Lady Gaga está estampando a capa da T-Magazine do mês de outubro e deu uma entrevista à revista.

Gaga fala sobre seu novo trabalho, Joanne, e desabafa que está constantemente provando para si mesma que é uma musicista, que tem algo a oferecer às pessoas.

Lady Gaga fez um photoshoot que foi divulgado junto à matéria.

Leia na íntegra:

"Com 'Joanne', a misteriosa pop performer revela seu personagem mais contido: ela mesma".

"Numa tarde de julho, no West Village, no estúdio Electric Lady, criado por Jimi Hendrix, eu conheci Lady Gaga. Ela veio de um lance de degraus e estava me abraçando antes que eu pudesse levantar. Ela usava um chapéu Mary Quant, e vestia uma camiseta branca e jeans preta simples.

A performer de 30 anos estava em Nova Iorque, nesse templo musical, gravando seu novo álbum, “Joanne”. Ela disse que deveríamos começar ouvindo algumas das músicas e ir em direção a um estúdio interno de grandes placas eletrônicas e vidro. Ela sentou em um banco perto das placas e plugou seu iPhone. Um cameraman – ela está fazendo um documentário sobre seu novo projeto – filmou o tempo todo.

A primeira música que ela tocou, foi o primeiro single, “Perfect Illusion”, uma música energética e dançante. Uma balada tocou em seguida, um tributo para sua tia, Joanne, que ela nunca conheceu, mas foi nomeada em sua homenagem. (Ela nasceu como Stefani Joanne Angelina Germanotta). Joanne morreu aos 19 anos, de complicações de lúpus e Gaga disse, com os olhos marejados, enquanto a música pairava no ar, que sua família nunca deixou de lamentar esta perda.

Para melhorar o clima, ela selecionou uma música upbeat. Em seguida, virou em minha direção, tocando uma guitarra no ar, dublando e mexendo seus ombros. Em certo momento, ela estava de pé sobre suas Doc Martens (botas), batendo-as, e debatendo-se em volta como se estivesse possuída. É impossível resistir a Gaga agitando-se estando a apenas um passo de distância – e porque você iria querer isso? E parece que, em todo lugar que ela entra, Gaga parece agir assim e colocar tudo para fora. Em seu trabalho, sua confiança é vivida como os riscos que ela toma.

“Estou constantemente provando-me para mim que sou uma musicista, que eu tenho algo para oferecer para as pessoas no ambiente”.

Gaga, que cresceu em Nova Iorque, no Upper West Side, tinha 13 anos e estava provando roupas numa butique da vizinhança, quando um homem que passava pela loja ouviu-a cantando. Ele achou que ela tinha uma voz incrível e sugeriu que ela entrasse em contato com seu tio, Don Lawrence, um treinador vocal que trabalhou com Christina Aguilera, Mick Jagger e Billy Joel. Gaga disse que estava muito agitada quando eles se conheceram. Lawrence deu para ela um horário. Ela cantou “Hero”, da Mariah Carey, e ele disse que iria fazer uma programação para ela e a concederia avaliações se ela praticasse todos os dias. Ela prometeu que o faria.

Eles se encontravam nas quartas, às 6 horas. No final de cada lição, sua voz estava mais aquecida, não apenas dentro de sua garganta, ela lembra, mas profundamente e por todo o seu corpo. Ela saia do estúdio dele e cantava no aposento circular de prédio [de Dom] por causa da acústica. Caminhando para casa, ela disse que “cantava em plenos pulmões. Eu não me importava com quem poderia ouvir, estava apenas cantando, cantando, cantando, não podia acreditar no quão bom isso era. Era a sensação mais medicinal em todo o mundo”.

Dezessete anos depois, Lawrence ainda está treinando-a em suas capacidades. Ele a treinou para sua performance no Oscar, ele estava lá em sua apresentação do hino nacional americano no Super Bowl 50, e estava ouvindo-a no estúdio Electric Lady Studios dois dias antes. Família é a coisa mais importante para Gaga nesse mundo, e Lawrence é família.

Ser famosa globalmente aos 22 anos é cedo, mas não do nada, não se a vontade de chegar lá tomasse conta de você quando ainda criança e a colocasse no topo das escadas cantando a mesma canção muitas e muitas vezes, testando a paciência de sua família, que nunca entendeu ou te deu suporte. “Eu me lembro de ficar cativada e maravilhada pelo mistério de Judy Garland em “O Mágico de Oz” e a voz dela e seu poder como performer”, ela disse. “Costumava me fazer chorar e mesmo quando eu era bem pequena, eu sempre quis ser uma atriz”. (É como se estivesse predestinado, Gaga vai estrelar no remake de Bradley Cooper de “A Star Is Born”, num papel previamente feito por [Judy] Garland).

