Recentemente, foi anunciado que a cantora e atriz Lady Gaga seria a capa da mais nova edição da Revista "ELLE". Nesta quarta-feira (10), a capa foi finalmente divulgada.

Juntamente, Gaga concedeu uma entrevista exclusiva para a revista, falando um pouco sobre sua vida, carreira e o filme "Nasce uma Estrela", no qual interpretou Ally, como protagonista do longa. A entrevista foi realizada pouco antes da estreia do filme em Veneza, e foi divulgada hoje.

Confira a tradução completa aqui:

Lady Gaga Nasceu de Novo

A cantora pop mais famosa do mundo desaparece em um papel que é uma versão divertida refletida na sua própria ascensão.

“Sinto como se eu ainda fosse um feto,” diz Lady Gaga, impecavelmente glamourosa em um vestido Alaïa preto com cinto bem largo, saltos afiados, cílios extravagantes e sobrancelhas escuras, seus cabelos platinados enquadrando seu rosto em suaves ondas. Ela está parecendo (intencionalmente, sem dúvidas) uma estrela de filmes italiana – Monica Vitti em algum longa metragem antoniano perdido, ou uma minúscula e loira Sophia Loren. O que ela quer dizer é que ela sente que está apenas começando como artista – que ela só cumpriu uma fração do que ela planeja realizar – mas eu perdi um tempo refletindo sobre tal pensamento, considerando a década que ela acabou de concluir.

Dez anos atrás, com o lançamento do seu primeiro álbum, The Fame, Lady Gaga foi de uma artista burlesca esforçada e de uma jovem baladeira nova-iorquina a fenômeno pop mundial no tempo de um piscar de olhos. Desde então, ela fez cinco álbuns de estúdio, um álbum de trilha sonora e 18 singles; se apresentou no Super Bowl; ganhou seis Grammys e um Golden Globe, entre outras conquistas. Ela ganhou prêmios de moda, colaborou com artistas famosos e cantou duetos com Tony Bennett. Dois anos atrás, durante as filmagens de um documentário da Netflix sobre sua vida, Gaga: Five Foot Two, ela conquistou o papel principal em um grande filme de Hollywood. Ela interpretaria o papel de Janet Gaynor/Judy Garland/Barbra Streisand em Nasce uma Estrela, contracenando com Bradley Cooper. Tudo isso é para dizer que se tem alguém que habita um universo paralelo onde o nível de realizações é tão incrivelmente alta e Lady Gaga a classifica como um feto artisticamente falando, provavelmente é apenas Lady Gaga.

Poucos dias após nosso encontro, Nasce uma Estrela estreou no Festival de Filme em Veneza. Lady Gaga estava lá em um vestido Valentino adornado com penas de avestruz cor-de-rosa.

Na metade da exibição, um relâmpago forte interrompeu momentaneamente o filme, que então começou a ser aplaudido de pé durante oito minutos ininterruptos junto com comentários arrebatadores. Em 2016, durante a aceitação do Golden Globe pelo papel na série de Ryan Murphy American Horror Story; Hotel, Lady Gaga disse que ela queria ser uma atriz antes de ser cantora, mas que a música funcionou pra ela primeiro. Agora que atuar também funcionou, não estava claro quais eram suas futuras possibilidades. Colonizar Marte, talvez. Carros voadores. Assistência médica universal.

Lady Gaga tem uma presença dominante. Ela senta como se fosse uma ginasta olímpica acertando uma aterrissagem após um salto. Conversar com ela na cozinha da sua propriedade estilo mediterrâneo, com um estábulo para oito cavalos, pista de adestramento, pista de boliche, uma piscina com água salgada e uma vista panorâmica do Oceano Pacífico, fez com que eu sentisse que tinha cruzado temporariamente outra dimensão. Ela se dirige a você como uma namorada, mas a Gaga artista na verdade é uma máquina.

