Foi divulgada na manhã desta segunda-feira, dia 27, a primeira review completa do filme "Nasce Uma Estrela", estrelado por Lady Gaga e Bradley Cooper.

O site TalkHouse foi o responsável pela review, descrevendo vários momentos do filme e destacando a atuação de Gaga como impecável em todas as cenas.

Confira a tradução completa logo abaixo:

Quanto tempo alguém precisa passar vendo um filme antes de poder chamá-lo de um dos melhores de todos os tempos?

Alguns anos atrás, eu ouvi Paul Schrader dizer que você não pode colocar um filme no panteão até que tenha pelo menos 10 anos, e eu entendo o que ele está dizendo; certamente há inúmeros filmes que a maioria de nós reverencia ('A Felicidade não se Compra’, ‘Blade Runner’, ‘O Iluminado’) que receberam reações diversas ou até ruins no seu lançamento, e um número que foi celebrado na época, mas que agora está mais ou menos esquecido. (Alguém hoje realmente acredita que ‘Carruagens de Fogo', vencedor de Melhor Fotografia de 1981 é um filme melhor do que ‘Um tiro na noite’ ou ‘Corpos Ardentes’ ou ‘Profissão: Ladrão’, ou melhor que qualquer outro ótimo filme lançado naquele ano?) De vez em quando, no entanto, eu encontro um filme o qual eu imediatamente acredito que irá durar enquanto existir filmes e pessoas para assistí-los, e eu não tenho essa sensação somente depois de assistir uma vez, mas antes mesmo do filme terminar. Aconteceu enquanto eu estava assistindo ‘Os Bons Companheiros’ no final de semana, e durantes 'Os Imperdoáveis’ de Eastwood, e ‘Prazer sem Limites’, e agora aconteceu novamente com ‘A Star is Born’ de Bradley Cooper. É confiante, ambicioso e cheio de prazeres díspares, assim como é completamente controlado e coerente, é a estreia como diretor mais impressionante feita por um ator desde ‘Gente como a Gente’ de Robert Redford – talvez desde ‘Mensageiro do Diabo' de Charles Laughton. É um daqueles filmes raros que te prende desde a cena de abertura e então apenas fica melhor e melhor em cada cena; nos primeiros minutos, você sabe que está nas mãos de um cineasta recém nascido e que pode apenas relaxar com a confiança de que sua fé será recompensada - o que é, muitas e muitas vezes.

Aqueles primeiros minutos de ‘A Star is Born’ servem como microcosmo de muitos dos caminhos - mas longe de todos - que Bradley Cooper, como co-escritor, como diretor e ator (bem como co-compositor de muitas das músicas), explora no decorrer do filme. Começa com o barulho estrondoso da multidão enquanto o cantor-compositor Jackson Maine (Cooper) sobe no palco para cantar a música de abertura do show; nós o assistimos performar essa música, então o seguimos do palco para um silêncio isolador de uma S.U.V afastando-o do show. Imediatamente, Cooper estabelece a abordagem subjetiva que ele adota no filme todo, colocando o espectador no ponto de vista de Jack; da mesma forma que a câmera fica dentro do ringue de boxe em ‘Touro Indomável’, em ‘A Star is Born' a câmera nunca deixa o palco nas sequências de show, dando ao espectador uma experiência sensorial esmagadora e vívida do que é ser um artista. Quando Jack deixa o palco e entra na S.U.V. e vai para um bar local, onde ele conhece a heroína do filme, Ally (Lady Gaga), nossa identificação cresce ainda mais quando Cooper cria um senso palpável do que é para esse cara ser famoso – de como o mundo se expande e contrai para uma celebridade, e como o som de ser famoso é uma grande cacofonia, interrompida por momentos de quietude, e depois volta à cacofonia. Com toda a intensidade com a qual Cooper nos conecta à perspectiva de Jack, ele também consegue nos conectar à Ally de forma igualmente poderosa quando ela é introduzida; no resto do filme, Cooper troca o ponto de vista não só entre Jack e Ally, mas entre o elenco de apoio que inclui Sam Elliott como irmão de Jack, Andrew Dice Clay como pai de Ally, e Dave Chappelle como velho amigo de Jackson.

