Em recente publicação, a revista Billboard destacou a nova posição de "Shallow" no Hot 100, além de enfatizar as mudanças causadas pela canção na cultura pop atual.
Alcançando tal feito recentemente, a canção se encontra atualmente no topo da Hot 100, o que é um feito espetacular, considerando que apenas 17 vencedoras do Oscar de "Melhor Canção Original" alcançaram o topo do ranking.
Com o seu sucesso no filme, sozinha, e depois de ser apresentada nas importantes premiações, Grammy e Oscar, a música vem conquistando cada vez mais espaço, o que não era tão esperado pelo fato da faixa não ser comercial. A própria revista enaltece a canção afirmando que ela: "é o single perfeito para estar no Hot 100".
Leia a publicação completa traduzida:
O triunfo de Lady Gaga e Bradley Cooper com 'Shallow' na Hot 100 marca o retorno do momento número 1 da cultura pop
'Shallow' de Lady Gaga e Bradley Copper no topo da Billboard Hot 100 em 2019 é uma anomalia por diversas razões. É um número 1 incomum por ser uma balada pop-rock com um DNA country, por ser um dueto entre cantores e compositores, por ser uma performance gravada ao vivo, por ser uma música sem a estrutura convencional verso-refrão. Nossa, é até um pouco incomum a Lady Gaga como número 01, já que, apesar de permanecer como uma das estrelas pops mais bem sucedida do mundo, ela não atingia o Hot 100 desde 'Born This Way' em 2011.
Mas a coisa mais interessante sobre o triunfo de 'Shallow' pode ser que isso marque o retorno de um tipo de topo em paradas que não vemos com tanta frequência nos dias de hoje: O momento número 1 da cultura pop. Em outras palavras, uma música que não necessariamente faça sentido em termos estritamente musicais como um número 1 atual, mas que pode ser explicado através do contexto cultural e dos fatores extramusicais que a suportam.
Números 1 como esse apareceram ao longo de toda a história do Hot 100, talvez experimentando o auge da sua renascença nos anos 80, quando temas instrumentais explosivos de Carruagens de Fogo e Miami Vice se tornaram o número 1, junto com músicas longas e lentas que experimentaram os topos das paradas graças aos seus usos em shows como General Hospital (James Ingram e Patti Austins, em 'Baby Come To Me') e Caras & Bocas (Billy Vera e The Beaters, em 'At This Moment'). O boom das trilhas sonoras dos anos 90 também resultaram em abundantes números 1 incomuns nas paradas da próxima década, como o ato de rock alternativo não assinado do single de estreia 'Stay (I Missed You)', de Lisa Loeb e Nine Stories, para o filme Caindo na Real e a power ballad 'Kiss From A Rose' (Batmam Eternamente), do cantor e compositor britânico Seal. Enquanto isso os dois números 1 mais duradores de 1997, 'I'll Be Missing You', de Puff Daddy (Feat. Faith Evans e 112) e, 'Candle In The Wind 1997' / 'Something About The Way You Look Tonight', de Elton John, foram ambos alimentados pelo luto público das recentes mortes de The Notorious B.I.G e da Princesa Diana, respectivamente.
Nos anos 2000, Christina Aguilera, Lil Kim, Mya e P!nk com a nova versão de 'Lady Marmalade', inspirada para o filme Moulin Rouge, alavancaram a trilha sonora que rapidamente sumiu, mas uma nova forma de cultura pop número 1 foi introduzida como um Hot 100 duradouro: Os singles de American Idol. Kelly Clarkson, Clay Aiken, Fantasia Barrino, Carrie Underwood e Taylor Hicks após suas ascensões ao estrelato dos reality shows foram todos capazes de alcançar o topo das paradas como os seus singles de estreia. Porém, como o show começou a diminuir em impacto cultural, os alunos de American Idol pararam de chegar à pole position, e na década de 2010 a forma mais relevante do momento número 1 da cultura pop veio por meio de um vídeo viral – que levou vantagem da nova forma de cálculos do Hot 100 que passava a contar os serviços de streaming como YouTube, e impulsionou para o topo uma música tão incomum como 'Harlem Shake', a revolucionária EDM (Eletronic Dance Music) de Baauer.
