Cada geração de artistas é única, ímpar e sempre antecedida por outra, tão grandiosa quanto. Em um momento, uma geração é a influenciada por sua antecessora; em um outro, é ela a base para uma outra e nova geração de astros. Esse ciclo de inspiração na música é normal, frequente e esperado, também ditando o que influenciará os artistas do presente, como acontece com Lady Gaga.

Nessa nova série de especiais, serão discutidas quais são as grandes influências da cantora entre os artistas que tiveram seu auge no passado, expondo seus principais pontos de inspiração, semelhanças artísticas e comparações quanto suas sonoridades e posturas enquanto influenciadores mundiais.

Como primeiro episódio, o artista escolhido foi Elton John pois, além de ser uma das grandes inspirações artísticas da cantora, está presente em uma das colaborações em seu sexto álbum de estúdio, “Chromatica”. O superastro ditou os caminhos da música durante a década de 1970 e até hoje é uma grande inspiração para artistas, bandas e cantores pelo mundo, incluindo a Mother Monster.

Nascido Reginald Dwight em 25 de março de 1947, Elton Hercules John já vendeu mais de 300 milhões de discos pelo mundo, tem mais de cinquenta sucessos nas paradas desse século, incluindo sete álbuns #1 consecutivos na Billboard 200, 58 singles no Top 40 da Billboard Hot 100, 27 Top 10, quatro #2 e nove #1.

Durante 31 anos consecutivos, de 1970 a 2000, teve ao menos uma canção na Billboard Hot 100. Além disso, é dono do single mais vendido de todos os tempos após a criação dos charts musicais (a versão em homenagem à Princesa Diana de 1997 do clássico “Candle In The Wind”) e dos primeiros dois álbuns a estrearem diretamente no topo da Billboard 200 (“Captain Fantastic and The Brown Dirt Cowboy” e “Rock Of The Westies”, ambos de 1975).

Mas, para além da música, o cantor já foi diretor de um time de futebol famoso na Inglaterra, recebeu títulos da realeza britânica, é fundador de uma associação que luta contra a Aids por quase trinta anos (a Elton John Aids Foundation) e, até hoje, é um ícone da música e um dos grandes expoentes do rock’n roll. Entretanto, nem tudo em sua vida é glória: o astro já foi viciado em drogas por 16 anos, já foi vítima de transtornos alimentares e cresceu em um lar muitas vezes hostil e avesso aos seus sonhos na música.

E Elton John está no Chromatica. Na faixa de número 14 do álbum, intitulada Sine From Above, Lady Gaga colabora com, de acordo com a Billboard, o cantor e compositor solo de maior e mais duradouro sucesso de todos os tempos. Embalada em altos e baixos, sua vida é extraordinária e seu impacto na música inegável.

Com Sine From Above, Lady Gaga mostra a seus fãs que, para ela, Elton John é exemplo de superação. Seja pelos enormes e vários sucessos do artista, sua história de vida ou sua aproximação pessoal com a cantora, essa é a mensagem que observamos na canção: a música cura e nos coloca no eixo certo, como fez com Elton John e como faz com Lady Gaga.

Elton John foi, por mais por dez anos, viciado em drogas, como a cocaína, sendo esse um dos motivos de sua turbulência de estrelato na segunda metade dos anos 1980. Além disso, é um artista homossexual, que, desde o início de sua carreira, sofreu com uma confusão interna sobre sua própria sexualidade. Vale lembrar que também sofreu decepções amorosas que ameaçaram sua carreira e várias vezes já tentou suicidar-se, como retrata na letra de "Someone Saved My Life Tonight". Sua vida é um exemplo de superação para muitos, inclusive estrelas da indústria musical, como Lady Gaga.

E não só profissionalmente Elton John é uma referência para Gaga: diversas vezes a mesma, em entrevistas, apontou o artista como um segundo pai para ela. A cantora é madrinha dos dois filhos do cantor e o próprio Elton já declarou que conversou diversas vezes com Gaga sobre o quão prejudicial é o uso de drogas e os riscos de um mau gerenciamento de uma carreira musical.

Abaixo, leia um dos trechos da biografia oficial do cantor, "Eu, Elton John", no qual Lady Gaga é citada:

“Além de Ingrid e Sandy [amigas pessoais do cantor], convidamos Lady Gaga para ser madrinha de Zachary. Eu havia começado a colaborar com um monte de artistas de uma geração mais nova, dos Scissor Sisters a Kanye West. Sempre achei tremendamente lisonjeiro ser chamado a trabalhar com gente que nem era nascida quando minha carreira decolou, mas de todos os jovens artistas com quem colaborei, senti um vínculo especial com Gaga. Amei-a logo ao bater os olhos nela: a música que fazia, as roupas escandalosas, o senso teatral e de espetáculo. Éramos pessoas bem diferentes - ela, uma jovem nova-iorquina de vinte e poucos anos -, mas, logo ao nos conhecermos, ficou claro sermos feitos exatamente do mesmo material: chamei-a de Filha Bastarda de Elton John. [...] Gaga se provaria uma ótima madrinha: aparecia no backstage e insistia em dar banho em Zachary, vestida a caráter, o que era uma visão e tanto."

Gaga e Elton já se apresentaram ao vivo diversas vezes, sendo a primeira delas quando convidados a se apresentarem na entrega do 52º Grammy Awards, em 2010.

