Chris Moukarbel continua concedendo entrevistas para falar sobre o seu trabalho como diretor do documentário "Gaga: Five Foot Two", lançado no último dia 22, através da Netflix.

Em conversa com a Paper Magazine, ele falou sobre vários momentos das gravações do projeto.

Confira a tradução:

Como você se envolveu no projeto?

"Eu me envolvi através do empresário dela. Ele vinha falando há muito tempo que ele queria fazer um filme sobre ela, mas não era algo urgente. Eles conversaram sobre isso, mas eles não estavam à procura de um diretor ou algo assim. Ela estava, para ser honesto, um pouco relutante em fazer o filme. Ela estava muito focada em compor e estar no estúdio, e eu queria garantir que ela não seria distraída. Do jeito que eu descrevi minha abordagem foi meio que uma ideia estilo verité, eu gravei esse período da vida dela e não dei abertura para seu passado ou entrevistas. Fiquei apenas com a câmera nela, mantendo próximo e criando um retrato do que estava acontecendo no momento. Eles acharam legal, eles acharam que seria uma abordagem interessante, então eu basicamente sentei com ela na casa dela e comecei a gravar, ela foi muito intuitiva e sentiu que poderia trabalhar comigo. Eu não queria criar muitas expectativas do que seria, porque ela estaria fazendo as coisas dela, então eu a segui naquele dia e acabou se tornando a primeira cena do filme".

Por que você decidiu seguir a linha de manter uma única perspectiva? Por que você não fez entrevistas com ela ou com as pessoas ao redor dela?

"Eu achei que seria interessante, é um grande problema quando você começa a abrir espaço para o passado dela. Eu digo, ela já fez tanto, por onde começar? Eu queria, em uma hora e meia, uma hora e quarenta minutos, ser capaz de criar um retrato de alguém que eu acho fascinante. E para mim, foi claro que a melhor forma de conseguir isso seria realmente manter o enquadramento firme e restrito, e assim conseguir aproveitar o máximo do que estava acontecendo no presente e entender o motivo daquilo".

O que te fez querer fazer o projeto? O que tornou Gaga a perfeita estrela para o filme?

"Eu sempre fui muito interessado na música pop, e por causa disso, eu sempre fui atraído por ela porque ela é uma estrela pop tão maravilhosa, de diversas formas. Eu lembro quando ela apareceu, eu fui totalmente tomado por ela. Eu sinto que ela foi a primeira estrela pop da era digital. Madonna foi conhecida por mudar sua identidade e seus looks em cada álbum, e isso foi relevante naquela época, Gaga fazia isso todos os dias. Ela criava conteúdos para os sites diariamente apenas ao andar da porta para o carro dela, e tratando aquela caminhada como uma passarela, eu achava aquilo muito legal. A música, eu sempre me conectei, acho que ela é uma compositora incrivelmente talentosa".

Por que agora foi um bom momento para gravar esse documentário?

"Eu não sei como era a vida dela antes, tudo que posso falar é sobre o que eu vi e minha experiência. Eu acho que a vida dela sempre foi muito interessante, mas que não é fácil. Acho que desta vez, muita coisa tinha acontecido no último ano para ela. Ela estava definitivamente passando por muita coisa. Quando eu comecei a gravar, ela estava compondo o álbum e nem tinha um título ainda. O Super Bowl nem estava no horizonte. Foi interessante assistir ela tantas vezes no decorrer desses oito meses que eu estava gravando".

O filme realmente intercala momentos íntimos e emocionais, cheios de ação e cenas intensas de forma rápida. Como você conseguiu encontrar equilíbrio entre esses dois?

"É interessante, porque eu percebi enquanto eu estava editando o filme, como a minha câmera e meu relacionamento com a câmera mudaram no decorrer das gravações. No começo, eu filmava muito de perto. O primeiro mês, ela estava fazendo fisioterapia e estava bem próximo do rosto dela e à medida que sua vida fica maior e mais complicada, e quando as demandas da carreira dela começam a tomar o controle, meio que isso me puxa para trás e dificilmente ficávamos sozinhos. No decorrer do filme, você percebe que sempre há mãos nela, ela está sempre sendo tocada e isso é uma necessidade daquilo que ela faz. No filme, ela é apenas essa pequena mancha no céu no Super Bowl, e naquele momento ela pertenceu ao mundo, ela está no palco do mundo".

O que foi a coisa mais interessante para você gravar?

"Eu realmente desfrutei gravar todas as cenas de clipes e assistí-los produzir aquilo, como eles organizam tudo, o quão envolvida ela era naquele processo. Eu digo, ela é envolvida do início ao fim. Assistí-la trabalhar no estúdio e depois assistí-la trabalhar criativamente, elaborando sua imagem e experimentando todos aqueles chapéus foi fascinante".

O filme fica muito mais pessoal do que os clipes. Como você criou um equilíbrio entre criar algo tão cru sem ultrapassar os limites?

"Eu disse a ela desde o início que eu gravaria tudo que eu visse, e se ela quisesse que eu desligasse a câmera, eu desligaria. Estava claro que ela tinha a autoridade. Era muito raro ela pedir pra eu desligar a câmera. Geralmente era porque envolvia alguém que não estava lá, quando ela estava falando sobre alguém ou quando envolvia alguém que não queria ser parte do filme. Frequentemente, ela me deixava gravar e confiava nisso. Ela não viu o filme até a estreia, então ela me deu muita liberdade criativa para fazer isso, foi meio chocante para mim".