Mas em 2019 nós não vemos mais esse tipo de número 1 com tanta frequência. O último número 1 que poderíamos dizer que seu sucesso no topo das paradas foi devido principalmente por fatores extramusicais seria talvez o grande sucesso de Rae Sremmurd de 2016, 'Black Beatles', que atingiu o Hot 100, meses depois do seu lançamento, após o surto de popularização do meme 'Mannequin Challenge'. ('In My Feelings', de Drake, também se beneficiou de um desafio como este, porém com o destaque de álbum de 2018 com grande quantidade de streamings, seria razoável supor que ele iria alcançar uma posição similar mesmo sem o desafio). Ocasionalmente, números 1 de filmes de sucesso também aparecem, mas por Wiz Khalifa e Charlie Puth em 'See You Again' - uma canção auxiliada pelo seu uso emocional em Velozes e Furiosos 7 após a morte do âncora da franquia, Paul Walker – é discutível que seja um momento número 1 da cultura pop. Poucos argumentaram que a participação em Trolls de 'Can’t Stop The Feeling!', em 2016, de Justin Timberlake, seja a principal razão do sucesso no topo das paradas. (Devemos também permitir uma menção para 'Sad'. de XXXTENTACION, um hit top 10 em seu lançamento inicial que subiu para número 1 após a morte do artista em junho passado).
Mas mesmo comparando com estes exemplos mais recentes, 'Shallow' é de alguma maneira refrescantemente pura, como um exemplo de uma música que simplesmente nem existiria sem o filme pai. Especificamente escrita para 'Nasce Uma Estrela' como uma espécie de tema entre os personagens principais, Ally e Jackson Maine (interpretados por Gaga e Cooper, respectivamente), 'Shallow' é absolutamente entrelaçado com 'Nasce Uma Estrela', e não é surpresa que seu sucesso nas paradas está correlacionado quase que diretamente com o entusiasmo do público pelo filme. Ela estreou na posição 28 no Hot 100 em 13 de outubro, uma semana após o lançamento do filme e da primeira semana inteira de acompanhamento do single, e aí saltou para a posição número 5 na semana após a primeira semana inteira do filme nos cinemas e da primeira semana completa da trilha sonora na Billboard 200.
A música caiu de posições a partir daí – embora tenha continuado no top 40 por duas semanas – e, como esperado, com a chance do filme em ganhar um Oscar, ela reentrou para o top 20 em fevereiro. E agora ela pulou para a número 1 na sua 22ª semana, seguida pela sua vitória por 'Melhor Canção Original' no Oscar 2019, em 24 de fevereiro, assim como uma aclamada (e com bastante streamings) performance ao vivo de Gaga e Cooper na cerimônia.
Por que é importante termos esses tipos de momentos número 1 da cultura pop? Bem, por um lado, ele oferece uma variedade muito apreciada para o topo das paradas – depois de uma sucessão de músicas uptempo, músicas de hip-hop e mid-tempo amigáveis para o streaming e músicas híbridas pop&B amigáveis para o rádio, é divertido ter uma power ballad fora de moda no número 1 pela primeira vez após anos. Isso também adiciona às paradas a sensação de realmente estar definindo o momento: As memórias de 'Nasce Uma Estrela' no Oscar irão permanecer tão vívidas na memoria cultural do início do ano de 2019 que parece certo que a música número 1 no país deva refletir isso. E talvez o mais importante, um número 1 como 'Shallow' leva o centro das diferentes instituições da nossa cultura popular – cinema, rádio, tv e mídia social – a conversarem entre si, enriquecendo todas elas no processo e permitindo a cultura a crescer conjuntamente.
O tempo irá dizer se 'Shallow' irá durar como um padrão da cultura pop ou uma novidade da trilha sonora – é possível que a música permaneça nos karaokês por décadas a partir de agora, ou que o público de 2030 olhe para atrás na história dos números 1 e diga: 'Espere, Lady Gaga e Bradley Cooper..??'. Mas seja como um acaso ou um clássico, 'Shallow' parece o single perfeito para estar no topo do Hot 100: um regresso não apenas no som mas também no contexto cultural, é algo que ainda é pertinente em casa neste mundo moderno.
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Tradução por Laíza Coelho
Imagem: Warner Bros. Pictures / Divulgação: Billboard
Revisão por Kathy Vanessa