Pessoalmente, ela é calorosa mas resguardada, amigável mas cautelosa, apaixonada mas sobrenaturalmente equilibrada. Sua casa é aconchegante e cheia de pessoas – assistentes; seu empresário; sua mãe Cynthia, visita de Nova Iorque. (“Não somos parecidas?” Lady Gaga pergunta depois de nos apresentar. Elas realmente se parecem.) A casa é mais tradicional do que se espera, mais condizente com uma Stefani Germanotta (seu nome de batismo) insanamente boa do que a artista pop performática que uma vez usou um vestido todo feito de carne para o MTV Video Music Awards. Quer dizer, os sofás provinciais franceses estão cobertos de colchas. A lareira é ladeada por uma grande TV e um antigo cartaz de cinema italiano de Nasce uma Estrela, na versão estrelada por Judy Garland, um presente do namorado de Gaga, o agente da CAA, Christian Carino. É tudo um pouco desorientador. Nós poderíamos estar em um filme de Nancy Meyers. Ou um episódio de Star Trek.

Uma década de carreira depois, Lady Gaga nasce de novo, como estrela de um filme e ela é uma revelação de verdade. Essa pode ser a coisa mais significante sobre Nasce uma Estrela – além do fato de que ela está irreconhecível, ela se sente nova. Dentre as coisas mais notáveis em sua personagem, Ally, é o quanto ela parece despojada e vulnerável. Gaga já nos deu pitadas desse formato antes. Vimos suas sketches hilárias em Saturday Night Live, seu álbum Joanne, e em seu documentário onde ela aparece vestida com calças de moletom.

“A personagem de Ally é construída pela minha experiência de vida,” Lady Gaga diz. “ Mas eu também quis ter certeza de que ela não fosse eu. Foi uma cadência das duas.” Ally é talentosa, mas insegura. Ela escreve mas não apresenta suas próprias músicas. Ela foi dissuadida a perseguir seus sonhos pela indústria que não acredita nela, que diz à ela que a aparência dela não serve para o mercado. De maneira relutante ela permite que Jackson Maine (interpretado por Bradley Cooper) arraste-a para seu mundo, envolva-a em suas músicas até que ela conhece o empresário que inicia sua transformação em uma pop star comercial.

Todos os talentos de Lady Gaga como cantora, compositora e atriz, aliados com seu meta talento com a Fama – uma condição que ela sozinha perseguiu, investigou, interrogou e nomeou um álbum, um EP e até uma fragrância – que a arremessaram para seu estrelato mundial. É sobre esse tema, em que o filme foca em grande parte, onde Gaga e sua contraparte fictícia, Ally, divergem mais: Uma vez que Gaga tomou a decisão de se tornar uma artista, nada iria pará-la. No início da sua carreira ela compreendeu que Stefani Germanotta, a estudante católica com formação clássica, era talentosa o suficiente para ter sucesso, mas que apenas Lady Gaga poderia surgir no cenário global, totalmente formada.

O personagem de Ally, por outro lado, é como uma referência à Sliding Doors, como as coisas poderiam ter sido se não tivesse escolhido tal caminho. "Quando assisti ao filme pela primeira vez", diz Gaga, "eu disse, Oh meu Deus, eu achei que ela estava muito triste no final do filme, mas eu não percebi o quão triste ela estava no começo. Ela é tipo uma moça deprimida. Ela trabalha como garçonete. Ela tem seu amigo Ramon, que é muito importante pra ela. Ela toma conta do seu pai em casa e toma conta de todos aqueles motoristas que chegam e tomam seu café da manhã. Mas ela realmente desistiu dela como artista musical.

A última versão de Nasce uma Estrela é a quarta interação do clássico melodrama sobre os efeitos da fama e do vício em um relacionamento. O Jackson Maine feito por Cooper é um super astro do rock em declínio, que se apaixona por uma cantora e compositora, que ele encontra em um clube de drags, onde parou para um drinque depois de um show porque não podia encarar a volta para casa.

Lady Gaga e Bradley Cooper se conheceram anos atrás no set de Saturday Night Live, porém não se conectaram de verdade até a apresentação de Gaga na festa beneficente de Sean Parker para tratamento de câncer. Os representantes de Lady Gaga a alertaram que o ator estaria presente, que ele planejava dirigir A Star Is Born e estava querendo escalar a protagonista. Lady Gaga sabia que ela queria aquilo. Ela cantou “La Vie en Rose”, que acabou sendo a primeira música que Jackson vê Ally cantar – a música que faz com que ele se apaixone por ela. “Eu estava completamente entregue,” Cooper disse sobre aquela apresentação. “Eu liguei para o agente dela e disse, ‘Posso me encontrar com ela?’ E aí no dia seguinte ela disse sim e eu dirigi até a casa dela e foi assim.”

