Em uma entrevista exclusiva para o LA Times, divulgada neste sábado (08), Lady Gaga e Mark Ronson falaram sobre o processo criativo de "Shallow", primeiro single da trilha sonora de "Nasce Uma Estrela", explicando como a música mudou ao longo do tempo até que o filme fosse lançado.

Confira a tradução:

‘Nasce Uma Estrela’: Lady Gaga e Mark Ronson mergulham profundamente em ‘Shallow’.

Lady Gaga sabia que a música ‘‘Shallow’’ era especial desde a primeira vez que ela tocou a melodia para os colaboradores Mark Ronson, Anthony Rossomando e Andrew Wyatt dois anos atrás em um estúdio de gravação em Malibu. Mas quando ‘‘Shallow’’ se trançou à história do remake de Bradley Cooper, ‘Nasce Uma Estrela’, como a base da história de amor do filme, se tornou outra coisa.

‘‘É uma música que te dá asas para voar’’, Gaga diz.

É ouvida pela primeira vez no filme durante uma cena de paquera íntima, tarde da noite e em um estacionamento entre Ally, a cantora aspirante interpretada por Gaga com seu charme desarmante, e Jackson Maine, a super estrela country-rock grisalha de Cooper, ‘‘Shallow’’ ruge à plena vida mais tarde no filme quando Jackson convida Ally para o palco para cantá-la durante um show no Greek Theatre.

A escalada da ponte de Gaga quando ela pega o microfone — grosseiramente descrito como “Haaaaaa-ahhhh-ahhh-ohhhh-ahhaaaaaa-ahhhh-ahhh-ohhhh-ah!!!”— é o momento que a estrela de Ally nasce. Quando o trailer do filme saiu em Junho, foi também o momento que deu origem a milhares de memes e acendeu as expectativas para o filme, que arrecadou quase $200 milhões em sua corrida doméstica.

Indicada ao Grammy por música do ano, gravação do ano, e conseguindo um aceno do Globo de Ouro por música original, a dominação de ‘‘Shallow’’ parece longe de acabar.

‘‘O filme transformou a música em um outro nível’’, Ronson diz. ‘‘Você se sente muito sortudo por estar junto na jornada, porque alguém pegou aquilo que você fez e atrelou a um carrinho com esteróides’’,

Nós falamos recentemente com Gaga e Ronson, onde ambos ainda parecem um pouco chocados com a popularidade da música, particularmente porque a balada poderosa meio country soa muito diferente de praticamente tudo que está nos charts hoje em dia.

Gaga: Quando eu escrevi a música com Mark, Anthony e Andrew, foi diferente de qualquer outra experiência que eu tive ao escrever uma música. Havia uma natureza séria no cômodo. Eu estava no piano, cada um deles tinha um violão em suas mãos e nós começamos com a letra e conversando uns com os outros. A música é assim. É uma conversa entre um homem e uma mulher, mas nós não sabíamos disso quando começamos.

Ronson: No roteiro original, Jackson iria se afogar no final. Então Gaga entra, senta no piano e começa a tocar alguns acordes, e soou grande, logo de cara. E ela começou com o refrão, ‘‘Estou no precipício, assista enquanto eu mergulho’’. Ela tinha grande parte da música na cabeça dela, e eu estava apenas tentando oferecer algumas palavras. ‘‘Caio na superfície, onde não podem nos machucar’’.

Parecia uma música para se tocar nos créditos, porque era sobre suicídio. Ou talvez eu que penso isso. Na minha mente era a música dos créditos, e ele afogou.

Gaga: Houve um tempo em que ele iria afogar no final, então nós pensamos que seria a música final. Depois, à medida que o roteiro foi mudando, nós fizemos a música ser sobre os dois se apaixonando. Eu realmente sinto que havia mais do que apenas o elemento literal de afogamento do roteiro original. Era muito mais sobre querer uma conexão e amor profundos do que era sobre água.

