Na tarde desta terça-feira (02), foi confirmado que Lady Gaga será a capa da edição de dezembro da Vogue UK, assunto que vinha circulando na internet nos últimos dias. E com a confirmação veio outra informação, também relacionada a revista. Além da britânica, Lady Gaga também será capa da Vogue Itália do mês de novembro!
A informação foi confirmada quando Lady Gaga e a revista usaram suas redes sociais para divulgarem diversas fotos do ensaio, além de uma super entrevista abordando diversos assuntos da carreira da cantora.
Entre os assuntos abordados durante a entrevista estão: os bastidores da sessão de fotos para a revista, sua preparação para "House Of Gucci", fama, saúde mental e o sofrimento relacionado ao "Chromatica".
Leia a entrevista completa traduzida:
"'Não é uma imitação, é uma transformação': Lady Gaga sobre a 'Deliciosa Loucura' de habitar Lady Gucci
Em um estúdio sem janelas em Chelsea, Manhattan, as penas rosas em uma bota flutuam ansiosamente em uma brisa de uma fã elétrica. 'Ela está há 10 minutos daqui', diz um homem bonito da segurança, colocando sua cabeça para fora da porta enquanto uma falange de assistentes se move silenciosamente sobre uma caverna fabulosa, temporária e brilhante de alta costura.
Recentemente entregues dos shows em Paris e Veneza, há rastros de sedas Valentino em ametistas elétricos e fúcsia, veludo Schiaparelli preto apoiado em ouro reluzente, brocado Chanel, malhas Louis Vuitton branco polar, capacetes feitos de metal, couro e penas, cem pares de saltos de todo tipo de altura, e mesas e mesas de lenços, luvas e joias de arco-íris. Eu até localizei alguns babados de estilo elizabetano. Estamos aqui para a prova de Lady Gaga na Vogue, é claro. 'Vamos começar com ela em algo fabuloso', diz Edward Enninful, editor chefe da Vogue britânica, como se houvesse outra opção.
Naturalmente, 10 minutos vêm e vão, mas eventualmente, em um momento indeterminado no tempo da super estrela, a porta finalmente se abre e através dela emerge uma figura de 1,57 vestida em um vestido preto longo de verão e plataformas pretas impressionantemente altas. É uma experiência curiosa encontrar uma lenda da cultura pop te dando uma vibe quintessencial, e Gaga não decepcionou. As fotos tiradas momentos atrás da sua pequena caminhada do carro até o prédio em saltos altíssimos já estavam rodando o mundo. 'Vamos fazer mágica!' ela diz como forma de dizer oi.
Com momentos fashion incontáveis, 12 Grammys, um Oscar e talvez a ascensão à fama mais explosiva do século 21, Stefani Germanotta tem – por mais que uma década agora – estado entre as pessoas mais conhecidas do planeta. E cara, ela sabe como jogar com isso. Depois de ter tirado seus óculos de sol, ela joga seus braços bronzeados e tatuados ao redor de nós em uma série de abraços calorosos, e então começa o trabalho. 'Seja lá o que eu for usar', ela diz para o grupo reunido, daquele jeito arrastado que parece que esteve acordada a noite toda que é sua marca registrada, em uma seriedade combinada com leveza. 'Estarei servindo glamour italiano doloroso de dentro de mim'.
Claro. Este mês, a rainha do pop de 35 anos que se tornou uma atriz indicada ao Oscar vai aparecer em seu segundo filme como protagonista, em 'House Of Gucci', no qual o diretor Ridley Scott recontará um dos casos mais marcantes do final do século 20. Dizer que as expectativas são altas não faz justiça. Gaga – como todos que estão na internet nos últimos seis meses sabem – irá interpretar Patrizia Reggiani, ex-mulher de Maurizio Gucci e uma socialite que, em 1998, foi condenada por contratar o assassino que o matou quando ele entrava em seu escritório em Milão na manhã da primavera de 1995.