Gaga disse que a conexão foi imediata. “Antes de eu perceber, eu estava cozinhando uma massa para ele, alimentando-o e nós estávamos ali conversando e rindo. Aí ele quis nos ouvir cantando juntos e perguntou se eu poderia cantar uma música chamada ‘Midnight Special’ com ele. Eu imprimi a partitura e levei até o piano, eu estava muito nervosa. E então, estou lá lendo a música ao piano e aí começamos a cantar, ouvi a voz de Bradley, parei de tocar na mesma hora e disse: "Oh meu Deus, Bradley, você canta! É incrível!” Ela diz. Quando ela foi escalada para o elenco, Cooper e os roteiristas Eric Roth e Will Fetters trabalharam no roteiro enquanto Gaga trabalhou na trilha sonora. “Eu escrevi pra ela fazer. Eu perguntei a ela tantas coisas, e queria fazer a maior parte das coisas que ela me dizia. Isso influenciou completamente a criação de Ally,” Cooper diz. “Nós realmente somos muito vulneráveis [juntos]. Eu tive muita fé na magia dela. É algo que teve que ser sentido, e então testemunhado diante dos seus olhos todos os dias durante as filmagens.”

Para retratar uma cantora desconhecida, Gaga teve que relembrar sua insegurança como atriz. “Eu nunca esquecerei a primeira cena que fizemos juntos em um restaurante mexicano. Bradley pediu tacos e os trouxe para a mesa. Depois ele disse algo para mim, mas não era o que estava no roteiro, e eu não sabia o que fazer, então eu apenas dizia a minha fala. Então ele disse outra coisa, e eu não sabia o que fazer porque eu achava que era para eu dizer o que estava na folha. Eu disse outra fala - a próxima fala. Vendo que eu não saía do roteiro, ele perguntou, ‘Você está bem?,’ e eu comecei a chorar.” Por causa disso, ela aprendeu a focar mais na história do que nas falas. Então quando vieram as cenas de shows, onde a experiência deles era reversa, ela tentou a mesma técnica. “Quando cantamos ‘Shallow’ juntos no show, depois que ele vem até mim e começa a me puxar para o palco, eu não pensei, ‘Eu ainda não cheguei lá como cantora.’ Tudo que eu tive que fazer foi pensar, ‘Eu ainda não cheguei lá como atriz.’”

QUALQUER COISA QUE ELA FAZ, VOCÊ PENSA, ELA É A CHEFE

Quando Gaga tinha 14 anos, ela estava fazendo compras em uma boutique no West Side—cantando, como qualquer outra pessoa — e o vendedor aproximou dela e a ofereceu o número de celular do seu tio, um tutor vocal. Don Lawrence, quem ela chama de válvula aórtica de sua carreira, encontrou tempo na sua agenda para trabalhar com ela. “Mais tarde, eu lembro que estávamos conversando um dia — nós costumávamos conversar um pouco durante nossas aulas, porque nós gostávamos muito um do outro — e eu disse, ‘Eu não sei como eu vou conseguir,’” ela disse. “Eu estava tendo reuniões com advogados de entretenimento e batendo nas portas das pessoas, tentando fazê-los ouvir as demos que eu fiz em um toca-fitas Tascam de quatro músicas, e ele disse para mim, ‘Pode existir cem pessoas em um lugar, e 99 delas não acreditarem em você, você só precisa de uma.’