Ronson: Não sou entusiasta de filme nem cineasta, mas esse filme mostra muito bem o que é se apaixonar. Aquela cena do estacionamento onde ela canta o primeiro verso para ele… são duas pessoas que não querem que a noite termine. Para a música ter sido colocada daquele jeito… quando vi pela primeira vez, eu fiquei arrepiado.

Gaga: Começa no estacionamento. Depois ela chega no show, e Jackson teve um certo tempo para pensar sobre isso, e ele adicionou o seu verso. Ela ficou tão impressionada com o que ele fez por ela e pelo arranjo que a deu coragem para ir lá e cantar na frente do seu público.

É uma música que essencialmente inspira os dois a serem destemidos de formas diferentes. Para ele, destemido no amor; para ela, destemida não somente no amor, mas em sua habilidade de compartilhar aquela parte dela que é compositora, a parte dela que não se sente confortável cantando suas músicas. Digo, essa garota desistiu completamente. E então ela conhece essa super estrela, e ele acredita nela, e ela está deslumbrada por essa crença. É o que a leva a cantar. E eu acho que é com isso que as pessoas estão se conectando quando vão assistir o filme.

Ronson: É melancólica e triste, mas é incrivelmente encorajadora por causa da performance do filme. A forma que ele leva ela para o palco também ajuda a música. Lucas Nelson fez um arranjo maravilhoso para aquela performance. Gaga sendo legal e reverente me disse, ‘‘Sabe, se você quiser fazer outra versão da música para a trilha sonora, nós podemos fazer’’. Mas o minuto que eu vi o trailer, eu pensei, ‘‘Se é assim que a música está, eu não vou tocá-la. Está perfeita’’.

Gaga: Quando ela vai para o palco, ela vai para o microfone de trás, mais longe do público. Ela está assustada. Eu lembro que, da perspectiva da atuação, eu tive que me colocar em uma posição de ‘como se’, como se eu nunca tivesse me apresentado em frente de uma multidão antes, como se eu nunca tivesse cantado para aquela quantidade de pessoas na minha vida. Mas eu também fui capaz de olhar para as circunstâncias assim como elas eram. Eu nunca fui uma atriz em um papel de protagonista, e eu estava preste a ir lá, me apresentar e estar em um filme com Bradley Cooper.

Então quando eu fui lá e coloquei minhas mãos no meu rosto, aquilo foi real. Era exatamente como eu me sentia. Era medo. Era aquela insegurança. Era aquele ‘‘eu não sou boa o suficiente, mas vou fazer isso de qualquer jeito porque ele me inspirou’’.

Ele acena para mim para que eu vá para a frente do palco, e ela está gostando tanto daquilo e se lança naquela ponte improvisada… a razão de ela estar gostando tanto, francamente, é porque ele cantou para ela, ‘‘Estou caindo, em todos os bons momentos, eu me encontro ansiando por mudanças’’. E aquela mudança ocorreu! E ela escuta. E ela vai lá e dá tudo que ela pode. E aquele momento — o que você chama de ária no meio da música — nós sabíamos como a música iria soar, e ainda assim é diferente porque ela estava ouvindo. É isso que eu amo tanto nessa música. Não é só sobre falar um com o outro, mas sobre realmente ouvir e conseguir uma forte conexão.

Ronson: Na demo da música, ela fez foi um falsete. Mesmo não tendo entrado no filme, seria uma das performances vocais mais intensas de qualquer música desse ano. Parece um daqueles comerciais da Maxell onde o cara é soprado para trás.

Mas isso é só a Gaga. Quem mais consegue fazer isso? Eu sempre amei o jeito Gaga que ela brinca com as palavras também. Ela é a rainha dessas coisas, e torna a música estranhamente interessante. Eu lembro de falar com ela em ‘‘Shallow’’: ‘‘Faça o seu jeito Gaga e brinque com as palavras’’. E ela veio com o “In the sha-ha, sha-ha-ha-low.”