O caso contou com tanto dinheiro e pecado original que balançou a Itália e o mundo, e mandou ondas de choque na indústria da moda. É seguro afirmar, pelo trailer do filme, o qual Gaga coloca em seu computador para nos mostrar (foi alguns dias antes do trailer ser lançado no mundo, onde seria assistido mais de 10 milhões de vezes), que o mesmo estabelece o tom. 'Pai, filho e House of Gucci', entoa Gaga quando Reggiani, cabelo de cor conker ao máximo, cigarro nas mãos, enquanto ela faz o gesto do cruz em cima de um vestido longo rosa com bolinhas. Ela se assiste na pequena tela, aproveitando os murmúrios da equipe reunida. 'Eu pareço super diferente', ela diz, intrigada por sua própria imagem.
Algumas semanas depois, eu faço uma chamada de vídeo para ela em West Coast. Ela nunca perderia a oportunidade de trabalhar seu próprio mito, ela aparece na minha tela em meio a uma música. 'Você me pegou cantando!' Ela diz, depois de completar mais algumas frases de 'Night and Day' de Cole Porter. É difícil não amar o comprometimento de uma garota do entretenimento – especialmente uma que está sentada em seu escritório rosa, com piano e glamour, e uma parede de stilettos que vai do chão até o teto atrás dela. 'Bem, você sabe, tenho que colocar algo na parede', ela diz, secamente.
Ela está vestindo 'uma camiseta rosa empoeirada', ela dá de ombros, já que não sabe de onde precisamente é a camiseta, com leggings pretas. 'Este é um colar que ganhei do meu namorado, de uma linda loja artesanal de São Francisco, assim como esses brincos', diz ela. Sua mãe, Cynthia, vem para o chá mais tarde e ela está com um humor tranquilo no meio da tarde. Ela puxou dois longos fios do seu cabelo castanho de seu coque, e eles estão caindo primorosamente sobre seu rosto maquiado, toda a experiência adicionando uma espécie de efeito intensificado de estudante de teatro. O artista em repouso, se você preferir.
Faz sentido. 'Faz três anos desde que comecei a trabalhar com o filme', ela fala sobre 'House Of Gucci', 'e serei totalmente honesta e transparente: vivi como ela [Reggiani] por um ano e meio. E conversei com sotaque por nove meses'. Fora da câmera também? 'Sim', ela confirma, solenemente. 'Nunca saí do papel. Fiquei com ela'.
'Foi quase impossível para mim falar com o sotaque quando eu estava loira', ela continua. 'Eu instantaneamente tive que pintar meu cabelo, e comecei a viver de uma forma na qual qualquer coisa que eu olhava, que eu tocava, eu comecei a perceber onde e quando eu podia ver dinheiro. Comecei a tirar fotos também. Não tenho evidência de que Patrizia foi fotógrafa, mas pensei que como exercício, e entendendo os interesses dela na vida eu me tornaria fotógrafa, então levei minha câmera para todos os lugares que eu ia. Percebi que Patrizia amava coisas bonitas. Se algo não era bonito, eu deletava'.
Gaga disse que se a vida não tivesse ido na direção de vestidos de carne e turnês em estádios, ela gostaria de ter sido repórter, e foi uma abordagem de artista e jornalista que ela adotou para montar Reggiani para si mesma. (Deve-se explicar que Reggiani ainda está viva, morando em Milão e perfeitamente capaz de falar com a imprensa ela mesma. Ela está supostamente satisfeita por tal nome marcante interpretá-la, embora - o auto-engrandecimento nunca tenha diminuído por ter servido 18 anos de uma sentença de 26 anos de prisão por ter seu ex-marido morto - tenha dito a um jornalista italiano no início deste verão: 'Estou muito incomodada com o fato de Lady Gaga estar me interpretando no novo filme de Ridley Scott sem nem mesmo ter a visão e sensibilidade para vir me conhecer').
