A revista Entertainment Weekly divulgou hoje (22), uma entrevista exclusiva com o diretor indiano Tarsem Singh, responsável pela direção do mais novo videoclipe de Lady Gaga, "911".

Na entrevista, Singh conta detalhes de como conversou com Gaga sobre a ideia para o vídeo pela primeira vez, como aconteceram as gravações, edição e todo o processo criativo.

Confira a tradução completa:

ENTERTAINMENT WEEKLY: Gaga disse no Instagram que esse vídeo é baseado em um conceito seu de 25 anos. Isso é verdade?

Tarsem Singh: Eu tive a ideia há mais de 28 anos! Eu disse a ela quando nos encontramos que eu nunca havia escutado uma música sua, que eu não assisti [Nasce Uma Estrela]. Eu disse a ela que a música é o que faria uma grande diferença para mim. Os melhores diretores de videoclipes ouvem uma música e escrevem um vídeo para a música…. Eu esperaria pela canção certa para encaixar [minhas ideias]. Mas eu amei a música.

Eu sabia o que faria com ela, mas eu geralmente ouço somente música clássica e folk.

EW: Qual era a ideia original, e como aconteceu de ir da sua história para um clipe da Lady Gaga?

TS: A ideia original tinha mais a ver com perda de sangue. Meu amigo disse, ‘É basicamente O Mágico de Oz sem o primeiro ato’. No final, é tipo, ‘E você estava lá, e você estava lá!’. Então, para construir o primeiro ato, [nós escolhemos a abordagem] abstrata.

No final você percebe que as imagens eram abstrações, porque ela estava ferida. Eles estão conversando com ela no meio de uma hemorragia. Essas imagens são de pessoas que estavam tentando ajudá-la... Quando ela está nessa fase, ela está vendo e imaginando coisas diferentes.

Cerca de 20 anos atrás, eu pensei que seria uma ideia que combinaria com a banda Massive Attack. Eu amo a música “Angel” deles. Mas nossas agendas nunca bateram. Eu queria projetar essa ideia em Namibia, nas dunas, mas eu já tinha feito isso em The Cell [na areia], então a ideia meio que desapareceu. Então, eu recebi “911”. A melhor coisa sobre isso é que havia uma intro de música clássica, então isso me conquistou…

Ela e eu nos demos bem… Eu não sabia o quão próxima era a ideia daquilo que aconteceu com ela. Quando ela me contou [o que a música] significava, [o conceito] serviu como uma luva. Eu não fiz sobre hemorragia, mas sobre o oposto de estar drogado: basicamente, sobre a falta de droga. Você não tem seus comprimidos, então você não está tomando sua medicação. Eu percebi que não ter seus remédios é tão absurdo como usar muitos remédios ou drogas. Você pode usar heroína, ou não usar o remédio indicado para você para que sinta o que o resto do mundo considera como normal.

Eu tive que pensar no motivo pelo qual essa pessoa está vendo as coisas da forma que está vendo. Poderia ser por ter visto um filme, então eu coloquei o [pôster do Festival de Filmes Armênios] lá…. Seria como se ela tivesse ido assistir esse filme em particular, e foi daí que as imagens estão vindo. Eu peguei tudo isso e transformei em abstrato, então peguei um cineasta, Sergei Parajanov, e transformei tudo em seu estilo e coloquei o mundo dela ali.

EW: Estou curioso sobre as referências específicas ao filme de Parajanov, A Cor da Romã e 8 ½ de Federico Fellini. Por que os símbolos desses filme são tão visíveis na alucinação de Gaga depois do acidente?

TS: Eu contei a ideia para ela [pelo Zoom], e no final ela disse que não poderia haver outras ideias, essa é a ideia. Eu levantei e comecei a comemorar, e quando olhei para trás ela estava chorando. Eu estava tipo, 'Porr*, isso é muito mais pessoal para ela do que eu havia percebido'. Então, ela disse que havia um cineasta que possuía o tipo de estilo visual que ela gostava. Eu acho que ela pronunciou o nome dele errado. Eu disse, ‘Você está dizendo Parajanov?’. E ela disse que sim….

Naquele momento, eu não havia decidido se eu iria adotar o estilo de outro cineasta, mas esse era um encontro de mentes, então nós apenas não falamos sobre isso. Ela moveu o céu e a terra para mim… A única coisa que eu me sinto mal sobre o clipe é que eu queria que o final fosse mais sombrio e com uma aparência mais medíocre, como Cops, feito em vídeo. O problema é que não conseguimos permissão para ir para outra cidade em um lugar real. Por causa da situação da COVID, eles não nos davam mais que uma hora depois que anoitecia. Então eu abracei o backlot.

