O icônico videoclipe de "Telephone", que conta com 450 milhões de visualizações no YouTube, considerando suas duas versões, completou 10 anos neste ano.

Com isso, o New York Times publicou um artigo nesta sexta-feira (10) homenageando a parceria entre Lady Gaga e Beyoncé e destacando o seu impacto na cultura de videoclipes.

Confira a tradução completa:

Telephone: Quando Lady Gaga levou Beyoncé à escuridão

Com a extravagância pop ‘Chromatica’ de Lady Gaga adiada, uma análise de um de seus vídeos mais extravagantes, que recentemente completou 10 anos.

Se o mundo pop — ou até o mundo normal — estivesse girando em seu eixo normal, sexta feira teria sido o dia do lançamento do aguardado sexto álbum de estúdio de Lady Gaga, Chromatica. Como alguns outros artistas, ela decidiu adiar o lançamento de seu CD por causa da pandemia do coronavírus. Diferente de vários outros artistas, ela tem interpretado o papel de estrela global e porta-voz da saúde mundial graciosamente.

Apenas um dia após revelar a vibrante capa de ‘Chromatica’ — uma chocante redenção cyberpunk rosa que responde a pergunta “Como seria se Grimes tivesse dirigido ‘Blade Runner 2049’?” — Lady Gaga apareceu no “Tonight Show” de Jimmy Fallon com lábios naturais, usando uma blusa de gola alta , blazer e um óculos preto para falar sobre seus esforços para juntar 35 milhões de dólares para a Organização Mundial de Saúde. Em um piscar de olhos, ela estava longe da superfície.

Porém, os looks mais simples e descontraídos de Gaga eram algo que a cantora estava tentando deixar para trás com o lançamento de Chromatica, um álbum que — após o solene Joanne e uma passagem pela temporada de premiações do cinema com ‘A Star is Born’ — prometia o retorno ao som monstruoso, dance e pop que era característica de seu começo na indústria da música, as silhuetas reverentes usando Alexander McQueen que a fizeram uma estrela. O mundo tinha outros planos.

Então, em sua honra, vamos celebrar outra conquista do mundo pop, que no mês de março, se perdeu em meio a escuridão que se encontra o mundo atualmente: o aniversário de 10 anos do vídeo de 10 minutos, extremamente colorido para ‘Telephone’, de Lady Gaga e Beyoncé.

Originalmente escrita por Lady Gaga e seus colaboradores para Britney Spears — uma demo de Britney cantando a música vazou eventualmente — ‘Telephone’ apareceu no ‘The Fame Monster’, um álbum bem mais aventureiro que seu CD de estreia, ‘The Fame’. Embora Britney tenha sido considerada novamente como cantora convidada na faixa, a escolhida acabou sendo uma artista que Gaga tinha se juntado na faixa ‘Vídeo Phone (Remix)’ de 2007: Beyoncé.

Continuando a história do vídeo de ‘Paparazzi’, que acabou com Gaga matando um namorado abusador interpretado por Alexander Skarksgard (sete anos antes de ‘Big Little Lies’), ‘Telephone’ começa com a cantora atrás das grades em uma prisão feminina de segurança mínima (três anos antes de ‘Orange Is The New Black). Beyoncé paga sua fiança, a crítica por ter sido uma garota má, e então juntas, por motivos nunca explicados, envenenam um restaurante inteiro cheio de clientes. O vídeo ainda tem várias propagandas (Wonder Bread e Beats By Dre), uma interlude sobre fazer sanduíches, e uma cena final que lembra “Thelma & Louise”. Foi bastante, de propósito.

Pós ‘Single Ladies’ mas ainda anos antes da reinventação avant-garde que foi o seu álbum autointitulado de 2013, ‘Telephone’ deu a Beyoncé a sua primeira oportunidade de ser esquisita. Embora seja difícil de imaginar agora, na virada da década passada, Beyoncé ainda era vista como uma artista que evitava riscos e que jogava de acordo com as regras. Em ‘Telephone’, ela deu Lady Gaga um pão de mel para comer, realizou uma fantasia violenta de vingança, e até soltou um palavrão cobrindo o seu rosto, vestida em um look bem excêntrico.

A recapitulação do ‘The Cut’ conta que no vídeo, Beyoncé “Mostrou o seu lado doido, raivoso que estava se escondendo por baixo de sua fachada perfeita”; enquanto Rob Sheffield, da Rolling Stone notou que, “Beyoncé, a estrela pop mais normal de todos os tempos, consegue fingir ser tão doida como Gaga por alguns minutos”. Em algum lugar em um futuro distante, “Lemonade” acenava.

‘Telephone’ não é o vídeo mais icônico de Lady Gaga — esse título pertence a ‘Bad Romance’ — mas em retrospectiva pode ser o que melhor representa um ponto de mudança [na forma de fazer vídeos]. Em uma entrevista recente com a Variety, o diretor do vídeo Jonas Akerlund relembrou Gaga lhe contando que estava “a beira de ficar entediada ao fazer videoclipes”. A MTV “não gostava dela” e estava sempre censurando os seus vídeos, editando as partes mais ambiciosas.

‘Telephone’ não seria para eles. “Gaga foi a primeira artista que veio a mim e disse, foda-se a MTV, nós podemos fazer isso, não precisamos deles”, disse Jonas. “Podemos fazer isso tudo on-line, no YouTube”.

Lançado sete meses antes do vídeo anti-MTV de Kanye West para ‘Runaway’, ‘Telephone’ era algo meio que um evento pop antiquado e um fenômeno da era digital. O vídeo foi lançado, dentre tantos outros lugares, na edição noturna do ‘E News!’, no dia 12 de março. Mas foi na internet que a maioria das pessoas assistiu — tendo quebrado o recorde da época de 15 milhões de visualizações em cinco dias — e mais importante, o analisaram.

Em 2010, a mídia popular ainda estava tentando entender e fazer dinheiro com as mídias sociais e suas constantes análises da cultura pop. Com suas referências feministas do cinema (‘Kill Bill’, ‘Thelma & Louise’), imagem queer e propagandas irônicas, ‘Telephone’ se provou grandioso.

Vários artigos extensos analisando o vídeo proliferaram na internet. Um artigo da ABC News contou com um estudante cursando seu doutorado, analisando as ideias do vídeo, e até citando ‘Discipline and Punish’ de Michel Foucault. Gaga inspirou frases como: “O que eu realmente queria fazer com esse vídeo é pegar uma música pop, com um significado básico e transformá-la em algo mais profundo”.

Apenas um ano depois, ela mudou o seu dizer. “Aquele vídeo tem muitas ideias explícitas e tudo que consigo ver é meu cérebro explodindo com ideias, quem me dera eu tivesse filtrado um pouco mais”, disse a cantora ao Time Out em Maio de 2011, dando a entender que ela não conseguia mais assistir ao vídeo.

Olhando para trás no dia de hoje, a sua auto-critica parece um pouco severa. Talvez os críticos foram cuidadosos demais em sua análise — óculos cobertos de cigarros, latas de Coca-Cola na cabeça, um comercial de veneno — ‘Telephone’ ainda é um dos vídeos mais ousados e fáceis de assistir de sua época, um momento decisivo na transição de videoclipes na MTV para a internet.

Vale muito a pena revisitar o vídeo enquanto esperamos por ‘Chromatica’. Claro, é um vídeo de 10 minutos — mas eu suspeito que você tem tempo de sobra

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Tradução por Aloisio Kreischer

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