Então você ainda nem a conheceu? Eu pergunto a Gaga. 'Sabe', ela responde, 'só senti que poderia realmente fazer justiça a esta história se a abordasse com os olhos de uma mulher curiosa que estava interessada em possuir um espírito jornalístico para que eu pudesse ler nas entrelinhas do que estava acontecendo nas cenas do filme'. Ela parece interessada em garantir que está sendo clara. 'O que significa que ninguém ia me dizer quem era Patrizia Gucci', ela diz, sem rodeios. 'Nem mesmo Patrizia Gucci'.
Anormalmente tão tarde no jogo, o próprio filme permanece envolto em segredo. Quando nos encontramos, Ridley Scott nem mesmo permitiu que Gaga visse um corte. Ela diz que 'confia' nele totalmente e por 'respeito' não quer revelar muito. No entanto, depois de algumas bajulações, consigo apurar que Gucci provavelmente vai começar no início da década de 1970, quando Patrizia (que cresceu pobre em Vignola, norte da Itália, mas cuja sorte mudou graças ao dinheiro de um novo padrasto, feito na indústria de caminhões), conheceu Maurizio Gucci nas festas Milanese. Estimulada pela mãe, Silvana Barbieri, Reggiani estava solteira e Maurizio tinha de tudo: fortuna, aparência, nome. ('Ele se apaixonou perdidamente por mim', disse Reggiani. 'Eu era excitante e diferente').
Ninguém duvida que tenha sido um romance selvagem. 'Ela também o amava', diz Gaga. Embora o pai de Maurizio, Rodolfo - filho do fundador da empresa Guccio Gucci - tivesse muitas dúvidas sobre a criação turbulenta de Reggiani, o casal se casou em 1972. (A noiva vestiu Gucci, naturalmente, uma mistura de gola alta e mangas compridas que, ao ver as fotos de paparazzis do set do novo filme parecem ter sido atualizadas para algo um pouco mais picante para Lady Gaga).
Durante a década de 1970 e início dos anos 80, os jovens Guccis eram isso; recém-casados lindos e carismáticos à deriva em um mar de luxo. Duas lindas filhas, um iate famoso (The Creole) e um lugar permanente na lista de convidados do Studio 54, essa era a vida vivida no fio da navalha do glamour. No topo da cobertura na Torre Olímpica de Nova Iorque, a villa em Acapulco, o chalé em Saint Moritz e a fazenda em Connecticut, havia o hábito de Patrizia das orquídeas de £ 8.000 por mês, sua amizade com Jackie Kennedy, sua coleção de joias multimilionária, festas, palácios e números de placas particulares de carros, estampadas com o nome Mauizia (pelo menos em abreviação, o casal estava anos à frente de Brangelina).
Mas, em 1983, a fantasia esmoreceu. Após a morte de Rodolfo, Maurizio, seu único filho, assumiu o controle total de sua participação de 50% na empresa (o restante era do irmão de Rodolfo, Aldo), e as guerras familiares começaram pra valer. Reggiani, agora se imaginando mais Gucci do que Gucci, estava em desacordo com o marido tanto quanto ela com os primos e, à medida que a década passava, o casamento desmoronou - ele a abandonou em 1985. Ela não aceitou bem: quando Maurizio não atendia mais suas ligações, ela gravava fitas de si mesma criticando-o furiosamente e as enviava por correio para seu apartamento no Corso Venezia.
A vida não era melhor no trabalho. Esta foi a era do modelo de licenciamento errado e famoso da Gucci, em que tudo, desde tacos de golfe a toalhas de chá, era entregue a fabricantes terceirizados em dinheiro. Maurizio estava determinado a retomar o controle, a restabelecer a qualidade incomparável dos artigos de couro com os quais a família havia construído sua fortuna original e a buscar novos investimentos. Mas em meio às brigas com Aldo (que acabou preso por fraude fiscal) e os primos, o brilho da outrora grande casa se reduziu a um nível perigoso.