Foi apresentado um medley iniciado por "Poker Face", seguido com os sucessos “Speechless” e “Your Song”. Em 2013, como forma de divulgação de seu terceiro álbum de estúdio, “ARTPOP”, Lady Gaga foi a estrela de um dos shows de final de ano dos Muppets, extremamente tradicional nos Estados Unidos por gerações. O próprio Elton John, na década de 1970, teve seu próprio especial com o programa infantil. Além disso, Lady Gaga juntou-se ao cantor em seu show surpresa em Hollywood, no processo de divulgação de seu trigésimo terceiro álbum de estúdio, lançado em 5 de fevereiro de 2016, intitulado “Wonderful Crazy Night”.

Lady Gaga e Elton John possuem paralelos artísticos muito próximos. Talvez o principal deles sejam as performances e habilidades no piano. Não é novidade o uso do instrumento musical por Lady Gaga em apresentações ao vivo, na gravação de seus álbuns e em suas próprias turnês; e em sua própria vida envolvendo a música desde muito pequena. O piano, nesse sentido, pode ser considerado o grande símbolo da carreira de Elton John - seguido, claro, por seus óculos irreverentes.

Figurinos que parecem ter vida própria estão no repertório visual de ambos os artistas. Enquanto Lady Gaga buscava, em seu início de carreira, libertar-se das amarras do que era padronizado pela indústria musical no final da década de 2000, Elton John buscava se firmar e se diferenciar enquanto uma estrela do rock em um período marcado por grandes showmen, como Little Richard, Jerry Lee Lewis e Elvis Presley.

Em sua biografia oficial, o cantor mostra como o cenário dos anos 1960 o ajudou em sua busca por uma autenticidade artística e de visual. Mesmo confuso com sua sexualidade, sempre foi muito envolto por LGBTs que, atualmente, reconhece como pontos primordiais em sua carreira (por serem expoentes dentro da indústria musical da época, como Tony King e John Reid) e vida pessoal. Logo, a esfera LGBT, independente de seu tempo, influenciou a tomada de atitudes artísticas e posicionamentos pessoais na carreiras de ambos os artistas.

Vivendo uma infância muitas vezes reprimida por pais rigorosos, foi na transição dos anos 1960 para a década de 1970 que Elton John começou a fazer sucesso. Ele se viu liberto e com a permissão de realmente ser quem ele quisesse, vestindo-se e agindo como nunca pôde.

Não somente esse aspecto de libertação é um comparativo com o início da carreira de Lady Gaga, mas também a jornada que antecede a fama. Seja tocando em bares, em bandas próprias ou escrevendo músicas para que outros artistas as gravassem: Elton e Gaga, desde pequenos, foram ligados à música. Entretanto, o talento de ambos foi notado por gravadoras e houve apostas em uma suposta carreira de ambos. Apostas que, hoje em dia, reconhecemos que deram algum resultado, vide quem são Elton John e Lady Gaga nos tempos atuais.

Mesmo sendo um artista que conheceu o estrelato no início da década de 1970, Elton John continua sincronizado com a musicalidade atual - nada além do que Gaga fez em “Chromatica”, unindo nomes recentes e famosos do cenário mundial da música e fazendo pop de uma maneira como nunca havia feito, soando mais como o que vem por aí do que o que já foi feito anos atrás.

Um exemplo disso são algumas das parcerias na carreira de Gaga e Elton. Enquanto a cantora se juntou com nomes atuais da música como BLACKPINK e Ariana Grande em seu último trabalho, na década de 1990, Elton John lançou uma versão do sucesso “Don’t Go Breaking My Heart” com a drag queen RuPaul, na época em ascensão. Ambos os exemplos de parcerias possuíram um foco em comum: alcançar novos públicos e abranger mais pessoas à suas obras.

Além de estar entre os 100 artistas mais ouvidos no Spofity mundialmente, o perfil de Elton John em plataformas de streaming organiza playlists com as “músicas do momento”, as quais o próprio cantor comenta em podcasts e postagens em redes sociais. Por vezes aclama novos artistas, citando vários em entrevistas e se mostrando atualizado. Esse é um dos modos que Elton John se faz presente na musicalidade atual.

E não se engane: Sine From Above é uma canção que poderíamos facilmente ouvir em uma casa noturna, com uma parte eletrônica e computadorizada. Entretanto, sua letra remete a alguns clássicos álbuns de Elton John em seu triunfo musical. Com letra intimista, pessoal e totalmente simbólica, a canção poderia ser mais uma dentre os álbuns “Captain Fantastic and The Brown Dirt Cowboy” (1975) ou “Blue Movies” (1976), que falam sobre a vida do cantor e sua trajetória, de modo intrínseco.

O porquê de não a vermos nesses álbuns que é, antes de mais nada, ela é uma canção madura: somente um superastro que já passou por altos e baixos e que celebraria essa canção como forma de superação poderia cantá-la. Feliz somos nós por sabermos que Lady Gaga, então, se encontra ainda mais próxima da cura de seus problemas do passado através da música.

Escute alguns dos sucessos de Elton John, que inspira e influencia a Lady Gaga, junto com as músicas da cantora que são "a cara" do Rocket Man na playlist abaixo!

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Revisão por Vinícius de Souza