O jornal New York Times causou revolta entre os fãs, na última quarta-feira, ao publicar, em seu site, uma review bastante duvidosa sobre o álbum Joanne.

É a primeira vez que o NYT faz review de um álbum da Gaga e, segundo eles, o disco merece uma nota média.

Leia o artigo traduzido:

NOTA: 40

Por durante quase uma década, Lady Gaga tem sido assídua ao argumentar o caso que diz que o externo é o interno, aquela performance é autêntica, aquele exibicionismo é uma ideologia. A sua carreira tem sido formada em derrubar ideias convencionais sobre o que pode significar interpretar um personagem — com Gaga, nunca foi interpretação, sempre trabalho, sempre verdade.

Embora ela tenha focado nos poderes transformadores da apresentação, algum tipo de transformação sempre estaria por vir — Lady Gaga foi sempre uma cantora focada demais para ser definida apenas por sua apresentação. Em seus shows antigos, quando ela se sentava por trás de um piano, cantando o seu futuro como uma poeta lírica — um Billy Joel, ou até um Elton John — parecia quase que gravado em pedra.

Isso significa que o seu novo álbum, o minimalista Joanne, não é desafiador ou radical — é lógico, uma visita ao seu passado e também ao pop inteligente que a envolve.

Porém, enquanto Joanne é fundamental, nada sobre ele é natural. Ao invés, é confuso, cheio de canções que parecem conceitos em busca de um lar, pequenas peças teatrais extraídas de alguma outra produção imaginária. É ingênuo em seu uso de música de raiz e rock como explicação de algo verdadeiro — como se o excesso de anos passados não tenha sido, de certa forma, a sua própria forma de sinceridade.

E o que é mais frustrante, o álbum é intenso em partes, e nem tão intenso em outras, as letras que começam sem originalidade e sem brilho. Perfect Illusion, o caótico single de estreia, é uma mistura de gritos — ela cantando inconsciente, e não é ruim, mas o resultado soa como uma demo aonde você consegue ouvir as partes que não foram editadas. A-YO, com seus sons exuberantes de trompa, palmas e violão, soa como uma paródia da Britney Spears ou como uma canção tirada de um daqueles musicais ao vivo que tem dominado a televisão desde o fim de Glee.

Letras que a Lady Gaga de antigamente canta com uma certa malícia — por exemplo em Sinner’s Prayer, ou a marcha política Come to Mama — me parecem desagradáveis.

Mesmo as melhores partes de Joanne — embora tenha as suas falhas, tem muitos momentos fortes também — não contam uma história coerente. Lady Gaga é, agora como nunca, uma cantora impressionante. Neste álbum, as partes em que ela canta bem são frequentes, porém alguns momentos são tão excessivos que mais parecem uma simulação do que algo verdadeiro.

Mesmo se isso for proposital, me parece sem um apelo em um álbum que quer ser transparente, de uma artista que a ideia de performance nunca está longe. A faixa título é uma das mais normais, que contem menos performance no canto — ouça como ela diminui o volume nas vocais, como um gesto de acessibilidade — mas é muito instável para ser agradável.

Lady Gaga já apareceu “crua" antes; durante os últimos anos, isso se tornou um padrão: na sua colaboração com Tony Bennet no álbum Cheek to Cheek, que ganhou o Grammy de melhor álbum tradicional no ano passado, ou em seu tributo à “Noviça Rebelde” na cerimônia do Oscar, no mesmo ano. Essas performances foram impressionantes de uma maneira diferente — maquiagem discreta, mas maquiagem de qualquer forma.

Estes passos, e Joanne, também, servem de uma correção exagerada à excentricidade que foi ARTPOP, seu último álbum, que flopou. A excentricidade é uma das zonas de conforto de Lady Gaga, e o fracasso desse álbum deve-se ao fato dela ter enfatizado mais os aspectos não musicais de seu personagem do que a sua falta de influência na música.

Então, em Joanne, ela sai em uma jornada em busca de inspiração. Nenhum álbum pop recente contém uma tão vasta lista de colaboradores que arrancam eles de seu charme particular. Mark Ronson aparece no álbum inteiro, como escritor e produtor, mas há muito pouco aqui do seu funk. Dancin In Circles, colaboração com Beck, soa como uma demo do No Doubt. Josh Homme toca guitarra em algumas músicas, mas nada perto da sua ferocidade. O dueto com Florence Welch soa como Motown, mas a voz de Florence não é nem um pouco ousada como de costume (embora seja melhor que a de Lady Gaga com facilidade).

A única colaboradora que manteve a sua originalidade aqui foi Hillary Lindsey, uma das mais bem sucedidas escritoras de Nashville dos anos 2000, uma mestre das baladas. Em Million Reasons, ela leva Gaga a uma balada country, mas não a consegue deixá-la por muito tempo.

Mesmo quando Gaga estava em seu auge na música pop, ela nunca esteve no centro. Como resultado, sua música parece como uma memória distante, não recente. E o pop se move rapidamente: vide o seu recente desentendimento com os reis do pop de boate, Chainsmokers, que disseram não ter gostado de Perfect Illusion em uma entrevista. Ela respondeu, friamente no Twitter, o que pareceu uma mãe, dispensando uma criança mal criada.

O que é justo: os Chainsmokers não veem a música dance como teatro vanguardista ou uma provocação sociopolítica. Eles a veem como pop, simplesmente. Por isso eles são alérgicos a Perfect Illusion. Mas em vez de ser ofensiva em um tweet, ela deveria ter ligado para eles.

Tradução por Aloisio Kreischer

Revisão por Kathy Vanessa

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