que as pessoas tenham um sentimento de controle, na verdade,” ela diz. “Eu quero que as pessoas se sintam completamente libertadas por essa linha, para fazer o que elas quiserem com ela. Seja usando muito dela, compre — ou não compre. Eu só quero que amem a mensagem. É como ficar animado porque tem uma festa acontecendo ali por perto e todo mundo está convidado.”

A experiência de Lady Gaga sempre foi de celebração e inclusão. Seu hino de auto-aceitação de 2011, "Born This Way", tornou-se o nome de sua fundação, dirigida por sua mãe, com a missão de "criar um mundo mais gentil e corajoso ... e apoiar o bem-estar de jovens”. Ela foi uma forte defensora da legalização de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Aquele vestido de carne? Foi um protesto contra “Não pergunte, não fale”. (“Eu fui àquela premiação com pessoas que foram dispensadas das forças armadas porque estavam saindo do armário ou foram descobertas”, diz Gaga. “Eu vesti carne como uma representação do fato de que somos todos iguais”). E ela quer que o Haus Laboratories seja uma continuação de sua defesa pela comunidade LGBTQ+, especialmente para a juventude

“Eu gostaria que todas as identidades de gênero soubessem claramente que eles estão inclusos, e nunca exploradas, nunca”, disse ela. “Eu quero que aquele garotinho em casa que gostaria de ser chamado de menina dica, ‘Mamãe, eu quero usar Dynasty. É um Glam Attack’. E a mãe diga, “Oh, meu filho quer ser chamado de menina, e ele quer um Glam Attack’. E então ela vai lá e pega para ele. E ele usa. E aí há um vínculo. É como quando as crianças iam aos meus shows com seus pais, se inclinavam e diziam ‘mamãe e papai, eu sou gay’. Ou ‘eu não sou um menino, sou uma menina’. Ou ‘eu não sou uma menina, sou um menino’. Eu já ouvi essas histórias muitas vezes, várias e várias vezes, durante todos os anos em que estou nesse ramo. E quero que a mesma coisa que tive nos meus shows aconteça com esta empresa. Se não estou mudando a vida das pessoas, o que estamos fazendo aqui? "

No momento não há nenhum vínculo filantrópico na Haus Laboratories, mas é difícil de acreditar que não haverá mais nada. Enquanto eu termino essa reportagem, o país está sofrendo com mais uma série de tiroteios em massa, e Lady Gaga se comprometeu em bancar todos os projetos sem financiamento de 162 salas de El Paso, Dayton e Gilroy, “eu quero canalizar minha confusão, frustração e raiva em esperança” ela disse em um post no Facebook, “espero que estejamos lá um para o outro e para nós mesmos”.

Criar arte e mudanças significativas, apesar da frustração ou dor, bullying ou rejeição, tem poder transformador. Se a maquiagem estava lá para levantar Lady Gaga do chão nos momentos mais sombrios, e dar asas à ela, há uma simetria alegre nisso. Porque é isso que ela sempre fez por muitos de nós. Com essa linha, ela está colocando todos nós na cadeira do chefe.

Além disso, Lady Gaga também fez um photoshoot para a revista. Fotos: Daniel Jackson. Fashion stylist: Nicola Formichetti. Cabelo: Frederic Aspiras. Maquiagem: Sarah Tanno. Unhas: Miho Okawara. Produção: Honor Hellon Production.

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Tradução por Laíza Coelho e Vanessa Braz de Queiroz