O resultado é um filme com a amplitude de peça de combinação épica e a intimidade e impacto emocional puro do estudo de personagem de Bergman ou Cassavetes. E não é apenas um filme de vários pontos de vista – é um filme de múltiplos temas e até mesmo vários estilos e gêneros, todos mantidos em perfeito equilíbrio por Cooper. A história de amor no centro, entre um artista masculino em declínio e uma artista feminina em ascensão (mais famosa em 1954 com James Mason e Judy Garland e em 1976 com Barbra Streisand e Kris Kristofferson), mas Cooper, sem sacrificar um pouco a força do amor e da paixão, constrói em cima disso algo muito maior. Não é apenas uma grande história de amor, mas também uma avaliação complexa de como nós somos moldados por nossa família, uma investigação sofisticada a respeito das conexões entre autodestruição, consciência própria e celebridade, e um retrato rico do custo de ser um artista – o quanto é trabalho duro, o quanto é talento natural e como a glorificação e rancor daqueles que não estão dispostos a lidar com esse último e não possuem consciência da mente confusa de um artista. E como artistas acabam bagunçando a relação com aqueles próximos a eles. Isso é apenas a 'ponta do iceberg’ de um filme que é também muito mais honesto e detalhado na sua representação do vício do que as versões anteriores de ‘A Star is Born’, e que encontra tempo dentro dos 135 minutos para vários momentos que são tesouros independentes, principalmente presentes em gestos pequenos expressando as tensões e laços em relacionamentos que evoluíram no decorrer de décadas. ‘A Star is Born’ é tão satisfatório nos grandes momentos como é nos pequenos, alcançando alturas de espetáculo alucinante nas partes musicais (a maioria delas teve que ser gravada rapidamente por Cooper e sua equipe por poucos minutos em prévias de shows).

De forma surpreendente, Cooper faz tudo isso em menos tempo de tela do que as versões de Mason-Garland ou Kristofferson-Streisand para 'Nasce Uma Estrela'. Seu roteiro, co-escrito com Eric Roth e Will Fetters, é tão compacto como é complexo, com cada cena e cada personagem servindo múltiplos propósitos ao mesmo tempo. É uma escrita sólida, preenchida com discernimento e incidentes, mas tão bem estruturada como o melhor de Robert Twone e Lawrence Kasdan, e teria sido um ótimo filme mesmo se tivesse sido filmado de forma trivial. O que faz de 'Nasce Uma Estrela' uma obra-prima é a forma que Cooper e o cineasta Matthew Libatique pegam esse roteiro e adicionam mais dimensão e ressonância a ele através de seu estilo visual elegante e expressivo. Esse ponto de mudança de visão que eu mencionei é lindamente transmitido através do movimento da câmera e cor, como os cineastas fazem coisas sutis para ilustrar o estado de espírito de Ally enquanto ela entra no mundo de Jack como um complemento e, então, finalmente, tira o brilho dele (rastreando a cor vermelha ao longo do filme, é possível acompanhar o fluxo e refluxo do poder de Ally como artista e mulher). Cada escolha que Cooper e Libatique fazem, de filmar Jack com lentes anamórficas vintage - que realçam os flares e a névoa - para mostrar o espetáculo intoxicante de sua vida e de sua instabilidade, até decidir quando manter as lentes de perto e quando puxá-las para longe, coloca o espectador no estado emocional e intelectual específico que o diretor pretende. Além disso, este é o oposto de um filme fechado e manipulador, onde não há espaço para o público contribuir. Como Scorsese, cujo trabalho (particularmente The Last Waltz, New York, New York e Life Lessons) se assemelha fortemente a este filme, Cooper de alguma forma descobriu como casar a precisão de Hitchcock ou Kubrick com a generosidade emocional e a natureza psicologicamente investigativa de Cassavetes ou Kazan.

Eu não estou completamente certo de como Cooper atinge este feito, mais do que eu estou de como Scorsese atinge, mas eu suspeito que tem algo a ver com ter um comando firme de visual e tom da peça, dando aos seus atores liberdade total para explorar. Cada pessoa neste filme é tão boa como já estiveram na tela, revelando novos lados não só dos seus personagens, mas também de si mesmos (há um meta-aspecto para vários desses desempenhos que Cooper explora, para que todos valham a pena). O inegável destaque é Lady Gaga, cujo desempenho aqui vai muito além do que normalmente pensamos como uma grande atuação e se move para a situação de, digamos, Gena Rowlands em A Woman Under the Influence. O papel exige que ela toque cada nota na escala emocional, das profundezas do desespero para a exuberância alegre, e Gaga é impecável em todas as cenas. Seu trabalho prova o clichê sobre o característico tornando-se universal, enquanto ela entrega cada momento de formas únicas e surpreendentes, e faz escolhas ousadas que nenhuma outra atriz faria, ela ainda dá a cada um desses momentos um sentido profundo e comovente de identificação para o público - cada triunfo e cada desgosto passado pelo personagem parece totalmente honesto e relacionável, e tudo se baseia em um dos finais mais emocionalmente destruidores que eu já vi em um filme. É um dos muitos triunfos de Cooper quando, no final, ele pega os vários temas que são mostrados por 135 minutos e junta em um momento maravilhosamente destilado de tragédia, celebração, saudade, renúncia e sobrevivência que revela que ele estava contando uma história de amor simples e clássica o tempo todo. É uma cena e um filme memorável.

Nota: 5/5

No Brasil, "Nasce Uma Estrela" estreia no dia 11 de outubro.

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Fonte

Tradução por Vanessa Braz de Queiroz

Revisão por Vinícius de Souza