EW: O final é sombrio, no entanto, em termos da performance de Gaga. Você pode me contar sobre aquele dia e como vocês a prepararam para uma cena tão crua como vítima de acidente?

TS: Eu só tenho duas marchas: sou 8 ou 80 e ela também. Eu sabia que eu não conseguiria muitas cenas… É um tópico muito pessoal para ela, e na noite anterior nós havíamos gravado a parte dentro da igreja, onde ela pensa que o cara vai esfaqueá-la, mas ele está apenas tentando desfibrilar seu coração.

Eu sabia que seria muito mais severo do que eu pensei, então eu fiz apenas uma foto mais panorâmica e pulei para o seu rosto. Na imagem mais ampla, eu percebi que ela se despedaçou imediatamente. Quando fomos para a área externa, eu percebi que não gravaria como um filme... Pensei na condição em que ela estava e o quão delicada ela é comparado com a proximidade da imagem, não precisaria de mais que um take, então [eu falei para os colegas de cena não] conversarem, porque eu não queria que suas falas ficassem por cima das dela.

EW: Foi improvisado?

TS: Bem, ela estava dialogando com pessoas que não estavam falando com ela, e foi ficando frustrada. Ela estava tipo, ‘Por que não estão conversando comigo?’. Ela entrou naquela fase…. Ela apenas fez e precisou apenas de um take…. Eu sabia que com ela eu teria apenas uma chance e que quando acabasse, ela estaria exausta. Então, eu facilitei a situação, fui apenas por um take e disse, "Vai, garota!".

Todos os momentos de imagem panorâmica eu usei uma sósia. Eu queria que ela estivesse presente, e ela estava.

EW: Qual abordagem vocês usaram para gravar isso de forma segura durante a pandemia?

TS: Todos tiveram que fazer testes. Tivemos que ficar bem longe uns dos outros. Estávamos no deserto com roupas apertadas, então algumas pessoas desmaiaram, duas pessoas tiveram que ir embora, um dos cozinheiros não preencheu o formulário de forma correta antes de chegar e todos ficaram sem comer por mais três horas, porque tivemos que mandar todo o sistema de alimentação embora.

Você tinha que seguir um protocolo específico. Especialmente por causa do calor, foi difícil, e não ajudava o fato de todo mundo estar suando igual um porco!

EW: Em qual deserto você gravaram?

TS: Gravamos em Valência, cerca de 25 minutos do norte de Glendale.

Eu encontrei uma fachada para o [oásis] e a pintei completamente de branco. Eu queria uma tudo em branco, porque era originalmente pintado na cor terracota, mas eu queria que as cores explodissem…. Eu queria que a areia fosse branca. Dirigi para o norte perto de San Luis Obispo. Há uma praia que fica cerca de três horas de L.A., e não é a melhor para o que eu queria fazer, mas eu percebi que com uma foto eu poderia fazer efeitos especiais e me livrar da praia que tem lá.

A areia é mais escura, então a deixei branca. É para parecer como a areia do Novo México, onde fica a areia branca, mas não nos deixavam ir para lá.

EW: Quanto tempo levou para gravar tudo isso?

TS: Isso foi mais ou menos três semanas atrás. Terminei o vídeo em 48 horas... De repente todo mundo percebeu que a data estava perto demais de 11/9, e que não seria sensato. Se não fosse por isso, do dia que terminei o vídeo, vocês teriam o assistido quatro dias depois.

EW: Você tem alguma outras história memorável do set?

TS: Vou te contar o que foi perigoso, que eu tive que corrigir no pós-produção: a roupa de couro que ela está usando é uma roupa sadomasoquista, de asfixia erótica, e a temperatura estava em 47 graus. Nós a vestimos….

Fizemos dois takes dela fazendo gestos de 9-1-1 com suas mãos para cima, e depois de três takes, eu acho que ela já estava para desmaiar, então tiramos o adereço de sua cabeça. Eu disse, “Preciso de mais um take!” e ela disse, “Oh, por favor, você conseguiu?”.

Mas eu disse que não porque sua mão com o “1” estava contra sua máscara preta, e eu não conseguia ver seu dedo, e ela disse, “Você realmente precisa disso?” e eu dei uma olhada nela, ela estava muito vermelha, então eu disse, “Conseguimos”. Então eu cortei seu braço de um take anterior que eu tinha.

EW: Me desculpe, espera, aquela roupa preta é uma roupa sadomasoquista de couro?

TS: Não é uma boa coisa para se usar quando está 47 graus no deserto! Ela foi duríssima com o departamento de roupa! Ela foi bem rígida com eles, e isso aconteceu para conseguir o trabalho correto, o que significa que ela se coloca nos lugares mais difíceis. Ela não foi lá porque as coisas eram fáceis.

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