Nesta segunda-feira, dia 08, uma nova entrevista concedida por Lady Gaga foi divulgada pela revista American Songwriter, na qual são abordados assuntos recentes.

A cantora fala sobre seu álbum mais recente, "Chromatica", abordando criação e escolha de algumas faixas, além de falar também sobre gênero, saúde mental e sobre suas constantes mudanças.

Leia a entrevista completa traduzida:

Lady Gaga é uma camaleoa criativa lendária

Na música, dizem que "lendas nunca morrem". Como prova rápida desse ditado, dê uma olhada aos títulos recentes de álbuns e músicas de artistas influentes como Juice WRLD e Orville Peck. A ideia, claro, é que alguns artistas são tão bem sucedidos, tão revolucionários, inspiradores e únicos que o trabalho deles viverá muito tempo após seu último respiro. E tudo isso pode ser verdade. Lendas podem nunca nos deixar. Mas não significa que elas não vivenciam muita dor a caminho de consolidar seu status místico.

Pegue, por exemplo, a lendária musicista Lady Gaga. Seu trabalho, incluindo seu LP mais recente, "Chromatica", viajou o mundo bilhões de vezes. Ainda assim, isso nem sempre facilita os dias e as semanas da artista com disco de platina e 11 Grammys.

"Eu fiz o 'Chromatica' e por mais que tenha sido complicado, na verdade foi bem simples", Gaga disse. "Quando você passa por coisas muito difíceis, às vezes você sente coisas muito dolorosas. É simples assim. Não significa que há algo complicado acontecendo dentro de você necessariamente. Apenas significa que algo muito verdadeiro está acontecendo dentro de você e realmente dói. O que você mais precisa é de alguém — qualquer pessoa — para validar esse sentimento. E quando esse sentimento é validado, é validado para você mesmo".

Para amenizar a dor que pode vir de uma longa carreira e uma constituição profundamente empática e sensível, Gaga tem se tornado extremamente adepta da mudança pessoal. De muitas formas, ela é uma camaleoa criativa, usando suas personas variadas como se fossem refúgios seguros. Como artista, Gaga é uma fusão dos teatros da Broadway, vocais piedosos, poesia precisa, dance music e rock Americana e um mashup de loira estilo Pin-up, atriz, ativista, modelo do vestido de carne e realeza da música. De fato, Gaga representa a frase: "A única constante da vida é a mudança". 

Mas, ao mesmo tempo, a performer imensamente popular sabe que ela tem que continuar serena entre todas as mudanças físicas e mentais.

"Estou tentando garantir que eu fique centrada e focada em minha arte, em meu trabalho", Gaga disse. "Para mim, eu sempre quis sentir como se eu estivesse dando algo ao mundo. Se não for assim, não me sinto eu mesma".

Nascida na cidade de Nova Iorque em 1986, o caminho de Gaga até a composição e o status lendário começou aos 11 anos. Foi quando a artista, nascida Stefani Germanotta, escreveu sua primeira música pop, entitulada: "To Love Again". A artista ri quando fala sobre isso, se perguntando o que ela pensava que sabia sobre o amor quando era tão jovem. "Além de, eu acho, amor de família", Gaga diz. 

Ela lembra de escrever uma música R&B. Foi a primeira vez que ela combinou sua predisposição para escrever poesia com sua propensão de tocar piano. Na época, seu professor — com quem Gaga ainda trabalha quase 24 anos depois — perguntou se ela já havia escrito sua própria música. Ela não tinha, mas graças a ele, ela começou a escrever pouco tempo depois. 

"É interessante", Gaga disse. "Escrever música, para mim, nunca é um processo único. Nunca é um sistema único. Mas existe um sistema. É apenas um sistema em constante mudança".

Apesar de passar por muitas evoluções criativas, Gaga nunca se esquivou de tópicos difíceis. Em seu trabalho e em entrevistas, ela é um livro aberto quando se trata de aspectos mais dramáticos de sua ainda jovem vida. Ela canta facilmente sobre coração partido, PTSD, depressão e solidão. Para alguém que está no topo da cadeia alimentar da música, pode surpreender os novos fãs o quanto ela pode ser comunicativa e transparente. Mas isso não a surpreende. Nem um pouco.

"Eu sou incapaz de falar de outra coisa", ela diz. "Eu acho que é parte das bençãos e das maldições que recebo como artista. Sou alérgica a artifícios que não são intencionais. Se o artifício é intencional, eu gosto. Se o artifício é só puro artifício, eu detesto fortemente. Sou brutalmente autêntica e crua. E não digo isso de uma forma onde eu tento assinalar minha virtude. É apenas porque falta de verdade me dá alergia".

Gaga deseja relacionamentos, experiências, músicas e pinturas orgânicas. Elas a fazem flutuar. Ela descarta qualquer noção de viver uma vida plástica. Ela deseja momentos animados e tangíveis com pessoas autênticas, ela diz. Fingir uma experiência ou contar um conto fraudulento pareceria deselegante e desconexo. Ela rejeita essa noção. Ela preferiria muito mais saborear suas sensibilidades mais honestas em, por exemplo, um jardim de flores efervescentes do que viver presa em um prédio abafado sem a oportunidade de sentir o cheiro das rosas proverbiais. 