Ambições à parte, os planos de Maurizio foram sua ruína. Ele foi incapaz de trazer dinheiro suficiente para cobrir seus gastos extravagantes e, em 1993, vendeu toda a sua participação para a Investcorp por $ 120 milhões - encerrando efetivamente mais de 70 anos de propriedade da família Gucci em sua marca homônima. Patrizia, que havia permanecido na frente e no centro de todos os dramas, assim como legalmente sua esposa, iluminou-se com o que ela mesma chamou de 'raiva'. Não ajudava em nada o fato de, três anos antes, ele ter começado um relacionamento com a ex-modelo e depois a designer de interiores Paola Franchi, uma amiga de infância que compareceu a seu casamento com Patrizia. À medida que o divórcio finalmente se aproximava, seu marido, nome, riqueza e status - sua própria identidade - estavam todos escapando. A situação era uma caixa de pólvora.
Gaga ficou fascinada: 'Fiquei fascinada com a jornada dessa mulher'. Ela passou mais de um ano debruçada sobre recortes de jornais e gravações de Reggiani, embora, de forma reveladora, não tenha lido 'The House of Gucci: A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greed', de Sara Gay Forden, o livro de 2000 no qual o filme é baseado. 'Eu não queria nada que tivesse uma opinião que influenciasse meu pensamento de alguma forma'. Scott originalmente enviou o roteiro para ela logo após 'Nasce Uma Estrela', sua chegada triunfante como protagonista de Hollywood, ser lançado, em 2018. Junto com sua esposa e parceira de produção, Giannina Facio, ele fez uma longa caça com o projeto, estando dentro e fora como diretor, com Angelina Jolie, Penélope Cruz e Margot Robbie escolhidas para interpretar Reggiani ao longo do caminho. Mas as estrelas se alinharam para Gaga: 'E se eu não fizesse o papel de uma vadia nervosa, sexy, incerta e arriscada?' ela se lembra de ter pensado. 'Alguma caça-fortunas punk italiana?'
Quando os produtores de Gucci decidiram num plano que parece meio retro para o elenco entregar o diálogo em inglês com sotaques fortes italianos, Gaga soube que dominar a voz de Reggiani seria chave. Ela trabalhou incansavelmente nisso. 'Eu comecei com um dialeto específico de Vignola, dai eu comecei a trabalhar no jeito mais alta classe de falar que seriam mais adequados em lugares como Milão e Florence', ela explica. 'No filme, você vai ouvir que meu sotaque é um pouco diferente dependendo com quem eu estou falando'. O trailer tem levantado algumas sobrancelhas na Itália, a preocupação sendo que isso seja mais um bando de Americanos assim (a-like-a-this). Gaga, uma das cidadãs italiana-americana mais conhecida de sua nação é sensível quanto o assunto. 'Foi uma experiência de uma vida toda fazer esse filme porque todo dia eu pensava em meus ancestrais na Itália, e o que eles tiveram que fazer para que eu pudesse ter uma vida melhor. Eu só queria deixá-los orgulhosos, o que é a razão pela qual eu tomei a decisão de fazer a performance sobre uma mulher real e não sobre a ideia de uma mulher má'.
Então ela entrou na mente de uma assassina. Os Guccis finalmente se divorciaram em 1994, e conforme Maurizio fazia planos para se casar com Franchi, o que faria com que a pensão de Reggiani caísse pela metade, o que ela chamava de 'Uma tigela de lentilha' ($ 860,000 dólares por ano), o seus pitis ficaram mais instáveis e ameaçadores. Em um, que aconteceu na corte, ela acabou com ele, 'O inferno para voce ainda esta vindo'. Logo ela procura conselhos de sua melhor amiga Pina Auriemma, uma vidente de Napoli, quem contratou o capanga Benedetto Ceraulo, dono de uma pizzaria com problemas financeiros. As 8:30 em uma manhã clara no final de Março de 1995, Ceraulo seguiu instruções de Reggiani para assassinar o pai de seus filhos. Ele tinha 46 anos. Reggiani foi punida três anos depois e foi solta em liberdade condicional em 2016. Suas filhas Alessandra and Allegra Gucci, originalmente apoiavam sua mãe, acreditando que seu comportamento foi causado por um tumor benigno no cérebro que ela teria que remover. Mas depois de muitos anos, elas não se falam mais.