Performar não é uma necessidade para ela, é um dever. “Toda a minha vida é uma peça de teatro”. Ela não se lembra de si mesma sendo diferente de seus colegas de classe, mas diz que eles podem ter sentido isso por sua avidez em praticar, em seu esforço de deixar de se divertir para estar em quase todos os shows da escola, a banda de jazz, estudar piano, fazer aulas de balé e aulas de sapateado. Sua carreira é a resposta para eles.

As várias comunidades underground de Nova Iorque podem ser uma aprendizagem disciplinada, e Gaga se orgulha de sua base de arte, fashion e estudo musical. (“My ARTPOP could mean anything”, ela diz em sua música). Seus vídeos musicais ecléticos são teatrais: extremamente profundos, cheios de volume, de roupas e cores, todos os movimentos são pensados em cada quadro. Ela já colaborou com Robert Wilson, mestre do teatro avant-garde, fazendo, em 2013, o controverso vídeo “Flying”, no qual ela é içada nua por mastros. (“Do what you want with my body”, ela canta em outra música “You can’t stop my voice”). Numa série de vídeos em fotografias, também em 2013, Wilson teve a fotografia de Gaga reinterpretando várias pinturas européias, dentre elas a cabeça de João Batista Decapitado.

Conforme ela continua se ramificando, ela não consegue se ver ficando na mesma coisa. “Eu queria me tornar uma mulher”, ela disse em relação ao álbum de clássicos de jazz lançado em 2014 com Tony Bennett. “Meu público ficou ‘Espere, porque ela está cantando jazz? O que está acontecendo?’ E então eles entenderam ‘Ah, porque ela pode. Porque ela ama’ E jazz, uma música inventada pela comunidade afro-americana, é a melhor forma de arte, eu acredito, que já saiu deste país”. Ela conhece a história e o que significa ser uma artista branca cantando jazz, mas quando ela era uma criança, ela não “processava a música de um jeito racial ou gênero”. Ela estava, como disse, apenas ouvindo.

Apesar de não ter crescido uma garota negra, “Eu consigo sentir e ver o medo e o poder nisso”, ela disse. “O sistema judicial está quebrado. Eu presenciei tudo que pelo que passei com [a comunidade LGBT], e o que eu senti com eles, num nível espiritual. Quando existe justiça e mudança, você começa a ver a limpeza da alma [das pessoas] e é isso que eu quero para todos e espero que esteja tudo bem eu dizer essas coisas”.

“Eu fico bloqueada pelo meu próprio trauma, às vezes. A escuridão, os constantes pensamentos negativos que se repetem, que gritam e interferem e a música que eu ouço dentro da minha cabeça”.

Ser uma mulher deu a ela a perspectiva e a capacidade de identificação com grupos marginalizados. “Eu fiquei obcecada em escrever a história deles de uma forma musical”, diz Gaga, que canta sobre fragilidade enquanto é feroz ritmicamente. “Estou constantemente provando-me para mim que sou uma musicista, que eu tenho algo para oferecer para as pessoas no ambiente. Que mulheres podem ser musicistas, mulheres podem ser rock stars, mulheres podem ser mais do que essa ideia objetificada de pop star”.

Gaga irritou sua educação clássica na arte porque a ligação com o pop e com o rock já era muito forte nela – durante todo esse tempo, a artista tem crescido e agregado seus conhecimentos. Lawrence a encorajou a escrever músicas, mas ela admitiu que possa ser desafiador. “Eu fico bloqueada pelo meu próprio trauma, às vezes”, ela diz. “A escuridão, os constantes pensamentos negativos que se repetem, que gritam e interfere a música que eu ouço dentro da minha cabeça. Mas quando estou fazendo música, eu ouço todas as partes, todos os instrumentos. Eu ouço do jeito que deveria ser”.

Ela lembrou-se de uma entrevista do John Lennon para a Playboy. Ele falou sobre como não conseguia ouvir alguns dos maiores sucessos dos Beatles porque o processo criativo foi tão intenso – e ouvir a música novamente o levava de volta a insanidade. Quando ela estava escrevendo, ela disse “Você começa a entrar numa zona – o que eu também descrevo como “mente cheia” [um estado consciente]. Você precisa estar ciente de que coisas não desejadas estão vindo, mas existe claridade lá também e você precisa encontra-lá”.

Gaga não está interessada na romantização da autodestruição, mas ela aprendeu a coisa mais importante de Lennon. “Coragem", ela disse, “você precisa ter coragem”.

Adquira o álbum Joanne, através da pré-venda nas lojas FNAC ou Saraiva.

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Tradução por Bruno César

Revisão por Kathy Vanessa