"Um jardim é natureza", Gaga diz. "Uma casa é algo que você constrói. Eu quero produzir natureza em minha música. Independentemente da gênese, a semente no jardim da minha rosa tem que ser aquela intenção de criar natureza. Esse álbum, 'Chromatica', foi minha natureza naquele momento. Ainda é, mas eu também evoluí. Posso ouvir o que eu cantei e sentir a catarse. Me sinto em paz comigo mesma, me sinto forte e poderosa. Às vezes quando você não se sente ótima, você tem que criar a fortaleza".

Desde 2001, Gaga tem estado no olhar público. Começou com um papel pequeno naquele ano em um episódio de "The Sopranos" na HBO, entitulado "The Telltale Moozadell". A carreira musical de Gaga começou no início de 2008, no entanto, com o lançamento de seu álbum de estreia, "The Fame Monster", que conta com hits como "Just Dance", "Poker Face" e "Paparazzi". Outros grandes lançamentos inclui o álbum de duetos de 2014, "Cheek to Cheek", com o famoso vocalista Tony Bennett, e o roqueiro "Joanne", de 2016, que de muitas formas causou a Gaga mais danos que coisas boas. Ao produzir "Joanne" a artista foi levada a ficar cara a cara com alguns problemas pessoais do seu passado. Ela precisou trabalhar no "Chromatica", que conta com a participação de artistas como Ariana Grande e Elton John e músicas como "Free Woman", "Rain On Me" e "Stupid Love", para se curar. 

"Eu gostaria de socializar a ideia de que problemas de saúde mental podem ser assombrosos", Gaga disse. "Problemas de saúde mental podem ser confusos para muitas pessoas. Mas eu gostaria de tornar isso mais simples. Uma das coisas mais maravilhosas que já vivi foi um médico não usando seu jaleco branco compartilhar comigo sua vida e as coisas pelas quais já passou. Ouví-lo dizer: 'Eu sei que você está sentindo dor e que isso faz sentido porque você passou por situações muito complicadas'. De certa forma, isso me liberta".

Quando Gaga escreve novas composições, ela diz que entra em um "portal" — ou, "o outro reino", como ela às vezes o chama. É ali que suas ideias, melodias, pensamentos, emoções, sentimentos e expressões artísticas ficam esperando. Ela os acessa através do portal, ela diz. Uma vez que eles começam a invadir sua consciência criativa, o processo de composição começa. Aí é hora de fazer música. E a música que Gaga faz é destacada com cor, iluminação, alegria, respeito, agradecimento e união. Pense em coisas positivas.

"Eu escolhi 'Stupid Love' como o primeiro single de 'Chromatica'  e 'Rain On Me' como o segundo porque essas duas músicas são sobre coisas vitais", Gaga diz. "Amor no mundo, gentileza no mundo. Se livre da vergonha. Abra a porta para a fé. Aceite sua dor e abrace a tempestade de lágrimas. Aceite que você está molhado de tanto chorar, mas que você está vivo. Isso tem que ser suficiente por agora".   Apesar do sucesso muito além de seus sonhos mais selvagens, a artista-celebridade que ela se tornou exige que Gaga aguente muitas coisas em alguns momentos. Frequentemente pode ser exagerado. Gaga, que sofre de doença crônica, diz que já disseram repetidamente para ela que ela é complicada demais ou que é uma explosão de feminilidade — uma mulher louca — mais do que uma pessoa diferenciada e atenciosa. 

"Acredito que os homens têm exagerado nos problemas das mulheres", Gaga diz. "De que de alguma forma somos 'complicadas' quando temos grandes sentimentos. Queria que pudéssemos tirar a armadura de todas as mulheres e pudéssemos simplesmente dizer que temos sentimentos exatamente como todos os outros humanos. Não gosto de rótulos e acho que papéis de gênero deveriam ser jogados fora como se fossem um velho sanduíche. Consigo dizer de forma simples para mim mesma que passei por coisas difíceis e sinto muitas coisas e é assim".

Se tornar uma lenda significa perseverar e deixar uma marca, uma marca que é tão inesquecível que pode nunca apagar ou sangrar. Pode ser que nunca seja superada. O nome Lady Gaga instantaneamente traz várias imagens – ou marcas – para a mente, imagens de uma pessoa que ofereceu e recebeu muito do mundo.

"Eu amo a habilidade da música de espalhar felicidade, gentileza e alegria", Gaga diz. "Eu amo sua habilidade de falar enquanto canta. Amo sua habilidade de dizer coisas sem dizê-las. Eu amo a habilidade de ser simples e complicada ao mesmo tempo, assim como os seres humanos. Eu amo como a música soa. Eu amo a forma que nos conforta e nos cura. Também amo a forma que a música pode ser desordeira. Eu acho que as melhores artes são desordeiras, e eu acho que você pode ser gentilmente desordeiro. Eu quero ser gentilmente desordeira até minha última música".

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Fonte

Tradução por Vanessa Braz de Queiroz