Quer dizer, é muito para absorver, não é, Gaga, eu digo. Todo o glamour, toda a tristeza. Voce não ficou nervosa em se envolver nisso? Como sempre ela teve que achar a missão dentro de si. Um propósito. 'Eu não seno glorificar alguém que cometeria um assassinato', ela diz. 'Mas eu quero mostrar respeito para mulheres pela história que se tornaram experts em sobrevivência, e para as consequências infortunas da dor. Eu espero que mulheres assistam esse filme e lembrem a si mesmas sobre o fato que pessoas que foram machucadas machucam outras pessoas. E é perigoso. O que acontece com alguém', ela pergunta, 'quando são puxados ate o limite?'.
Parece que a produção tem o potencial de responder essa última pergunta. A fotografia principal começou esse ano em Fevereiro em Roma, com os homens Gucci por um elenco que inclui Adam Driver como Maurizio, Jeremy Irons como Rodolfo, Al Pacino como tio Aldo e Jared Leto como cousin Paolo. Com a Itália tomada pelos lockdowns, e paparazzi em todos os lugares, Gaga servindo sua técnica Susan Batson (sua professora de atuação, que estava no set, foi treinada pelo próprio Lee Strasberg), fala que ela entrou tanto no personagem que ela começou a perder o senso de realidade. 'Eu tive algumas dificuldades psicológicas em algum ponto no final das filmagens', ela explica, tomando cuidado com suas palavras. 'Ou eu estava no meu quarto de hotel, vivendo e falando igual Reggiani, ou eu estava no set, vivendo e falando como ela. Eu lembro que eu sai pela Itália uma vez com um chapéu pra fazer uma caminhada. Eu não tinha feito nenhum tipo de caminhada em dois meses e eu entrei em pânico'. Ela não conseguia mais perceber o mundo real. 'Eu achava que estava num set de filme'.
'Uma loucura deliciosa', é como Salma Hayek - que faz o papel de Pina Auriemma – descreve o processo de trabalho de Gaga para mim. 'É muito glamuroso', ela diz sobre o filme, 'muito glamuroso, e poucas vezes vi esse nível de paixão em uma atriz', ela diz, impressionada. 'Ela é muito devota'. Foi difícil de trabalhar assim? 'Não foi um pesadelo!' Ela diz, rindo. 'Foi uma coisa fascinante. Ela foi mágica. Um gênio'.
Gaga é mais modesta. 'Nos estávamos entre filmagens e Salma ficou tipo, 'Oh, essa porra de atriz de método aqui. Sabe, ela não esta falando comigo agora'. Porque eu estava fazendo um trabalho de memória sensorial ao lado dela, e ela estava me zoando enquanto eu sentava lá fazendo aquilo. E eu nem dei risada. Quando a cena acabou, eu virei pra ela e disse 'Voce é ridícula!' E eu comecei a rir e eu dei um beijo nela. Foi um set maravilhoso, mas eu sou muito séria quando trabalho'.
Ela realmente está rindo dessa memória. Não querendo acabar com a vibe, eu digo, mas certamente deve ser difícil para sua família te perder assim por tanto tempo? Ver sua filha, irmã, namorada se transformar nessa socialite assassina Milanesa (de Milão) por meses? Ela balança a cabeça devagar. 'Teve um silêncio e uma desconexão por um tempo', ela me diz.