Como você a convenceu a te dar essa confiança?

"Ela é muito certinha no que ela faz, seja atuando ou compondo. Eu acho que para ela participar de algo assim e para valer a pena, ela sabia que tinha que sair criativamente do processo. Eu achava que ela iria assistir ao filme, eu esperava receber observações dela e ter que negociar certos aspectos criativos do filme, e isso nunca aconteceu. Em um momento, isso estava me deixando louco porque eu pensei que algo iria dar errado, mas não deu. Ela achava que não conseguia ser objetiva sobre ela mesma. Alguns amigos dela tinham visto o filme e eles acharam lindo e aprovaram, e ela aceitou. É muito raro alguém na posição dela renunciar controle, mas ela renunciou e eu acho que isso contribuiu com o filme".

Houve algo fora dos limites antes?

"Na maior parte das vezes, se nós desligássemos a câmera, era porque ela não queria que ninguém fosse envolvido ou magoado, ou que ninguém se sentisse mal. Coisas sobre o relacionamento, ela não queria discutir em câmera, porque Taylor não estava lá e não poderia contar seu ponto de vista. Ela era firme sobre isso. Apesar de haver menções ao rompimento no filme, não foi algo que ela queria falar muito sobre".

Nós vimos muito de Gaga lidando com a dor crônica, algo que ela tem falado muito. Por que você decidiu tornar esse tema frequente no filme?

"Aquilo foi uma das poucas coisas que ela queria que estivesse no filme. Ela nos deu muita liberdade criativa, mas aquilo foi uma coisa que ela sentiu que queria ver lá. Ela sempre está buscando ver como pode usar sua voz para colocar uma mensagem positiva, e eu acho que da perspectiva dela, há muitas pessoas que enfrentam coisas similares, e se eles vissem ela e percebessem que com todos os recursos que ela tem ela ainda está sofrendo, poderia ajudar as outras pessoas em sua empreitada".

Outra coisa que foi chocante foi que ela falou sobre a situação com a Madonna.

"Eu fiquei surpreso; eu achei muito legal. Eu acho que está sendo tratado pela imprensa de forma muito mais obscena. Mas naquele momento, ela estava falando isso no contexto de como ela e o trabalho dela têm sido influenciados por outras pessoas e como foi confundido com plágio quando ela tinha direcionado algumas coisas como uma forma de honrar o trabalho de quem veio antes dela, e muitas músicas pop fazem isso. Com Madonna, basicamente, ela sentiu que ela poderia ter lidado com a situação de forma diferente e não precisava ter tornado tudo tão desagradável".

Falando na Madonna, obviamente ela lançou ‘Truth or Dare’ anos atrás, um dos documentários mais icônicos da música. Você pegou dicas dele ou de algum documentário de música ou você tentou evitar ao máximo isso?

"Sabe, ‘Truth or Dare’ foi um momento tão importante e crucial para documentários e definitivamente me influenciou quando eu era jovem. Não havia documentários como aquele, e não havia tanta realidade na TV antes dele, então foi lançado em uma época quando as pessoas nunca tinham visto como as pessoas eram reais, ou pelo menos como realmente eram. Mesmo coisas pequenas como o fato de que Madonna bebeu água Evian foi uma grande coisa para as pessoas assistirem. Agora, eu acho que nada disso teria feito um impacto, mas eu amo aquele filme, acho que é uma referência. Eu tenho que dizer, eu intencionalmente evitei coisas que fizessem referência ao ‘Truth or Dare’ naquilo que eu estava fazendo. Eu senti que era muito importante criar algo que parecia e sentia completamente diferente, foi o que fiz. Gaga é uma pessoa muito diferente da Madonna, apesar do fato de elas serem constantemente comparadas. Eu sinto que isso é um estilo completamente diferente".

Houve momentos quando você estava gravando que foram difíceis de assistir ou que você não sabia se deveria gravar?

"Aquela visita na clínica onde ela faz a terapia de pontos de gatilho e eles estavam colocando agulhas nas costas dela, aquilo foi bem difícil. Foi difícil estar lá, difícil de assistir. Ela estava sentindo muita dor e o tratamento foi também muito doloroso para ela, mas é algo que conversamos e ela sentiu que precisava ser incluído no filme, eu tentei estar ali de forma respeitosa e gravei tudo com muito respeito".

Há algo que você tirou na edição e se arrependeu ou que você queria ter gravado mais?

"Não, para ser honesto. Eu gravei tanto, gravei centenas de horas, e no final eu me senti bem sobre tudo que foi pro filme. Eu não tive que cortar nada por causa do tempo, necessariamente. Você acaba tendo muitos temas, momentos e cenas repetidas, coisas que você não precisava repetir. Eu acho que eu estava tentando criar outra história".

Se você pudesse fazer esse estilo de filme com qualquer outra pessoa, quem seria?

"Eu não acho que eu faria outro filme como esse. Foi algo que eu realmente queria fazer, um filme sobre uma cantora pop, e eu não sei como continuar isso. Eu acho que Gaga ditou as regras. Eu sempre vou explorar temas similares. Estou interessado na identidade e identidade política na performance, autenticidade - esses são temas que eu vou fazer e outros projetos que faço, mas eu não acho que farei um documentário sobre alguém como ela novamente".

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Tradução por Vanessa Braz de Queiroz

Revisão por Kathy Vanessa