Gaga: [Canta] In the sha-ha, sha-ha-ha-low. Como nós podemos fazer disso algo mais adaptável do que realmente é? O raso é onde ninguém quer estar, mas ainda assim nós ficamos lá o tempo todo. Dizer que não estamos em um mundo superficial nesse momento, especialmente na América, seria uma grande mentira. Então como nós tornamos essa parte algo pelo qual eles possam saborear? ‘‘Nós estamos longe do raso agora’’. Mas agora quando eu olho para trás, eu posso cantar sobre isso. Eu posso brincar com isso. Eu posso olhar com carinho, porque agora eu estou no fundo.

Ronson: Bradley fala sobre como você pode ver a música, ver o filme, sendo sobre a jornada de um viciado ou de uma estrela pop desanimada e principiante, ou você poderia apenas ver o filme como de partir o coração. ‘‘Shallow’’, eu não quero falar por ninguém, mas o afogamento poderia ser o afogamento no sofrimento, o afogamento na bebida, o afogamento de ter o seus sonhos despedaçados. Entre os quatros de nós no cômodo, nós estávamos todos passando por esse tipo de coisa naquele momento. E não tem como evitar que isso entre na música.

Gaga: Isso está absolutamente certo. Haviam pessoas sóbrias no lugar e pessoas que não estavam. Não digo que nós estávamos bebendo e não bebendo. Mas quando você está trabalhando com compositores desse calibre — e eu tenho que elogiar essas pessoas, eles são musicistas incríveis e maravilhosos — você traz tudo para a mesa. Você traz seu coração. Você traz aquela livraria da sua vida com você. E quando vocês estão trabalhando, você não tem nem que tentar — aqueles livros estão saindo de sua alma e aterrissando na música de alguma forma.

‘‘É uma música que te dá asas para voar’’ — Lady Gaga

Ronson: Eu regravei uma versão para quando Ally toca no Forum no final do filme quando Jackson está cometendo suicídio. Gaga queria uma versão que iria soar como Ally quando ela estivesse tocando com sua banda. É como se fosse uma ‘‘Shallow’’ dos anos 80 com grandes tambores. Um pouco mais pop.

Gaga: Me pergunto se algum dia vamos lançar isso. A versão estúdio da música é muito diferente também e é muito boa. Mas não soava o suficiente como o Jackson. Estava atrapalhando a narrativa da história. Foi por isso que usamos o arranjo de Lucas, com a banda do Jackson. Eu não queria que o jeito de Ally cantar parecesse demais comigo. Ela estava inspirada por Jackson, e é a música deles juntos.

Ronson: O que eu amo sobre isso é que Bradley Cooper está legitimamente cantando uma música pop No. 1 no mundo. Parece bizarro e selvagem. Mas tudo sobre essa música e o filme parece assim. Você viu aquele meme com uma mulher doce do subúrbio sentada na sua cozinha e há um homem olhando por cima do ombro dela com uma máscara de esqui, e ele diz, ‘‘Eu durante um assalto quando o ladrão me diz que ainda não viu o trailer de ‘Nasce Uma Estrela’? Aquilo resume tudo para mim. Eu ainda não consigo acreditar.

Gaga: ‘‘Eu entrei para ver o filme, mas só consegui assistir a primeira metade. Depois eu tive que me retirar. Eu ainda estou muito dentro do personagem, ainda estou muito conectada a Jackson de uma forma que me consome. Eu estaria mentindo para você se eu dissesse que eu posso ficar e assistir o filme todo. Algumas das minhas cenas favoritas estão no final, mas em um nível visceral, eu tenho que me afastar. Eu sei que vou superar isso e estou animada para quando eu serei capaz de assistir o filme todo novamente.

‘‘Eu acho que a Ally ainda está aqui. E ela estava no cômodo com Mark, Anthony e Andrew, e ela estava lá no palco quando eu cantei a parte do meio antes daquela última ponte. É uma mulher libertando anos e anos de medo em frente a um enorme público, e eu acho que eu libertei anos de medo naquela noite também. Eu a amo’’.

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Tradução por Vanessa Braz de Queiroz
Revisão por Vinícius de Souza

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