Ela diz que ela perdeu o sotaque assim que acabaram as filmagens mas outras partes permaneceram. 'Você acaba soando e parecendo com eles, sim, mas não é uma imitação, é transformação. Eu lembro de quando começamos a filmar, eu sabia que tinha transformado - e eu sabia que um desafio maior seria destransformar'. Ela sente o peso disso. 'Essa é minha própria jornada como artista que eu ainda encontro, Giles. E eu pergunto a mim mesma, 'Isso é saudável, o jeito que você faz isso?'' Ela balança os ombros, renunciando, sabendo de si mesma, e talvez um pouco orgulhosa. 'Eu apenas não sei nenhum outro jeito'.
Ela fica reflexiva. 'Bom, eu tenho 35 anos agora', ela diz, rindo. 'Você está tipo, 'Lady Gaga tem 35! Eu me sinto velha!'' Nunca velha para uma turnê midiática fabulosa. Para puro glamour de Hollywood, suas presenças de 'Nasce Uma Estrela' foram provavelmente uma das melhores no red carpet nos últimos anos (todo aquele tecido de seda periwinkle), está pronta para fazer de novo. 'Eu amo ver todo mundo', ela diz. 'Eu aprecio muito como o publico tem me adorado por quase duas décadas. Não importa se eu estou cantando, atuando ou andando no tapete vermelho, eu amo ver o publico sorrir'.
Certamente, ela mantém sua combinação de sinceridade e camp: 'Mesmo que idade seja apenas um número, o que eu mais sinto é muito amor pela comunidade artística, e pelo coletivo artístico', ela diz, me falando que eu tenho que entregar essa mensagem dela 'para o mundo'. Em Janeiro, ela cantou na inauguração de Joe Biden. 'Isso tem que ser um dos dias que senti mais orgulho em minha vida. Como tantas pessoas na América, eu senti um medo profundo quando Trump era presidente, e conduzindo 45 de 46 é algo que eu vou conseguir falar para meus filhos sobre'. Ela sorri. 'Cantar em um vestido Schiaparelli a prova de balas. Eu não sei se as pessoas sabem disso sobre mim, mas se eu não fosse quem sou hoje, eu seria uma jornalista de combate. Era um dos meus sonhos. Quando eu estava no Capitólio, no dia antes da inauguração, eu lembro de andar pelos cantos procurando evidências da rebelião'.
A felicidade, frequentemente um estranho para ela, voltou. 'Teve um bom tempo que eu achava que não poderia me curar de ficar famosa tão cedo, e do que isso fez com meu cérebro', ela diz. 'Mas eu me sinto pronta para me declarar por completo. Nós nunca seremos totalmente completos', ela se corrige, 'mas certamente é o suficiente. Eu tenho muita gratidão pela alegria'. Isso é novo? 'Tem sido bem recente, sim. Eu diria nos últimos dois anos'. Gaga - uma novaiorquina quintessencial - mora agora em Hollywood, com seu namorado Michael Polansky, um diretor executivo educado em Harvard da Fundação filantrópica Parker onde ele foca em ciência, saúde pública e as artes. Ela toca no assunto de seus cachorros e diz que eles estão bem agora depois de serem sequestrados e terem seu passeador de cães baleado (não-fatalmente) numa série chocante de eventos mais cedo esse ano. 'Sim, eles estão bem', ela diz, ainda sacudida com razão. 'Graças a Deus'.
A agenda da estrela pop e do cinema continua intensa. Além de Gucci, no ano passado ela cantou clássicos do jazz com Tony Bennett no Radio City Music Hall e lançou 'Love For Sale', seu segundo álbum de duetos de Cole Porter, com ótimas críticas. Ela supervisiona sua Fundação 'Born This Way', com sua missão de apoiar o bem-estar mental de jovens e capacitá-los a construir um mundo mais gentil, e está absolutamente apaixonada pela Haus Laboratories, sua linha de maquiagem vegana, com suas lindas paletas e seu muito amado delineador líquido, que fatura mais de £100 milhões por ano.
