O novo trabalho de estúdio de Lady Gaga, o álbum "MAYHEM", é um sucesso em termos qualitativos e quantitativos.
Muito bem aceito pelo público e pela crítica especializada, o sétimo disco da Mother Monster é, atualmente, o mais bem avaliado no Metacritic, com nota 84 de 100.
Em publicação na manhã desta quarta-feira (02), o site Pitchfork colocou o "MAYHEM" como um dos discos mais extraordinários de 2025 até agora.
Na matéria, o site destacou que as influências que inspiraram Lady Gaga na produção de seu novo trabalho são um forte atrativo para quem aprecia os elementos artísticos e sonoros utilizados no "MAYHEM".
"Ter uma fase formativa de Andy Warhol na adolescência; maximalismo; sintetizadores analógicos; o conceito de dublar pela a sua vida; essa foto do David Bowie e Trent Reznor se divertindo; um toque de funk; filmes de terror camp; inventar suas próprias nachos."
Vale lembrar que o Pitchfork deu uma nota 80 de 100 para o álbum. Confira a review completa do site:
"Se parece estranho dizer que é bom ter Gaga de volta, provavelmente é porque ela nunca ficou longe por muito tempo. Entre seu sexto álbum oficial, Chromatica (2020), e MAYHEM, Gaga fez sua residência em Las Vegas e saiu em turnê mundial; foi a melhor coisa em dois filmes ruins, House of Gucci (2021) e Joker: Folie à Deux (2024); e lançou um álbum complementar para o último, Harlequin, repleto de covers. Ela tem a rara distinção de agradar tanto aos fãs de rock quanto aos de pop, praticamente em igual medida. Por um lado, toca piano, executa conceitos elaborados com facilidade e escreve seu próprio material (muitas vezes autobiográfico). Por outro, é fascinada por artifícios, enfatiza fortemente a parte visual de sua imagem, adora sintetizadores e programação, e é uma estudiosa declarada da fama. Ela é uma defensora dos marginalizados (como ao pedir compaixão para pessoas trans em seu discurso no Grammy deste ano), mas também um grande exemplo de excepcionalismo de celebridade e do mérito como fator de ascensão. Ela é como nós—só que obviamente melhor.
A hesitação de Gaga em retornar ao pop está presente em todo MAYHEM—um dos temas centrais do álbum é o conflito interno. É possível ver múltiplas versões de Gaga enfrentando umas às outras nos clipes dos ferozes singles Disease e Abracadabra. No destaque do álbum, Perfect Celebrity, ela observa sua persona pública 'dormindo no teto', assombrando sua identidade privada. Sobre uma mistura de sons que ela mesma descreveu com precisão como 'electro grunge', ela rosna: “Vocês amam me odiar! Eu sou a celebridade perfeita!”. Sua raiva é uma revelação surpreendente, considerando o quão querida, avessa a escândalos e educada ela sempre foi. Assim como Ray of Light, de Madonna (1998), MAYHEM brinca com o conceito de fama e sua estranheza sem chegar a conclusões definitivas. A possível complexidade dessa guerra de identidade não atrapalha a diversão do álbum, que muitas vezes tem a energia de uma luta de luta livre. Enquanto Beyoncé separou fisicamente seu 'eu real' de sua persona exagerada no álbum duplo I Am… Sasha Fierce (2008), Gaga esmaga suas duas facetas em uma só em MAYHEM.
Perfect Celebrity é apenas um dos cenários em que Gaga observa a fragmentação de sua identidade em MAYHEM. O tema é tão central que as capas do álbum apresentam retratos fragmentados da cantora; em entrevistas e videoclipes, seu visual nesta era é ao mesmo tempo loiro e moreno. Em Don’t Call Tonight, ela vê nos olhos de outra pessoa o reflexo que deveria ser o seu. Enquanto reclamações sobre a fama costumam ser entediantes ou até hipócritas (servindo apenas para tornar a celebridade ainda mais famosa), Gaga está mais interessada na fama como um vampiro psicológico, uma parte exagerada de sua identidade que complica expectativas externas, relacionamentos românticos e inseguranças. Ao explorar as diversas formas como a identidade pode se fragmentar, MAYHEM convida os ouvintes para o interior de Gaga, tornando experiências de vida extremamente raras em algo surpreendentemente relacionável.