Depois da escola, Gaga se matriculou no Collaborative Arts Project 21 através da Tisch School of the Arts da NYU, mas saiu depois de um ano—“quando eu decidi realmente dizer, ‘Desculpe, mamãe e papai,’ para ser uma artista faminta no Lower East Side,” ela disse. Ela trabalhou em três empregos, incluindo um como go-go dancer. Ela costumava ligar para as boates e fingia que era sua própria empresária. Ela carregava seu piano de show para show. Uma vez, enquanto estava se apresentando em uma bar de jazz onde uma multidão de meninos universitários não ficava calada, ela tirou sua roupa ficando apenas de calcinha e sutiã para conseguir a atenção deles. Aquele momento foi um divisor de águas — fez com que ela entendesse algo sobre controlar a atenção. “Eu já sabia que ela era uma artista autêntica, aberta, crua e real que conseguia cantar e compor músicas e ser uma ameaça quádrupla,” diz Heather Parry, que produziu o documentário da Netflix e foi produtora executiva do filme. “Mas o negócio é que eu estava mais impressionada com o fato de que ela é uma mulher de negócios muito forte. Em qualquer coisa que ela faz, você pensa, ela é a chefe.”

Nasce Uma Estrela, claro, é uma parábola regenerativa e sempre viva do preço da fama — o que pode ser bem repetitivo, mas funciona. As melhores histórias sobre experiências humanas são aquelas onde pessoas normais são feitas para enfrentar forças extraordinárias — alcoolismo, trauma físico e emocional, estrelato global, a máquina sem misericórdia do capitalismo. Lady Gaga é uma artista. Ela sente as coisas profundamente. Ela lutou contra o trauma herdado da morte da irmã do pai dela, que morreu aos 19 anos; com o trauma emocional de ter sofrido bullying na escola e ter sido estuprada; com o trauma físico de uma lesão no quadril e cirurgia que resultaram em uma dor crônica generalizada. Mas a dor é o lastro contra o qual a sublimidade toma forma.

“EU NÃO CONSIGO FAZER MÚSICA OU AGIR SEM USAR E ACESSAR A DOR QUE EU TENHO EM MEU CORAÇÃO. QUERO DIZER, EXISTE LUGAR MELHOR PARA ARMAZENAR TUDO ISSO?”

Em uma das cenas mais emocionantes do seu documentário, Gaga está se preparando para se apresentar no Super Bowl, mas ela está se sentindo melancólica. “Estou muito animada para me apresentar,” ela diz, “mas não posso evitar em perceber que quando eu vendi 10 milhões de álbuns, eu perdi Matt [Williams, seu ex-namorado e ex-estilista]. Eu vendi 30 milhões e perdi Luc [Carl, seu ex-namorado]. Fiz um filme e perdi Taylor [Kinney, seu ex-noivo]. É como se fosse uma troca,” ela diz. “Essa é a terceira vez que eu tenho meu coração partido dessa forma.”

No início de Nasce Uma Estrela, tem uma cena sobre o Jackson, não Ally, que chega no coração da experiência. “Para mim, na música e como atriz, eu sempre estou retirando algo de minhas experiências passadas, da dinâmica familiar, relacionamentos, dor, felicidade, alegria, a montanha russa que é a minha vida — como isso meio que criou essa linda bola de discoteca que de alguma forma refletiu e se fraturou,” ela diz. “O momento de abertura, onde você o vê engolindo alguns comprimidos, bebe, sobe no palco e apenas eletriza o público até a última nota de baixo, e a porta da limusine fecha enquanto os flashes das câmeras aparecem, e de repente vira um silêncio total — é assim que eu me sinto como performer. É assim que é quando você sobe no palco, há 20,000 pessoas gritando, você canta, dança e se apresenta, e quando o show acaba não tem som nenhum. É emocional.”

“O sucesso testa relacionamentos,” ela continua. “Testa famílias. Testa sua dinâmica com seus amigos. Existe um preço para o estrelato.” Mas, ela adiciona, “Eu não consigo fazer música ou agir sem usar ou acessar a dor que eu tenho em meu coração. Digo, existe lugar melhor para armazenar tudo isso? Se não for assim, não tem bom uso."

Entrevista Original.

Nasce uma Estrela estreia no Brasil no dia 11 de outubro.

A trilha sonora teve seu lançamento mundial no dia 05, e você pode ouvi-la em todas as plataformas digitais aqui.

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Tradução por Deborah Sant'Anna e Vanessa Braz de Queiroz.

Revisão por Kathy Vanessa