Daí, é claro, houve 'Chromatica', seu extravagantemente energético e fabuloso álbum eletro de 2020. Um acompanhamento de remixes chegou no início deste ano - 'Dawn Of Chromatica' - e uma turnê pós-pandêmica está nos planos. Naturalmente, como o principal grupo demográfico da 'Chromatica', começo a jorrar sobre o quanto isso significava para mim no lockdown, e ela tenta sorrir antes de dizer: 'Acho que nunca senti mais dor na minha vida do que quando estava fazendo aquele albúm. É muito difícil para mim ouvi-lo. É muito difícil para mim cantar essas músicas, mas não é porque elas não são músicas incríveis e maravilhosas. É porque elas vieram de um buraco muito, muito negro no meu coração'.
Em que lugar você estava quando estava gravando? 'Eu não queria mais ser eu', diz ela, simplesmente. 'Eu não tinha mais a capacidade de entender do que era capaz como pessoa. Eu não achava que valia nada. Mas eu consegui mesmo assim. Eu disse isso a um amigo outro dia - agora, sempre que eu passo por momentos difíceis, eu sempre digo com uma risada, 'Sim, isso é difícil. Mas é muito mais difícil quando você quer se matar todos os dias. Então, eu prometo ser sempre alguém que fala sobre saúde mental, que fala sobre bondade, compaixão e validação. Acredito de todo o coração que o universo fez disso parte da minha história para que eu pudesse estar preparada para falar sobre isso com o mundo'.
Por um momento, o desempenho da fama diminui. 'Eu sei que não é o mundo', diz ela. 'O mundo inteiro não sabe o que eu faço, e esse não é o ponto. É quem está ouvindo. Quem quer que esteja ouvindo: eu te amo, e se você estiver com dor, prometo que vai melhorar'.
Sua mente, porém, logo retorna ao mundo Gucci. 'Isso era outra coisa que me interessava: quem matou Maurizio, ou seja, quem ela contratou?' ela diz, ainda fascinada. 'É minha convicção que, na verdade, ela não disse a verdade sobre isso'. Gaga assistia a entrevistas no YouTube e dizia para si mesma: ''Você está mentindo'. Em uma entrevista, ela disse que eram alguns 'beagle boys', o que significa, eu acho, que era alguém da máfia. Eu me perguntei por um momento se foi a Camorra que tinha feito isso, que é uma espécie de máfia em Nápoles. Então tomei algumas decisões, novamente secretas, sobre o que decidi acreditar enquanto estava filmando'.
Você imagina que chegará um momento - quando o filme for lançado, quando você estiver além da intensidade de tudo isso - em que você desejará conhecer Reggiani, pergunto? No mínimo, a curiosidade não vai levar a melhor sobre você?
Segue-se uma pausa significativa. 'Não tenho certeza. Acho que é preciso um certo quociente emocional para ser ator', diz ela, tentando explicar sua reticência. Isso também a levou a uma escuridão profunda da qual ela está pronta para se livrar. 'A maneira como me senti interpretando essa personagem no final, percebi que quando você mata outra pessoa, você realmente mata a si mesmo'.
Ela fica quieta e por um momento parece estar perdida nisso tudo de novo. Lentamente ela pisca algumas vezes, trazendo-se de volta à realidade de Gaga, longe de Patrizia. 'Quem mais me importa neste processo são os filhos dela', diz ela, com cuidado, 'e estendo a eles amor e compaixão por ter certeza de que o lançamento deste filme é tremendamente difícil ou doloroso para eles, potencialmente. E não desejo nada além de paz para seus corações'. Seus olhos estão novamente cheios de preocupação. E então de esperança. 'Fiz o meu melhor para interpretar a verdade'.
'House Of Gucci' estará nos cinemas a partir de 26 de Novembro.
Confira outras fotos contidas na edição de dezembro :
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Tradução por Vanessa Braz de Queiroz, Klara Gomes e Maria Eduarda Seabra