Dualidade, mortalidade e imagens religiosas formam fios existenciais que ajudam a dar coesão ao sonoramente variado MAYHEM. Para a Stereogum, Gaga citou como inspirações do álbum: David Bowie, Prince, Earth Wind & Fire, Nine Inch Nails e Radiohead. Uma brincadeira de 'adivinhe a referência' está inclusa no pacote (Maneater, de Nelly Furtado, em Garden of Eden; Hollaback Girl, de Gwen Stefani, em Zombieboy). Com co-produção de Cirkut e Andrew Watt, os baixos do álbum soam ora vibrantes e elásticos, ora filtrados por sintetizadores analógicos. Há flertes com piano house (Abracadabra) e com o disco music, mas sempre visto sob uma lente mais roqueira, como quando bandas fazem uma incursão única no funk (Miss You, dos Rolling Stones, ou até Rock the Casbah, do The Clash). Uma das três colaborações com Gesaffelstein, Killah, encontra seu groove na fusão de funk descompassado com industrial pesado, lembrando I’m Afraid of Americans, de Bowie, e Money, do KMFDM.
Apesar da intensidade do álbum, ele segue as regras da composição pop e da manipulação dinâmica, sem cair no caos de verdade. Quase todas as músicas constroem tensão em introduções, versos e pré-refrões até explodirem no refrão. Gaga faz isso porque sobrecarregar os sentidos funciona—cria um som maior que a vida, alinhado com sua persona exagerada, algo próximo do camp. O uso extremo de compressão e volume já se consolidou como uma das marcas sonoras de Gaga desde Born This Way, e anos depois, ela continua sendo uma guerreira na guerra do volume.
A mistura de humor e sinceridade de Gaga não é exatamente um caos, mas é energeticamente disruptiva. Além dos temas de fama e crise de identidade, o álbum também traz uma canção romântica sobre um lobisomem (Semana passada, você deixou alguém morto, você é tão incompreendido) e a possibilidade de transformar um amor em um traje de pele (o que definitivamente seria um look icônico). O absurdo sempre foi um elemento subestimado no trabalho de Gaga—provavelmente porque ela o entrega com seriedade. O jeito como ela usa sua voz, remetendo à era Born This Way, faz com que as músicas soem como pequenos espetáculos teatrais. No final de Killah, ela incorpora um sotaque de Drácula, enquanto canta os versos de Vanish Into You com uma postura propositalmente exagerada (o refrão da música é elevado por vocais de apoio tão altos que soam surreais). Ela ronrona como Debbie Harry e grita como Courtney Love, sem medo de soar feia. Em Blade of Grass, uma música sobre seu noivado com Polansky, sua voz soa tão angustiada que fica impossível não se perguntar o que teria acontecido se o amor não tivesse intervindo. Já em seu dueto vencedor do Grammy com Bruno Mars, Die With a Smile, sua sinceridade escancarada transforma a faixa em um hino pop apaixonado e grandioso. No final de MAYHEM, está o amor.
Não é surpresa que uma artista obcecada pelo maximalismo tenha enchido seu álbum de referências e camadas. MAYHEM poderia ser ainda mais forte se tivesse 10 faixas em vez de 14, mas continua sendo um dos trabalhos mais sólidos de Gaga. Apesar da variedade sonora, há uma visão clara guiando tudo, sedutora e implacável. A mistura singular de pop explosivo e confessional de Gaga sempre flertou com a linha entre arte e comércio, assumindo grandes riscos sem medo de fracasso comercial. Quase 20 anos após seu início e mais famosa do que nunca, Gaga está exatamente onde deveria estar."
Ouça o álbum "MAYHEM" nas principais plataformas digitais.
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